26 – As Mentes Criminosas Da Série Tremembé
Série “Tremembé”: como a produção do Prime Video pega casos reais, recria o presídio dos famosos em São Paulo e ativa debate sobre justiça, cárcere e repercussão midiática. Estreia, elenco, controvérsias e o que esperar da trama
Série Tremembé– AVISO: O conteúdo a seguir aborda temas de extrema sensibilidade, incluindo assassinato, abuso sexual e violência. A leitura pode ser perturbadora para alguns indivíduos. As análises psicológicas e neurocientíficas apresentadas são baseadas em fontes públicas e laudos periciais divulgados pela imprensa, e não constituem diagnósticos. O objetivo é estritamente informativo e analítico, dentro do campo da psicologia forense e da criminologia.
A série Tremembé surge em um momento em que o gênero true crime brasileiro está recebendo atenção crescente — tanto nos streaming quanto no interesse público por casos que ecoam na mídia. A produção disponível no Prime Video estreou em 31 de outubro de 2025.
Diferentemente de obras ficcionais, Tremembé se baseia direta ou indiretamente em casos reais que ficaram marcados no imaginário nacional, incluindo nomes como Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. A história é ambientada no sistema prisional do interior paulista — a Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, em Tremembé –, referida pela mídia como “presídio dos famosos”.
No cenário da produção audiovisual nacional, ela representa uma aposta de maior escala técnica, com elenco estelar e uma redação que promete dar voz às relações internas de poder, convivência entre detentos de alto perfil, visibilidade midiática e conflitos éticos do sistema carcerário.
A série pode não satisfazer espectadores que buscam análise aprofundada do sistema prisional ou documentário — em muitos momentos, o foco é narrativo e dramático, mais do que investigativo ou reflexivo. Alguns críticos observaram que a produção “não demonstra preocupação em discutir os dilemas morais do gênero true crime”.
Série Tremembé – Origem e Contexto da Produção
A ideia de Tremembé se desenvolve no cruzamento entre o interesse público pelos grandes casos criminais brasileiros e o universo do streaming, que demanda conteúdos capazes de captar a atenção com impacto imediato. A produção foi anunciada pelo Prime Video e trata da rotina de uma das unidades prisionais mais comentadas do país — que historicamente abriga condenados por crimes de repercussão nacional.
A série é baseada nos livros do jornalista Ulisses Campbell — “Elize Matsunaga: A mulher que esquartejou o marido” e “Suzane: assassina e manipuladora”. O roteiro reúne Campbell, Vera Egito, Juliana Rosenthal, Thays Berbe e Maria Isabel Iorio como autores. A direção-geral é de Vera Egito.
A escolha de ambientar a narrativa na penitenciária de Tremembé não é casual: a unidade tem acentuado perfil de “celebração” midiática de presos de crimes gravíssimos, e essa simbologia serve como trampolim dramático para a construção da série. O público já conhece os crimes originais, e a produção assume o desafio de transportar para a tela o cotidiano carcerário e as disputas entre detentos conhecidos.
Do ponto de vista de streaming nacional, a estreia da série assume um papel de destaque: foi exibida de imediato com todos os episódios disponíveis, num formato de minissérie (cinco episódios) que permite maratona.
Estrutura Narrativa e Formato
Tremembé foi lançada com cinco episódios na primeira temporada. Cada episódio tem duração aproximada entre 47 e 59 minutos, e a soma total aproxima-se de 4 horas e 13 minutos. Os títulos dos episódios trazem uma progressão de tensão: o primeiro episódio, intitulado “Confia em mim”, introduz a nova ordem dentro do presídio com a chegada de Suzane. O segundo, “Até que a morte nos separe”, aprofunda o conflito entre detentas de alto perfil. Os demais seguem por “Assassinas na TV”, “Acerto de contas” e “Justiça seja feita”.
A narrativa adota uma combinação de elementos factuais, dramatização e adaptação criativa. O ponto de partida são os autos processuais, as memórias de pressões institucionais, as relações de poder entre presos e também as repercussões da mídia. Segundo a página da Wikipedia, “a trama baseada nos autos dos respectivos processos e também pelos livros (…) é ambientada nos presídios de Tremembé (…) explorando as tensões, conflitos e relações entre os personagens dentro do sistema prisional.”
