8- Assassinos em Massa – Perfil Psicocriminal
Assassinos em Massa - O fenômeno dos assassinatos em massa, que outrora parecia restrito a manchetes internacionais, tornou-se uma realidade perturbadora também no Brasil.

Assassinos em Massa – O fenômeno dos assassinatos em massa, que outrora parecia restrito a manchetes internacionais, tornou-se uma realidade perturbadora também no Brasil. Casos recentes, como o de adolescentes que invadiram escolas armados, acenderam um alerta para estudiosos da psicologia criminal, da criminologia e da psiquiatria forense.
Ataques a escolas, como o recente caso do adolescente que invadiu duas instituições de ensino, deixam um rastro de luto e uma pergunta urgente: o que leva um indivíduo a cometer um assassinato em massa?
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Afinal, o que leva um indivíduo a planejar e executar a morte de várias pessoas de uma só vez? Quais são os fatores psicológicos, sociais e comportamentais por trás desses crimes?
Mais do que compreender a brutalidade dos fatos, é fundamental estudar o perfil psicocriminal desses assassinos, identificar padrões de comportamento e discutir medidas de prevenção capazes de reduzir o risco de novos massacres.
Assassinos em Massa – O que caracteriza um assassinato em massa?
O termo mass murder (ou assassinato em massa) é amplamente utilizado nos Estados Unidos e adotado por criminólogos em todo o mundo. A definição básica é clara: trata-se do homicídio de quatro ou mais pessoas em um mesmo evento, em um mesmo local e em um mesmo intervalo de tempo.
Essa definição distingue o massacre de outros crimes violentos. Um homicídio simples é a morte de uma vítima; homicídio duplo, duas vítimas; homicídio triplo, três vítimas. Apenas quando o número ultrapassa quatro, no mesmo episódio, passa a ser classificado como assassinato em massa.
Há um detalhe crucial: se um agressor mata cinco pessoas em uma escola, sai do local e, depois, em outro ambiente, assassina mais vítimas, o crime já não se enquadra como “em massa”, mas como uma série de homicídios em sequência. Portanto, tempo e espaço são determinantes para a classificação criminológica.
Essa definição é crucial para diferenciar o assassino em massa de outros tipos de múltiplos homicidas:
Homicídio Simples, Duplo ou Triplo– A morte de uma, duas ou três pessoas, respectivamente. O marco de quatro vítimas é o que eleva a classificação para “em massa”.
Evento Único– O crime deve ocorrer sem um “período de resfriamento” emocional para o agressor. Se um indivíduo mata duas pessoas em uma escola hoje e retorna no mês seguinte para matar mais dez, são considerados dois eventos distintos, não um assassinato em massa.
Da mesma forma, se ele ataca em uma escola, foge e continua a matar em outro bairro, a classificação muda para spree killer (assassino em onda), pois os crimes ocorrem em locais diferentes, mas dentro de um mesmo episódio contínuo.
O local, portanto, é um elemento central. O palco do massacre — seja uma escola, um cinema, um supermercado ou um local de culto — não é apenas um cenário, mas um componente carregado de simbolismo para o criminoso.
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O perfil dos assassinos em massa
O estudo do comportamento dos assassinos em massa mostra que, na maioria dos casos, trata-se de indivíduos profundamente perturbados, muitas vezes em estado de surto psicótico. A realidade é distorcida, os delírios tornam-se verdades absolutas e o impulso homicida se conecta a uma fantasia de vingança contra a sociedade ou contra um grupo específico.
Diferente dos serial killers, que escolhem suas vítimas de maneira seletiva e seguem padrões específicos, os assassinos em massa tendem a agir de forma aleatória. Suas vítimas podem ser crianças em uma escola, clientes em um supermercado ou fiéis em uma igreja. O alvo real não são as pessoas em si, mas o local, que adquire valor simbólico dentro da narrativa delirante do criminoso.
Um dado relevante: a maioria dos assassinos em massa morre no próprio ataque. Muitos cometem suicídio após matar o máximo de pessoas possível, enquanto outros se deixam ser mortos pela polícia, movidos por uma lógica de martírio. Apenas uma minoria é presa com vida.
