Resenhas e Opinião

24 – A Fábrica de Cretinos Digitais

A Fábrica de Cretinos Digitais — Os Perigos das Telas para Nossas Crianças (Vestígio, 2021), o neurocientista Michel Desmurget apresenta uma análise detalhada dos efeitos nocivos do uso excessivo de telas digitais por crianças e adolescentes, combinando evidências de neurociência, psicologia do desenvolvimento e psiquiatria.

A Fábrica de Cretinos Digitais – No livro A Fábrica de Cretinos Digitais — Os Perigos das Telas para Nossas Crianças (Vestígio, 2021), o neurocientista Michel Desmurget apresenta uma análise detalhada dos efeitos nocivos do uso excessivo de telas digitais por crianças e adolescentes, combinando evidências de neurociência, psicologia do desenvolvimento e psiquiatria.

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As conclusões apontam para uma ameaça concreta ao desenvolvimento cerebral, à saúde mental e às habilidades cognitivas das novas gerações. Neste artigo, trago os principais achados de Desmurget, com ênfase no funcionamento do cérebro, nas alterações cognitivas, nas consequências psicológicas e nos indicadores psiquiátricos, iluminando como o uso de telas pode moldar (ou deformar) o desenvolvimento humano.


Quem é Michel Desmurget

Michel Desmurget é pesquisador francês, doutor em neurociências, diretor de pesquisa no INSERM e no Instituto de Ciências Cognitivas Marc Jeannerod. Ele dedicou parte importante de sua carreira ao estudo dos efeitos da televisão, dos videogames, tablets, smartphones e outras telas sobre o cérebro em desenvolvimento.

Seus estudos abrangem circuitos neurais, plasticidade cerebral, memória, linguagem, atenção, sono, entre outros domínios cognitivos e comportamentais. O livro A Fábrica de Cretinos Digitais sintetiza essas pesquisas, apoiado em estudos experimentais, epidemiológicos e clínicos.


Desenvolvimento cerebral e plasticidade neural

Desmurget parte da premissa de que o cérebro humano tem períodos críticos de desenvolvimento, especialmente nos primeiros anos de vida — até os seis anos, e com extensão considerável até por volta dos doze anos. Durante essas fases, ocorre intensa plasticidade neural: formação de sinapses, fortalecimento de circuitos neurais, desenvolvimento do córtex pré-frontal, amadurecimento das áreas responsáveis pela linguagem, atenção, controle inibitório, tomada de decisão e memória.

A exposição prolongada e intensiva a telas digitais interfere nesses processos. O autor destaca, por exemplo, que cada minuto adicional de exposição a dispositivos móveis em crianças muito pequenas está associado a atrasos de linguagem, pela redução da interação verbal direta, pela pobreza de vocabulário dos conteúdos consumidos e pela limitação do estímulo linguístico que livros e interações diretas proporcionam. A leitura de histórias, conversa com adultos, brincar sem recursos digitais promovem a estimulação dos circuitos de linguagem de forma mais rica do que a maioria dos programas televisivos ou apps adaptados.

Do ponto de vista anatômico, algumas pesquisas citadas por Desmurget mostram que o córtex pré-frontal — responsável por funções executivas, autocontrole, planejamento — ainda está em desenvolvimento até a adolescência, e que o uso excessivo de telas pode retardar ou comprometer esse amadurecimento. Ele alerta que as crianças submetidas à exposição precoce e continuada tenderiam a desenvolver menor capacidade de atenção sustentada e maior distração, pois os circuitos atencionais são “imersos” em estimulação sensorial externa contínua, dificultando o treino interno da concentração.

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Impacto cognitivo: linguagem, atenção, memória e QI

Uma das afirmações mais impactantes do livro é que estamos observando uma reversão do chamado “efeito Flynn” — o fenômeno pelo qual o QI médio das gerações vinha aumentando ao longo das décadas. Desmurget registra dados de vários países europeus nos quais as gerações mais novas estão obtendo pontuações de QI inferiores às de seus pais. Embora o QI seja influenciado por muitos fatores — condições de vida, nutrição, escolaridade, sistema de saúde — ele argumenta que o uso intensivo de telas aparece como um fator relevante e mensurável nessa queda.

Em relação à linguagem, o autor apresenta estudos que mostram atraso de aquisição de vocabulário, menor riqueza lexical, e menor exposição a estruturas complexas de frase em crianças com uso excessivo de telas. Programas televisivos ou aplicativos com linguagem simples ou repetitiva não substituem as interações diretas com adultos. Além disso, substituir leitura de livros por consumo de vídeos ou jogos reduz a prática de leitura, que é crucial para o desenvolvimento de habilidades lingüísticas avançadas.

