16 – Ed Gein – A Mente Por Trás do Monstro
Ed Gein - Um dos criminosos mais perturbadores da história dos Estados Unidos, Ed Gein volta agora ao centro das atenções com a série A História de Ed Gein, que estreia nesta sexta-feira, 3, na Netflix.

Ed Gein – Quando as autoridades de Plainfield, Wisconsin, entraram na fazenda de Edward Theodore Gein naquela tarde fria de novembro de 1957, elas não imaginavam que estavam prestes a descobrir uma das cenas de crime mais perturbadoras da história americana. O que encontraram na propriedade isolada não era apenas evidência de assassinato, mas um verdadeiro museu de horrores que revelaria os mecanismos mais sombrios da mente humana.
Ed Gein não era apenas um assassino comum. Ele se tornaria o arquétipo do serial killer psicótico, inspirando personagens icônicos como Norman Bates de “Psicose”, Leatherface de “O Massacre da Serra Elétrica” e Buffalo Bill de “O Silêncio dos Inocentes”. Mas por trás da figura aterrorizante que assombra o imaginário popular, existe uma história complexa de neurobiologia alterada, trauma psicológico profundo e uma psicopatologia que desafia nossa compreensão convencional do comportamento humano.
A Neurobiologia do Terror:
Como o Cérebro de Ed Gein Funcionava
Para compreender Ed Gein, precisamos primeiro entender como a neurociência moderna explica os transtornos que o afetavam. O cérebro humano, essa máquina biológica de aproximadamente 1,4 quilos, processa informações através de redes neurais complexas que determinam nossa percepção da realidade, nossas emoções e nossos comportamentos.
No caso de Gein, diagnosticado com esquizofrenia após sua prisão, essas redes neurais funcionavam de forma drasticamente alterada. A esquizofrenia é um transtorno neuropsiquiátrico que afeta aproximadamente 1% da população mundial e está associada a alterações estruturais e funcionais em várias regiões cerebrais, incluindo o córtex pré-frontal, o sistema límbico e os gânglios da base.
O Córtex Pré-Frontal e o Controle Executivo
O córtex pré-frontal, localizado na parte frontal do cérebro, é responsável pelas funções executivas superiores: planejamento, tomada de decisões, controle de impulsos e distinção entre realidade e fantasia. Em pacientes com esquizofrenia, neuroimagens revelam consistentemente alterações nesta região, incluindo redução do volume de massa cinzenta e diminuição da atividade metabólica.
No comportamento de Gein, podemos observar claramente os efeitos dessa disfunção pré-frontal. Sua incapacidade de distinguir entre fantasia e realidade manifestava-se nas alucinações auditivas que experimentava – colegas de escola lembravam-se de seu riso aparentemente aleatório, como se estivesse respondendo a vozes que apenas ele ouvia. Essa desconexão com a realidade permitiu que ele desenvolvesse um sistema delirante elaborado centrado na figura de sua mãe.
Sistema Límbico e Processamento Emocional
O sistema límbico, que inclui estruturas como a amígdala, o hipocampo e o giro do cíngulo, é fundamental para o processamento emocional e a formação de memórias. Em indivíduos com esquizofrenia, alterações nessas estruturas podem levar a respostas emocionais inadequadas e à formação de memórias distorcidas.
A fixação patológica de Gein por sua mãe pode ser parcialmente explicada por disfunções no sistema límbico. A amígdala hiperativa pode ter intensificado suas respostas emocionais relacionadas à figura materna, enquanto alterações no hipocampo podem ter contribuído para a consolidação de memórias distorcidas sobre Augusta Gein, transformando-a em uma figura quase divina em sua mente perturbada.
Neurotransmissores e Química Cerebral
A esquizofrenia está intimamente relacionada a desequilíbrios nos sistemas de neurotransmissores, particularmente dopamina, serotonina e glutamato. A hipótese dopaminérgica da esquizofrenia sugere que sintomas positivos (alucinações, delírios) resultam de hiperatividade dopaminérgica em certas regiões cerebrais, enquanto sintomas negativos (embotamento afetivo, isolamento social) podem estar relacionados à hipoatividade dopaminérgica em outras áreas.
O isolamento social extremo de Gein após a morte de sua mãe, sua incapacidade de formar relacionamentos normais e seu embotamento afetivo são consistentes com sintomas negativos da esquizofrenia. Simultaneamente, seus delírios elaborados sobre “recriar” sua mãe através de partes de corpos humanos refletem a presença de sintomas positivos severos.
