8- Os perigos ocultos do Roblox
Os perigos ocultos do Roblox - riscos de grooming, vício digital, golpes e impactos na saúde mental. Saiba como proteger os jovens nesse universo virtual

Os perigos ocultos do Roblox – O Roblox, lançado em 2006, tornou-se uma das maiores plataformas de jogos online do mundo, especialmente entre crianças e adolescentes. Estima-se que mais de 50 milhões de usuários ativos diariamente e 200 milhões de usuários ativos mensais se conectem para jogar, criar e interagir em seus mundos virtuais.
A Roblox Corporation construiu um império sobre a premissa de um metaverso amigável para crianças e é vendido como um espaço de criatividade, onde qualquer pessoa pode programar seus próprios jogos e compartilhar experiências. No entanto, por trás dessa fachada colorida e aparentemente inocente, esconde-se um lado obscuro que tem preocupado especialistas em segurança digital, pais, psicólogos e psiquiatras.
Os riscos que vão desde a exposição a predadores sexuais até impactos profundos no cérebro em desenvolvimento transformam essa plataforma em um campo minado para a saúde mental e emocional.
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Os perigos ocultos do Roblox – O Roblox como Porta de Entrada para Predadores
Um dos maiores perigos está na interação social que o jogo permite. O chat, as salas privadas e os grupos criados dentro da plataforma funcionam como portas de entrada para pedófilos e aliciadores.
Do ponto de vista da psicologia, esse processo é conhecido como grooming: a aproximação gradual em que o agressor conquista a confiança da criança, muitas vezes oferecendo presentes virtuais como Robux (a moeda do jogo). Esse vínculo emocional explorado no ambiente digital é reforçado pela vulnerabilidade cognitiva típica da infância, quando o córtex pré-frontal — responsável pelo julgamento crítico e pelo discernimento de riscos — ainda está em desenvolvimento.
A neurociência mostra que crianças de até 12 anos tendem a confiar mais em figuras que se apresentam como amigos ou parceiros de jogo. O sistema límbico, especialmente a amígdala, que regula emoções como medo e confiança, é facilmente manipulado por reforços positivos. Quando um predador cria uma sensação de pertencimento e reconhecimento, ativa os circuitos dopaminérgicos ligados à recompensa, tornando a criança mais propensa a seguir instruções, inclusive perigosas.
Conteúdo Sexual e Inapropriado
Outro ponto de grande preocupação é a disseminação de conteúdos inadequados. Embora o Roblox afirme possuir sistemas de moderação, diversos estudos e reportagens revelam a existência de “jogos” dentro da plataforma que simulam atos sexuais, violência explícita e até cultos macabros.
A psicologia do desenvolvimento alerta para o impacto devastador desse tipo de exposição precoce: o contato prematuro com estímulos eróticos ou violentos pode distorcer a percepção de relacionamentos, gerar confusão de identidade e até dessensibilizar o jovem para situações de abuso.
Já na psiquiatria, há risco de desencadear transtornos de ansiedade, depressão e até quadros de estresse pós-traumático em crianças expostas repetidamente a esses estímulos. O cérebro infantil, ainda em processo de mielinização e fortalecimento de conexões sinápticas, absorve com maior intensidade experiências impactantes, transformando-as em marcas neurológicas duradouras.
A Sedução do Metaverso E O Cérebro – Os perigos ocultos do Roblox
A atração quase magnética que plataformas como o Roblox exercem sobre crianças e adolescentes não é um acaso, mas sim o resultado de um design cuidadosamente elaborado que explora as vulnerabilidades do cérebro em desenvolvimento.
O design do Roblox é construído para maximizar engajamento. Estímulos visuais vibrantes, recompensas constantes, notificações e a possibilidade de socialização criam um ambiente altamente viciante. A dopamina, neurotransmissor ligado ao prazer e à motivação, é liberada em excesso, produzindo uma sensação de necessidade contínua de jogar. Esse mecanismo é semelhante ao observado em drogas psicoativas, ainda que em escala diferente.