Dessa forma, a série se abre não apenas como um recontar de crime, mas como investigação das consequências da notoriedade, das dinâmicas de classe, gênero, mídia e poder dentro de uma prisão. Ainda que a própria produção admita certo grau de liberdade criativa, o desafio de equilibrar entretenimento e responsabilidade factual está presente.
Elenco e Personagens
O elenco de Tremembé se destaca por reunir nomes do cinema e da televisão nacional que já possuem visibilidade e profissionalismo. A seguir, menciono alguns dos principais atores e quem interpretam:
- Marina Ruy Barbosa assume o papel de Suzane von Richthofen.
- Carol Garcia interpreta Elize Matsunaga.
- Bianca Comparato vive Anna Carolina Jatobá.
- Lucas Oradovschi representa Alexandre Nardoni.
- Felipe Simas e Kelner Macêdo interpretam Daniel e Cristian Cravinhos, respectivamente.
- Letícia Rodrigues assume o papel de Sandra Regina Ruiz, conhecida como Sandrão.
- Anselmo Vasconcelos interpreta Roger Abdelmassih.
- Letícia Tomazella vive Poliana (Luciana Oberg)
Cada ator foi chamado para ocupar papéis que carregam repercussão social e histórica, o que exige preparo técnico e psicológico. Alguns veículos de crítica elogiaram a “qualidade técnica e atuacional” da série, apontando o cuidado com a caracterização, direção de arte e cenografia.
No elenco, é relevante notar que os personagens principais são presos já famosos, o que coloca dupla exigência: expressar o personagem como alguém real, e ao mesmo tempo projetar o enredo para o espectador que já conhece a história por notícias. Essa expectativa do público aumenta a necessidade de fidelidade (ou ao menos plausibilidade) e também eleva o risco de comparações com os fatos ‘originais’.
Relação com os Casos Reais
A série utiliza como base casos amplamente divulgados, o que gera uma interseção entre o entretenimento e a memória coletiva de crimes que marcaram a opinião pública. Os principais casos referenciados são:
- O assassinato dos pais de Suzane von Richthofen, cometido pelos irmãos Cravinhos.
- O homicídio de Isabella Nardoni, com Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá como condenados.
- O assassinato do empresário Marcos Kitano Matsunaga por Elize Matsunaga.
- A figura de Roger Abdelmassih, ex-médico condenado por estupros, aparece também no elenco de personagens.
- O estupro de duas irmãs de três anos, com Poliana
Esses crimes receberam cobertura massiva da mídia e criaram imagens e narrativas públicas persistentes. A série busca adaptar esses eventos para a ficção-dramática, por meio dos livros de Ulisses Campbell, e recolocar esses personagens em um espaço – o presídio – que também torna-se personagem da trama.
Apesar de inspirada em fatos reais, a produção admite liberdade artística. Assim, há adaptações, omissões e acréscimos para fins dramáticos. Por exemplo, cenas de relações amorosas entre presos ou alianças estratégicas entre detentas famosas são enfatizadas como parte da narrativa da série.
Essa adaptação cria tensões éticas: até que ponto é possível retratar casos reais sem minimizar as vítimas, sem romantizar os criminosos ou sem violar direitos das pessoas envolvidas? A série está no centro desse debate.
Pontos de Conflito e Controvérsias
Logo após o lançamento, surgiram críticas de parte dos retratados ou de pessoas ligadas a eles. Conforme consta na página da Wikipedia sobre a série, o condenado Cristian Cravinhos manifestou insatisfação e afirmou que “praticamente tudo” na série era mentira. O autor Ulisses Campbell divulgou documentos para rebater essas afirmações, indicando que havia cartas e evidências que justificavam a adaptação.
Além disso, matérias de crítica especializada ressaltam que, embora a produção se destaque tecnicamente, ela “não demonstra preocupação em discutir os dilemas morais do gênero true crime”. Um trecho da análise da Omelete sugere que Tremembé “é true crime em sua forma mais rasa, mais despreocupada da responsabilidade que pode carregar como narrativa inspirada em fatos reais”.
