14- Criminal Profiling: A Mente Criminosa e a Análise Comportamental
Criminal Profiling ou perfilamento criminal é a análise meticulosa dos vestígios deixados na cena do crime, não apenas os físicos, mas principalmente os comportamentais.

Criminal Profiling ou perfilamento criminal é a análise meticulosa dos vestígios deixados na cena do crime, não apenas os físicos, mas principalmente os comportamentais. Para saber mais, conheça a PsicoJur
Em uma manhã de julho do ano passado, a tranquilidade do bairro São Lucas, na zona leste de São Paulo, foi abruptamente quebrada. O corpo de uma mulher de 35 anos foi encontrado dentro de um carro, um cenário que, por si só, já era alarmante. No entanto, a ausência de suspeitos ou de qualquer pista imediata sobre o autor do crime adicionava uma camada de complexidade e urgência ao caso. O Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) foi acionado, e com ele, uma de suas ferramentas mais inovadoras e estratégicas: o Laboratório de Perfilamento Criminal.
Este episódio, que culminou na rápida identificação e prisão do assassino, lança luz sobre uma área fascinante e em plena expansão na interface entre a psicologia e a investigação criminal: o Criminal Profiling, ou perfilamento criminal. Longe de ser uma mera reprodução dos enredos de seriados de televisão, esta técnica representa um avanço científico e metodológico significativo na forma como as forças de segurança lidam com crimes de difícil solução, especialmente homicídios em série e delitos de natureza sexual
Através da análise meticulosa dos vestígios deixados na cena do crime, não apenas os físicos, mas principalmente os comportamentais, os perfiladores buscam construir um retrato psicológico e comportamental do agressor desconhecido. Este “DNA comportamental”, como descrevem os especialistas, revela as decisões, as motivações e, em última análise, a personalidade de quem está por trás da violência.
Conheça as etapas práticas do trabalho de um perfilador, as variáveis analisadas e os desafios inerentes a uma prática que lida diretamente com a complexidade da mente humana.
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O que é Criminal Profiling? A Ciência de Ler Comportamentos
O Federal Bureau of Investigation (FBI), pioneiro nos estudos sobre o tema, define o perfilamento criminal como um processo de investigação que identifica o perfil e as características comportamentais do criminoso com base nos delitos que ele ou ela tenha cometido. Para saber mais, conheça a PsicoJur
Em sua essência, o Criminal Profiling é uma técnica de análise que busca responder à pergunta “quem?”, não apontando um nome específico, mas sim traçando um perfil que oriente a investigação para o tipo de pessoa com maior probabilidade de ter cometido aquele crime.
É uma ferramenta que opera no campo das inferências e probabilidades, oferecendo um norte para a investigação, otimizando recursos e, muitas vezes, evitando que a polícia siga por caminhos equivocados. A sua aplicação torna-se especialmente valiosa em crimes em série, onde o comportamento do agressor tende a se repetir e a evoluir, deixando um rastro de pistas psicológicas que podem ser decifradas.
É crucial compreender que o perfilamento criminal, embora profundamente embasado na psicologia, não é uma prática exclusiva de psicólogos. Profissionais de diversas áreas, como direito, serviço social, biologia e química, podem se especializar e atuar como perfiladores, desde que devidamente capacitados. A chave para uma atuação competente não está na formação de base, mas sim no treinamento específico em análise comportamental, criminologia e psicologia investigativa.
O fato de a técnica ser acessível a diferentes formações, no entanto, não diminui a responsabilidade e a complexidade envolvidas. Pelo contrário, exige um aprimoramento contínuo e uma postura ética rigorosa, pois um perfil mal elaborado pode levar a consequências desastrosas, como a perseguição de inocentes e o desvio do foco do verdadeiro culpado.
O principal objetivo do perfilamento não é, e nunca deve ser, acusar um indivíduo específico. A técnica não produz provas no sentido tradicional do termo, mas sim um parecer técnico, um instrumento de inteligência policial. O perfilador sempre trabalhará com termos como “probabilidade”, “tendência” e “possibilidade”.