Do ponto de vista neurológico, o córtex pré-frontal — responsável pelo controle de impulsos — só atinge plena maturidade por volta dos 25 anos. Isso significa que crianças e adolescentes estão especialmente vulneráveis à dependência digital. Estudos mostram que longos períodos em ambientes como o Roblox podem alterar circuitos neurais ligados à memória, atenção e capacidade de planejamento, prejudicando o desempenho escolar e o desenvolvimento socioemocional.
O Circuito de Recompensa e a Dopamina
No centro da experiência do Roblox, e de muitos outros jogos digitais, está o sistema de recompensa do cérebro, um conjunto de estruturas neurais responsáveis por mediar o prazer e a motivação. O principal neurotransmissor desse sistema é a dopamina, frequentemente apelidada de “molécula do prazer”.
Quando experimentamos algo gratificante, como receber uma recompensa em um jogo, o cérebro libera dopamina, criando uma sensação de prazer e nos motivando a repetir o comportamento. O Roblox é um mestre em manipular esse sistema.
A plataforma está repleta de recompensas intermitentes e variáveis, desde a aquisição de novos itens para o avatar até a conclusão de desafios e a interação social. Essa imprevisibilidade das recompensas é particularmente eficaz em manter o cérebro engajado, criando um ciclo de antecipação e gratificação que pode ser difícil de quebrar.
Estudos de neuroimagem revelam que o Transtorno de Jogos na Internet (IGD), uma condição agora reconhecida pela Associação Americana de Psiquiatria, compartilha muitas semelhanças neurobiológicas com o vício em substâncias. Pesquisas mostram que indivíduos com IGD apresentam uma densidade reduzida de transportadores de dopamina e uma ocupação menor dos receptores de dopamina D2 no estriado, uma região cerebral crucial para o processamento de recompensas.
Essas alterações são semelhantes às observadas em indivíduos com dependência de drogas e álcool, sugerindo um mecanismo de vício comum. Um estudo publicado na revista Dialogues in Clinical Neuroscience destaca que a exposição a pistas de jogos em indivíduos com IGD ativa o cérebro de maneira semelhante à exposição a pistas de drogas em dependentes químicos, afetando o processamento de recompensas, o processamento de informações sensoriais e a autorreflexão.
O Cérebro Adolescente
O cérebro adolescente é particularmente suscetível aos efeitos viciantes dos jogos digitais. Durante a adolescência, o sistema de recompensa do cérebro, impulsionado pela dopamina, está em um estado de hipersensibilidade, enquanto o córtex pré-frontal, a região responsável pelo controle de impulsos, tomada de decisões e planejamento de longo prazo, ainda está em desenvolvimento.
Essa assincronia no desenvolvimento cerebral cria uma “tempestade perfeita” para o comportamento de risco e a busca por recompensas imediatas, tornando os adolescentes mais vulneráveis ao apelo dos jogos.
Uma pesquisa publicada na Frontiers in Human Neuroscience explica que, embora a taxa basal de liberação de dopamina seja menor em adolescentes, seus neurônios dopaminérgicos são capazes de liberar mais dopamina quando estimulados por eventos recompensadores.
Isso significa que a mesma recompensa em um jogo pode produzir uma onda de prazer muito mais intensa em um adolescente do que em um adulto, tornando a experiência mais viciante. Um estudo longitudinal da Universidade de Rochester, que acompanhou mais de 6 mil crianças e adolescentes por quatro anos, identificou um marcador cerebral para a vulnerabilidade ao vício em jogos.
Os pesquisadores descobriram que os participantes que desenvolveram mais sintomas de vício em jogos ao longo do tempo apresentavam menor atividade cerebral na região envolvida na tomada de decisões e no processamento de recompensas durante o escaneamento cerebral inicial. Isso sugere que uma sensibilidade reduzida a recompensas não relacionadas a jogos pode desempenhar um papel no desenvolvimento do jogo problemático.
O Desenvolvimento Cerebral Comprometido
Pesquisas recentes têm revelado evidências preocupantes sobre como o uso excessivo de jogos digitais pode comprometer o desenvolvimento cerebral normal em crianças e adolescentes.