Padrões comportamentais recorrentes
A análise de dezenas de casos ao redor do mundo revela padrões comportamentais e psicológicos consistentes entre os assassinos em massa. Embora cada caso tenha suas particularidades, a recorrência de certos traços permite traçar um perfil psicocriminal que serve como um mapa para a prevenção.
As análises psicocriminais apontam para alguns padrões observáveis entre os assassinos em massa:
Ausência de critério fixo para escolha das vítimas– apesar de alguns massacres apresentarem recortes (como ataques motivados por racismo ou misoginia), o comum é que a escolha seja aleatória.Diferente dos assassinos em série (serial killers), que caçam um tipo específico de vítima (um “fetiche” ou preferência), os
assassinos em massa geralmente matam de forma indiscriminada.
O objetivo é maximizar o número de mortos, infligir o maior dano possível no menor tempo. Raça, gênero ou idade raramente são critérios de seleção.
Existem exceções notáveis, como atiradores com motivações de supremacia racial que miram apenas em pessoas de determinadas etnias. No entanto, mesmo nesses casos, a seleção ocorre dentro de um grupo amplo (“pessoas negras”, “mulheres”), e não em indivíduos específicos com quem o assassino tinha uma relação pessoal.
A regra geral é a despersonalização: as vítimas são apenas obstáculos ou alvos em um jogo macabro de destruição.
Presença de transtornos mentais – esquizofrenia, surtos psicóticos e delírios persecutórios aparecem em muitos casos, embora nem todos os assassinos apresentem diagnóstico clínico prévio.
Uma perturbação profunda é quase sempre um pano de fundo para o massacre. Muitos assassinos em massa agem durante um surto psicótico, um estado mental agudo onde a percepção da realidade é drasticamente distorcida. Delírios de perseguição, alucinações e uma lógica interna fantasiosa podem levar o indivíduo a acreditar que seu ato violento é justificado ou necessário.
O caso de Wellington Menezes de Oliveira, autor do Massacre do Realengo em 2011, ilustra essa conexão. Análises posteriores de seus vídeos e escritos revelaram traços consistentes com um transtorno psicótico, possivelmente esquizofrenia.
Ele acreditava estar em uma missão de “purificação”, vingando-se do bullying que sofreu na escola anos antes. As 11 crianças que ele assassinou eram, em sua mente distorcida, a reencarnação de seus antigos agressores.
É fundamental ressaltar, contudo, que nem todo assassino em massa está em surto psicótico. Alguns agem com frieza e planejamento meticuloso, motivados por ideologias extremistas, ódio ou um desejo niilista de notoriedade, sem apresentar um quadro clínico de psicose.
A presença de um transtorno mental é um fator de risco significativo, mas não uma condição universal.
Vingança simbólica– o massacre costuma ser um ato premeditado de retaliação, mas raramente contra os verdadeiros responsáveis pelas frustrações do agressor. A escola, o supermercado ou a igreja tornam-se símbolos dos inimigos imaginários.
Do ponto de vista psicológico, o assassinato em massa é frequentemente um ato premeditado de vingança. No entanto, essa vingança raramente é direcionada às vítimas individuais. O agressor projeta seu ódio e ressentimento contra uma entidade abstrata — a sociedade, um grupo específico, ou uma instituição que, em sua mente, o humilhou, rejeitou ou oprimiu.
Nesse contexto, o local do crime adquire um valor simbólico muito maior do que as próprias vítimas. A escola onde sofreu bullying, a empresa onde foi demitido, a comunidade que ele sente que o desprezou. As pessoas presentes no momento do ataque tornam-se meras representações, avatares do grupo ou sistema que o agressor deseja aniquilar.
Um exemplo trágico e esclarecedor no Brasil foi o ataque a uma creche em Saudades, Santa Catarina. O agressor, um jovem de 18 anos, confessou que seu alvo original era a escola onde ele havia estudado. Como a instituição estava fechada devido à pandemia, ele se dirigiu à creche mais próxima.
Sua necessidade de atacar o *símbolo* “escola” era tão primordial que ele substituiu o alvo original por outro similar, mesmo que as vítimas — bebês e uma professora — não tivessem qualquer conexão com sua história pessoal de sofrimento. As vítimas são, na maioria das vezes, aleatórias e intercambiáveis; o palco, não.
