52 – O Transtorno Do Sadismo Sexual
O Transtorno do Sadismo Sexual é uma condição em que a excitação está ligada ao sofrimento físico ou psicológico de outra pessoa. Entenda seus critérios diagnósticos, causas, comorbidades e implicações forenses

O Transtorno Do Sadismo Sexual – Entre os inúmeros transtornos parafílicos descritos pela psiquiatria, o Transtorno do Sadismo Sexual é um dos que mais desafiam a compreensão ética e emocional da natureza humana. Ele escancara uma fronteira delicada entre prazer e violência, entre fantasia e crime. Trata-se de uma condição em que a excitação sexual está diretamente ligada ao sofrimento físico ou psicológico da vítima, configurando uma forma extrema de gratificação sexual pela dominação e pela dor alheia.
Diferentemente do Transtorno do Masoquismo Sexual, em que o prazer deriva do sofrimento experimentado pela própria pessoa, o sadismo sexual volta o foco para o outro — o prazer nasce da dor imposta.
Entre A Excitação E A Violência:
O Que Define O Transtorno Do Sadismo Sexual
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5-TR), o Transtorno do Sadismo Sexual é caracterizado por um período mínimo de seis meses em que o indivíduo apresenta excitação sexual recorrente e intensa ao causar sofrimento físico ou psicológico em outra pessoa. Essa excitação se manifesta por meio de fantasias, impulsos ou comportamentos reais.
O critério B do diagnóstico estabelece que o indivíduo coloca em prática esses impulsos com uma pessoa que não consentiu, ou que essas fantasias e impulsos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo funcional — seja no campo social, profissional ou emocional. Assim, não basta que existam fantasias sádicas: para configurar o transtorno, é preciso que haja dano, sofrimento ou prejuízo.
Como em outros transtornos parafílicos, o DSM inclui especificadores que ajudam a refinar o diagnóstico: se a pessoa pratica esses atos em ambiente protegido, ou se o transtorno está em remissão completa. Esses detalhes são importantes, pois há indivíduos que manifestam traços sádicos controlados dentro de contextos consensuais, sem ultrapassar o limite do consentimento e da legalidade.
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Sadismo Sexual Não
É Sinônimo De Sadismo Pessoal
É fundamental separar os conceitos de sadismo sexual e sadismo como traço de personalidade. Embora compartilhem a raiz etimológica — vinda do Marquês de Sade, escritor francês do século XVIII que descreveu com crueza a fusão entre erotismo e crueldade —, as duas expressões não significam a mesma coisa.
Uma pessoa pode ter um traço sádico de personalidade, ou seja, sentir prazer no controle, na humilhação ou na dor psicológica de outros, mas isso não implica, necessariamente, excitação sexual. Já no sadismo sexual, o prazer físico e a excitação estão intimamente conectados ao sofrimento da vítima. O desejo, nesse caso, não se completa sem a presença da dor do outro.
Essa distinção é vital tanto para o diagnóstico quanto para o campo jurídico. Um indivíduo pode ser violento, cruel ou dominador sem ter qualquer parafilia; por outro lado, o portador do transtorno do sadismo sexual pode parecer, fora do contexto erótico, um sujeito aparentemente comum.
Quando A Fantasia Cruza A Linha Do Crime
O ponto de transição entre o comportamento parafílico e o transtorno se dá no consentimento. Há práticas sexuais consideradas sadomasoquistas que ocorrem de forma consensual e segura, dentro do que a comunidade BDSM denomina de princípios “SSC” (são, seguro e consensual). Nesses casos, não há transtorno nem infração.
Entretanto, quando o indivíduo coloca em prática impulsos de infligir dor ou sofrimento a alguém que não consentiu, ou quando essa necessidade causa sofrimento intenso e prejuízo funcional, o comportamento ultrapassa o limite do prazer compartilhado e adentra o território do transtorno mental e do crime.
O sadismo sexual patológico é marcado pela compulsão, pela perda de controle e pela ausência de empatia. A vítima é reduzida a um objeto de prazer e dominação. A dor deixa de ser simbólica e se torna real; o controle, absoluto; o prazer, dependente do sofrimento alheio.
O Fascínio Pelo Sofrimento:
Mecanismos Psicológicos E Neurobiológicos
Do ponto de vista psicológico, o sadismo sexual é uma forma de deslocamento da agressividade. A energia instintiva ligada à dominação, ao controle e à violência encontra na sexualidade uma via de expressão. Em termos psicanalíticos, há uma fusão entre pulsão erótica (Eros) e pulsão de morte (Thanatos) — o prazer e a destruição se tornam indissociáveis.
