24 – Abul Djabar – O Assassino do Turbante
Assassino do Turbante - O nome de Abul Djaber se tornou sinônimos de terror nos anos 1960
Assassino do Turbante – O nome de Abul Djaber se tornou sinônimos de terror. Longe dos holofotes da mídia ocidental, no coração de uma nação em uma encruzilhada histórica, operou um predador cuja brutalidade e prolífica carreira de assassinato rivalizam com qualquer um deles, mas cujo nome permanece em grande parte envolto em obscuridade.
Abul Djabar, o homem que ficou conhecido como “O Assassino do Turbante” no Afeganistão nos anos 1960 e 1970. Com pelo menos 65 assassinatos confirmados e suspeitas que chegam a mais de 300, a história de Djabar não é apenas a crônica de um assassino em série, mas um profundo exame de como a repressão cultural, a falha sistêmica da justiça e a psicologia de um indivíduo podem convergir para criar uma sequencia de violência.
O Afeganistão dos Anos 1960
Para compreender a ascensão de um predador como Abul Djabar, é necessário entender o cenário da época: o Reino do Afeganistão. A década de 1960 foi um período singular na história afegã, uma era de relativa paz e modernização sob o governo do rei Mohammed Zahir Shah.
Cabul, a capital, estava se transformando. A influência ocidental era visível na moda, na música e na arquitetura. A cidade tornou-se uma parada popular na chamada “Trilha Hippie”, uma rota terrestre que levava jovens ocidentais da Europa à Índia e ao Nepal em busca de iluminação espiritual e aventura. Por um breve momento, o Afeganistão foi um lugar de encontro cultural, uma vida de tranquilidade antes das décadas de guerra e conflito que se seguiriam com a invasão soviética em 1979.
No entanto, sob essa fachada de modernização, a sociedade afegã permanecia profundamente conservadora e patriarcal, governada por códigos de honra tribais e uma interpretação estrita do Islã. A sexualidade, em particular, era um assunto de extremo tabu. Qualquer desvio da heterossexualidade normativa era visto não apenas como um pecado, mas como uma mancha na honra da família e da comunidade.
A homossexualidade era, e continua sendo, severamente reprimida, punível por lei e pela sociedade. Este ambiente de repressão intensa criou um paradoxo perigoso: enquanto a expressão sexual era publicamente negada, ela florescia em segredo, muitas vezes de formas distorcidas e exploradoras.
É neste contexto de segredos e vergonha que um predador como Abul Djabar encontrou seu terreno fértil. Suas vítimas, homens e meninos, existiam em uma zona de vulnerabilidade absoluta. Ser vítima de um ataque sexual por outro homem era (e ainda é) carregar um estigma tão profundo que o silêncio se tornava a única opção.
Denunciar o crime seria admitir a própria desonra, um destino socialmente pior do que o próprio ataque. Djabar não operava apenas nas sombras físicas, mas nas sombras culturais de uma sociedade que se recusava a reconhecer a existência de seus crimes.
A Trilha de Terror do Assassino do Turbante
As informações biográficas sobre Abul Djabar são escassas, um reflexo da falta de manutenção de registros detalhados e da turbulência política que se seguiu. O que se sabe é que, durante os anos 1960 e até sua captura em 1970, um padrão de desaparecimentos e assassinatos começou a emergir. Homens e meninos, muitas vezes viajantes ou trabalhadores, eram encontrados mortos, seus corpos abandonados em locais de difícil acesso. A causa da morte era consistentemente a mesma: estrangulamento. O instrumento do crime era invariavelmente um turbante.
O modus operandi de Djabar era tão simbólico quanto brutal. Ele atacava suas vítimas, estuprava-as e, no clímax de sua agressão sexual, usava um turbante para estrangulá-las. A escolha da arma é psicologicamente significativa. No contexto cultural afegão e pashtun, o turbante é um símbolo de masculinidade, honra e status.
