Neurodivergencias (TEA)Em Destaque

8. Autistas abandonados: São Paulo ignora os TEAs

Autistas: A cidade mais rica do país — São Paulo — tem ignorado sistematicamente as necessidades de crianças neurodivergentes, especialmente aquelas que vivem em situação de vulnerabilidade.

Autistas – A cidade mais rica do país — São Paulo — tem ignorado sistematicamente as necessidades de crianças autistas e outros neurodivergentes, especialmente aquelas que vivem em situação de vulnerabilidade. Mães e pais que criam filhos com autismo, TDAH, dislexia, atraso cognitivo e outras condições do espectro neurodivergente estão à margem do sistema público de saúde, educação e assistência social.

Mesmo com propostas concretas de solução, a Prefeitura de São Paulo e a Secretaria Municipal de Saúde vêm recusando projetos que poderiam mudar a vida dessas crianças autistas e de suas famílias.

Dados Relevantes sobre o Autismo

2,4 milhões de brasileiros diagnosticados como autistas (IBGE 2025)
1 em 38 brasileiros tem diagnóstico de autismo
7,6% de prevalência de TDAH em crianças e adolescentes (6-17 anos)
13.785 estudantes com TEA matriculados em SC (referência proporcional)
Pico de diagnóstico TDAH: 8-10 anos

O Centro TEA: propaganda sem resultado

Muito se fala do Centro TEA, projeto promovido pela gestão Ricardo Nunes. No entanto, a estrutura é precária, a fila de espera ultrapassa os anos de 2026 e 2027, e o atendimento real é quase inexistente:

  • Crianças com sensibilidade auditiva convivem com reformas barulhentas em andamento.

  • A unidade não realiza diagnósticos nem terapias — há profissionais, mas sem autorização para atuar.

  • O centro só atende crianças a partir de 6 anos, ignorando completamente a janela de neuroplasticidade de 0 a 6 anos, período fundamental para o desenvolvimento infantil.

Resultado: uma política pública que existe apenas no papel e em vídeos oficiais.

Projeto de Lei do Senador Flávio Bolsonaro
Documento Técnico-Informativo e proposta de PL – TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA – atualizado

A proposta recusada: quando o povo tenta resolver

Em parceria com o gabinete do deputado Olim e a conselheira tutelar Alessandra Silva, foi proposta a criação de um centro terapêutico real, com diagnóstico e atendimento gratuito para crianças autistas de 0 a 6 anos — através de parcerias público-privadas com clínicas que custam até R$ 8 mil/mês, mas que se disponibilizaram a atender gratuitamente.

A estrutura seria instalada na subprefeitura de Santana, com o apoio do subprefeito Magal, tudo articulado com base legal, técnico e orçamentário.

E qual foi a resposta da Secretaria Municipal de Saúde, na pessoa do secretário Luiz Carlos Zamarco?
👉 “Proposta considerada inviável.”

Isso mesmo. Enquanto mães atípicas gastam o que não têm, a Prefeitura considera “inviável” garantir diagnóstico e terapia a crianças que mais precisam.

O caos no diagnóstico: de 3 a 5 anos de espera

Uma criança leva de 3 a 5 anos para conseguir um diagnóstico via SUS em São Paulo. Isso é um atentado contra a infância e a saúde mental da família.

Enquanto isso, parlamentares como o senador Flávio Bolsonaro (em articulação com ativistas locais) propuseram um projeto de lei para obrigar o SUS a realizar exames neurológicos e neuropsicológicos — com ou sem sedação — para acelerar a detecção de autismo. Mas isso ainda depende de tramitação e vontade política.

Escolas prontas… e recusadas pela Prefeitura

A empresária e educadora Aline, mãe atípica e dona de escolas particulares, ofereceu três colégios já equipados com salas sensoriais, estrutura terapêutica e atendimento especializado para receber essas crianças autistas — inclusive com proposta de transformar uma das unidades em escola municipal com convênio direto com a Prefeitura.

Qual foi a resposta?

👉 “A Prefeitura não tem interesse.”

Sim, mesmo com tudo pronto, com famílias na fila, com a estrutura montada e mães pedindo socorro, a gestão municipal disse que não é necessário.

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A dor de uma mãe sem assistência

Uma mãe com dois filhos neurodivergentes — um com dislexia, TDAH e problemas auditivos; outro autista, com autismo severo, não verbal, sem desfraude — vive diariamente o drama da ausência de atendimento adequado:

“Eu só queria deixar meus filhos em um lugar seguro, com quem entende. Mas não tenho como pagar. E a prefeitura não ajuda.”

O peso do silêncio institucional

O secretário de Saúde, Luiz Carlos Zamarco, parece desconhecer a realidade da população que não pode pagar. Sua decisão de arquivar o projeto mostra que a Prefeitura prefere investir em “campinhos de futebol” do que em clínicas para autistas e outros neurodivergentes.

Esse abandono também se estende ao Legislativo Municipal, que não prioriza projetos para a infância atípica. Quem está em Brasília mal conhece a realidade das mães da Zona Norte ou da periferia. Quem está no poder em São Paulo, muitas vezes, só responde para fotos e likes.

Autismo e TDAH em São Paulo: Guia Completo sobre Diagnóstico, Terapias e Direitos das Crianças Autistas e outros Neurodivergentes 2025

A neurodivergência em São Paulo enfrenta desafios estruturais que afetam milhares de famílias diariamente. Com 2,4 milhões de brasileiros diagnosticados com autismo [1] e uma prevalência de 7,6% de TDAH em crianças e adolescentes [2], a capital paulista se depara com uma demanda crescente por serviços especializados que o sistema público não consegue atender adequadamente.

O cenário atual revela uma contradição preocupante: enquanto o Brasil conhece, pela primeira vez, seu número oficial de pessoas com diagnóstico de autismo – 1 em cada 38 brasileiros [3] -, as famílias enfrentam filas de espera que se estendem até 2027 para atendimento no Centro TEA, demoras de 3 a 5 anos para diagnóstico pelo SUS, e custos proibitivos para terapias particulares que podem chegar a R$ 8.000 mensais.

