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29 – Serial Killer – A Mente Sombria de Um Assassino

Serial Killer - A questão sobre o que leva uma pessoa a se tornar um serial killer é uma das mais complexas e perturbadoras no campo da criminologia e da psicologia. Não há uma resposta única ou simples. Em vez disso, a pesquisa científica moderna aponta para uma interação de diversos fatores biológicos, psicológicos e ambientais.

Serial Killer – A questão sobre o que leva uma pessoa a se tornar um serial killer é uma das mais complexas e perturbadoras no campo da criminologia e da psicologia. Não há uma resposta única ou simples. Em vez disso, a pesquisa científica moderna aponta para uma interação de diversos fatores biológicos, psicológicos e ambientais.


Fatores Neurobiológicos:
A Predisposição Inata do Serial Killer

Evidências crescentes sugerem que muitos assassinos em série possuem predisposições neurobiológicas que afetam o controle de impulsos, a empatia e o julgamento moral. Essas anormalidades não são um destino, mas podem criar uma vulnerabilidade que, quando combinada com outros fatores, aumenta o risco de comportamento violento.


Anormalidades Estruturais e Funcionais do Cérebro

Estudos de neuroimagem revelaram diferenças significativas na estrutura e funcionamento do cérebro de indivíduos violentos e psicopatas em comparação com a população em geral. Um estudo marcante de Sajous-Turner et al. (2020) [1] demonstrou, pela primeira vez, que assassinos condenados apresentam uma redução de matéria cinzenta em áreas cerebrais cruciais para a cognição social e o controle comportamental.

 

Região Cerebral Afetada Função Principal Disfunção Associada em Assassinos
Córtex Pré-frontal (CPF) Funções executivas, tomada de decisão, controle de impulsos, julgamento moral. Redução da capacidade de inibir impulsos agressivos e avaliar consequências.
Amígdala Processamento de emoções, especialmente medo e agressão. Resposta diminuída ao medo e à angústia alheia, dificultando a empatia.
Ínsula Empatia, consciência interoceptiva (percepção do estado corporal). Incapacidade de sentir ou reconhecer as emoções dos outros.
Córtex Cingulado Regulação emocional, processamento de dor (própria e alheia). Falha em processar a dor emocional e em aprender com punições.

 

O caso histórico de Phineas Gage (1848), que teve seu córtex pré-frontal danificado em um acidente e sofreu uma mudança drástica de personalidade, tornando-se impulsivo e antissocial, é um exemplo clássico de como lesões cerebrais podem alterar profundamente o comportamento [2].


Genética e Bioquímica

A pesquisa também aponta para fatores genéticos e bioquímicos. Variações em genes como o MAOA (monoamina oxidase A), conhecido como “gene guerreiro”, têm sido associadas a um maior risco de comportamento violento, especialmente quando combinadas com traumas na infância.

Este gene regula neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, que desempenham um papel fundamental na regulação do humor e da agressividade [3]. Níveis anormais desses neurotransmissores podem levar a uma maior impulsividade e a uma busca patológica por sensações.

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Fatores Psicológicos e de Desenvolvimento: A Ferida da Nurtura

Se a biologia pode fornecer a arma, a psicologia e as experiências de vida parecem ser o que puxa o gatilho. Traumas e abusos na infância são um tema recorrente e devastadoramente comum na biografia da vasta maioria dos assassinos em série.


Trauma e Abuso na Infância

Estatísticas são alarmantes. Estudos indicam que aproximadamente 82% dos assassinos em série vivenciaram abuso físico, sexual ou emocional, ou negligência severa durante a infância [4]. Uma análise de Marono et al. (2020) [5] detalha que, em média, 50% sofreram abuso psicológico, 36% abuso físico e 26% abuso sexual.

O trauma infantil pode levar ao desenvolvimento de comportamentos violentos através de vários mecanismos:

  • Repetição Compulsiva do Trauma: Com base na teoria do trauma de Sándor Ferenczi, alguns indivíduos podem repetir compulsivamente seus traumas não resolvidos. A vítima se torna o agressor em um esforço patológico para, inconscientemente, recuperar o controle que perdeu durante o abuso original [6]. 
  • Distorções Cognitivas: O abuso pode levar a padrões de pensamento agressivos, como a tendência a interpretar ações neutras como hostis (viés de atribuição hostil) e a ver a violência como uma forma aceitável de resolver problemas [5].

A Tríade Macdonald e a Psicopatia

A Tríade Macdonald, identificada na década de 1960, aponta para três comportamentos na infância que podem ser sinais de alerta para futuros comportamentos violentos graves: enurese noturna (urinar na cama) após os cinco anos, piromania (fascinação por fogo) e crueldade com animais. Embora nem toda criança com esses comportamentos se torne violenta, a presença combinada deles é um forte indicador de problemas emocionais profundos.