Outro ponto é que a série traz dentro do enredo personagens que viveram no sistema prisional e relacionamentos que envolvem intimidade entre presos — o que levanta questões de privacidade, representação e impacto nas vítimas e nas famílias das vítimas originais. O fato de juntar vários personagens célebres numa mesma unidade prisional para fins de narrativa dramática também exige suspensão de descrença por parte do espectador.
As críticas também se concentram no fato de que o entretenimento vira veículo para reativar traumas, e cabe ao público avaliar o impacto disso. Mas, apesar dos questionamentos, o sucesso de audiência sugere que o público está interessado nesse tipo de produção no Brasil.
Temas Principais
Poder e Hierarquia no Presídio
Um dos eixos de Tremembé é retratar como a notoriedade de alguns presos lhes dá certo poder informal dentro da penitenciária: seja por organização de espaços, relações de visita, alianças entre presos, ou hierarquia simbólica. A série mostra a dinâmica de liderança e os conflitos entre detentos — inclusive a chegada de Suzane coloca em risco a ordem estabelecida. Esse retrato permite inferir que o sistema prisional não é apenas um local de confinamento físico, mas também de poder simbólico, reputação e influência.
A Mídia, o Crime e a Fama
Outro tema que surge é a intersecção entre crime, mídia e sociedade. Quando os presos retratados já são figuras públicas, o streaming transforma esse status em narrativa. A série dá visibilidade à fama entre grades, à forma como criminosos midiáticos se tornam personagens, à repercussão pública de seus atos e à extensão dessa visibilidade dentro do presídio. Um episódio, “Assassinas na TV”, evoca essa relação direta entre crime, mídia e espetáculo.
Relações Entre Presos de Alta Notoriedade
Tremembé enfatiza as relações entre detentos que, por si só, já têm histórico de grandes casos. Relações de afeto, rivalidade, aliança, traição são retratadas como parte da convivência prisional. A produção menciona “triângulos amorosos” e alianças inesperadas. Essa abordagem traz à tona questões pouco exploradas na mídia tradicional: como presos de alta repercussão lidam com o confinamento comum, como se relacionam entre si, quais dinâmicas emergem num ambiente onde a notoriedade pesa.
Memória, Vítimas e Responsabilidade Social
Um aspecto delicado da série envolve as vítimas dos crimes. Quando se reconta uma história famosa, existe a tensão entre o personagem criminoso, o contexto, e a dor das famílias envolvidas. A série, ao retratar presos célebres, assume uma responsabilidade: como equilibrar entretenimento e respeito à memória das vítimas? A crítica de que a série “não demonstra preocupação em discutir os dilemas morais” evidencia que esse equilíbrio é instável.
Bases Biológicas do Comportamento Antissocial
Antes de analisar os casos individualmente, é essencial estabelecer uma base de conhecimento sobre os conceitos que guiarão nossa análise. A psiquiatria e a neurociência moderna oferecem um mapa, ainda que incompleto, das estruturas e funcionamentos cerebrais que se relacionam com a moralidade, a empatia e o controle de impulsos. A compreensão desses mecanismos é crucial para contextualizar os perfis psicológicos que emergirão.
O Circuito Neuro-Moral: Córtex Pré-Frontal e Amígdala
Pesquisas consistentes apontam para um circuito cerebral fundamental na regulação do comportamento social. O córtex pré-frontal, localizado na parte anterior do cérebro, é o nosso centro executivo. Ele é responsável pelo planejamento, tomada de decisões, controle de impulsos e pela avaliação das consequências de nossos atos. Uma disfunção nessa área, especialmente em suas porções ventromedial e orbitofrontal, está associada a uma dificuldade em frear impulsos agressivos e em tomar decisões que levem em conta o bem-estar alheio. Indivíduos com lesões ou desenvolvimento atípico nesta região podem exibir um comportamento que se assemelha ao da psicopatia adquirida, caracterizado por uma tomada de decisão impulsiva e uma notável insensibilidade às normas sociais.