Este artigo examina em profundidade a realidade das famílias atípicas em São Paulo, baseando-se em experiências reais de mães e pais que navegam diariamente pelos desafios do sistema público de saúde e educação. Abordaremos não apenas os problemas identificados, mas também as soluções propostas e rejeitadas pelo poder público, oferecendo um panorama completo sobre os direitos, recursos e alternativas disponíveis para crianças autistas e outros neurodivergentes na maior metrópole do país.

A partir de casos documentados e dados oficiais atualizados, este guia serve como ferramenta prática para famílias que buscam diagnóstico, tratamento e educação especializada para seus filhos, além de apresentar críticas construtivas ao sistema atual e propostas viáveis para sua melhoria.

O Que é Neurodivergência: Autismo, TDAH e Dislexia

Definições e Estatísticas Brasileiras

A neurodivergência refere-se a variações naturais no funcionamento cerebral que incluem condições como Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), dislexia, entre outras. Diferentemente da abordagem médica tradicional que classifica essas condições como “transtornos”, o conceito de neurodivergência reconhece essas diferenças como variações neurológicas naturais que requerem suporte e adaptações, não cura.

O Brasil experimentou um marco histórico em 2025 quando o IBGE divulgou, pela primeira vez, dados oficiais sobre autismo no país. Os números revelaram uma realidade surpreendente: 2,4 milhões de brasileiros possuem diagnóstico de TEA, representando 1,2% da população geral [4]. Esta estatística coloca o Brasil em uma posição comparável aos Estados Unidos, onde estudos recentes indicam uma prevalência de 1 em 31 crianças [5], sugerindo que o país pode ter até 6,9 milhões de pessoas autistas quando consideramos os casos não diagnosticados.

No que se refere ao TDAH, a situação é igualmente significativa. A prevalência estimada no Brasil é de 7,6% em crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos, 5,2% em indivíduos entre 18 e 44 anos, e 6,1% naqueles com mais de 45 anos [6]. O pico para diagnóstico ocorre entre 8 e 10 anos, embora o início dos sintomas geralmente se manifeste antes dos 4 anos e invariavelmente antes dos 12 anos [7].

A dislexia, por sua vez, afeta aproximadamente 5 a 10% da população mundial, sendo uma das causas mais comuns de dificuldades de aprendizagem. No contexto brasileiro, estudos indicam que entre 0,5% e 17% das crianças em idade escolar apresentam algum grau de dislexia, variação que reflete tanto diferenças metodológicas nos estudos quanto a subnotificação do problema [8].

Sinais Precoces em Crianças

O reconhecimento precoce de sinais de neurodivergência é fundamental para intervenções eficazes, especialmente considerando a importância da janela neurológica dos 0 aos 6 anos para o desenvolvimento da neuroplasticidade. Durante este período crítico, o cérebro apresenta maior capacidade de adaptação e formação de novas conexões neurais, tornando as intervenções terapêuticas mais eficazes.

No autismo, os primeiros sinais podem ser observados já nos primeiros meses de vida, embora se tornem mais evidentes entre 12 e 24 meses. Crianças no espectro autista frequentemente apresentam dificuldades na comunicação social, incluindo ausência ou atraso na fala, dificuldade em manter contato visual, e limitação no compartilhamento de interesses com outras pessoas [9]. Comportamentos repetitivos e interesses restritos também são característicos, podendo incluir movimentos estereotipados, fixação em objetos específicos ou rotinas rígidas.

O caso de Matheus, mencionado na entrevista original, ilustra perfeitamente o perfil do autismo nível 3. Aos poucos anos de idade, ele apresenta características de autismo não verbal, necessitando de suporte substancial para atividades da vida diária. Sua mãe relata episódios de crise e dificuldades de comunicação que são típicos desta condição, destacando a importância de intervenções especializadas que, infelizmente, não estão acessíveis devido aos custos elevados.

Para o TDAH, os sinais precoces incluem dificuldade de concentração, hiperatividade motora, impulsividade e problemas de autorregulação emocional. Crianças com TDAH frequentemente apresentam dificuldades acadêmicas não relacionadas à capacidade intelectual, mas sim à capacidade de manter atenção sustentada e organizar tarefas. O caso de Renan, de 9 anos, exemplifica a complexidade da neurodivergência múltipla, apresentando TDAH combinado com dislexia e atraso cognitivo global, além de problemas de processamento auditivo central.

A dislexia manifesta-se principalmente através de dificuldades específicas na leitura e escrita, apesar de inteligência normal ou superior. Crianças disléxicas podem apresentar atraso no desenvolvimento da linguagem, dificuldade para combinar sons e identificar fonemas, problemas de memória de trabalho e dificuldades de orientação espacial e temporal [10]. É importante notar que a dislexia não é resultado de falta de instrução adequada, deficiência intelectual ou problemas sensoriais, mas sim de diferenças no processamento neurológico da linguagem.

Comorbidades e Complexidade Diagnóstica

A neurodivergência raramente se apresenta de forma isolada, sendo comum a ocorrência de múltiplas condições em uma mesma pessoa. Esta realidade, conhecida como comorbidade, complica significativamente o processo diagnóstico e terapêutico, exigindo abordagens multidisciplinares e personalizadas.

O caso de Renan ilustra perfeitamente esta complexidade. Aos 9 anos, ele apresenta um quadro que inclui dislexia, TDAH, atraso cognitivo global e problemas de processamento auditivo central. Esta combinação de condições requer intervenções específicas e coordenadas entre diferentes profissionais, incluindo neurologistas, fonoaudiólogos, psicólogos e pedagogos especializados.

O processamento auditivo central, especificamente, é uma condição frequentemente subdiagnosticada que afeta a capacidade do cérebro de processar informações auditivas, mesmo quando a audição periférica está normal. Crianças com esta condição podem ouvir perfeitamente, mas têm dificuldade em compreender e interpretar os sons, especialmente em ambientes ruidosos ou quando múltiplas informações auditivas são apresentadas simultaneamente.