A confirmação ou o descarte das hipóteses levantadas pelo perfil só ocorrerá com a captura do suspeito e a corroboração com outras provas materiais. Esta limitação não diminui o valor da técnica, mas a situa em seu devido lugar: o de uma poderosa ferramenta auxiliar.
A razão para essa cautela reside na própria natureza do objeto de estudo: o ser humano. A conduta humana é de uma complexidade imensa, influenciada por uma vasta gama de fatores internos (psicológicos, biológicos) e externos (sociais, ambientais). Seria um erro grave e uma demonstração de imperícia tentar enquadrar um indivíduo em um modelo determinista ou generalista.
Cada crime é único, e cada criminoso, por mais que se encaixe em determinados padrões, possui sua própria subjetividade e particularidades. Ignorar essa individualidade é o caminho mais curto para o erro e para a injustiça.
As Abordagens do Criminal Profiling: Nomotética vs. Ideográfica
O trabalho de um perfilador criminal é profundamente influenciado pela sua orientação metodológica. Existem duas abordagens principais que norteiam a análise: a nomotética e a ideográfica. N
enhuma é inerentemente superior à outra, e a escolha, muitas vezes, depende do caso, das informações disponíveis e da própria formação e preferência do perfilador. Frequentemente, ambas as abordagens são utilizadas de forma complementar, combinando a análise estatística com o estudo aprofundado do caso concreto para se chegar a um perfil mais robusto e confiável.
A Abordagem Nomotética: O Poder dos Padrões
A abordagem nomotética, também conhecida como método indutivo, baseia-se na análise de grandes grupos de ofensores e na categorização de características de crimes e criminosos. Ela parte do pressuposto de que crimes semelhantes são cometidos por indivíduos com traços de personalidade e características psicopatológicas também semelhantes.
O perfilador que utiliza este método apoia-se em probabilidades, estatísticas e estudos de caso para fazer inferências. Ele observa casos particulares e isolados em busca de um padrão que possa ser explicativo e preditivo para outros casos do mesmo tipo. Esta abordagem ganhou força com o trabalho da Unidade de Ciência Comportamental do FBI, que entrevistou dezenas de assassinos em série presos para criar um banco de dados sobre suas características e comportamentos.
Por exemplo, ao se deparar com uma cena de crime que apresenta características de organização e planejamento (como a ausência de arma no local, o corpo escondido e a falta de vestígios), um perfilador nomotético pode inferir, com base em dados de casos anteriores, que o agressor provavelmente tem uma inteligência acima da média, é socialmente competente, possui um emprego estável e pode até mesmo acompanhar as notícias sobre o crime.
Essas são generalizações baseadas em padrões observados em centenas de casos de criminosos organizados. A força dessa abordagem está em sua capacidade de fornecer um ponto de partida rápido e embasado em dados empíricos, especialmente quando as informações da cena do crime são limitadas.
A Abordagem Ideográfica: O Foco no Indivíduo
Em contrapartida, a abordagem ideográfica, ou método dedutivo, concentra-se no estudo do concreto, do indivíduo real e de suas características únicas. Aqui, o foco não está nos padrões gerais, mas nas particularidades daquela cena de crime específica e na dinâmica entre vítima, agressor e local. O perfilador dedutivo realiza uma análise minuciosa de cada vestígio, cada ação e cada elemento presente na cena, tentando construir um perfil do agressor desconhecido apenas com base nessas informações, sem recorrer a estudos estatísticos prévios. Esta abordagem está mais alinhada com a psicologia clínica e a análise forense detalhada.
Nesta perspectiva, mesmo que o criminoso apresente comportamentos observados em outros casos, a análise se debruçará sobre a subjetividade e o significado daquele comportamento naquele contexto específico. A lógica dedutiva é aplicada para assimilar as dinâmicas e as características únicas da interação entre os três pilares da investigação: a vítima, o agressor e a cena.