A amígdala, por sua vez, é uma pequena estrutura em forma de amêndoa, localizada profundamente no cérebro, e funciona como nosso centro de processamento emocional, especialmente do medo. Ela é crucial para aprendermos com punições e para reconhecermos o sofrimento em outras pessoas. Estudos com indivíduos que apresentam altos traços de psicopatia frequentemente revelam uma amígdala menor e menos ativa. Essa hipoatividade significa que a pessoa não apenas sente menos medo, mas também tem uma capacidade reduzida de reconhecer e se importar com o medo e a angústia dos outros, um componente central da falta de empatia. A ausência dessa “bússola emocional” interna torna o sofrimento alheio um conceito abstrato, não um sentimento visceral que inibe a agressão.
A comunicação deficiente entre o córtex pré-frontal e a amígdala resulta em um processo decisório frio, utilitário, onde o impacto emocional sobre a vítima não é um fator inibitório relevante. O indivíduo pode saber que seu ato é errado, mas não sente que é errado, criando um perigoso descompasso entre o conhecimento cognitivo e a ressonância afetiva.
Psicopatia vs. Transtorno de Personalidade Antissocial
É importante distinguir dois termos frequentemente confundidos. O Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS) é um diagnóstico oficial, presente no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), caracterizado por um padrão difuso de desrespeito e violação dos direitos dos outros, que se inicia na infância ou no começo da adolescência e continua na idade adulta. Os critérios focam em comportamentos observáveis, como fracasso em se conformar às normas sociais, propensão a enganar, impulsividade, irritabilidade e agressividade, e desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia.
A psicopatia, por outro lado, é um construto mais específico, avaliado por ferramentas como a Escala Hare (PCL-R). Além dos comportamentos antissociais (Fator 2), a psicopatia inclui um conjunto de traços afetivos e interpessoais (Fator 1) como falta de empatia, ausência de remorso ou culpa, afeto superficial, grandiosidade e capacidade de manipulação. Nem todo indivíduo com TPAS é um psicopata, mas a maioria dos psicopatas se enquadra nos critérios do TPAS. A distinção é crucial: o psicopata não apenas age de forma antissocial, mas possui uma constituição emocional e interpessoal que o torna particularmente perigoso e resistente a intervenções.
O Teste de Rorschach
O Teste de Rorschach, conhecido popularmente como “teste das manchas de tinta”, é uma técnica de avaliação psicológica projetiva. Ao apresentar uma série de pranchas com manchas de tinta simétricas, o psicólogo analisa não apenas o que a pessoa vê (o conteúdo), mas como ela organiza suas percepções (os determinantes, como forma, cor, sombreamento). O teste avalia a estrutura da personalidade, a forma como o indivíduo lida com seus afetos, sua capacidade de controle, sua relação com a realidade e seus processos de pensamento.
No contexto forense, ele é uma ferramenta valiosa para ir além do que o detento diz sobre si mesmo. Ele pode revelar tendências à manipulação, agressividade latente, pobreza afetiva e distorções na percepção da realidade que não seriam evidentes em uma entrevista clínica. Como veremos, os laudos de Rorschach de vários dos criminosos analisados forneceram informações cruciais para a Justiça, muitas vezes contradizendo a fachada de normalidade que eles tentavam projetar.
OS CRIMES E OS CRIMINOSOS DE TREMEMBÉ
Suzane Von Richthofen

O assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen em 31 de outubro de 2002 é um dos casos mais emblemáticos do Brasil. A filha do casal, Suzane von Richthofen, então com 18 anos, planejou a morte dos pais, executada por seu namorado, Daniel Cravinhos, e pelo irmão dele, Cristian Cravinhos. O motivo aparente seria a desaprovação do namoro e o desejo de usufruir da herança. A frieza com que o crime foi planejado e a tentativa de simular um latrocínio chocaram a sociedade e levantaram questionamentos profundos sobre a natureza de Suzane.
Suzane é o eixo central da narrativa. Ao chegar a Tremembé, ela assume o papel de protagonista de uma nova ordem de poder. Sua personagem é apresentada como carismática, inteligente e estrategista, consciente de seu magnetismo e de como usá-lo para manipular outras detentas e, em certos momentos, até agentes penitenciários.
Suzane revela o que a série sugere como seu “talento de sobrevivência”: uma capacidade de ler o ambiente e construir alianças conforme o interesse. Ela oscila entre a figura da vítima e da vilã, e o roteiro faz disso um espelho das contradições da própria sociedade, que ao mesmo tempo a repudia e a consome como figura midiática.