Esta complexidade diagnóstica evidencia a inadequação de sistemas de atendimento que não consideram a natureza multifacetada da neurodivergência. O Centro TEA de São Paulo, por exemplo, foi criticado por não possuir métodos terapêuticos definidos e por não permitir que neurologistas realizem diagnósticos no local, limitando significativamente sua eficácia no atendimento integral às crianças neurodivergentes.

Diagnóstico de Autismo e TDAH em São Paulo

Como Conseguir Diagnóstico pelo SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS) representa, teoricamente, a principal via de acesso para diagnóstico de neurodivergência no Brasil. Contudo, a realidade prática em São Paulo revela um cenário de espera prolongada e recursos insuficientes que compromete significativamente o atendimento às crianças neurodivergentes e suas famílias.

O processo de diagnóstico pelo SUS em São Paulo segue um fluxo hierárquico que inicia na Atenção Básica, através das Unidades Básicas de Saúde (UBS). Quando pediatras ou médicos de família identificam sinais sugestivos de neurodivergência, eles devem encaminhar a criança para avaliação especializada nos Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) ou para neurologistas pediátricos nos ambulatórios de especialidades.

Entretanto, a demanda supera drasticamente a capacidade de atendimento. Dados coletados junto a famílias usuárias do sistema indicam que o tempo de espera para uma primeira consulta com neurologista pediátrico pode variar entre 3 a 5 anos em São Paulo [11]. Esta demora é particularmente prejudicial considerando que a janela terapêutica ideal para intervenções em neurodivergência ocorre nos primeiros anos de vida, quando a neuroplasticidade cerebral é mais intensa.

O diagnóstico de TEA é essencialmente clínico, baseado na observação direta do comportamento da criança, entrevistas detalhadas com os pais e aplicação de instrumentos padronizados como a Escala de Avaliação de Autismo na Infância (CARS) ou o Autism Diagnostic Observation Schedule (ADOS) [12]. Não existem exames laboratoriais ou de neuroimagem específicos para detectar o autismo, tornando a expertise clínica fundamental para um diagnóstico preciso.

Para o TDAH, o processo diagnóstico segue critérios estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e pela Classificação Internacional de Doenças (CID-11). O diagnóstico deve ser baseado em uma anamnese detalhada, observação comportamental e, frequentemente, aplicação de escalas de avaliação como a Escala de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (SNAP-IV) [13].

A complexidade diagnóstica é agravada pela necessidade de descartar outras condições que podem mimetizar sintomas de neurodivergência. Problemas auditivos, deficiências visuais, transtornos de humor, ansiedade e até mesmo questões socioambientais podem apresentar sintomas similares aos do autismo ou TDAH, exigindo avaliação multidisciplinar cuidadosa.

Alternativas Particulares

Diante das limitações do sistema público, muitas famílias recorrem ao atendimento particular, enfrentando custos que podem ser proibitivos para a maioria da população. Uma avaliação neuropsicológica completa para diagnóstico de autismo ou TDAH no setor privado pode custar entre R$ 2.000 a R$ 5.000, dependendo da complexidade do caso e dos profissionais envolvidos.

O processo diagnóstico particular geralmente oferece maior agilidade e abrangência. Clínicas especializadas podem fornecer diagnóstico em questão de semanas ou meses, comparado aos anos de espera no sistema público. Além disso, o atendimento privado frequentemente inclui avaliações multidisciplinares simultâneas, envolvendo neurologistas, psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais trabalhando de forma coordenada.

Contudo, o custo não se limita ao diagnóstico. As terapias subsequentes representam um investimento contínuo significativo. Terapia comportamental baseada em ABA (Applied Behavior Analysis) pode custar entre R$ 3.000 a R$ 8.000 mensais, dependendo da intensidade e duração das sessões. Fonoterapia, terapia ocupacional e acompanhamento psicológico adicionam custos que podem facilmente ultrapassar R$ 10.000 mensais para um atendimento completo.

Esta realidade econômica cria uma disparidade significativa no acesso a cuidados de qualidade. Famílias com recursos financeiros conseguem diagnóstico precoce e intervenções intensivas, enquanto aquelas dependentes do sistema público enfrentam atrasos que podem comprometer irreversivelmente o desenvolvimento de suas crianças.

Tempo de Espera e Custos

A análise dos tempos de espera revela a magnitude do problema enfrentado pelas famílias neurodivergentes em São Paulo. O Centro TEA, inaugurado como referência municipal, já apresenta lista de espera que se estende até 2026-2027 para crianças que buscam atendimento [14]. Esta projeção é particularmente preocupante considerando que o centro atende apenas crianças a partir de 6 anos, perdendo completamente a janela terapêutica mais importante dos 0 aos 6 anos.

A situação é agravada pela limitação de vagas e pela falta de expansão proporcional à demanda. Enquanto os dados do IBGE revelam 2,4 milhões de brasileiros com diagnóstico de autismo, a infraestrutura pública permanece insuficiente para atender esta população. Em São Paulo, estima-se que existam aproximadamente 150.000 pessoas no espectro autista, considerando a proporção nacional, mas a capacidade de atendimento especializado não acompanha esta demanda.

Os custos indiretos da demora diagnóstica são substanciais e frequentemente subestimados. Famílias gastam recursos significativos em consultas particulares para segunda opinião, terapias não especializadas que podem ser ineficazes, e perdem oportunidades de trabalho devido à necessidade de cuidar de crianças sem suporte adequado. Estudos econômicos indicam que cada ano de atraso no diagnóstico e intervenção pode resultar em custos adicionais de R$ 50.000 a R$ 100.000 ao longo da vida da pessoa neurodivergente [15].

A proposta de parceria público-privada apresentada na entrevista original representava uma solução inovadora para este problema. A ideia de utilizar clínicas particulares para atender crianças de 0 a 6 anos gratuitamente, com financiamento público, poderia reduzir significativamente os tempos de espera e garantir intervenção precoce. O custo de R$ 8.000 mensais por criança, embora elevado, é inferior ao custo social de longo prazo de crianças não atendidas adequadamente.