Por exemplo, a forma como um corpo é posicionado pode não ser apenas um dado para categorizar o crime como “organizado” ou “desorganizado”, mas uma pista sobre a relação do agressor com a vítima, sobre suas fantasias, ou sobre um remorso ou conflito interno. Esta abordagem valoriza a singularidade de cada evento criminal, buscando uma compreensão mais profunda e individualizada do agressor, tratando cada cena de crime como um texto a ser interpretado em sua totalidade.
Nomotética vs. Ideográfica
Característica | Abordagem Nomotética (Indutiva) | Abordagem Ideográfica (Dedutiva) |
---|---|---|
Foco | Grupos de ofensores, padrões, tipologias | Indivíduo, caso específico, singularidade |
Base da Análise | Estatísticas, probabilidades, estudos de caso | Análise minuciosa da cena do crime, evidências |
Método | Comparação com casos semelhantes | Construção do perfil a partir do caso concreto |
Objetivo | Categorizar, prever com base em padrões | Compreender a dinâmica única do crime |
Vantagem | Rapidez, útil com poucas informações | Profundidade, análise individualizada |
Desvantagem | Risco de generalização excessiva | Exige mais informações detalhadas da cena |
A Prática do Perfilamento Criminal: Etapas e Variáveis
O processo de elaboração de um perfil criminal é um trabalho metódico e estruturado, que vai muito além da intuição. Ele se assemelha a um quebra-cabeça complexo, onde cada peça de informação, por menor que pareça, pode ser crucial para revelar a imagem final. Para organizar esse processo, os perfiladores costumam seguir uma série de etapas, guiadas por quatro perguntas fundamentais que estruturam a investigação do início ao fim.
As Quatro Perguntas Fundamentais
- O quê? A primeira pergunta busca reconstruir a sequência de eventos. O que aconteceu na cena do crime? A resposta vem através de uma análise minuciosa de todas as provas, da criação de uma cronologia dos fatos que levaram ao crime, e do estudo da vitimologia. Compreender quem era a vítima, seu estilo de vida, seus hábitos, suas conexões sociais e seu nível de risco (baixo, médio ou alto) é um dos primeiros e mais importantes passos para entender o agressor. Uma vítima de baixo risco, por exemplo, sugere que o agressor teve que se esforçar mais para alcançá-la, talvez fazendo parte de seu círculo social.
-
- Por quê? Esta pergunta mergulha nas motivações do criminoso. Por que este crime em específico? Por que esta vítima? Por que neste local e neste momento? Responder a essas questões ajuda a determinar a motivação primária do crime (sexual, financeira, raiva, etc.) e a identificar a fantasia ou o propósito por trás das ações do agressor. A análise da violência utilizada (excessiva, mínima, controlada) e de comportamentos de assinatura (ações não necessárias para cometer o crime, mas que satisfazem uma necessidade psicológica do agressor) são cruciais aqui. Essas assinaturas são como uma marca registrada e tendem a ser consistentes ao longo de uma série de crimes.
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- Como? Aqui, o foco é o modus operandi (MO) e a assinatura do criminoso. Como o crime foi cometido? O MO refere-se às técnicas e escolhas que o agressor faz para cometer o crime com sucesso: como ele aborda a vítima, como a controla, como usa a arma. O MO é dinâmico e pode evoluir com a experiência. A análise da forma como o agressor agiu revela seu nível de sofisticação, o grau de risco que ele estava disposto a correr, e as ações que foram necessárias para cometer o crime, distinguindo-as daquelas que serviram para satisfazer suas necessidades psicológicas (a assinatura).
- Quem? A pergunta final sintetiza todo o trabalho. Quem cometeu este crime? A resposta é o próprio perfil criminal, um documento que descreve as características comportamentais, demográficas (faixa etária, raça, estado civil), ocupacionais e de personalidade do suspeito mais provável. Este perfil é o resultado da análise aprofundada de todas as provas e da eliminação das hipóteses que não se sustentam, servindo como um guia para a polícia focar seus esforços investigativos.
