Neurodivergencias (TEA)

1 – Autismo: O que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA)?

O que é Autismo? Entenda o Transtorno sob a Ótica da Neurociência, Psicanálise, Psiquiatria e Psicologia

O Autismo – Transtorno do Espectro Autista (TEA) – tem ganhado cada vez mais visibilidade nas últimas décadas, não apenas pelo aumento dos diagnósticos, mas também pela ampliação do debate social e científico em torno da neurodiversidade. Ainda assim, muitas dúvidas persistem: O que é o autismo? Como ele se manifesta? O que dizem as diferentes áreas do saber — como a neurociência, a psicanálise, a psiquiatria e a psicologia — sobre suas causas, sintomas e possibilidades de intervenção?

O que é o Autismo?

O Transtorno do Espectro Autista é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por dificuldades na comunicação social, padrões restritos e repetitivos de comportamento, e sensibilidade sensorial atípica. O termo “espectro” é fundamental para entender o autismo: ele não é uma condição única e uniforme, mas uma ampla gama de manifestações clínicas que variam de pessoa para pessoa.

O diagnóstico do autismo é clínico, ou seja, baseado na observação de comportamentos e relatos de desenvolvimento, de acordo com critérios estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) da Associação Americana de Psiquiatria e pela Classificação Internacional de Doenças (CID-11) da Organização Mundial da Saúde.

Níveis do Espectro Autista: Do Suporte Leve ao Intenso

Para fins diagnósticos e de planejamento terapêutico, o DSM-5 estabelece três níveis de suporte necessário:
Saiba mais em: Sistema Nervoso Central – O comando Supremo do Corpo Humano

  • Nível 1 – Suporte Leve: o indivíduo precisa de apoio para lidar com as demandas sociais e comunicacionais do dia a dia. Pode manter conversas simples, mas tem dificuldades com interações mais complexas e mudanças de rotina.

  • Nível 2 – Suporte Moderado: necessita de apoio substancial. As dificuldades são evidentes mesmo com suporte. A comunicação pode ser verbal, mas limitada, e os comportamentos repetitivos são mais frequentes.

  • Nível 3 – Suporte Intenso: exige apoio muito substancial. A comunicação pode ser mínima ou ausente, com intensa rigidez comportamental e dificuldade severa em interações sociais.

Essa classificação ajuda a entender a diversidade dentro do espectro, mas não substitui uma avaliação individualizada, essencial para qualquer abordagem terapêutica.

A Neurociência do Autismo: O Cérebro que Funciona Diferente

A neurociência tem contribuído significativamente para a compreensão do autismo como uma condição neurológica e genética, e não como um transtorno emocional ou causado por fatores externos isolados, como acreditava-se no passado.

Estudos de neuroimagem mostram diferenças no funcionamento de áreas cerebrais ligadas à comunicação, cognição social, atenção e processamento sensorial. O córtex pré-frontal, a amígdala, o hipocampo e o cerebelo são algumas das regiões frequentemente envolvidas. Também se observam alterações na conectividade funcional entre diferentes redes neurais, o que pode explicar a dificuldade de integração de informações sensoriais e emocionais.

Do ponto de vista genético, o autismo está associado a mutações em múltiplos genes, alguns deles ligados ao desenvolvimento sináptico e à plasticidade cerebral. No entanto, o fator genético não explica tudo. Estudos epigenéticos e ambientais também apontam influências na expressão dos genes envolvidos no espectro.

O conceito de neurodiversidade, surgido nos anos 1990, vem ganhando força. Ele reconhece que o cérebro autista funciona de maneira diferente — não necessariamente deficiente — e propõe uma visão mais inclusiva e menos patologizante da condição.

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A Visão da Psicanálise: Silêncios, Subjetividade e Relações Primárias

Embora por muito tempo a psicanálise tenha sido criticada por posturas ultrapassadas sobre o autismo — como a teoria da “mãe geladeira” proposta por Bruno Bettelheim nos anos 1950 —, a abordagem psicanalítica contemporânea reformulou sua escuta sobre o espectro, especialmente a partir das contribuições de autores como Donald Winnicott, Frances Tustin e Jean-Claude Maleval.

Para Winnicott, a ausência de um ambiente suficientemente bom nos primeiros anos de vida pode levar a um colapso do falso self e a um retraimento psíquico intenso. Frances Tustin, por sua vez, observava o autismo como uma defesa contra uma experiência de desintegração psíquica precoce. A criança autista, nesse sentido, se “encapsula” em um mundo sensorial próprio como tentativa de autopreservação.

A escuta psicanalítica não busca “normalizar” o sujeito autista, mas compreendê-lo em sua singularidade. O silêncio, a repetição e o isolamento são lidos como manifestações de uma economia psíquica própria, que merece ser respeitada, não quebrada à força.

A Psiquiatria e o Diagnóstico do TEA

A psiquiatria tem papel central no diagnóstico e manejo clínico do autismo. A avaliação psiquiátrica inclui histórico clínico, desenvolvimento neuropsicomotor, comportamentos típicos e comorbidades. Estima-se que entre 70% a 80% das pessoas com TEA apresentem ao menos uma comorbidade, como TDAH, ansiedade, epilepsia ou transtornos do sono.

Embora não exista um medicamento específico para o autismo, a psiquiatria pode indicar o uso de fármacos para controlar sintomas associados, como irritabilidade, hiperatividade ou insônia. No entanto, a medicação deve ser cuidadosamente avaliada, especialmente em crianças, para evitar efeitos colaterais indesejados.

A psiquiatria moderna também tem se aproximado da neurociência, reconhecendo o autismo como uma condição multicausal e complexa, em que o cérebro é o protagonista, mas não o único ator.

Psicologia e Intervenção: Entre a Terapia e o Cotidiano

A psicologia tem papel vital no apoio ao desenvolvimento de pessoas com autismo. Terapias baseadas em evidências, como a ABA (Análise do Comportamento Aplicada), são amplamente utilizadas, especialmente em contextos educacionais e comportamentais. No entanto, críticas vêm sendo feitas à abordagem excessivamente normatizadora de algumas dessas práticas.

Abordagens mais contemporâneas, como a psicologia do desenvolvimento e a psicoterapia infantil com base em vínculos, têm priorizado o fortalecimento das relações afetivas e o respeito ao ritmo e estilo cognitivo do sujeito.

Além disso, o trabalho com as famílias é essencial. Pais e cuidadores precisam ser acolhidos, informados e empoderados para lidar com os desafios — e também com as alegrias — de viver com alguém dentro do espectro.

O Futuro da Compreensão sobre o Autismo

A ciência ainda não tem todas as respostas sobre o autismo. Mas há consenso crescente de que ele não é um defeito a ser consertado, e sim uma forma diferente — e legítima — de estar no mundo. A interdisciplinaridade entre neurociência, psicanálise, psiquiatria e psicologia não só amplia o entendimento do fenômeno como oferece caminhos terapêuticos mais humanos, eficazes e respeitosos.

Promover uma sociedade mais inclusiva, que compreenda a complexidade do espectro e celebre a diversidade cognitiva, é um desafio coletivo. E começa com o conhecimento — o verdadeiro antídoto contra o preconceito.

 

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