A rejeição desta proposta pelo Secretário Municipal de Saúde Luiz Carlos Zamarco, classificando-a como “inviável”, levanta questões sobre as prioridades orçamentárias da administração municipal. A justificativa de inviabilidade financeira contrasta com investimentos em outras áreas menos críticas, sugerindo uma falta de compreensão sobre a urgência e importância do atendimento precoce à neurodivergência.

Projeto de Lei Federal para Exames Urgentes

Uma iniciativa promissora surgiu no âmbito federal através do projeto de lei proposto pelo senador Flávio Bolsonaro, que visa tornar obrigatória a cobertura pelo SUS de exames determinantes para detecção precoce do autismo, com ou sem sedação, de forma urgente [16]. Este projeto representa um avanço significativo na garantia de direitos das crianças neurodivergentes e suas famílias.

A importância deste projeto reside no fato de que muitos exames complementares utilizados na investigação diagnóstica de autismo, como eletroencefalograma, ressonância magnética e exames genéticos, frequentemente requerem sedação em crianças pequenas devido à necessidade de imobilidade durante o procedimento. A demora na realização destes exames pode atrasar significativamente o diagnóstico definitivo.

O projeto foi desenvolvido em colaboração com famílias afetadas e especialistas da área, refletindo uma abordagem mais participativa na formulação de políticas públicas. A articulação entre legisladores federais e famílias locais demonstra como a pressão social organizada pode resultar em mudanças legislativas concretas, especialmente quando os representantes locais se mostram omissos ou resistentes às demandas da população.

A aprovação deste projeto poderia complementar significativamente as iniciativas locais de melhoria do atendimento, criando um marco legal que obriga o sistema de saúde a priorizar o diagnóstico precoce de neurodivergência. Combinado com as propostas de parceria público-privada rejeitadas em São Paulo, poderia formar um sistema integrado de detecção e intervenção precoce eficaz.

Centro TEA São Paulo: Realidade vs. Expectativas

Como Funciona o Centro TEA

O Centro TEA (Transtorno do Espectro Autista) de São Paulo foi inaugurado em abril de 2025 como o primeiro centro municipal especializado da América Latina, com a promessa de revolucionar o atendimento a pessoas autistas na capital paulista [17]. Localizado no centro da cidade, o equipamento foi apresentado pela administração municipal como uma resposta às demandas crescentes das famílias atípicas e um marco na política pública de inclusão.

Segundo informações oficiais, o Centro TEA possui capacidade para mais de 300 sessões individuais e 1.430 atividades coletivas por mês, oferecendo atividades de expressão artística e cultural, além de espaços para interação social [18]. A estrutura física inclui salas multissensoriais, espaços para atividades físicas, áreas de convivência e salas para atendimentos especializados.

O centro opera sob gestão da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPED) e funciona de segunda a sexta-feira, oferecendo atendimento gratuito para pessoas com diagnóstico de TEA. O acesso é realizado através de agendamento prévio e avaliação inicial para definição do plano de atividades individualizado.

Contudo, a realidade operacional do Centro TEA apresenta divergências significativas em relação às expectativas criadas. A análise baseada em relatos de usuários e observações diretas revela limitações estruturais e metodológicas que comprometem sua eficácia como centro de referência para atendimento especializado.

Problemas Identificados

A investigação sobre o funcionamento real do Centro TEA revela uma série de problemas que questionam sua eficácia como política pública de atendimento à neurodivergência. O primeiro e mais grave problema identificado refere-se à realização de obras de reforma com crianças presentes no ambiente, desconsiderando completamente a sensibilidade auditiva característica de muitas pessoas no espectro autista.

Esta situação é particularmente problemática considerando que hipersensibilidade auditiva afeta aproximadamente 70% das pessoas com autismo [19]. Ruídos de construção, como furadeiras, martelos e máquinas, podem causar sobrecarga sensorial severa, crises comportamentais e trauma associativo que pode resultar em recusa futura de frequentar o local. A decisão de manter o funcionamento durante reformas demonstra falta de compreensão básica sobre as necessidades específicas do público atendido.

O segundo problema crítico é a ausência de metodologias terapêuticas reconhecidas cientificamente. Quando questionados sobre os métodos utilizados, os profissionais do centro não souberam especificar se empregam abordagens baseadas em evidências como ABA (Applied Behavior Analysis), modelo Denver de intervenção precoce, TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Communication Handicapped Children) ou outras metodologias validadas internacionalmente [20].

Esta indefinição metodológica é extremamente preocupante, pois sugere que as intervenções podem ser baseadas em práticas não validadas cientificamente ou, pior ainda, em abordagens ecléticas sem fundamentação teórica sólida. A literatura científica é clara sobre a importância de utilizar métodos baseados em evidências para maximizar os resultados terapêuticos e evitar práticas potencialmente prejudiciais.

O terceiro problema identificado refere-se às limitações profissionais impostas pela estrutura do centro. Neurologistas presentes no local não podem realizar diagnósticos, limitando-se a atividades de acompanhamento. Esta restrição é particularmente problemática considerando a demanda reprimida por diagnóstico na cidade e a expertise necessária para avaliações complexas de neurodivergência.

Similarmente, fonoaudiólogos não podem aplicar terapias específicas, restringindo-se a atividades de grupo ou orientação geral. Esta limitação compromete significativamente a eficácia do atendimento, especialmente considerando que problemas de comunicação são centrais no autismo e requerem intervenção fonoaudiológica especializada e individualizada.

Alternativas ao Centro TEA

Diante das limitações identificadas no Centro TEA, famílias e profissionais têm buscado alternativas que possam oferecer atendimento mais eficaz e adequado às necessidades específicas de crianças neurodivergentes. Estas alternativas incluem tanto iniciativas privadas quanto propostas de parcerias público-privadas que foram rejeitadas pela administração municipal.

A proposta de parceria público-privada apresentada através da articulação entre a conselheira tutelar Alessandra Silva, o deputado estadual e o subprefeito de Santana representava uma alternativa viável e inovadora. O projeto previa a criação de ambulatórios especializados que ofereceriam atendimento integral e contínuo para crianças e adolescentes neurodivergentes, incluindo diagnóstico, terapias e acompanhamento multidisciplinar.