Variáveis Primárias e Secundárias: Decodificando os Vestígios
Para responder a essas perguntas, o perfilador analisa uma série de variáveis. A dedução das características de um agressor depende da capacidade de fazer as perguntas certas sobre os comportamentos observados. O processo envolve, primeiro, definir uma característica (por exemplo, sadismo) e, segundo, identificar os comportamentos que comprovam essa característica. Para isso, os perfiladores trabalham com dois tipos de variáveis:
- Variáveis Primárias (Ideográficas): São aspectos do agressor que podem ser interpretados diretamente a partir de seu comportamento no local do crime e dos vestígios forenses. Por exemplo, a presença de tortura prolongada e metódica na vítima é uma variável primária que pode levar o perfilador a deduzir que o agressor possui um perfil sádico, pois a ação em si demonstra prazer no sofrimento alheio. São conclusões tiradas diretamente da cena.
- Variáveis Secundárias (Nomotéticas): São características inferidas para descrever o agressor com base no comportamento de criminosos semelhantes, estudados anteriormente. Continuando o exemplo do agressor sádico, uma variável secundária poderia ser a inferência de que ele tem predileção por pornografia sadomasoquista ou que trabalha em uma profissão que lhe confere poder sobre os outros. Essa inferência não vem da cena do crime em si, mas do conhecimento acumulado sobre o comportamento de outros sádicos. É uma probabilidade estatística que pode ou não se confirmar no caso concreto, mas que ajuda a ampliar o leque de características do perfil.
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Indicadores de Destreza Criminosa: Experiência vs. Inteligência
Um dos indicadores mais importantes na análise de um crime é a destreza criminosa. Ofensores que cometem o mesmo tipo de crime repetidamente tendem a se tornar mais hábeis, aprendendo com os erros e otimizando suas ações. A destreza pode ser avaliada por meio de indicadores de planejamento, premeditação e o uso de medidas contraforenses (como limpar a cena do crime, usar luvas, ou levar a arma do crime consigo).
É fundamental, no entanto, não confundir destreza criminosa com um alto nível de inteligência. A destreza está muito mais relacionada à prática e à experiência do que a um QI elevado. Um criminoso com baixa inteligência pode desenvolver uma grande destreza através da repetição, assim como uma pessoa muito inteligente pode ser um criminoso inexperiente e desajeitado. Para o perfilador, a destreza é um traço muito mais relevante do que a avaliação subjetiva da inteligência, pois ela oferece pistas concretas sobre o histórico criminal do agressor e sua possível familiaridade com o sistema de justiça criminal.
Desafios e Aspectos Problemáticos no Perfilamento Criminal
Apesar de sua crescente sofisticação e utilidade, o perfilamento criminal não é uma ciência exata e está longe de ser infalível. A prática enfrenta desafios significativos, e existem certas características do agressor que são particularmente difíceis de inferir, podendo levar a erros graves se não forem tratadas com extrema cautela. Muitas vezes, as tentativas de determinar esses traços refletem mais os preconceitos e estereótipos sociais do perfilador do que as evidências concretas do crime.
As Três Características Mais Desafiadoras
O renomado perfilador Brent Turvey, em sua vasta obra sobre o tema, recomenda que três características em particular sejam tratadas com o máximo de cuidado, ou até mesmo deixadas de fora do perfil na ausência de provas físicas conclusivas: a idade, o gênero e a inteligência.
-
- Idade: A idade do agressor é, talvez, o erro mais comum que um perfilador pode cometer. As estimativas geralmente se baseiam em inferências frágeis, como relatos de testemunhas (muitas vezes imprecisos) ou comportamentos que sugerem certos transtornos mentais. Por exemplo, a presença de indicadores de um estado psicótico poderia levar à inferência de que o agressor tem mais de 18 anos, idade em que esses episódios se tornam mais comuns. No entanto, essa é apenas uma probabilidade estatística. Da mesma forma, associar uma alta destreza criminosa a uma idade mais avançada é um erro comum. A suposição de que a habilidade vem apenas com a experiência e, portanto, com a idade, ignora a realidade de que ofensores cada vez mais jovens estão cometendo crimes complexos e violentos. A idade tornou-se um elemento subjetivo e só deve ser incluída no perfil se houver uma evidência irrefutável, como um documento ou um testemunho visual confiável.