Um estudo longitudinal publicado na revista Neurobiological Mechanisms demonstrou que o jogo de videogames está correlacionado com o desenvolvimento atrasado de várias regiões cerebrais, incluindo o hipocampo, o córtex orbitofrontal, o pálido, o caudado/putâmen, a ínsula e o tálamo. Essas regiões são fundamentais para funções cognitivas superiores, memória, tomada de decisões e controle emocional.
O córtex pré-frontal, em particular, mostra sinais de desenvolvimento comprometido em usuários intensivos de jogos. Esta região cerebral, responsável pelo controle executivo, planejamento e tomada de decisões, não atinge sua maturidade completa até os 25 anos de idade.
Quando exposta ao uso excessivo de jogos durante este período crítico de desenvolvimento, pode ocorrer uma redução na densidade da matéria cinzenta e alterações na conectividade funcional. Um estudo da Endeavor Health descobriu que “o lobo frontal tende a ter menos desenvolvimento naqueles que fazem muito jogo – 10 horas por dia ou mais”.
Alterações Estruturais no Cérebro
As alterações estruturais no cérebro de jovens viciados em jogos são comparáveis àquelas observadas em dependentes químicos. Estudos de neuroimagem mostram reduções significativas no volume da matéria cinzenta em regiões associadas ao controle motor, atenção e controle cognitivo. Também foi observada uma redução no volume da matéria branca em regiões associadas à memória e à neurotransmissão sensorial e motora.
Particularmente alarmante é a descoberta de que existe uma relação inversa entre o baixo volume de matéria cinzenta do córtex cingulado anterior (ACC) e erros de resposta incongruente na tarefa de Stroop, um teste que mede a capacidade de controle inibitório. Isso sugere que o uso excessivo de jogos pode prejudicar a capacidade de uma criança de resistir a impulsos e manter o foco em tarefas importantes.
Hiperexcitação Cerebral
O uso excessivo de videogames pode levar o cérebro a um estado constante de hiperexcitação. Este estado, caracterizado por níveis elevados de ativação do sistema nervoso simpático, pode ter consequências devastadoras para o desenvolvimento saudável. A hiperexcitação manifesta-se de forma diferente em cada pessoa, mas geralmente inclui sintomas como dificuldade de concentração, irritabilidade, ansiedade, problemas de sono e comportamento impulsivo.
A Mayo Clinic Health System explica que “o uso excessivo de videogames pode levar o cérebro a ficar acelerado em um estado constante de hiperexcitação”. Este estado pode ser particularmente prejudicial para crianças e adolescentes, cujos sistemas nervosos ainda estão em desenvolvimento. A exposição prolongada à hiperexcitação pode alterar permanentemente a arquitetura neural, afetando a capacidade de regulação emocional e controle de impulsos ao longo da vida.
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Identidade, Socialização e Saúde Mental
Além dos impactos neurobiológicos, o Roblox apresenta um complexo campo de batalha psicológico, onde a formação da identidade, a socialização e a saúde mental dos jovens usuários são constantemente desafiadas.
O Roblox também cria universos onde a criança pode adotar identidades diferentes, moldando avatares que não correspondem ao eu real. Essa experiência, embora criativa, pode se tornar prejudicial quando leva ao afastamento da realidade. A psicologia social destaca que a comparação constante com outros jogadores e a busca por status dentro do jogo podem gerar sentimentos de inadequação, insegurança e até sintomas depressivos.
Além disso, o isolamento social é um risco real. A substituição de interações presenciais por amizades digitais fragiliza as habilidades de socialização no mundo real, interferindo no desenvolvimento da empatia e do pensamento crítico. A psiquiatria alerta que esse quadro pode evoluir para transtornos de personalidade dependente ou até fobia social.
A plataforma, com sua ênfase em avatares personalizáveis e interações sociais, pode ser tanto um espaço de empoderamento quanto um terreno fértil para a ansiedade, a depressão e o cyberbullying.
A Construção da Identidade no Mundo Virtual
Para muitos adolescentes, o Roblox oferece um laboratório para a exploração da identidade. Através de seus avatares, eles podem experimentar diferentes personas, estilos e papéis sociais, um processo crucial para o desenvolvimento do self.