Neuroplasticidade e Trauma Infantil
A neurociência moderna reconhece que o cérebro humano é extraordinariamente plástico, especialmente durante os primeiros anos de vida. Experiências traumáticas na infância podem literalmente remodelar a arquitetura neural, criando padrões de conectividade que persistem na idade adulta.
Desenvolvimento Neural Atípico
Ed Gein nasceu em 1906 em um ambiente familiar profundamente disfuncional. Sua mãe, Augusta, era uma figura dominadora e fanática religiosa que isolou seus filhos do mundo exterior. Seu pai, George, era um alcoólatra violento que regularmente abusava fisicamente dos filhos. Essa combinação tóxica de abuso, negligência e isolamento social criou condições ideais para o desenvolvimento de psicopatologia severa.
Durante o desenvolvimento neural normal, as experiências sociais positivas ajudam a moldar circuitos neurais responsáveis pela empatia, regulação emocional e comportamento social apropriado. No caso de Gein, a ausência dessas experiências, combinada com trauma repetitivo, pode ter resultado em desenvolvimento neural atípico em regiões críticas para o funcionamento social e emocional.
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Epigenética e Expressão Gênica
Pesquisas recentes em epigenética mostram que experiências traumáticas podem alterar a expressão gênica sem modificar o DNA subjacente. Estresse crônico na infância pode ativar ou desativar genes específicos relacionados à resposta ao estresse, desenvolvimento neural e função de neurotransmissores.
O ambiente de terror constante em que Gein cresceu – com uma mãe que pregava sobre a maldade do mundo e um pai violento – pode ter desencadeado alterações epigenéticas que predispuseram seu cérebro a desenvolver esquizofrenia e outros transtornos psiquiátricos. Essas mudanças podem ter tornado seu sistema nervoso hipersensível ao estresse e mais propenso a desenvolver sintomas psicóticos.
O Complexo de Édipo Patológico:
Neurobiologia do Apego Disfuncional
A relação de Gein com sua mãe extrapolou qualquer conceito normal de apego maternal, transformando-se em uma obsessão patológica que dominaria toda sua vida adulta. Para compreender essa dinâmica, precisamos examinar a neurobiologia do apego e como ela pode ser distorcida em condições patológicas.
Sistemas de Apego e Oxitocina
O apego humano é mediado por sistemas neurobiológicos complexos que envolvem hormônios como oxitocina e vasopressina, além de circuitos neurais no sistema límbico e córtex pré-frontal. Em condições normais, esses sistemas promovem vínculos saudáveis entre pais e filhos, estabelecendo padrões de apego que influenciam relacionamentos futuros.
No caso de Gein, o isolamento extremo imposto por Augusta criou uma situação em que ela era literalmente a única fonte de contato humano significativo em sua vida. Isso pode ter resultado em uma hiperativação dos sistemas de apego, criando uma dependência neurobiológica patológica. A oxitocina, normalmente associada a sentimentos de amor e conexão, pode ter sido liberada em quantidades anormais sempre que Gein interagia com sua mãe, reforçando a obsessão.
Neuroplasticidade e Consolidação de Memórias
O cérebro adolescente e jovem adulto de Gein estava ainda em desenvolvimento quando sua fixação maternal se intensificou. Durante esse período crítico, experiências repetitivas podem criar padrões neurais duradouros através de processos de potenciação de longo prazo. Cada interação com Augusta fortalecia as conexões neurais associadas a ela, criando literalmente um “mapa neural” em que ela ocupava um espaço desproporcional.
Quando Augusta morreu em 1945, Gein não perdeu apenas sua mãe – ele perdeu a figura central em torno da qual toda sua arquitetura neural emocional havia sido construída. Isso criou um vazio neurobiológico que seu cérebro esquizofrênico tentou preencher através de mecanismos patológicos.
A Psicose Pós-Luto
A morte de Augusta Gein em dezembro de 1945 marcou o início da fase mais perturbadora da vida de Ed. Sozinho pela primeira vez aos 39 anos, seu cérebro já comprometido pela esquizofrenia começou a criar uma realidade alternativa na qual sua mãe ainda existia.
Alucinações e Processamento Sensorial Alterado
As alucinações são um sintoma cardinal da esquizofrenia e resultam de atividade neural anormal em regiões responsáveis pelo processamento sensorial. No córtex auditivo, por exemplo, neurônios podem disparar espontaneamente, criando a percepção de sons ou vozes que não existem no ambiente externo.