-
- Gênero: As inferências sobre o gênero do agressor também são um campo minado de estereótipos. A ideia preconcebida de que homens e mulheres têm comportamentos criminosos distintos e que as mulheres são o “sexo frágil”, incapazes de violência extrema ou de motivações complexas, é uma noção ultrapassada, mas que ainda persiste e pode enviesar perigosamente uma investigação. Considerar que apenas homens são capazes de cometer certos tipos de crimes de brutalidade pode levar à eliminação de suspeitas valiosas. A história criminal e a experiência de profissionais do sistema prisional demonstram que a violência feminina pode ser tão ou mais extrema que a masculina. Portanto, a menos que haja provas físicas concretas, como a evidência de uma penetração por um pênis ou a descrição fidedigna de uma testemunha, o gênero do agressor não deve ser afirmado categoricamente no perfil.
- Inteligência: Como já discutido, a inteligência é frequentemente confundida com a destreza criminosa. O que realmente interessa ao investigador não é o QI do agressor, mas seu nível de habilidade e experiência na prática criminal. Evidências de um baixo nível de destreza, como um crime mal planejado ou impulsivo, sugerem falta de experiência, e não necessariamente falta de inteligência. Uma pessoa com um QI altíssimo pode cometer um crime desastroso em sua primeira tentativa. Da mesma forma, um criminoso com baixa instrução pode, pela prática, tornar-se extremamente eficaz. Focar na destreza criminosa, um traço observável e com maior relevância investigativa, é muito mais produtivo do que tentar fazer uma avaliação subjetiva e muitas vezes equivocada da inteligência do agressor.
O Risco dos Preconceitos e a Necessidade de Provas
O maior perigo no perfilamento criminal é a contaminação da análise pelos preconceitos, estereótipos e crenças pessoais do perfilador. Um bom profissional deve ser capaz de se ater estritamente aos fatos e às evidências comportamentais, deixando de lado qualquer julgamento moral ou ideia preconcebida.
A interpretação de um comportamento só é válida dentro de um contexto e com uma matriz de referência. Atribuir significado a uma ação de forma isolada aumenta exponencialmente a margem de erro. A recomendação é clara: o perfil deve se basear naquilo que é suportado irrefutavelmente pelos vestígios físicos e comportamentais disponíveis. O resto é especulação, e especulação não tem lugar em uma investigação criminal séria.
O Criminal Profiling no Brasil: O Laboratório do DHPP-SP
Enquanto o Criminal Profiling é uma técnica consolidada em países como os Estados Unidos, no Brasil, sua aplicação de forma estruturada e institucional ainda é uma novidade. Nesse cenário, o Laboratório de Análise Comportamental e Perfilamento Criminal do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo surge como uma iniciativa pioneira e de vanguarda, estabelecendo um novo paradigma na investigação de crimes complexos no país.
Criado há pouco mais de um ano, o laboratório nasceu da necessidade de se olhar para os casos de uma maneira diferente, de complementar a investigação tradicional com uma expertise focada no comportamento humano.
A diretora do DHPP, Ivalda Aleixo, explica que a intenção era entender o que poderia ter falhado em uma investigação ou o que os métodos convencionais poderiam ter deixado passar. A equipe buscou referências internacionais, principalmente no modelo americano, mas com a clara preocupação de adaptar a técnica à realidade e à criminalidade brasileira, desenvolvendo um protocolo próprio.
O grande diferencial do laboratório do DHPP é sua equipe multidisciplinar. Longe de ser um trabalho solitário, o perfilamento é realizado por um time que inclui delegada, investigadores, psicólogos, peritos, criminólogos e até fotógrafos especializados em cenas de crime. Essa diversidade de olhares enriquece a análise e permite uma compreensão mais completa e integrada do evento criminal.