Um estudo publicado na revista Computers in Human Behavior descobriu que os adolescentes são mais propensos do que os adultos a se identificarem com seus avatares e a desenvolverem laços emocionais com eles. Essa imersão no mundo virtual pode ser benéfica, permitindo que jovens com ansiedade social ou que se sentem marginalizados em suas vidas offline encontrem um espaço para se expressar e se conectar com outros.
No entanto, essa mesma flexibilidade na construção da identidade pode ter um lado sombrio. A pressão para criar um avatar “perfeito” e a constante comparação com os outros podem levar a padrões irreais de beleza e estilo de vida, exacerbando a dismorfia corporal e a baixa autoestima.
A linha entre o eu real e o eu virtual pode se tornar tênue, levando a uma confusão de identidade, especialmente em um período tão crítico do desenvolvimento como a adolescência. Um artigo na Journal of Medical Internet Research alerta que o uso excessivo do metaverso e de avatares pode levar à confusão de identidade em crianças e adolescentes, pois a adolescência é um período crítico para a formação da identificação.
Cyberbullying
O cyberbullying é uma realidade em muitas plataformas online, e o Roblox não é exceção. A natureza anônima e desinibida das interações online pode criar um ambiente tóxico, onde o assédio, os insultos e a exclusão social são comuns.
Um guia para pais publicado pela própria Roblox reconhece que o cyberbullying é um problema na plataforma, definindo-o como “comentários ferinos de outros jogadores cujas emoções se intensificam em torno da dinâmica de poder dentro do jogo”.
As formas de cyberbullying no Roblox são variadas, incluindo linguagem culpabilizante, fofocas, discurso de ódio e até mesmo comportamento predatório de adultos que se passam por adolescentes.
Os impactos psicológicos do cyberbullying podem ser devastadores. As vítimas frequentemente experimentam sentimentos de vergonha, culpa, medo e ansiedade. O assédio online pode corroer a autoconfiança e a autoestima, e exacerbar condições de saúde mental preexistentes, como depressão e ansiedade.
Um estudo da Pew Research Center descobriu que 80% dos adolescentes consideram o assédio em videogames um problema para sua faixa etária, e mais de 40% relataram ter sido chamados por nomes ofensivos durante o jogo.
Refúgio do Mundo Virtual
Para jovens que lutam contra a ansiedade social, o Roblox pode parecer um refúgio seguro. A capacidade de interagir com os outros através de um avatar, sem a pressão do contato real, pode ser libertadora.
No entanto, essa mesma característica pode se tornar uma armadilha. Um estudo publicado no Journal of Behavioral Addictions explorou a complexa relação entre ansiedade social e Transtorno de Jogos na Internet (IGD).
Os pesquisadores descobriram que a ansiedade social estava diretamente associada a quatro motivações principais para jogar: escape, enfrentamento, fantasia e recreação. O estudo também revelou que as metacognições negativas sobre jogos online, ou seja, as crenças negativas sobre os próprios pensamentos relacionados ao jogo, desempenhavam o papel mediador mais forte na relação entre ansiedade social e IGD.
Isso sugere que, para indivíduos com ansiedade social, o jogo pode se tornar uma forma de evitar situações sociais temidas, reforçando o ciclo de ansiedade e isolamento.
O Paradoxo da Socialização Digital
Embora o Roblox seja promovido como uma plataforma social que conecta crianças e adolescentes ao redor do mundo, pesquisas sugerem que o tipo de socialização que ocorre nesses ambientes virtuais pode ser qualitativamente diferente e potencialmente menos benéfico do que as interações reais.
Um estudo da Universidade de Rochester sobre a ameaça da realidade virtual à socialização argumenta que “sucumbir ao uso completo da realidade virtual para o trabalho tiraria a interação social genuína”.
A natureza das interações no Roblox, mediadas por avatares e limitadas pelas funcionalidades da plataforma, pode não fornecer as nuances e a profundidade emocional necessárias para o desenvolvimento de habilidades sociais saudáveis.
Crianças que passam uma quantidade significativa de tempo interagindo principalmente através de mundos virtuais podem desenvolver deficiências em leitura de sinais sociais não verbais, empatia e comunicação emocional complexa.