Gein relatou posteriormente que ouvia vozes que o instruíam a visitar cemitérios e exumar corpos. Essas alucinações auditivas provavelmente representavam a “voz” de sua mãe morta, criada por seu cérebro como uma tentativa desesperada de manter a conexão perdida. Neurobiologicamente, isso pode ter envolvido ativação anormal de circuitos de memória associados a Augusta, combinada com disfunção nos sistemas que normalmente distinguem entre memórias internas e percepções externas.
Delírios e Construção de Realidade
Os delírios de Gein – particularmente sua crença de que poderia “recriar” sua mãe usando partes de corpos femininos – representam uma forma extrema de pensamento mágico que é comum em estados psicóticos severos. Esses delírios não são simplesmente “ideias malucas”, mas construções elaboradas que fazem sentido perfeito dentro do sistema de crenças distorcido do indivíduo.
Do ponto de vista neurobiológico, delírios podem resultar de hiperatividade no córtex pré-frontal medial, uma região envolvida na automonitorização e na construção de narrativas pessoais. Quando essa região funciona anormalmente, pode criar explicações bizarras para experiências internas, transformando alucinações e impulsos em um sistema de crenças coerente, embora completamente desconectado da realidade.
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O Ritual Macabro: Comportamento Compulsivo
Os atos de Gein – exumar corpos, criar “móveis” com partes humanas, vestir pele de mulheres mortas – não eram atos aleatórios de violência, mas comportamentos ritualizados que serviam a uma função psicológica específica em sua mente perturbada.
Circuitos de Recompensa e Comportamento Repetitivo
O sistema de recompensa do cérebro, centrado no circuito dopaminérgico mesolímbico, é fundamental para motivar comportamentos que promovem sobrevivência e bem-estar. Em condições patológicas, esse sistema pode ser “sequestrado” por comportamentos disfuncionais, criando padrões compulsivos.
Para Gein, os rituais envolvendo corpos femininos provavelmente ativavam intensamente seu sistema de recompensa. Cada vez que ele “recriava” aspectos de sua mãe através desses atos macabros, seu cérebro liberava dopamina, reforçando o comportamento e tornando-o mais provável de ser repetido. Isso criou um ciclo vicioso em que os atos mais perturbadores se tornaram neurobiologicamente viciantes.
Córtex Somatossensorial e Percepção Corporal
Uma das características mais perturbadoras do comportamento de Gein era sua tendência a vestir “roupas” feitas de pele humana. Isso pode estar relacionado a disfunções no córtex somatossensorial, a região cerebral responsável por processar sensações táteis e manter nossa percepção de limites corporais.
Em estados psicóticos severos, a percepção normal dos limites corporais pode ser alterada. Gein pode ter experimentado uma sensação de “fusão” com os materiais que vestia, criando uma ilusão temporária de que havia se transformado em sua mãe ou se tornado uma extensão dela. Neurobiologicamente, isso pode ter envolvido ativação anormal de neurônios espelho e circuitos de propriocepção.
Perfil Criminal: A Mente Desorganizada
Do ponto de vista da criminologia, Ed Gein representa um exemplo clássico do que os profilers chamam de “assassino desorganizado”. Essa classificação não se refere apenas ao estado de sua casa ou à natureza caótica de seus crimes, mas a padrões neurobiológicos específicos que se manifestam no comportamento criminal.
Função Executiva Comprometida
Assassinos organizados demonstram capacidade de planejamento, controle de impulsos e consciência das consequências legais de suas ações. Em contraste, assassinos desorganizados como Gein mostram evidências claras de função executiva comprometida, resultado de disfunção no córtex pré-frontal.
A incapacidade de Gein de esconder evidências, sua tendência a deixar pistas óbvias (como o recibo de anticongelante que o ligou ao desaparecimento de Bernice Worden) e a natureza impulsiva de seus ataques refletem déficits neurobiológicos específicos. Seu córtex pré-frontal comprometido simplesmente não conseguia executar as funções de planejamento e controle necessárias para crimes mais sofisticados.
Vitimologia e Processamento Facial
A seleção de vítimas por Gein seguia um padrão específico: mulheres de meia-idade que, em sua percepção distorcida, se assemelhavam à sua mãe. Isso sugere alterações no processamento facial, uma função complexa que envolve múltiplas regiões cerebrais, incluindo o giro fusiforme e o sulco temporal superior.