Muitos assassinos em série são diagnosticados com psicopatia, um transtorno de personalidade caracterizado por falta de empatia, grandiosidade, manipulação e um charme superficial, frequentemente descrito como a “máscara da sanidade” [2]. O psicopata não sente remorso por suas ações e vê os outros como meros objetos para sua gratificação.

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Fatores Sociais e Ambientais

O ambiente social também desempenha um papel. Um ambiente familiar caótico, falta de supervisão, isolamento social e exposição à violência podem exacerbar as predisposições biológicas e os traumas psicológicos. A sociedade pode, inadvertidamente, contribuir ao não intervir em casos de abuso infantil e ao não fornecer recursos adequados para a saúde mental.


O Modelo Diátese-Estresse

A teoria mais aceita atualmente para explicar a formação de um assassino em série é o Modelo Diátese-Estresse. Este modelo propõe que um indivíduo pode ter uma diátese (uma predisposição ou vulnerabilidade biológica/genética), mas que esta só se manifestará sob condições de estresse (fatores ambientais, como abuso, trauma ou negligência).

Em outras palavras, uma pessoa não nasce um assassino, nem é puramente moldada pelo ambiente. É a combinação tóxica de uma predisposição neurobiológica com experiências de vida traumáticas que cria o caminho mais provável para o desenvolvimento de um comportamento homicida em série.


 Processos Psicológicos de Assassinos em Série

A mente de um assassino em série é um labirinto complexo de processos cognitivos, motivações e padrões comportamentais que desafiam uma explicação simplista. A análise da literatura científica revela uma interação intrincada de fatores que moldam o funcionamento interno desses indivíduos, afastando-se de noções monolíticas de “loucura” e apontando para uma arquitetura psicológica particular.


Cognição: Entre a Normalidade e o Déficit Seletivo

Contrariamente à percepção popular, nem todos os assassinos em série apresentam um quadro de psicopatia clássica ou déficits cognitivos generalizados. O estudo de caso de “KT”, um assassino em série que matou mais de cinco pessoas, revelou uma dissociação notável: um alto nível de desapego emocional combinado com uma baixa pontuação em comportamento antissocial.

Este indivíduo possuía um QI elevado e funções executivas amplamente preservadas, com apenas um leve comprometimento na capacidade de planejamento. O mais surpreendente foi a sua cognição moral e social: enquanto demonstrava um reconhecimento normal do medo e um conhecimento relativamente intacto das regras morais, apresentava déficits seletivos no reconhecimento de raiva, constrangimento e regras sociais convencionais.

Este perfil sugere que o assassinato em série pode, em alguns casos, estar mais próximo da “normalidade” cognitiva do que da psicopatia tradicional, sendo caracterizado por falhas específicas em domínios da cognição social e emocional, em vez de um colapso moral completo.


Distorções Cognitivas: A Lógica da Violência

Um pilar central na mente do assassino em série é a presença de distorções cognitivas, que são vieses sistemáticos no pensamento que permitem justificar e racionalizar atos violentos. Essas distorções não são exclusivas de assassinos em série, mas neles atingem um nível extremo e servem como um mecanismo de auto-permissão. As principais distorções incluem:

Distorção Cognitiva Descrição Exemplo em Assassinos em Série
Racionalização Criar desculpas ou justificativas para o comportamento. “Ela merecia morrer por seu estilo de vida.”
Minimização Reduzir a gravidade ou as consequências de suas ações. “Não foi tão ruim assim, ela não sofreu.”
Culpabilização da Vítima Atribuir a responsabilidade do crime à vítima. “Se ela não tivesse resistido, eu não teria que matá-la.”
Orientação para o Poder Justificar ações com base na necessidade de controle e domínio. “Eu precisava sentir o poder sobre a vida e a morte.”

Esses padrões de pensamento distorcidos são cruciais para a perpetuação do ciclo de violência, pois neutralizam o remorso e a culpa, permitindo que o indivíduo continue a cometer crimes sem um colapso psicológico.