Comportamento Antissocial e Desinibição Online
O anonimato relativo e a natureza virtual das interações no Roblox podem levar a um fenômeno conhecido como desinibição online. Este efeito psicológico faz com que as pessoas se comportem de maneiras que normalmente não fariam em interações sociais reais.
No contexto do Roblox, isso pode manifestar-se como comportamento antissocial, agressividade e falta de empatia.
Pesquisas indicam que pessoas em ambientes virtuais podem se sentir mais confiantes ao agir de maneiras discriminatórias e agressivas, causando assédio sexual, racismo, homofobia e transfobia dentro das comunidades de jogos. Este comportamento não é apenas prejudicial para as vítimas, mas também pode normalizar a agressão e a falta de empatia nos perpetradores, especialmente em crianças e adolescentes cujos sistemas de valores morais ainda estão em formação.
Regulação Emocional e Desenvolvimento Social
O uso excessivo do Roblox pode interferir no desenvolvimento normal da regulação emocional em crianças e adolescentes. A capacidade de “desligar” ou “resetar” situações difíceis no mundo virtual não existe na vida real, e crianças que se acostumam com esse nível de controle podem ter dificuldades para lidar com frustrações e conflitos no mundo offline.
Além disso, a natureza altamente estimulante e recompensadora dos jogos pode tornar as atividades do mundo real parecerem monótonas e pouco interessantes em comparação. Isso pode levar a uma diminuição da motivação para participar de atividades offline, incluindo exercícios físicos, hobbies criativos e interações sociais presenciais, todos cruciais para o desenvolvimento saudável.
Do Transtorno de Jogos às Comorbidades
Quando o uso do Roblox ultrapassa a linha do entretenimento saudável e se torna uma compulsão, as consequências psiquiátricas podem ser graves. O Transtorno de Jogos na Internet (IGD) é uma condição clínica real, com critérios diagnósticos específicos e uma alta taxa de comorbidade com outros transtornos mentais.
Transtorno de Jogos na Internet (IGD)
O IGD foi incluído na quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) como uma condição que requer mais estudos. Os critérios diagnósticos para o IGD incluem um padrão persistente e recorrente de comportamento de jogo que leva a um comprometimento ou sofrimento clinicamente significativo. Alguns dos principais sintomas incluem:
- Preocupação com o jogo.
- Sintomas de abstinência quando o jogo é retirado.
- Tolerância, a necessidade de passar cada vez mais tempo jogando.
- Tentativas fracassadas de controlar o comportamento de jogo.
- Perda de interesse em hobbies e entretenimentos anteriores.
- Uso continuado do jogo apesar do conhecimento dos problemas psicossociais.
- Enganar familiares, terapeutas ou outros sobre a quantidade de tempo gasto jogando.
- Uso do jogo para escapar ou aliviar um humor negativo.
- Colocar em risco ou perder um relacionamento, emprego ou oportunidade educacional ou de carreira significativa por causa do jogo.
Comorbidades
O IGD raramente ocorre isoladamente. Estudos mostram uma alta taxa de comorbidade com outros transtornos psiquiátricos, incluindo transtornos de ansiedade, depressão, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e transtornos do sono.
Uma revisão sistemática publicada na revista Developmental Medicine & Child Neurology encontrou uma forte associação entre IGD e sintomas de TDAH, sugerindo que a impulsividade e a dificuldade de atenção características do TDAH podem aumentar a vulnerabilidade ao vício em jogos. A relação entre IGD e depressão também é bidirecional.
A depressão pode levar ao uso excessivo de jogos como uma forma de escape, e o uso excessivo de jogos pode, por sua vez, exacerbar os sintomas depressivos, criando um ciclo vicioso.
Educação Digital e Os perigos ocultos do Roblox
A educação digital não deve se limitar ao ensino de habilidades técnicas, mas deve incluir uma compreensão profunda dos mecanismos psicológicos e neurobiológicos que tornam os jogos digitais tão atraentes.
Programas educacionais devem ensinar crianças e adolescentes sobre como o cérebro responde a recompensas digitais, os sinais de alerta do uso problemático e estratégias para manter um relacionamento saudável com a tecnologia.