Pesquisas em neurociência sugerem que, em alguns indivíduos, há hiperatividade em regiões cerebrais ligadas à recompensa e ao controle, como o núcleo accumbens e o córtex orbitofrontal, além de diminuição da empatia associada a disfunções na amígdala cerebral. Isso pode explicar a excitação diante da dor do outro e a indiferença emocional diante do sofrimento.
A dopamina, neurotransmissor associado ao prazer e à recompensa, desempenha papel central nesse processo. O sadismo sexual, em certos casos, torna-se uma forma de dependência comportamental, na qual o indivíduo busca estímulos cada vez mais intensos para alcançar o mesmo nível de satisfação.
Pornografia, Fantasia E Realidade:
Quando O Desejo Se Alimenta Do Virtual
O uso frequente de pornografia que retrata atos de violência, humilhação e dor é uma característica recorrente em pessoas com esse transtorno. Isso não significa que todo consumidor desse tipo de conteúdo seja um sádico sexual, mas, quando há dependência, estímulo diário e excitação exclusiva por cenas de sofrimento, o risco aumenta consideravelmente.
A exposição constante a esse tipo de estímulo pode gerar dessensibilização — o indivíduo passa a necessitar de níveis cada vez mais altos de violência para sentir prazer. Esse padrão pode culminar na transposição do conteúdo fantasioso para o mundo real, especialmente quando há ausência de freios morais e empáticos.
A Escuridão No Olhar Do Criminoso:
Sadismo Sexual E Homicídios
Em contextos forenses, o Transtorno do Sadismo Sexual é frequentemente identificado em criminosos sexuais e serial killers de motivação sexual. A excitação, nesses casos, não decorre apenas do ato sexual, mas do medo, do pânico e da dor da vítima.
Para o criminoso sádico, o prazer está no poder absoluto — o controle sobre a vida e a morte. O ato de humilhar, ferir, torturar ou matar torna-se o ápice da excitação. Em muitos assassinatos de natureza sexual, o homicídio é apenas o desfecho simbólico do ritual de dominação. O sofrimento é o verdadeiro combustível da libido.
Estudos realizados nos Estados Unidos indicam que entre 37% e 75% dos homicidas sexuais apresentam traços compatíveis com o transtorno. Isso mostra como o sadismo sexual pode ser um fator subjacente a comportamentos letais, e não apenas uma preferência sexual desviada.
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A Personalidade Do Sádico:
Frieza, Domínio E Controle
Indivíduos com esse transtorno tendem a apresentar baixa empatia, comportamentos manipuladores, impulsividade e traços narcísicos ou antissociais. Muitos exibem uma personalidade carismática e controladora, escondendo a agressividade sob uma aparência de autoconfiança.
Na intimidade, o sádico sexual busca posse total sobre o parceiro. Ele precisa ser temido e admirado ao mesmo tempo. A dor do outro se transforma em uma confirmação de poder — e esse poder, por sua vez, retroalimenta o desejo. O ciclo é autossustentável e de difícil ruptura.
Quando o sujeito é confrontado ou impedido de exercer esse controle, pode reagir com violência extrema, como forma de restaurar a sensação de domínio. Essa dinâmica explica parte dos comportamentos observados em casos de feminicídio, estupro e tortura sexual.
Prevalência E Perfil Demográfico
A prevalência exata do transtorno é desconhecida, principalmente porque a maioria dos casos conhecidos vem de contextos forenses — prisões, instituições psiquiátricas e investigações criminais. A estimativa varia amplamente, entre 2% e 30% dos indivíduos condenados por crimes sexuais apresentando sintomas compatíveis com o diagnóstico.
Em termos de gênero, o transtorno é predominantemente masculino, embora haja registros de casos em mulheres. Estudos australianos indicam que 22% dos homens e 13% das mulheres relataram envolvimento em práticas sadomasoquistas consensuais, o que mostra que o interesse pelo tema é mais comum do que o transtorno em si. O ponto de ruptura está, novamente, na ausência de consentimento e na compulsão.
A idade média de surgimento dos sintomas costuma girar em torno dos 19 anos, coincidindo com o auge da libido e da experimentação sexual. Com o avanço da idade, tende a ocorrer redução da intensidade dos impulsos, acompanhando o declínio da função sexual geral.
Quando O Sadismo É Consentido:
O Limite Entre Fantasia E Transtorno
A cultura contemporânea normalizou a presença de elementos de dominação e submissão em práticas eróticas. No entanto, é essencial compreender a diferença entre o sadismo como preferência sexual consensual e o transtorno do sadismo sexual.
No primeiro caso, o prazer está no jogo simbólico de poder, no erotismo que envolve confiança, segurança e limites claros. Há negociação, código de conduta e respeito mútuo. No segundo, o prazer vem do dano real, da dor e da humilhação genuína. O sádico patológico não busca parceria, mas domínio; não busca prazer compartilhado, mas a submissão total da vítima.