Ao transformar este objeto de respeito em uma ferramenta de morte, Djabar estava, em um nível simbólico, pervertendo e destruindo a própria masculinidade de suas vítimas no momento de sua dominação final. Não era apenas um assassinato; era um ato de aniquilação total da identidade e da honra do outro.
A simultaneidade do estupro e do estrangulamento aponta para uma fusão completa de violência e gratificação sexual, uma característica definidora do homicídio por luxúria, onde o ato de matar é, em si, o ato sexual supremo para o agressor.
Por anos, Djabar caçou impunemente. A escala de seus crimes é espantosa. Embora condenado por 65 assassinatos, as autoridades suspeitavam que o número real poderia ultrapassar 300. Essa prolífica carreira de assassinato só foi possível devido a uma confluência de fatores. A falta de técnicas forenses modernas, a natureza transitória de muitas de suas vítimas e, o mais importante, o silêncio imposto pelo estigma cultural.
As vítimas que sobreviviam a um ataque inicial provavelmente nunca o denunciariam. As famílias dos desaparecidos podem ter hesitado em pressionar por investigações que pudessem revelar uma verdade vergonhosa. Djabar estava protegido por um muro de silêncio cultural.
A investigação foi marcada pela frustração e, tragicamente, por uma grave falha judicial. Antes da captura de Djabar, a pressão para resolver os crimes levou à execução de dois homens inocentes, um erro que sublinha o desespero das autoridades e a precariedade do sistema de justiça da época. A captura de Djabar, quando finalmente aconteceu em outubro de 1970, não foi o resultado de uma investigação brilhante, mas de um ato de descuido do próprio assassino.
Ele foi preso em flagrante, enquanto tentava matar outra vítima. Com sua captura, o reinado de terror do Assassino do Turbante chegou ao fim. Seu julgamento foi rápido e sua sentença, inevitável. Abul Djabar foi executado por enforcamento em 21 de outubro de 1970.
O Perfil Psicológico:
Raiva, Repressão e Sadismo
Devido à escassez de registros, construir um perfil psicológico detalhado de Abul Djabar requer uma certa dose de extrapolação, baseada no que se sabe sobre predadores sexuais seriais com características semelhantes.
As poucas fontes disponíveis sugerem que sua violência era motivada por uma “depressão severa e raiva, desenvolvida a partir de anos de abuso por causa de sua sexualidade”. Se isso for preciso, Djabar se encaixa em um perfil psicológico clássico de agressão deslocada, onde a incapacidade de confrontar a fonte de sua dor (abuso e homofobia internalizada) leva à externalização da raiva contra substitutos simbólicos.
Em uma sociedade que demonizava seus desejos inatos, Djabar provavelmente experimentou um profundo e constante conflito interno. A psicologia freudiana descreveria isso como um caso extremo de repressão, onde os impulsos sexuais considerados inaceitáveis são empurrados para o inconsciente, apenas para ressurgirem de formas neuróticas ou, neste caso, perversas e violentas.
A homofobia internalizada — o processo pelo qual um indivíduo homossexual passa a acreditar e a aplicar as atitudes negativas da sociedade a si mesmo — pode levar a um ódio paralisante por si mesmo. Para alguns, esse ódio pode ser projetado para fora, transformando-se em raiva e violência contra outros que representam o objeto do desejo proibido.
Ao atacar e destruir outros homens e meninos, Djabar pode ter estado, em um nível inconsciente, atacando e destruindo a parte de si mesmo que ele tanto odiava. Cada assassinato era uma tentativa fútil de purgar sua própria “vergonha”.
Seu comportamento se alinha com o diagnóstico de transtorno de sadismo sexual, uma parafilia na qual um indivíduo obtém excitação sexual intensa e recorrente ao infligir sofrimento físico ou psicológico a outra pessoa. É crucial distinguir isso do sadomasoquismo consensual (BDSM). O sadismo de Djabar era predatório e não consensual.