Pesquisas em neurociência mostram que o reconhecimento facial é altamente suscetível a influências emocionais e memórias associadas. No caso de Gein, é provável que seu cérebro processasse rostos femininos através de um “filtro” neurobiológico que os comparava constantemente com sua representação interna de Augusta. Mulheres que ativavam esses circuitos de reconhecimento se tornavam alvos potenciais.
Necrofilia: Impulsos Sexuais Desviantes
Embora Gein negasse qualquer motivação sexual em seus crimes, a natureza de seus atos sugere a presença de parafilias complexas, incluindo necrofilia. A neurobiologia dos impulsos sexuais desviantes é um campo de estudo em desenvolvimento, mas pesquisas recentes oferecem insights importantes.
Circuitos de Excitação Sexual Alterados
O comportamento sexual normal é mediado por circuitos neurais complexos que envolvem o hipotálamo, o sistema límbico e regiões do córtex pré-frontal. Em parafilias, esses circuitos podem ser “religados” de forma anormal, criando associações entre excitação sexual e estímulos ou comportamentos atípicos.
No caso de Gein, a combinação de isolamento sexual extremo, fixação maternal patológica e esquizofrenia pode ter resultado em desenvolvimento sexual gravemente distorcido. Seu cérebro pode ter criado associações neurais entre excitação, morte e a figura materna, resultando em impulsos que eram simultaneamente sexuais e necrófílicos.
Hormônios e Neurotransmissores
Os impulsos sexuais são fortemente influenciados por hormônios como testosterona e neurotransmissores como dopamina e serotonina. Em indivíduos com esquizofrenia, desequilíbrios nesses sistemas químicos podem alterar drasticamente o comportamento sexual.
A medicação antipsicótica disponível na época de Gein era primitiva e frequentemente causava efeitos colaterais sexuais significativos. Paradoxalmente, isso pode ter intensificado seus impulsos desviantes, criando uma situação em que impulsos sexuais normais eram suprimidos enquanto impulsos patológicos permaneciam ativos.
Impacto Cultural e Neurobiologia do Medo
Ed Gein foi além da sua realidade histórica para se tornar um arquétipo cultural do mal. Sua influência em filmes de terror como “Psicose”, “O Massacre da Serra Elétrica” e “O Silêncio dos Inocentes” não é acidental – existe algo na natureza de seus crimes que ativa circuitos neurobiológicos primitivos relacionados ao medo e à repulsa.
Neurobiologia do Horror
O cérebro humano evoluiu para detectar e responder rapidamente a ameaças potenciais. A amígdala, nossa “central de alarme” neural, é particularmente sensível a estímulos que violam expectativas normais sobre comportamento humano. Os crimes de Gein – particularmente o uso de partes de corpos humanos como objetos domésticos – ativam intensamente esses circuitos de detecção de ameaças.
Além disso, a violação de tabus culturais fundamentais (respeito pelos mortos, integridade corporal, relações familiares normais) cria uma resposta de “estranheza” que é neurobiologicamente distinta do medo comum. Essa resposta envolve regiões como o córtex insular anterior, que processa experiências de repulsa e violação moral.
Memória Coletiva e Transmissão Cultural
A persistência de Ed Gein no imaginário popular pode ser parcialmente explicada pela neurobiologia da memória social. Histórias que evocam respostas emocionais intensas são mais facilmente codificadas na memória de longo prazo e mais propensas a serem transmitidas culturalmente.
Os crimes de Gein ativam múltiplos sistemas neurais simultaneamente – medo, repulsa, curiosidade mórbida – criando uma “impressão digital” neurobiológica que é difícil de esquecer. Isso explica por que sua história continua a fascinar e aterrorizar décadas após sua morte.
Tratamento e Neuroplasticidade:
Poderia Gein Ter Sido Curado?
Uma questão que intriga tanto neurocientistas quanto criminologistas é se indivíduos como Ed Gein poderiam ter sido tratados efetivamente com intervenções modernas. A resposta é complexa e envolve nossa compreensão atual da neuroplasticidade e dos limites da reabilitação neurobiológica.
Medicação Antipsicótica Moderna
Os antipsicóticos disponíveis na época de Gein eram primitivos e causavam efeitos colaterais severos. Medicações modernas, particularmente antipsicóticos atípicos como risperidona e olanzapina, são muito mais eficazes no controle de sintomas psicóticos e têm perfis de efeitos colaterais mais toleráveis.