À medida que a trama avança, Suzane demonstra sua habilidade em transitar entre a docilidade e a frieza, assumindo papel de liderança em disputas internas. Seu arco dramatiza o conceito de manipulação como instrumento de poder dentro de um ambiente onde todos estão em busca de domínio emocional e simbólico.
Os laudos psicológicos de Suzane, incluindo os resultados de dois testes de Rorschach realizados em 2014 e 2018, pintam um retrato consistente e perturbador. Os termos que se repetem são egocentrismo, narcisismo, imaturidade, incapacidade de autocrítica e agressividade camuflada [1][2]. O laudo de 2018, solicitado para avaliar seu pedido de progressão de regime, foi enfático ao afirmar que ela representa um risco potencial à sociedade devido à sua dificuldade em avaliar as consequências de seus atos e à sua preocupação exclusiva com as próprias necessidades, sem demonstrar culpa ou preocupação genuína pelo passado [1]. O Rorschach revelou uma personalidade que, por trás de uma aparência adaptada, esconde uma pobreza afetiva e uma visão utilitária das relações humanas.
É notável que, apesar da frieza e da capacidade de manipulação, os laudos oficiais não a diagnosticaram formalmente como psicopata. No entanto, os traços descritos – especialmente o narcisismo, a falta de empatia e a manipulação – são componentes centrais do construto da psicopatia. A suspeita, relatada na biografia de Ulisses Campbell, de que ela teria tentado subornar um psicólogo para obter acesso prévio ao material do Rorschach, reforça a percepção de uma personalidade calculista e disposta a manipular o sistema para benefício próprio [2]. Este ato, se verdadeiro, é em si um indicador diagnóstico de sua mentalidade.
Do ponto de vista neurocientífico, um perfil como o de Suzane sugere uma disfunção no circuito que conecta a amígdala ao córtex pré-frontal. A incapacidade de sentir culpa e a dificuldade em se conectar com o sofrimento dos pais são consistentes com uma amígdala hipoativa. Ao mesmo tempo, sua capacidade de planejar meticulosamente o crime e de simular uma reação de vítima nos dias seguintes demonstra um córtex pré-frontal funcional em termos de cognição e planejamento, mas desprovido da modulação emocional que inibiria tais atos. Ela sabia, cognitivamente, como uma filha em luto deveria se comportar, e atuou nesse papel com perfeição, mas a emoção correspondente estava ausente.
Elize Matsunaga

O caso de Elize Matsunaga é um dos mais complexos do ponto de vista psicológico. Em 19 de maio de 2012, ela matou seu marido, o empresário Marcos Kitano Matsunaga, com um tiro na cabeça, e depois esquartejou seu corpo, espalhando as partes em malas por uma região de mata. O que torna seu caso distinto é o histórico de vida. Biografias e um documentário da Netflix revelaram uma infância marcada por abusos, violência e pobreza, que a levaram à prostituição antes de conhecer e se casar com o herdeiro da Yoki [9].
Elize é retratada de modo mais contido e introspectivo. A série explora a ambiguidade entre a mulher que cometeu um crime brutal e a vítima de um ciclo de abuso psicológico e emocional.
Sua convivência com Suzane é um dos eixos mais tensos da trama: ora marcada por empatia e identificação, ora por rivalidade silenciosa. Elize simboliza a culpa que busca redenção, ainda que em um ambiente sem espaço para expiação.
Há uma tentativa de ressignificar a própria imagem, e o roteiro se utiliza de flashbacks e sonhos para mostrar a fragmentação psíquica da personagem. Seu arco questiona até que ponto é possível recuperar humanidade em um espaço onde todos foram desumanizados por seus crimes e pela fama que os cerca.
Esse histórico de vitimização complexa coloca sua análise em um terreno delicado. Por um lado, o ato em si – o esquartejamento, a frieza para limpar a cena do crime e a tentativa de ocultar o corpo – exibe traços de dissociação e uma aparente falta de empatia no momento do crime. Análises superficiais apontaram comportamentos característicos de psicopatia, como a manipulação e a ausência de remorso imediato [10]. Por outro lado, a defesa e parte dos analistas do caso argumentaram que o crime foi uma reação a um ciclo de abuso emocional e humilhação por parte do marido, culminando em uma explosão de raiva após a descoberta de uma traição. Elize teria sido uma vítima que se tornou algoz.