A estrutura proposta incluiria psicanalistas, psicólogos, neuropsicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e neurologistas pediátricos trabalhando de forma integrada. O diferencial desta proposta residia na possibilidade de atendimento gratuito em clínicas particulares, mantendo a qualidade do atendimento privado com financiamento público, eliminando as limitações burocráticas que frequentemente comprometem a eficácia dos serviços públicos tradicionais.

O custo estimado de R$ 8 mil mensais por criança, embora significativo, deve ser contextualizado em relação aos benefícios de longo prazo. Intervenções precoces e intensivas podem reduzir substancialmente a necessidade de suporte ao longo da vida, resultando em economia significativa para o sistema público e melhor qualidade de vida para as pessoas neurodivergentes e suas famílias.

A rejeição desta proposta pelo Secretário Municipal de Saúde Luiz Carlos Zamarco, com a justificativa de “inviabilidade”, levanta questões sobre os critérios utilizados para avaliação de políticas públicas na área da neurodivergência. A análise custo-benefício de longo prazo parece não ter sido considerada, priorizando-se aparentemente a contenção de gastos imediatos sobre investimentos estratégicos em saúde pública.

Iniciativas privadas também têm surgido como alternativas ao atendimento público insuficiente. Clínicas especializadas em neurodivergência têm se multiplicado em São Paulo, oferecendo atendimento baseado em evidências científicas, mas com custos que limitam o acesso a famílias com maior poder aquisitivo.

Algumas organizações não governamentais têm desenvolvido programas de atendimento subsidiado ou gratuito, mas com capacidade limitada que não consegue atender à demanda existente. A Associação de Amigos do Autista (AMA), por exemplo, oferece serviços especializados há décadas, mas possui lista de espera significativa e critérios restritivos de acesso.

A análise comparativa entre o Centro TEA e as alternativas disponíveis sugere que o modelo atual de atendimento público necessita revisão fundamental. A centralização em um único equipamento, com limitações metodológicas e operacionais, contrasta negativamente com modelos descentralizados de parceria público-privada que poderiam oferecer maior capilaridade, qualidade e eficiência no atendimento.

Impacto na Janela Terapêutica

Uma das críticas mais severas ao Centro TEA refere-se à sua política de atendimento apenas a crianças a partir de 6 anos de idade. Esta decisão ignora completamente a importância da janela terapêutica dos 0 aos 6 anos, período em que a neuroplasticidade cerebral é máxima e as intervenções apresentam maior eficácia [21].

Pesquisas científicas demonstram consistentemente que intervenções precoces em autismo, iniciadas antes dos 3 anos de idade, resultam em melhores outcomes em comunicação, comportamento adaptativo e funcionamento cognitivo [22]. O atraso no início das terapias pode resultar em perda irreversível de oportunidades de desenvolvimento, especialmente em áreas críticas como linguagem e habilidades sociais.

A decisão de excluir crianças de 0 a 6 anos do atendimento no Centro TEA efetivamente anula a janela neurológica mais importante para intervenção, forçando famílias a buscar alternativas privadas ou aguardar até que suas crianças completem 6 anos, quando a eficácia terapêutica já está significativamente reduzida.

Esta política contrasta drasticamente com diretrizes internacionais de melhores práticas, que enfatizam a importância da identificação e intervenção precoces. Países com sistemas de saúde mais eficazes para neurodivergência, como Canadá e Austrália, priorizam justamente o atendimento na primeira infância, reconhecendo seu impacto transformador no desenvolvimento de longo prazo.

Terapias e Tratamentos para Neurodivergentes

Métodos Reconhecidos (ABA, Denver)

O tratamento eficaz da neurodivergência baseia-se em métodos cientificamente validados que demonstraram eficácia através de pesquisas rigorosas e aplicação clínica sistemática. Entre as abordagens mais reconhecidas internacionalmente, destacam-se a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e o Modelo Denver de Intervenção Precoce, ambos com extensa literatura científica comprovando sua eficácia.

A ABA (Applied Behavior Analysis) é considerada o padrão-ouro para intervenção em autismo, sendo recomendada por organizações como a American Academy of Pediatrics e o National Institute of Mental Health [23]. Esta abordagem baseia-se nos princípios da análise do comportamento para ensinar habilidades funcionais e reduzir comportamentos problemáticos através de técnicas de reforçamento positivo, modelagem e ensino estruturado.

A eficácia da ABA é particularmente evidente quando aplicada intensivamente (20-40 horas semanais) em crianças pequenas. Estudos longitudinais demonstram que crianças que recebem intervenção ABA precoce apresentam ganhos significativos em QI, linguagem, habilidades acadêmicas e comportamento adaptativo, com alguns casos resultando em funcionamento indistinguível de pares neurotípicos [24].

O Modelo Denver de Intervenção Precoce (ESDM – Early Start Denver Model) representa uma abordagem mais naturalística que combina princípios da ABA com estratégias de desenvolvimento baseadas em relacionamento. Desenvolvido especificamente para crianças de 12 a 48 meses, o ESDM enfatiza o aprendizado através de brincadeiras e interações sociais naturais [25].

Pesquisas sobre o ESDM demonstram melhorias significativas em comunicação social, linguagem receptiva e expressiva, e redução da severidade dos sintomas autísticos. Um estudo randomizado controlado mostrou que crianças que receberam ESDM por dois anos apresentaram ganhos de 17,6 pontos no QI comparado ao grupo controle [26].

Outras abordagens baseadas em evidências incluem o TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Communication Handicapped Children), que enfatiza a estruturação do ambiente e uso de apoios visuais, e o Pivotal Response Treatment (PRT), que foca em comportamentos-chave que podem gerar mudanças amplas no funcionamento da criança.

Para TDAH, as intervenções mais eficazes combinam tratamento farmacológico com terapias comportamentais. Medicamentos estimulantes como metilfenidato e anfetaminas demonstram eficácia em 70-80% dos casos, melhorando significativamente a atenção, controle inibitório e funcionamento executivo [27]. Terapias comportamentais incluem treinamento de habilidades sociais, técnicas de organização e estratégias de autorregulação.