Morte do agressor – como citado, o desfecho mais frequente é o suicídio ou a morte em confronto com a polícia, reforçando a visão distorcida de que o ato se encerra com um “sacrifício heroico”.
Outro padrão comportamental marcante é o desfecho do ataque. A grande maioria dos assassinos em massa não planeja escapar. Eles ou cometem suicídio no local do crime ou provocam a polícia para serem mortos, um fenômeno conhecido como “suicídio pela polícia” (suicide by cop).
Essa tendência está frequentemente ligada a ideologias extremistas e ao desejo de martírio. Ao morrer após cometer o massacre, o agressor acredita que está se tornando um herói ou um mártir para sua causa, imortalizando seu ato de “vingança”.
Para eles, a prisão representaria o fracasso, a sobrevivência seria uma humilhação. A morte, por outro lado, é o clímax grandioso de sua performance de violência. Tanto no Massacre de Realengo quanto no de Suzano, os atiradores tiraram a própria vida ao final dos ataques, selando seus atos com a autodestruição.
Discursos extremistas– muitos assassinos em massa consomem, produzem ou compartilham narrativas radicais na internet, o que serve tanto de motivação quanto de validação para o ato violento.
Muitos assassinos em massa encontram em comunidades online e discursos de ódio a validação para seus sentimentos de isolamento e raiva. Ideologias como a supremacia branca, a misoginia (Incel – celibatários involuntários) ou o anarquismo niilista fornecem uma estrutura e uma “justificativa” para a violência.
Esses grupos oferecem um senso de pertencimento a indivíduos marginalizados, transformando sua dor pessoal em uma causa coletiva. O Massacre de Suzano, em 2019, perpetrado por dois ex-alunos, mostrou fortes indícios de conexão com fóruns extremistas da deep web.
A motivação, embora não totalmente esclarecida, parecia ser uma mistura de busca por notoriedade e vingança, alimentada por uma cultura online que glorifica a violência.
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Influência de ataques anteriores – massacres famosos funcionam como “modelos” para novos ataques. O caso de Columbine, nos EUA, é o exemplo mais evidente de inspiração macabra.
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Analisar casos específicos permite visualizar como esses padrões se manifestam na prática. Os massacres de Realengo e Suzano, separados por oito anos, são exemplos assustadoramente simétricos do perfil psicocriminal do assassino em massa.
Massacre do Realengo (2011)
Agressor: Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos.
Local: Escola Municipal Tasso da Silveira, Rio de Janeiro.
Motivação: Vingança por bullying sofrido na mesma escola quase uma década antes. O local era o símbolo de sua humilhação.
Padrões:
Vingança Simbólica: Atacou a escola onde estudou, matando crianças que não tinham relação com seu passado.
Transtorno Mental: Apresentava fortes indícios de esquizofrenia paranoide.
Ato Final: Cometeu suicídio após ser confrontado pela polícia.
Sinais Prévios: Deixou vídeos e cartas com discursos desconexos e de fundo religioso extremista, revelando seu estado mental perturbado e seus planos.
Massacre de Suzano (2019)
Agressor: Guilherme Taucci Monteiro, 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25 anos.
Local: Escola Estadual Professor Raul Brasil, São Paulo.
Motivação: Aparentemente, um desejo de notoriedade e vingança contra a instituição, embora não haja registros claros de bullying. A influência de fóruns extremistas é considerada um fator chave.
Padrões:
Planejamento: O ataque foi meticulosamente planejado, indicando uma motivação mais ideológica do que um surto impulsivo.
Influência Extremista: A estética e o método do ataque foram inspirados em outros massacres, especialmente o de Columbine.
Ato Final: Guilherme matou Luiz e depois cometeu suicídio.
Sinais Prévios: Ambos postaram fotos com armas e máscaras nas redes sociais, mimetizando a iconografia de outros atiradores.
Uma foto postada por Wellington antes de seu ataque e outra postada por Guilherme antes do massacre de Suzano são quase idênticas: um jovem posando com uma arma, um gesto de desafio e prenúncio da violência.