O Ciclo da Fantasia: Do Pensamento à Ação

O comportamento do assassino em série não é aleatório, mas segue um ciclo bem definido, impulsionado por fantasias violentas. O modelo de sete fases de Joel Norris oferece um roteiro detalhado dessa progressão psicológica:

  1. Fase Aura: Um período de afastamento da realidade, onde o indivíduo mergulha em fantasias sádicas e violentas. Esta fase pode durar de minutos a anos e é o terreno fértil para o desenvolvimento da compulsão.
  2. Fase de Caça (Trolling): A fantasia exige ser realizada. O assassino começa a procurar ativamente uma vítima que se encaixe em seu roteiro fantasioso, estudando locais e rotinas.
  3. Fase de Sedução (Wooing): O assassino tenta ganhar a confiança da vítima, usando charme, manipulação e engano para atraí-la para uma armadilha.
  4. Fase de Captura: O momento em que o controle sobre a vítima é estabelecido. A verdadeira natureza do assassino é revelada, e a vítima percebe o perigo.
  5. Fase do Assassinato: O clímax do ciclo, onde a fantasia é encenada. A forma como o assassinato ocorre varia significativamente entre assassinos organizados (que focam no controle e na tortura prolongada) e desorganizados (que matam de forma mais impulsiva e caótica).
  6. Fase do Troféu (Totem): Após o assassinato, o indivíduo pode coletar um objeto da vítima (um “troféu”) para prolongar a experiência e reviver a fantasia.
  7. Fase da Depressão: A realidade se impõe. O assassinato não trouxe a satisfação duradoura esperada, e o indivíduo mergulha em uma depressão. Este vazio emocional, no entanto, não leva ao arrependimento, mas sim à necessidade de reiniciar o ciclo com uma nova fantasia, em uma busca interminável por uma satisfação inatingível.

Em suma, a mente sombria do assassino em série opera através de uma combinação de cognição seletivamente intacta, um sistema robusto de distorções de pensamento que justifica a violência, e um ciclo compulsivo impulsionado por fantasias. Não se trata de uma simples ausência de moralidade, mas de uma lógica interna perversa e auto-reforçante que transforma o pensamento em um roteiro para a morte.


A jornada para se tornar um assassino em série é complexa. Envolve uma interação perigosa entre cérebro, mente e ambiente. Anormalidades em circuitos cerebrais que regulam a empatia e o controle, combinadas com o profundo trauma psicológico do abuso e da negligência na infância, formam a base sobre a qual esses comportamentos monstruosos são construídos. Compreender essa interação é fundamental, não para desculpar seus atos, mas para iluminar caminhos de prevenção, focados principalmente na proteção e no apoio a crianças em situação de vulnerabilidade, quebrando o ciclo de violência antes que ele comece.


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Referências
[1] Sajous-Turner, A., Anderson, N. E., Widdows, M., et al. (2020). Aberrant brain gray matter in murderers. Brain Imaging and Behavior, 14(5), 2050–2061. https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC6942640/

[2] Hirschtritt, M. E., Carroll, J. D., & Ross, D. A. (2018). Using Neuroscience to Make Sense of Psychopathy. Biological Psychiatry, 84(9), e61–e63. https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC6698892/

[3] Alemán Ortiz, O. F., & Sandoval-Obando, E. (2022). La neurobiología del asesino: aspectos neuroanatómicos, genéticos, bioquímicos, extrínsecos y sociales. Revista Criminalidad, 64(3), 137-150. http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1794-31082022000300137

[4] Ravaneda, K. L. W. P., & Pereira, H. P. Z. (2024). Fatores de risco observados na infância de assassinos em série. Anais do Congresso Multidisciplinar da FAP. https://www.fap.com.br/anais/congresso-multidisciplinar-2024/comunicacao-oral/PSI014.pdf

[5] Marono, A. J., Reid, S., Yaksic, E., & Keatley, D. A. (2020). A Behaviour Sequence Analysis of Serial Killers’ Lives: From Childhood Abuse to Methods of Murder. Psychiatry, Psychology and Law, 27(1), 126-137. https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC7144278/

[6] Sales, A. B., & Dutra, G. M. C. M. (2025). Serial Killers: Criaturas Atrozes ou Pessoas Feridas? Repetição da Violência Sexual de Assassinos em Série à Luz da Teoria do Trauma. Leitura Flutuante, 17(1). https://revistas.pucsp.br/index.php/leituraflutuante/article/download/69335/46523/229918

Angrilli, A., Sartori, G., & Donzella, G. (2013). Cognitive, emotional and social markers of serial murdering. The Clinical Neuropsychologist, 27(3), 485-494.

Jiménez Serrano, J. (2014). Asesinos en serie: Definición, tipologías y estudios sobre esta temática. Gaceta Internacional de Ciencias Forenses, (10), 4-9.

Syasyila, K., Gin, L. L., Nor, H. A. M., & Kamaluddin, M. R. (2024). The role of cognitive distortion in criminal behavior: a systematic literature review. BMC Psychology, 12(1), 741.

Norris, J. (1988). Serial Killers: The Method and Madness of Monsters. Doubleday.


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