A análise neurocientífica do trauma crônico, conhecido como Transtorno de Estresse Pós-Traumático Complexo (TEPT-C), mostra que ele pode levar a alterações duradouras no cérebro, especialmente na amígdala (que se torna hiper-reativa a ameaças), no hipocampo (afetando a memória) e no córtex pré-frontal (prejudicando a regulação emocional e o controle de impulsos).
O perfil de Elize pode não ser o de uma psicopata “primária”, fria e calculista por natureza, mas sim o de uma personalidade com traços de instabilidade emocional (como no Transtorno de Personalidade Borderline), moldada por traumas severos, cuja capacidade de regulação emocional entrou em colapso sob o estresse extremo da confrontação.
O ato do esquartejamento, embora chocante, pode ser interpretado não como um ato de frieza psicopática, mas como uma resposta dissociativa extrema, uma tentativa desesperada e desorganizada de “apagar” o ato violento que ela acabara de cometer.
Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni

O caso da menina Isabella Nardoni, de 5 anos, morta ao ser jogada da janela do sexto andar do apartamento do pai e da madrasta em 29 de março de 2008, chocou o país pela crueldade contra uma criança indefesa. O pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, foram condenados pelo crime, mas sustentam sua inocência até hoje. Essa negação persistente, diante de um conjunto robusto de provas periciais, é um elemento central para a análise psicológica do casal e um forte indicativo de personalidades patológicas.
Anna Carolina é retratada como uma figura endurecida, que busca manter uma aparência de força e negação. O casal, condenado pelo assassinato da menina Isabella, encarna o tema da culpa negada.
O roteiro usa o casal para representar o peso do julgamento público e a impossibilidade de recomeço. A presença deles no presídio, mesmo em núcleos paralelos, é um lembrete de que a condenação social é mais permanente que a judicial.
A relação entre Jatobá e as outras presas é de constante tensão, principalmente com Suzane, cuja capacidade de articulação ameaça sua autoridade. Esse arco traz à tona a ideia de que dentro de um presídio de “celebridades criminosas”, há também hierarquias, invejas e competições por protagonismo.
Para Anna Carolina Jatobá, psiquiatras forenses apontaram que a manutenção do discurso de inocência, sem demonstrar angústia ou arrependimento, seria um sinal de psicopatia [5]. A ausência de ressonância afetiva com a brutalidade do crime e a capacidade de sustentar uma narrativa falsa por anos são, de fato, consistentes com traços psicopáticos.
Para Alexandre Nardoni, o Ministério Público também solicitou a realização do teste de Rorschach antes de decidir sobre sua progressão para o regime aberto em 2024 [7]. Laudos anteriores, no entanto, apontavam para um “ótimo comportamento” carcerário e ausência de contraindicações psiquiátricas para a progressão, descrevendo-o como “lúcido” e “cooperativo” [8]. Essa aparente normalidade em avaliações superficiais é comum em indivíduos com traços psicopáticos, que são hábeis em apresentar uma fachada de conformidade para manipular avaliadores e obter benefícios.
A análise do casal Nardoni levanta a hipótese de uma dinâmica de folie à deux (loucura a dois), onde uma narrativa delirante ou uma mentira patológica é compartilhada e reforçada mutuamente, criando uma realidade paralela que os isola da culpa e da responsabilidade.
A frieza e a falta de empatia necessárias para cometer tal crime e depois participar ativamente das buscas e do funeral, enganando a família e a nação, apontam para graves disfunções na esfera afetiva e moral, compatíveis com os déficits neurobiológicos no processamento da empatia já discutidos. A incapacidade de admitir a culpa, mesmo após a condenação, sugere um narcisismo tão profundo que a admissão do erro seria psicologicamente aniquiladora.
Irmãos Cravinhos

Daniel e Cristian Cravinhos funcionam como contraponto à narrativa feminina central. Enquanto Suzane manipula e articula, os irmãos representam o lado bruto e visceral da culpa.