A dor e a humilhação de suas vítimas não eram apenas um meio para um fim; eram o próprio fim. O ato de estrangular enquanto estuprava sugere que a luta da vítima, seu terror e sua morte iminente eram componentes essenciais para sua gratificação sexual. Isso indica uma completa falta de empatia, uma característica central da psicopatia.
Embora não haja dados para um diagnóstico formal, seu comportamento — a violência predatória, a manipulação, a falta de remorso e a busca de gratificação pessoal a qualquer custo — é altamente consistente com um transtorno de personalidade antissocial com traços psicopáticos significativos.
A Arquitetura da Violência
Embora não possamos examinar o cérebro de Abul Djabar, a neurociência moderna oferece modelos para hipotetizar sobre os mecanismos neurais que podem ter impulsionado sua violência. O caso de Djabar é particularmente interessante porque ele não se encaixa perfeitamente no modelo do psicopata “frio” e calculista, mas sim em um perfil de violência sexual explosiva, possivelmente enraizada na repressão.
O cérebro humano possui um delicado equilíbrio entre os centros de desejo e os centros de controle. O sistema límbico, especialmente a amígdala e o hipotálamo, é o motor primordial do desejo sexual e da agressão. Essas estruturas primitivas geram os impulsos básicos para acasalar e lutar. O córtex pré-frontal, por outro lado, é o CEO do cérebro.
É responsável pelo julgamento, pelo controle de impulsos, pela tomada de decisões morais e pela conformidade com as normas sociais. Em um cérebro saudável, o córtex pré-frontal atua como um freio, modulando os impulsos brutos do sistema límbico e garantindo que o comportamento permaneça dentro dos limites socialmente aceitáveis.
No caso de um indivíduo como Djabar, podemos teorizar uma disfunção em múltiplos níveis. Primeiro, a teoria da frustração-agressão sugere que a obstrução de um impulso forte pode levar a uma resposta agressiva. A repressão social e internalizada da sexualidade de Djabar representaria uma frustração crônica e massiva de um impulso biológico fundamental.
Neurobiologicamente, isso poderia levar a um estado de desregulação crônica nos circuitos de recompensa e estresse do cérebro. A incapacidade de satisfazer seu desejo de forma segura e consensual poderia ter levado a uma “inundação” de neurotransmissores relacionados ao estresse, como o cortisol, e a uma desregulação da dopamina, o neurotransmissor do desejo e da recompensa. Em vez de buscar o prazer através de vias normais, o cérebro pode ter “religado” o circuito, associando a liberação da tensão sexual com o ato de violência.
A pesquisa sobre o sadismo sexual oferece uma visão ainda mais específica. Estudos de neuroimagem mostraram que, em indivíduos sádicos, a observação do sofrimento alheio ativa não apenas os centros de dor empática (como a ínsula anterior), mas também os centros de prazer (como o estriado ventral). Essa coativação perversa sugere que, para o sádico, a dor do outro é literalmente prazerosa. No cérebro de Djabar, é plausível que anos de repressão, abuso e ódio a si mesmo tenham forjado uma conexão neural aberrante entre seu desejo sexual e a violência.
O ato de dominar e destruir outro homem pode ter sido a única maneira que seu cérebro desregulado encontrou para alcançar uma liberação dopaminérgica poderosa, o “barato” neurológico que ele buscava compulsivamente.
Além disso, a violência do estrangulamento em si pode ter uma base neuroquímica. O estrangulamento pode induzir hipóxia (falta de oxigênio) tanto na vítima quanto, em menor grau, no agressor através do esforço físico, o que pode levar a estados alterados de consciência e a uma intensificação das sensações, criando uma tempestade neurológica que funde sexo, poder e morte em uma única experiência avassaladora.
Perfilamento Criminal
Abul Djabar, como predador, exibia uma mistura de traços que o tornavam excepcionalmente difícil de capturar no contexto do Afeganistão da época. Ele pode ser classificado como um assassino por luxúria, cuja principal motivação é a gratificação sexual, com a violência sendo uma parte integrante e necessária dessa gratificação.