Teoricamente, medicação moderna poderia ter controlado as alucinações e delírios de Gein, potencialmente prevenindo a escalada de seus comportamentos patológicos. No entanto, isso pressupõe diagnóstico e tratamento precoces, algo que não estava disponível em sua era.
Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuroplasticidade
Pesquisas recentes mostram que intervenções psicoterapêuticas podem literalmente remodelar circuitos neurais através de mecanismos de neuroplasticidade. Terapia cognitivo-comportamental, em particular, pode ajudar pacientes a desenvolver novos padrões de pensamento e comportamento que correspondem a mudanças mensuráveis na atividade cerebral.
Para Gein, intervenção terapêutica intensiva focada em suas distorções cognitivas sobre relacionamentos, morte e identidade poderia teoricamente ter ajudado a “religar” alguns dos circuitos neurais disfuncionais. No entanto, a severidade de sua psicopatologia e a extensão de suas alterações neurobiológicas tornam questionável se mesmo intervenções modernas seriam suficientes.
Limitações da Neuroplasticidade
Embora o cérebro mantenha capacidade de mudança ao longo da vida, essa plasticidade tem limites. Alterações neurobiológicas que se desenvolvem ao longo de décadas, particularmente aquelas que envolvem estruturas cerebrais fundamentais, podem ser irreversíveis.
No caso de Gein, décadas de isolamento, trauma e doença mental não tratada podem ter criado mudanças neurobiológicas tão profundas que nenhuma intervenção seria capaz de restaurar o funcionamento normal. Sua arquitetura neural havia sido fundamentalmente alterada de formas que podem ter tornado a reabilitação impossível.
Lições para a Neurociência
O caso de Ed Gein oferece vasta informações preciosas para nossa compreensão atual da neurobiologia criminal e da psicopatologia. Embora seus crimes sejam únicos em sua natureza grotesca, os mecanismos neurobiológicos subjacentes – trauma infantil, isolamento social, doença mental não tratada – são relevantes para muitos outros casos.
Prevenção e Intervenção Precoce
Uma das lições mais importantes do caso Gein é a importância crítica da intervenção precoce. Se os sinais de alerta em sua infância e adolescência tivessem sido reconhecidos e tratados, é possível que sua trajetória criminal pudesse ter sido alterada.
Programas modernos de saúde mental escolar, treinamento de professores para reconhecer sinais de trauma e abuso, e sistemas de proteção infantil mais robustos representam avanços significativos na prevenção de casos como o de Gein.
Integração de Perspectivas Neurobiológicas na Justiça Criminal
O caso Gein também destaca a importância de integrar perspectivas neurobiológicas no sistema de justiça criminal. Compreender os mecanismos cerebrais subjacentes ao comportamento criminal não desculpa ações violentas, mas pode informar abordagens mais eficazes para tratamento e prevenção de reincidência.
Avaliações neuropsiquiátricas abrangentes, neuroimagem funcional e testes neuropsicológicos podem fornecer informações valiosas sobre a capacidade de um indivíduo para reabilitação e o risco de comportamento futuro.
O Legado de Ed Gein
Ed Gein morreu em 1984 no Mendota Mental Health Institute, levando consigo os segredos de uma mente que desafiou nossa compreensão do comportamento humano. Mas seu legado vai muito além dos filmes de terror ou do medo que seus crimes geraram.
Para a neurociência moderna, Gein representa um caso de estudo sobre como o cérebro humano pode ser moldado por experiências extremas. Sua história ilustra a interação complexa entre genética, ambiente, trauma e doença mental na criação de comportamento patológico.
Mais importante, o caso Gein nos lembra da importância da saúde mental, da intervenção precoce e da compreensão neurobiológica do comportamento humano. Baseando-nos no caso de Ed Gein podemos prevenir tragédias similares no futuro.
A neurociência continua a evoluir, oferecendo novas perspectivas sobre a mente humana e suas capacidades tanto para o bem quanto para o mal. O caso de Ed Gein, por mais perturbador que seja, contribui para o aumento do conhecimento, ajudando-nos a compreender melhor os mecanismos neurobiológicos que podem transformar um ser humano em um monstro.
Ao estudar casos como o de Gein conseguimos compreender como as forças neurobiológicas moldam o comportamento humano, com a esperança de que esse conhecimento possa ser usado para prever e coibir novos “Ed Gein”.


Referências:
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