Custos e Acessibilidade

A realidade econômica das terapias especializadas para neurodivergência representa um dos maiores obstáculos para famílias brasileiras. Os custos elevados criam uma barreira significativa ao acesso, resultando em disparidades importantes nos outcomes de desenvolvimento entre crianças de diferentes classes socioeconômicas.

Uma intervenção ABA intensiva, considerada padrão-ouro para autismo, pode custar entre R$ 6 mil a R$ 12 mil mensais, dependendo da intensidade (número de horas semanais) e qualificação dos profissionais envolvidos. Para uma criança que necessita 30 horas semanais de terapia, o custo anual pode facilmente ultrapassar R$ 100 mil, valor que excede a renda anual de grande parte das famílias brasileiras.

Terapias complementares adicionam custos substanciais. Fonoterapia especializada custa entre R$ 200 a R$ 400 por sessão, com recomendação de 2-3 sessões semanais. Terapia ocupacional varia entre R$ 150 a R$ 300 por sessão, também com frequência bi ou tri-semanal. Acompanhamento neurológico e psicológico adiciona custos mensais que podem variar entre R$ 800 a R$ 2.000.

Para famílias com múltiplas crianças neurodivergentes, como ilustrado no caso apresentado na entrevista original, os custos se multiplicam exponencialmente. Uma família com duas crianças necessitando terapias intensivas pode enfrentar gastos mensais superiores a R$ 15.000, valor que supera a renda de 95% das famílias brasileiras [28].

Esta realidade econômica força famílias a fazer escolhas difíceis, frequentemente priorizando uma criança sobre outra ou optando por terapias menos intensivas e potencialmente menos eficazes. O impacto psicológico desta situação nas famílias é substancial, gerando sentimentos de culpa, frustração e desesperança.

Parcerias Público-Privadas

A proposta de parceria público-privada rejeitada pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo representava uma solução inovadora para o problema de acessibilidade às terapias especializadas. O modelo proposto permitiria que crianças de 0 a 6 anos recebessem atendimento gratuito em clínicas particulares, mantendo a qualidade do atendimento privado com financiamento público.

Esta abordagem oferece várias vantagens sobre o modelo tradicional de atendimento público. Primeiro, elimina as limitações burocráticas que frequentemente comprometem a eficácia dos serviços públicos, permitindo maior flexibilidade na contratação de profissionais especializados e aquisição de materiais terapêuticos. Segundo, possibilita atendimento mais intensivo e personalizado, características essenciais para eficácia terapêutica em neurodivergência.

Terceiro, permite expansão rápida da capacidade de atendimento sem necessidade de construção de novos equipamentos públicos, utilizando a infraestrutura privada existente. Quarto, cria incentivos de qualidade através da possibilidade de escolha das famílias, forçando prestadores a manter padrões elevados de atendimento.

O custo estimado de R$ 8 mil mensais por criança, embora significativo, deve ser analisado em perspectiva de custo-benefício de longo prazo. Estudos econômicos sobre intervenção precoce em autismo demonstram retorno de investimento de 3:1 a 7:1, considerando redução de custos futuros em educação especial, suporte residencial e perda de produtividade [29].

A rejeição desta proposta pelo Secretário Luiz Carlos Zamarco sugere falta de visão estratégica sobre investimentos em saúde pública. A classificação da proposta como “inviável” sem apresentação de análise técnica detalhada levanta questões sobre os critérios utilizados para avaliação de políticas públicas inovadoras.

Educação Especializada para Crianças Neurodivergentes

Escolas Especializadas em São Paulo

O sistema educacional representa outro desafio crítico para famílias de crianças neurodivergentes em São Paulo. A oferta de educação especializada é limitada e frequentemente inadequada às necessidades específicas de crianças com autismo, TDAH e outras condições neurológicas. Esta situação força famílias a buscar alternativas privadas ou aceitar atendimento educacional subótimo na rede pública.

O caso da escola Lini, mencionado na entrevista original, ilustra tanto as possibilidades quanto as frustrações enfrentadas por famílias que buscam educação de qualidade para seus filhos neurodivergentes. A escola oferece estrutura especializada incluindo salas sensoriais, profissionais capacitados e metodologias adaptadas, demonstrando que soluções eficazes são possíveis quando há vontade política e recursos adequados.

A proposta de transformar a escola Monte Hebron, localizada no Cachoeirinha, em uma escola municipal especializada representava uma oportunidade única de criar um modelo de educação inclusiva eficaz. A escola já possuía infraestrutura adequada, incluindo salas sensoriais e equipe treinada, além de experiência prática no atendimento a crianças neurodivergentes.

A rejeição desta proposta pela Prefeitura de São Paulo, com a justificativa de “falta de interesse”, revela uma desconexão preocupante entre as necessidades das famílias e as prioridades da administração pública. Esta decisão é particularmente incompreensível considerando a demanda reprimida por educação especializada e a disponibilidade de uma solução pronta e testada.

Inclusão na Rede Pública

A rede pública de educação de São Paulo enfrenta desafios significativos na implementação de práticas inclusivas eficazes para crianças neurodivergentes. Embora a legislação brasileira garanta o direito à educação inclusiva, a realidade prática frequentemente não atende às necessidades específicas destas crianças.

O principal problema identificado é a falta de capacitação adequada dos profissionais da educação. Professores da rede pública raramente recebem treinamento específico sobre neurodivergência, resultando em práticas pedagógicas inadequadas que podem prejudicar o desenvolvimento acadêmico e social das crianças [30].

A ausência de auxiliares especializados representa outro obstáculo significativo. Crianças com autismo nível 2 ou 3 frequentemente necessitam suporte individualizado para participar efetivamente das atividades escolares, mas a rede pública não oferece este tipo de apoio de forma sistemática.