Escolas e organizações educacionais devem implementar currículos que abordem a literacia mediática crítica, ensinando os jovens a questionar e analisar o conteúdo digital que consomem. Isso inclui compreender como algoritmos e design de jogos são projetados para maximizar o engajamento e como isso pode afetar seu bem-estar.
Intervenções Baseadas em Evidências
Para jovens que já desenvolveram padrões problemáticos de uso, intervenções baseadas em evidências são essenciais. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tem mostrado eficácia no tratamento do Transtorno de Jogos na Internet, ajudando os indivíduos a identificar e modificar pensamentos e comportamentos disfuncionais relacionados ao jogo.
Programas de mindfulness e técnicas de regulação emocional também podem ser benéficos, ensinando os jovens a reconhecer e gerenciar impulsos, desenvolver tolerância à frustração e encontrar fontes alternativas de prazer e realização. A terapia familiar pode ser crucial, especialmente considerando que o ambiente familiar e as dinâmicas relacionais podem tanto contribuir para quanto proteger contra o desenvolvimento de problemas relacionados ao jogo.
O Papel dos Pais e Cuidadores
Enquanto a plataforma continua lucrando bilhões, a responsabilidade recai sobre famílias que muitas vezes não compreendem a extensão dos riscos. A supervisão parental é limitada, e os filtros do Roblox são facilmente burlados.
Do ponto de vista psicológico, a ausência de diálogo familiar agrava a vulnerabilidade, já que a criança não encontra espaço para compartilhar situações suspeitas ou ameaçadoras. Para a psiquiatria, essa falta de comunicação aumenta o risco de internalização de traumas, que podem se manifestar anos depois em forma de transtornos emocionais graves.
Os pais desempenham um papel fundamental na prevenção e intervenção precoce. Isso vai além do simples monitoramento do tempo de tela e inclui o desenvolvimento de uma compreensão profunda dos mundos digitais que seus filhos habitam. Pais devem ser educados sobre os sinais de alerta do uso problemático, incluindo mudanças no humor, declínio no desempenho acadêmico, isolamento social e negligência de responsabilidades.
A comunicação aberta sem julgamentos é essencial. Em vez de simplesmente proibir ou restringir o acesso, pais devem ter conversas significativas sobre as experiências online de seus filhos, ajudando-os a desenvolver habilidades de pensamento crítico e autoregulação. Estabelecer limites claros e consistentes, criar espaços livres de tecnologia em casa e modelar um uso saudável da tecnologia são estratégias importantes.
Manipulação da Recompensa
O sistema de monetização do Roblox é outro terreno fértil para perigos. Muitos jogos utilizam mecanismos semelhantes aos de cassinos, com caixas de surpresas (loot boxes) e recompensas aleatórias que incentivam gastos contínuos.
Para a neurociência, esses sistemas ativam diretamente o circuito de dopamina, gerando sensação de prazer e antecipação — os mesmos mecanismos usados no vício em jogos de azar. Crianças e adolescentes, com baixa capacidade de autorregulação, tornam-se alvos fáceis.
Do ponto de vista psicológico, isso favorece a criação de padrões compulsivos, onde o jogador sente necessidade de gastar cada vez mais para obter a mesma satisfação. A psiquiatria reconhece esse fenômeno como transtorno do jogo, listado no DSM-5, que pode se manifestar precocemente e evoluir para compulsões financeiras e comportamentos autodestrutivos.
Golpes Digitais e Roubo de Identidade
Além das compras dentro da plataforma, o ambiente do Roblox é palco de inúmeros golpes externos. Sites falsos que prometem Robux grátis, links suspeitos enviados por “amigos” e downloads de programas adulterados são armadilhas comuns.
Quando uma criança cai nesse tipo de fraude, não apenas perde o acesso à conta, mas pode comprometer dados pessoais e financeiros da família. Psicologicamente, o impacto vai além da frustração: a sensação de traição e impotência gera queda na autoestima e desconfiança generalizada, o que, em longo prazo, pode resultar em transtornos de confiança social.
A psiquiatria também destaca o risco de transtornos de estresse agudo em casos de crianças que sofrem humilhação pública após caírem em golpes. Isso se deve ao intenso impacto emocional em cérebros ainda incapazes de processar de forma madura experiências de perda e engano.
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