- Natureza Híbrida (Organizado/Desorganizado): Djabar não se encaixa perfeitamente na dicotomia clássica do FBI. Ele era organizado em sua capacidade de operar por anos sem ser detectado, escolhendo vítimas vulneráveis e explorando as normas culturais para garantir o silêncio. Ele mantinha uma vida aparentemente normal, o que lhe permitia se misturar.
No entanto, seus ataques parecem ter sido desorganizados e impulsivos, impulsionados por uma necessidade compulsiva em vez de uma fantasia elaborada e ensaiada. A violência extrema e o alto número de vítimas sugerem um predador que ataca com frequência e com pouca preocupação em esconder seus rastros, confiando no ambiente para protegê-lo.
– - Assinatura Psicológica: A assinatura de Djabar era o uso do turbante para estrangular durante o estupro. Isso vai além do modus operandi (o método de matar) e entra no reino do ritual psicológico. Como mencionado, era um ato de dominação simbólica, uma expressão de sua raiva e desprezo pela masculinidade que ele desejava e odiava.
– - Conforto Geográfico e Comportamental: Djabar operava em um ambiente que conhecia bem. Ele entendia a psicologia de suas vítimas e a paralisia da sociedade. Ele sabia que o medo da desonra era uma arma mais poderosa do que qualquer fechadura. Sua confiança em atacar repetidamente da mesma maneira indica que ele se sentia seguro, sabendo que o sistema e a cultura eram seus cúmplices involuntários.
O caso de Djabar é um exemplo de como o perfilamento criminal deve ser adaptado ao contexto cultural. As ferramentas desenvolvidas para caçar assassinos em série em sociedades ocidentais abertas precisam ser recalibradas para entender predadores que operam em culturas fechadas e repressivas, onde a dinâmica do poder, da honra e da vergonha desempenha um papel muito mais significativo na vitimologia e na capacidade do criminoso de evadir a captura.
Silêncio e Violência
Abul Djabar é mais do que apenas um nome em uma lista de assassinos em série. Ele é um estudo de caso sobre a toxicidade da repressão. Sua história é um testemunho brutal de como os demônios internos de um homem, nutridos por um ambiente de vergonha e silêncio, podem explodir em uma violência que consome centenas de vidas.
A falta de informações detalhadas sobre sua vida é, em si, uma parte da história, um reflexo de como uma sociedade pode, involuntariamente, apagar as evidências de seus próprios traumas.
Vemos um homem provavelmente nascido com vulnerabilidades neurológicas, cuja identidade sexual foi esmagada pelo peso do abuso e da intolerância cultural. Vemos um cérebro onde os circuitos de desejo e agressão se tornaram perversamente ligados, transformando o ato de destruição na única fonte de prazer. O Assassino do Turbante não era um monstro sobrenatural; ele era um ser humano terrivelmente quebrado, um produto final de uma colisão catastrófica entre biologia e ambiente.
Seu legado é um alerta de que a violência muitas vezes prospera no silêncio. A história de Abul Djabar nos força a confrontar a ideia de que, em qualquer sociedade, os monstros mais perigosos não são aqueles que se escondem nas sombras, mas aqueles que se escondem à vista de todos, protegidos pelos tabus que nos recusamos a enfrentar.
Referências
Lankford, A. “A sexual frustration theory of aggression, violence, and crime.” Aggression and Violent Behavior, 2021. Acessado em 26 de outubro de 2025. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0047235221000854
Wikipedia. “Abul Djabar.” Acessado em 26 de outubro de 2025. https://en.wikipedia.org/wiki/Abul_Djabar
Spiegel Online. “Afghanistan 1968: Als in Kabul Hippies tanzten.” Acessado em 26 de outubro de 2025. (Link arquivado)
Medical News Today. “What to know about sexual repression.” Acessado em 26 de outubro de 2025. https://www.medicalnewstoday.com/articles/sexually-repressed
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