O psicólogo e coordenador do laboratório, Christian Costa, ressalta que o trabalho exige uma análise extremamente detalhada da cena do crime, pois é nela que se encontra o “DNA comportamental” do agressor. “Cada passo dado pelo criminoso na cena do crime reflete uma decisão. Cada atitude e comportamento dele estão claramente evidenciados na cena”, afirma Costa.
Os resultados alcançados nesse curto período de atuação já demonstram o potencial da ferramenta. O laboratório já auxiliou em 11 casos, com destaque para o caso de feminicídio no bairro São Lucas, mencionado no início deste artigo. Na ocasião, o perfil traçado pela equipe teve 100% de compatibilidade com o assassino, que foi rapidamente identificado e preso. Além de ajudar a encontrar o culpado, a técnica também se mostrou eficaz para descartar suspeitos, como ocorreu no mesmo caso, em que o primeiro investigado não correspondia ao perfil elaborado, otimizando o tempo e os recursos da polícia.
O trabalho do laboratório não se resume a traçar o perfil do agressor. Um dos pilares da análise é o estudo da vitimologia. Compreender o perfil da vítima, suas rotinas, seus hábitos e as circunstâncias que a levaram àquela situação de vulnerabilidade é fundamental para reconstruir o comportamento do autor do crime. “As atitudes da vítima nas últimas 24 horas podem trazer caminhos ainda não explorados”, explica o investigador Lucas Martins, membro da equipe.
Em meio a um trabalho que lida com os aspectos mais sombrios do comportamento humano, a ética é uma preocupação central. A equipe do DHPP tem um compromisso rigoroso com a legalidade e o respeito aos direitos fundamentais dos envolvidos.
“Nós temos muita preocupação em não perpassar o preconceito, em não atravessar questões de foro íntimo e questões de minorias. O nosso papel é técnico-científico, com base na observação do comportamento”, ressalta o coordenador. A iniciativa pioneira de São Paulo representa um passo importante para o futuro da investigação criminal no Brasil, abrindo caminho para que outras polícias adotem a técnica e para que, no futuro, o país possa desenvolver seus próprios protocolos e bancos de dados, adaptados à sua complexa realidade social e criminal.
Uma Ferramenta Poderosa, Mas Não Infalível
O perfilamento criminal é uma técnica investigativa séria, metódica e com um potencial imenso para auxiliar na resolução de crimes complexos. Ao focar nos vestígios comportamentais, ela oferece uma nova lente para enxergar a cena do crime, permitindo inferir características do agressor que as provas físicas, por si sós, não revelam.
O objetivo do perfilador não é dar um nome ao culpado, mas sim traçar um retrato psicológico e comportamental que direcione a investigação, economize recursos e evite injustiças. As abordagens nomotética e ideográfica, como a análise de padrões e o estudo da singularidade de cada caso se complementam. As etapas do processo como as variáveis analisadas e, crucialmente, temos os perigos da especulação e dos preconceitos, reforçando a necessidade de uma prática ética e rigorosamente baseada em evidências.
A experiência pioneira do Laboratório do DHPP de São Paulo demonstra que o Brasil não apenas pode, como deve, investir em inteligência e em novas metodologias de investigação. A adaptação da técnica à realidade nacional e a formação de equipes multidisciplinares são o caminho para que o perfilamento criminal se consolide como uma ferramenta estratégica para a segurança pública em todo o país.
O Criminal Profiling é uma ferramenta complementar, uma peça em um quebra-cabeça muito maior. Ela não substitui a investigação tradicional, os peritos, os delegados ou as provas materiais. Seu valor está na sinergia, na capacidade de agregar uma nova dimensão à busca pela verdade. O futuro da área dependerá do contínuo aprimoramento técnico e, acima de tudo, do compromisso inabalável com a ética e a ciência.


https://www.instagram.com/camilaabdo_/
Referências
-
- PsicoJur
- Perfilamento criminal: a ciência por trás da identificação comportamental de criminosos – Secretaria da Segurança Pública de São Paulo.
- Pesquisas e artigos acadêmicos sobre psicologia forense, criminologia e investigação criminal.
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