No funcionamento da atenção, Desmurget observa que telas digitais — especialmente videogames, redes sociais, vídeos curtos — estimulam mecanismos de recompensa cerebral com ciclos de estimulação e recompensa muito rápidos. Isso leva a uma preferência por estímulos imediatos e fragmentados, dificultando a atenção prolongada, o foco em tarefas monótonas ou exigentes, e a capacidade de concentração em contextos escolares. A atenção sustentada, essa capacidade de manter o foco apesar de distrações, é treinada por atividades como leitura, estudo, concentração em projetos longos — atividades que tendem a ser suprimidas com o uso intensivo de telas.

Quanto à memória, o autor cita estudos em que crianças e adolescentes que usam muito as telas têm pior desempenho em tarefas que envolvem memória de longo prazo, retenção de vocabulário, recordação de histórias ou textos lidos. O sono — quando perturbado pelas telas — também interfere na consolidação da memória, porque é durante o sono profundo que boa parte do processamento de lembranças ocorre.

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Psicologia do desenvolvimento: emocional, comportamental e social

Do ponto de vista psicológico, A Fábrica de Cretinos Digitais enfatiza que o uso excessivo de telas impacta o desenvolvimento emocional da criança. Desmurget apresenta dados que ligam a hiperexposição digital ao aumento de sintomas de ansiedade, irritabilidade, déficit de atenção, menor regulação emocional. Crianças que usam telas intensamente relatam ou manifestam, com mais frequência, irritabilidade, impulsividade, dificuldade para se acalmar, sofrimento relacionado a interrupções de tela ou retirada de aparelho.

A psiquiatria entra no debate sobretudo quando se considera a saúde mental mais grave: relacionamentos entre uso de telas e aumento de risco de transtornos ansiosos, depressivos, pior qualidade de sono, maiores pensamentos negativos ou ruminação. Em alguns estudos acompanhados por Desmurget, adolescentes com alta exposição digital apresentavam taxas mais elevadas de depressão ou ideação suicida, principalmente quando a exposição invadia horas noturnas e interferia no sono.

As interações sociais também são afetadas. Crianças que passam muito tempo em frente a telas têm menos tempo livre para brincar, para interações presenciais com seus pares, para atividades criativas fora do digital. Isso reduz o treino de habilidades sociais como empatia, cooperação, gerenciamento de conflitos, leitura de expressões emocionais. A sensação de conexão virtual frequentemente não compensa as interações reais do ponto de vista psicológico, segundo Desmurget, porque os estímulos digitais costumam gerar feedbacks rápidos, superficiais ou idealizados, que não exigem trabalho relacional emocional profundo.

Outro ponto psicológico relevante é o papel dos pais e cuidadores. O autor destaca que os pais — especialmente os que também têm uso intenso de aparelhos digitais — muitas vezes subestimam o efeito do tempo de tela ou acreditam que conteúdo “educacional” ou “infantil” é neutro. Desmurget alerta que não basta escolher conteúdos supostamente positivos: o importante é a quantidade de tempo de exposição, a qualidade das interações humanas, o contexto (por exemplo, com luz apagada, à noite, no quarto) e se a atividade digital desloca atividades cognitivamente mais estimulantes.


Psiquiatria: sono, transtornos mentais e saúde mental

A psiquiatria entra fortemente no livro por meio do exame das consequências clínicas do uso exagerado de telas. Desmurget relata que a qualidade do sono é um dos domínios mais afetados. As telas emitem luz azul, atrapalham a secreção de melatonina, atrasam o horário de dormir, reduzem o tempo total de sono e fragmentam o sono. Menos sono profundo significa menor recuperação cerebral, pior regulação emocional, maior irritabilidade, menor capacidade de aprendizado e memória.

No estudo de adolescentes, relatado no livro, aqueles que dormem menos têm maiores índices de depressão, ansiedade, comportamento impulsivo, pior humor, e pior rendimento escolar. O autor aponta que privação de sono — comum em jovens que usam telas até tarde — torna-se fator de risco para sintomas psiquiátricos mais severos.

Desmurget também trata de dependência comportamental. Embora o livro não sempre use os termos rígidos de diagnóstico formal, ele mostra que alguns padrões de uso digital imitariam características de dependências: uso compulsivo, uso que interferiria em outras áreas da vida (sono, escola, relacionamento), dificuldade de interromper, sofrimento quando se tenta reduzir o tempo. Esses comportamentos, observados especialmente em adolescentes, remetem a critérios semelhantes aos de transtornos de controle de impulso ou uso patológico de tecnologia, como já discutido em pesquisas psiquiátricas e psicológicas em outras obras.