A simetria é chocante e levanta uma questão incômoda: os sinais estavam lá, mas fomos capazes de vê-los?
O Legado de Columbine: O Molde para a Violência
Nenhuma análise sobre assassinos em massa estaria completa sem mencionar o Massacre de Columbine, ocorrido em 1999 nos Estados Unidos. Eric Harris e Dylan Klebold, os dois atiradores, criaram um “roteiro” trágico que, infelizmente, tem sido copiado e adaptado por dezenas de outros agressores ao redor do mundo.
Columbine não foi apenas um massacre; foi um evento midiático que estabeleceu uma estética e uma narrativa para futuros ataques:
A Vestimenta: O uso de sobretudos pretos (trench coats) tornou-se um símbolo, uma espécie de uniforme para atiradores que se veem como párias vingativos.
A Dupla: O conceito de dois agressores, muitas vezes com uma dinâmica de um dominante e um submisso, foi replicado em outros casos. A psicologia por trás disso pode envolver o que se chama de *folie à deux* (“loucura a dois”), onde um indivíduo psicótico induz delírios em uma segunda pessoa.
A Glorificação: Columbine gerou uma subcultura online que idolatra os atiradores, analisando seus diários, vídeos e manifestos como se fossem textos sagrados. Essa comunidade oferece inspiração e um manual prático para jovens perturbados.
A influência de Columbine é visível em Suzano, Realengo e em inúmeros outros ataques. A roupa preta, a pose com armas, a escolha da escola como alvo — tudo isso faz parte de um legado sombrio que continua a inspirar violência.
A dimensão psicológica do assassinato em massa
Psicologicamente, o assassinato em massa é frequentemente interpretado como o ápice de um colapso interno, em que fantasias de vingança se fundem a delírios persecutórios.
O indivíduo sente-se injustiçado, desprezado ou rejeitado pela sociedade e encontra no massacre uma forma de se “vengar” e, ao mesmo tempo, de conquistar notoriedade.
Outro aspecto relevante é o narcisismo patológico presente em muitos casos. O agressor deseja ser lembrado, estudado e comentado. A mídia e as redes sociais, ao repercutirem esses atos, muitas vezes alimentam essa necessidade de reconhecimento, ainda que de forma negativa.
Discursos extremistas
A internet é, hoje, um dos principais ambientes de radicalização de futuros assassinos em massa. Fóruns, grupos de ódio e comunidades virtuais funcionam como espaços de validação para ideias violentas. Jovens fragilizados emocionalmente encontram nesses ambientes narrativas que justificam sua raiva e incentivam a prática de massacres.
Muitos assassinos deixam rastros digitais claros: postagens, fotos, vídeos e comentários que antecipam o crime. No entanto, a falta de preparo de escolas, famílias e autoridades para interpretar esses sinais faz com que indícios passem despercebidos.
Medidas preventivas e desafios
Identificar comportamentos de risco é o primeiro passo para a prevenção. Professores, colegas e familiares precisam ser capacitados para perceber sinais de isolamento, discursos violentos e mudanças bruscas de comportamento.
Entre as medidas preventivas mais discutidas estão:
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Capacitação escolar para identificação de sinais de alerta.
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Acompanhamento psicológico de alunos em situação de vulnerabilidade.
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Monitoramento responsável de redes sociais, sem violar direitos individuais.
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Políticas públicas de segurança escolar, com protocolos de emergência e rondas regulares.
O desafio é enorme, pois a linha entre fantasia violenta e execução de um massacre pode ser tênue. Mas ignorar os indícios tem se mostrado fatal.
O estudo do perfil psicocriminal dos assassinos em massa é fundamental para compreender e combater esse fenômeno que assombra o Brasil e o mundo. Ao analisar padrões comportamentais, investigar os vínculos com discursos extremistas e discutir medidas preventivas, damos um passo essencial para proteger nossas escolas, famílias e comunidades.
O assassinato em massa não é um ato súbito e inexplicável: ele é, na maioria das vezes, o desfecho de um processo longo de sofrimento psíquico, ressentimento social e radicalização. Reconhecer isso é a chave para transformar tragédias em lições e salvar vidas no futuro.


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