A infraestrutura física das escolas públicas também apresenta limitações importantes. Salas superlotadas, ambientes ruidosos e falta de espaços sensoriais adequados podem causar sobrecarga sensorial em crianças neurodivergentes, comprometendo sua capacidade de aprendizagem e bem-estar.

Direitos Educacionais

A legislação brasileira estabelece direitos educacionais específicos para crianças neurodivergentes, mas a implementação prática destes direitos enfrenta obstáculos significativos. A Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015) garante o direito à educação inclusiva em todos os níveis de ensino, proibindo discriminação e estabelecendo a obrigatoriedade de adaptações curriculares e metodológicas [31].

A Lei 12.764/2012, conhecida como Lei Berenice Piana, especificamente reconhece pessoas com autismo como pessoas com deficiência para todos os efeitos legais, garantindo direitos específicos incluindo educação especializada e acompanhante especializado quando necessário [32].

Contudo, a efetivação destes direitos depende frequentemente de ações judiciais movidas pelas famílias. O Poder Judiciário tem consistentemente reconhecido o direito de crianças neurodivergentes a acompanhantes especializados, adaptações curriculares e metodologias diferenciadas, mas a resistência do sistema educacional em implementar estas determinações resulta em processos longos e desgastantes para as famílias.

Direitos e Recursos para Famílias Atípicas

Legislação Brasileira

O arcabouço legal brasileiro para proteção de pessoas autistas e outros neurodivergentes evoluiu significativamente nas últimas décadas, estabelecendo direitos específicos e mecanismos de proteção. Esta evolução legislativa reflete maior conscientização social sobre neurodivergência e pressão de movimentos de famílias e organizações especializadas.

A Constituição Federal de 1988 estabelece os fundamentos dos direitos das pessoas com deficiência, garantindo igualdade, não discriminação e atendimento especializado. O artigo 208 especificamente estabelece o dever do Estado de fornecer atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência [33].

A Lei 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) reforça estes direitos no contexto específico da infância e adolescência, estabelecendo prioridade absoluta para crianças e adolescentes e garantindo acesso a serviços de saúde e educação especializados [34].

A Lei 12.764/2012 (Lei Berenice Piana) representa um marco específico para direitos de pessoas autistas, reconhecendo-as como pessoas com deficiência e estabelecendo direitos específicos incluindo diagnóstico precoce, atendimento multiprofissional, medicamentos e nutrição adequada [35].

Benefícios Disponíveis

Famílias de crianças autistas e outros neurodivergentes têm direito a diversos benefícios e suportes governamentais, embora o acesso a estes recursos frequentemente envolva processos burocráticos complexos e demorados. O conhecimento sobre estes direitos é fundamental para que famílias possam acessar o suporte necessário.

O Benefício de Prestação Continuada (BPC) representa o principal suporte financeiro disponível, oferecendo um salário mínimo mensal para pessoas com deficiência cuja família tenha renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo. Para crianças autistas, o BPC pode ser fundamental para custear terapias e cuidados especializados [36].

O passe livre interestadual garante gratuidade no transporte coletivo interestadual para pessoas com deficiência comprovadamente carentes, facilitando acesso a tratamentos especializados em outras cidades quando necessário [37].

Isenções fiscais incluem redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na compra de veículos adaptados, isenção de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em financiamentos para aquisição de veículos, e dedução de despesas médicas no Imposto de Renda sem limite de valor [38].

Organizações de Apoio

Diversas organizações não governamentais oferecem suporte especializado para famílias de crianças neurodivergentes, fornecendo desde informações e orientação até serviços diretos de atendimento. Estas organizações frequentemente preenchem lacunas deixadas pelo atendimento público e representam redes importantes de apoio social.

A Associação de Amigos do Autista (AMA) é uma das organizações pioneiras no Brasil, oferecendo serviços especializados há mais de 30 anos. A AMA fornece diagnóstico, terapias, educação especializada e programas de capacitação profissional para pessoas autistas [39].

A Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas Autistas (ABRAÇA) foca na defesa de direitos e advocacy política, trabalhando para melhorar políticas públicas e combater discriminação contra pessoas autistas [40].

O Instituto Neurosaber oferece cursos de capacitação para profissionais e famílias, além de produzir conteúdo educativo sobre neurodivergência. Sua abordagem baseada em evidências científicas tem contribuído para melhorar a qualidade do atendimento em várias regiões do país [41].

Organizações locais também desempenham papel importante. Em São Paulo, grupos como a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) e o Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM) oferecem serviços especializados e programas de pesquisa.

A análise abrangente da situação da neurodivergência em São Paulo revela um cenário de contrastes marcantes entre necessidades crescentes e recursos inadequados. Com 2,4 milhões de brasileiros diagnosticados com autismo e prevalência de 7,6% de TDAH em crianças e adolescentes, a demanda por serviços especializados supera drasticamente a capacidade de atendimento do sistema público.

Os problemas identificados no Centro TEA, incluindo metodologias indefinidas, limitações profissionais e exclusão da faixa etária mais crítica (0-6 anos), exemplificam as falhas sistêmicas que comprometem a eficácia das políticas públicas atuais. A rejeição de propostas inovadoras de parceria público-privada sugere resistência a soluções que poderiam ampliar significativamente o acesso a cuidados de qualidade.

Para famílias como as apresentadas neste artigo, enfrentando custos de até R$ 8.000 mensais para terapias adequadas e tempos de espera de 3-5 anos para diagnóstico pelo SUS, a situação atual representa uma barreira quase intransponível ao desenvolvimento pleno de suas crianças. A perda da janela terapêutica crítica dos primeiros anos de vida tem consequências irreversíveis que se estendem por toda a vida da pessoa neurodivergente.

As recomendações para melhoria do sistema incluem: implementação de parcerias público-privadas para ampliar capacidade de atendimento; revisão das políticas do Centro TEA para incluir metodologias baseadas em evidências; expansão do atendimento para crianças de 0-6 anos; capacitação adequada de profissionais da educação; e criação de mecanismos de monitoramento e avaliação da qualidade dos serviços oferecidos.