Esse limite ético é o que separa o comportamento parafílico funcional de um transtorno mental com potencial destrutivo.
Diagnóstico Diferencial: O Que Pode Ser
Confundido Com Sadismo Sexual
O diagnóstico do Transtorno do Sadismo Sexual requer uma análise cuidadosa. Entre as condições que podem ser confundidas com ele estão:
- Transtorno da personalidade antissocial, caracterizado por impulsividade e ausência de remorso, mas sem ligação direta com a excitação sexual.
– - Transtorno do masoquismo sexual, onde a gratificação está no sofrimento próprio.
– - Hipersexualidade, em que há aumento da libido sem a necessidade de dor.
– - Transtornos por uso de substâncias, que podem desinibir comportamentos violentos.
É importante também diferenciar o interesse sádico — que pode ser uma fantasia ou prática controlada — do transtorno propriamente dito. Muitas pessoas com interesses eróticos sádicos vivem suas preferências de forma segura, sem causar danos. Apenas quando o impulso se torna incontrolável, prejudicial ou criminoso é que se configura o diagnóstico clínico.
Sadismo Sexual E Comorbidades
Em contextos forenses, é comum encontrar outros transtornos parafílicos associados ao sadismo sexual. Entre os mais frequentes estão o exibicionismo, o voyeurismo e a pedofilia. Além disso, o transtorno de personalidade antissocial aparece como comorbidade recorrente, especialmente em criminosos violentos.
Essas sobreposições indicam que o sadismo sexual raramente atua isoladamente. Ele costuma fazer parte de um conjunto de distorções sexuais e emocionais que envolvem controle, dominação e prazer pela submissão alheia.
A Entrevista E O Desafio Clínico-Forense
Avaliar um indivíduo com possível transtorno de sadismo sexual requer sensibilidade, técnica e prudência. O profissional precisa identificar de onde vem a gratificação: se do ato sexual em si ou do sofrimento imposto. Essa distinção é decisiva para diferenciar um comportamento violento ocasional de um padrão patológico de excitação.
Durante a avaliação, a presença de fantasias de poder, narrativas de controle absoluto e prazer com o sofrimento da vítima são indicativos fortes. No entanto, o diagnóstico deve ser sustentado por critérios clínicos claros, observando frequência, duração, prejuízo e contexto.
O Sadismo Sexual Na Cultura Pop
E No Imaginário Coletivo
O termo “sadismo” se popularizou na literatura e no cinema, frequentemente romantizado ou banalizado. Obras como 50 Tons de Cinza ajudaram a difundir práticas de dominação e submissão, mas também confundiram o público quanto à diferença entre fantasia consensual e comportamento patológico.
A cultura pop frequentemente transforma o sadismo em estética — fetichiza o poder, a dor e a submissão —, ignorando a gravidade clínica e social do transtorno quando ele ultrapassa o limite ético. Essa banalização é perigosa, pois pode mascarar sinais de abuso e dificultar a identificação de vítimas.
O Declínio Da Libido
E A Remissão Do Transtorno
Com o envelhecimento, é comum que indivíduos com sadismo sexual experimentem redução natural dos impulsos. Essa diminuição está ligada à queda da libido e da resposta hormonal. Ainda assim, a estrutura psíquica sádica tende a permanecer, mesmo que os comportamentos diminuam.
Em alguns casos, a remissão não é total, mas o indivíduo consegue controlar os impulsos ou direcioná-los para formas simbólicas de expressão, evitando reincidência. A terapia cognitivo-comportamental e o acompanhamento psiquiátrico são as abordagens mais indicadas, especialmente quando há risco de comportamento criminoso.
Entre O Prazer, A Culpa
E O Poder: Uma Reflexão Final
O Transtorno do Sadismo Sexual é um lembrete de como a mente humana pode fundir prazer e violência em um mesmo impulso. A excitação que nasce da dor alheia revela uma busca distorcida por poder e domínio, frequentemente associada à fragilidade emocional e à falta de empatia.
Compreender esse transtorno é fundamental não apenas para o campo clínico e jurídico, mas também para o debate social sobre limites, consentimento e responsabilidade. Em um mundo onde o erotismo é cada vez mais exposto e consumido, é urgente distinguir o desejo saudável da compulsão que destrói.
A sexualidade, quando pervertida pelo sofrimento do outro, deixa de ser expressão de vida e torna-se instrumento de aniquilação. O desafio da psicologia, da psiquiatria e do direito é enxergar, por trás do ato, o desequilíbrio que o sustenta — e tratar, sem jamais justificar.
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