Além disso, há menção a sinais de sintomas mentais mais graves — tristeza persistente, isolamento, pior autoestima — associados a uso digital excessivo, sobretudo quando associado ao bullying virtual, comparação social nas redes, exposição a conteúdos nocivos (violência, sexualização, propaganda de bebidas, drogas etc.). Esses fatores de risco são considerados pela psiquiatria como relevantes para o surgimento ou agravamento de transtornos mentais.

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Evidências empíricas e estudo de casos

O livro reúne centenas de estudos científicos, de várias disciplinas (neurociência, psicologia cognitiva, epidemiologia, psiquiatria). Muitos desses estudos são observacionais, mas também há experimentos. Desmurget menciona, por exemplo, estudos em que crianças que recebiam um videogame ou tablet para uso recreativo apresentavam, após alguns meses, pior desempenho escolar, menor tempo de leitura, menor concentração, e pior qualidade do sono.

Relatos clínicos e casos individuais também são usados para ilustrar os efeitos. Um exemplo é o caso de uma criança pré-escolar que, após uso livre de tablet, teve atraso severo de linguagem; retirada da exposição digital foi seguida por recuperação significativa na fala. Outro relato descreve adolescentes que, submetidos a restrições de tempo de tela, apresentaram melhoria nos sintomas de ansiedade, do humor e no rendimento escolar.

Esses casos não substituem estudos de largo espectro, mas servem para tornar tangíveis as estatísticas: não se trata de abstrações distantes, mas de vivências reais que contrastam fortemente com a idealização de que tecnologia seria invariavelmente benéfica.


Recomendações de Desmurget: limites, intervenções e papel da comunidade

Com base nas evidências, Desmurget propõe recomendações claras do ponto de vista neurocientífico, psicológico e psiquiátrico. Algumas das principais propostas incluem: evitar telas para crianças até os seis anos, ou restringir severamente seu uso nesse período; limitar o tempo de tela diário para faixas etárias maiores, especialmente restringindo o uso noturno; eliminar telas do quarto; garantir que o tempo dedicado a telas não sufoque tempo para leitura, interações humanas, brincar, dormir suficientemente.

Do ponto de vista escolar, ele propõe políticas que restrinjam a digitalização indiscriminada das aulas, especialmente quando a tecnologia serve mais como distração do que como ferramenta de aprendizado. Ele enfatiza que o sistema educacional deve preservar tempo para atividades que estimulam o pensamento profundo, leitura de textos complexos, discussão, atividades manuais e criativas — tudo isso contribui para o desenvolvimento cognitivo e emocional.

Aos pais e cuidadores cabe o papel de modelo comportamental (evitar uso excessivo em presença das crianças), educação sobre os efeitos das telas e criação de regras domésticas sobre horários, contextos e conteúdos.


Contribuição para saúde pública

Desmurget apresenta seu livro como um alerta de saúde pública. Ele defende que as políticas devem reconhecer o uso excessivo de telas como um fator de risco relevante, não apenas cultural, mas médico, psicológico e educacional. Se não for tratado, pode haver uma geração mais fraca em termos cognitivos, emocionalmente mais vulnerável, com maior prevalência de problemas mentais, menor rendimento escolar e escolaridade mais baixa — com implicações sociais profundas.

Ele sugere, portanto, que os governos incluam orientação sobre uso de telas nas recomendações de saúde e desenvolvimento infantil, que a escola seja um espaço defensor do desenvolvimento cognitivo e emocional humano real, e que haja campanhas de conscientização pública.

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Porque este tema importa

Não se trata apenas de diminuir o tempo de tela, mas de refletir sobre o que queremos enquanto sociedade: que crianças estamos formando? Que tipo de habilidades valorizamos — raciocínio, leitura, cultura, empatia, autocontrole — ou entretenimento rápido, consumo passivo, imediatismo? A neurociência mostra que o cérebro jovem ainda não tem ferramentas maduras para separar o que é benéfico do que é prejudicial; cabe aos adultos criar condições para um desenvolvimento saudável.

Em resumo, A Fábrica de Cretinos Digitais é uma obra contundente, baseada em evidências, que não demoniza a tecnologia, mas mostra que o uso sem limites, sem reflexão, sem supervisão, com deslocamento de atividades cognitivas fundamentais, provoca prejuízos reais. A psicologia e a psiquiatria colaboram para mostrar os danos emocionais e psicológicos, enquanto a neurociência explica os mecanismos: circuitos cerebrais mal estimulados ou estimulação excessiva e fragmentada, sono comprometido, desenvolvimento anatômico e funcional afetado.

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