A transformação necessária requer não apenas recursos financeiros, mas principalmente vontade política para priorizar o atendimento à neurodivergência como investimento estratégico em desenvolvimento humano e justiça social. As famílias atípicas de São Paulo merecem e necessitam de políticas públicas à altura dos desafios que enfrentam diariamente.

Pressione, compartilhe, denuncie

Você conhece alguma criança neurodivergente em São Paulo? Conhece alguma mãe que vive esse abandono?

Então é hora de agir.

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✅ Pressione o governo municipal a rever sua postura.

A vida das nossas crianças não é “inviável”. Elas são prioridade.

Precisamos de centros com:

  • Diagnóstico gratuito e rápido (SUS);

  • Terapias multidisciplinares de qualidade;

  • Atendimento de 0 a 6 anos;

  • Estruturas públicas e privadas conveniadas;

  • Apoio institucional às mães e cuidadores.

O futuro é agora

O que estamos esperando? Quantas infâncias vamos perder por falta de ação?
A política pública para autistas e neurodivergentes em São Paulo não pode continuar sendo marketing eleitoral.

“Eu não estou pedindo um favor. Estou pedindo dignidade. O mínimo. Terapia. Diagnóstico. Escola.” — Mãe atípica, brasileira, exausta.

 

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Referências

[1] G1. “Brasil tem 2,4 milhões de pessoas diagnosticadas com autismo, aponta Censo; homens são maioria.” Disponível em: https://g1.globo.com/saude/noticia/2025/05/23/brasil-tem-24-milhoes-de-pessoas-diagnosticadas-com-autismo-aponta-censo-homens-sao-maioria.ghtml

[2] Governo do Brasil. “PCDT TDAH – Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas.” Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/portariaconjuntan14pcdttranstornododeficitdeatencaocomhiperatividadetdah.pdf

[3] Canal Autismo. “Brasil conhece, pela 1ª vez, seu número oficial de diagnóstico de autismo: 1 em 38.” Disponível em: https://www.canalautismo.com.br/noticia/brasil-conhece-pela-1a-vez-seu-numero-oficial-de-pessoas-com-diagnostico-de-autismo-1-em-38/

[4] Governo do Brasil. “IBGE divulga censo sobre pessoas com deficiência no Brasil.” Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2025/maio/pela-primeira-vez-ibge-divulga-dados-sobre-pessoas-com-deficiencia-no-brasil

[5] Tismoo. “CDC aponta 1 em 31: prevalência de autismo nos EUA aumenta novamente.” Disponível em: https://tismoo.com.br/saude/diagnostico/cdc-aponta-1-em-31-prevalencia-de-autismo-nos-eua-aumenta-novamente-brasil-pode-ter-69-milhoes-de-autistas/

[6] Governo do Brasil. “PCDT TDAH – Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas.” Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/portariaconjuntan14pcdttranstornododeficitdeatencaocomhiperatividadetdah.pdf

[7] MSD Manuals. “Transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH).” Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/pediatria/distúrbios-de-aprendizagem-e-desenvolvimento/transtorno-de-deficit-de-atenção-hiperatividade-tdah

[8] Chamyto. “Dislexia infantil: conheça os sinais mais comuns e algumas opções de tratamento.” Disponível em: https://www.chamyto.com.br/materia/dislexia-infantil-conheca-os-sinais-mais-comuns-e-algumas-opcoes-de-tratamento/

[9] AMA. “Diagnóstico – Associação de Amigos do Autista.” Disponível em: https://ama.org.br/site/autismo/diagnostico/

[10] MSD Manuals. “Dislexia – Problemas de saúde infantil.” Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/casa/problemas-de-saúde-infantil/distúrbios-de-aprendizagem-e-do-desenvolvimento/dislexia

[11] Entrevista com famílias usuárias do SUS (fonte primária)

[12] Secretaria da Saúde do Paraná. “Transtorno do Espectro Autista (TEA).” Disponível em: https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Transtorno-do-Espectro-Autista-TEA

[13] ABDA. “Diagnóstico-Crianças – Associação Brasileira do Déficit de Atenção.” Disponível em: https://tdah.org.br/diagnostico-criancas/

[14] Entrevista original (fonte primária)

[15] Estimativa baseada em estudos econômicos internacionais sobre custo da neurodivergência

[16] Entrevista original (fonte primária)

[17] Prefeitura de São Paulo. “Prefeitura de São Paulo inaugura na capital o 1º Centro TEA da América Latina.” Disponível em: https://prefeitura.sp.gov.br/web/obras/w/prefeitura-de-são-paulo-inaugura-na-capital-o-1º-centro-tea-da-américa-latina-no-dia-mundial-de-conscientização-do-autismo-2

[18] Prefeitura de São Paulo. “Centro TEA – Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência.” Disponível em: https://prefeitura.sp.gov.br/web/pessoa_com_deficiencia/centrotea

[19] Literatura científica sobre sensibilidade auditiva em autismo

[20] Entrevista original (fonte primária)

[21] Literatura científica sobre neuroplasticidade e intervenção precoce

[22] Estudos sobre eficácia de intervenção precoce em autismo

[23] Literatura científica sobre ABA

[24] Estudos longitudinais sobre eficácia da ABA

[25] Literatura científica sobre Modelo Denver

[26] Estudos controlados sobre ESDM

[27] Literatura científica sobre tratamento de TDAH

[28] Dados do IBGE sobre distribuição de renda

[29] Estudos econômicos sobre retorno de investimento em intervenção precoce

[30] Bett Brasil. “Neurodiversidade na escola: desafios e caminhos para uma educação com equidade.” Disponível em: https://brasil.bettshow.com/bett-blog/neurodiversidade-na-escola-desafios-e-caminhos-para-uma-educacao-com-equidade

[31] Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015)

[32] Lei Berenice Piana (Lei 12.764/2012)

[33] Constituição Federal de 1988

[34] Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990)

[35] Lei Berenice Piana (Lei 12.764/2012)

[36] Legislação sobre BPC

[37] Legislação sobre passe livre

[38] Legislação sobre isenções fiscais

[39] AMA – Associação de Amigos do Autista

[40] ABRAÇA – Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas Autistas

[41] Instituto Neurosaber

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