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26- O que é hibristofilia?

Hibristofilia é a atração por criminosos ou pessoas agressivas, mesmo que sejam perigosas.

Hibristofilia: Quando o Amor Rompe os Limites da Razão

Hibristofilia: Por mais surpreendente que possa parecer, há pessoas que se sentem atraídas por criminosos — inclusive os mais violentos. Este fenômeno, conhecido como hibristofilia, representa uma das manifestações mais complexas do desejo humano, e desafia os limites entre o afeto, o perigo e a idealização.

Embora raro, esse comportamento pode ser observado em diferentes contextos e levanta importantes reflexões sobre traços de personalidade, vínculos emocionais e distúrbios relacionados à afetividade.

O que é Hibristofilia?

O termo deriva do grego hybrizein (cometer transgressões) e philia (amor ou atração), e designa uma parafilia caracterizada pela atração erótica ou romântica por indivíduos que cometeram atos criminosos, especialmente violentos. Embora rara, a hibristofilia ganha visibilidade em casos notórios, como os de assassinos em série que recebem cartas de fãs apaixonadas durante seus julgamentos ou enquanto cumprem pena.

A hibristofilia é um tipo de parafilia, ou seja, uma variação da sexualidade em que o desejo está associado a comportamentos ou situações consideradas incomuns ou desviantes. Em essência, pessoas com hibristofilia sentem-se atraídas por criminosos, mesmo que esses indivíduos tenham cometido atos extremamente violentos.

A condição pode se manifestar de forma passiva ou agressiva:

  • Hibristofilia passiva: Quando o indivíduo se atrai por criminosos sem se envolver diretamente em atos ilícitos.

  • Hibristofilia agressiva: Quando a pessoa incentiva ou ajuda o parceiro a cometer crimes.

Casos extremos são mais notórios em mulheres que se apaixonam por assassinos em série encarcerados. Exemplos famosos incluem admiradoras de Ted Bundy ou Richard Ramirez, que receberam cartas de amor e propostas de casamento enquanto estavam presos.

Trata-se, portanto, de uma manifestação afetivo-sexual que se expressa na vinculação com a transgressão — muitas vezes idealizada e romantizada por quem a experimenta.

Quando a Atração Torna-se Risco

Sob o olhar clínico, a hibristofilia é classificada como uma parafilia, ou seja, uma forma de desejo que foge aos padrões considerados típicos ou saudáveis. Em muitos casos, essa atração não se limita a fantasias: há mulheres e homens que se casam com criminosos violentos, ou até mesmo participam de seus crimes, movidos por uma lealdade patológica e ilusória.

A hibristofilia pode se apresentar de duas formas:

  • Passiva: o indivíduo sente fascínio à distância, nutrindo fantasias ou mantendo vínculos (cartas, visitas, relacionamentos online) com criminosos.

  • Ativa: a pessoa se envolve diretamente nos atos do criminoso, colaborando ou incentivando comportamentos violentos.

O que Leva uma Pessoa a Desenvolver Hibristofilia?

As causas da hibristofilia ainda são pouco compreendidas, mas especialistas apontam para uma série de fatores psicológicos e emocionais que podem estar associados a esse tipo de atração. Entre eles:

  • Desejo por controle e submissão: Algumas pessoas sentem-se atraídas por figuras dominadoras ou perigosas, projetando nelas fantasias de proteção ou poder.

  • Baixa autoestima: Indivíduos com dificuldade de estabelecer relações saudáveis podem buscar conexões com quem não representa uma ameaça de abandono — como presos, por exemplo.

  • Necessidade de notoriedade: O desejo inconsciente de atenção pode levar alguém a se envolver com figuras públicas ou notórias, mesmo que de forma negativa.

  • Síndrome do salvador: Algumas pessoas acreditam que podem “curar” ou “transformar” o criminoso, assumindo um papel de redenção.

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Hipóteses Psicodinâmicas e Socioculturais

Do ponto de vista da psicanálise, a hibristofilia pode revelar:

  • A presença de fantasias inconscientes de reparação: a ideia de que o amor pode “curar” o criminoso.

  • Um desejo de fusão com figuras dominadoras, muitas vezes associado a traumas infantis e modelos parentais violentos.

  • Uma relação sadomasoquista inconsciente, na qual a dor, o medo e o prazer se confundem.

Na psiquiatria, é comum encontrar comorbidades associadas, como:

  • Transtorno de personalidade dependente ou borderline;

  • Históricos de abuso, negligência ou abandono na infância;

  • Transtornos afetivos ou quadros de baixa autoestima crônica.

A psicologia social também contribui com hipóteses relevantes. Em um mundo saturado por narrativas romantizadas de redenção, o criminoso pode ser visto como “o vilão que só precisa de amor” — um arquétipo amplamente explorado em filmes, séries e romances. Assim, a hibristofilia se torna uma forma extrema de projeção emocional e idealização.

Neurociência e Vínculo com o Perigo

Estudos neurocientíficos sugerem que estímulos ligados ao risco e ao poder ativam áreas do cérebro associadas à dopamina — neurotransmissor ligado à recompensa. Para algumas pessoas, estar próxima a indivíduos considerados “perigosos” gera excitação e sensação de intensidade emocional, funcionando quase como um vício.

Esse mecanismo é semelhante ao observado em relações abusivas: a alternância entre tensão, violência e aparente afeto ativa circuitos cerebrais que confundem amor com adrenalina.

A Hibristofilia É Um Transtorno Mental?

A hibristofilia, por si só, não é classificada como um transtorno mental nos manuais diagnósticos mais utilizados, como o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). No entanto, ela pode estar relacionada a traços de personalidade, como dependência emocional, transtornos de personalidade ou histórico de traumas afetivos.

Quando esse padrão de comportamento compromete a vida social, emocional ou profissional da pessoa, é fundamental procurar acompanhamento psicológico ou psiquiátrico.

O que Fazer?

É importante compreender que sentir-se atraído por pessoas com histórico de violência pode ser sinal de que há questões emocionais mais profundas a serem trabalhadas. A ajuda profissional é essencial quando:

  • Há dificuldade em manter relacionamentos saudáveis;

  • A pessoa se envolve repetidamente com indivíduos agressivos ou perigosos;

  • Existe sofrimento emocional, culpa ou vergonha associados à atração;

  • Há negligência da própria segurança em nome do afeto.

A psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental, pode ajudar a identificar padrões disfuncionais e promover mudanças positivas. Em alguns casos, o acompanhamento psiquiátrico também pode ser indicado. A psicoterapia, especialmente de base psicanalítica, é uma ferramenta fundamental. Em casos com comorbidades, a abordagem medicamentosa pode ser necessária como suporte ao tratamento.

O tratamento da hibristofilia deve ser conduzido com escuta empática e técnica refinada. É importante que o profissional:

  • Explore o histórico de traumas emocionais e padrões repetitivos de vínculo;

  • Trabalhe a autoimagem e os mecanismos de idealização;

  • Avalie riscos reais à integridade física e emocional da pessoa;

  • Promova autonomia emocional e reconstrução de vínculos saudáveis.

A hibristofilia é um fenômeno que exige atenção clínica e ética. Não se trata de simples “escolhas amorosas ruins”, mas de um padrão que, muitas vezes, está enraizado em traumas, idealizações e distorções inconscientes.

Com acolhimento, escuta ativa e um trabalho terapêutico consistente, é possível romper com esse ciclo de autossabotagem afetiva — e reencontrar o amor que não machuca, que não aprisiona, que não destrói.

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