O roteiro enfatiza o contraste entre Daniel — mais passional e ainda emocionalmente atrelado a Suzane — e Cristian, mais cético e ressentido, que enxerga a ex-amante como uma ameaça constante à própria paz. Esse arco reforça a discussão sobre culpa compartilhada: até que ponto cada um carrega o peso do crime, e até onde vai o vínculo entre cúmplices depois que a punição os separa?
O perfil dos irmãos Cravinhos apresenta nuances. Daniel Cravinhos, o namorado, foi o executor direto. Seu laudo psicológico, que embasou sua progressão para o regime aberto, indicou que não haveria indícios de que ele pudesse voltar a matar [3]. Isso sugere um perfil menos estruturado em termos de uma personalidade antissocial permanente e talvez mais influenciável pela dinâmica do relacionamento com Suzane. É possível que ele tenha sido seduzido e manipulado, atuando como um instrumento para a vontade de Suzane, embora isso não diminua sua responsabilidade criminal.
Cristian Cravinhos, por outro lado, apresenta um quadro mais complexo e preocupante. Seu teste de Rorschach, realizado em 2024, apontou para traços disfuncionais de personalidade, rigidez emocional, controle excessivo e dificuldade em lidar com as emoções [4]. O laudo destaca que, embora ele conheça as normas sociais, tem dificuldade em internalizá-las, recorrendo à racionalização e ao distanciamento emocional.
Seus mecanismos empáticos foram descritos como deficitários. Esse perfil, somado ao fato de ele ter voltado a delinquir após obter o regime aberto, sugere uma personalidade com dificuldades mais profundas e persistentes de adaptação social, diferente da aparente normalização de seu irmão Daniel. Cristian parece ter uma estrutura de personalidade mais próxima do espectro antissocial, com uma tendência inerente à transgressão.
Roger Abdelmassih: O Poder e a Decadência

Abdelmassih, um renomado e pioneiro especialista em reprodução humana no Brasil, usou sua clínica e sua reputação para abusar sexualmente de dezenas de suas pacientes. Condenado a mais de 181 anos de prisão, ele representa o predador sexual em série, narcisista e com uma total e aparente ausência de empatia [11]. Seu perfil é o do psicopata bem-sucedido ou “corporativo”, que utiliza uma fachada de charme, inteligência e competência para ocultar sua natureza predatória.
Ele não precisava de violência física explícita; sua arma era a autoridade médica, a vulnerabilidade emocional de suas vítimas e o ambiente clínico que garantia privacidade e controle. A capacidade de cometer esses atos por anos, em série, sem remorso e com um senso de direito sobre os corpos de suas pacientes, é a marca de uma personalidade psicopática e narcisista em seu estado mais puro. A fuga para o Paraguai após a condenação e as tentativas de fraudar laudos médicos para obter prisão domiciliar apenas reforçam o perfil de um indivíduo que não aceita regras e que acredita estar acima da lei.
Abdelmassih é retratado como símbolo do privilégio dentro do cárcere. Sua presença expõe a diferença entre presos de classes distintas: enquanto outros lutam por respeito, ele tenta preservar uma aura de superioridade e influência. O personagem é usado para explorar o tema da corrupção moral dentro do sistema prisional, onde dinheiro e status ainda determinam conforto e tratamento diferenciado. Sua relação com os demais presos é marcada por arrogância, mas também medo — ele é odiado e, ao mesmo tempo, protegido por suas conexões externas.
Sandrão

Condenada a 27 anos pela participação na morte de uma criança, Sandra “Sandrão” Gomes tornou-se uma figura notória dentro da penitenciária de Tremembé, não apenas por seu próprio crime, mas por seus relacionamentos com outras detentas famosas, incluindo Elize Matsunaga e, mais notavelmente, Suzane von Richthofen, com quem chegou a se casar em uma cerimônia dentro da prisão [12].
Seu perfil parece ser o de uma personalidade dominante, que utiliza a força, a intimidação e o estabelecimento de alianças estratégicas para navegar e exercer poder no ambiente hostil da prisão. Seu histórico de violência sugere um controle de impulsos mais baixo e uma agressividade mais reativa e explícita, em contraste com a manipulação calculista e velada de Suzane.
O relacionamento entre as duas pode ser visto como uma simbiose de poder: Suzane, com seu capital social e status de “celebridade” do crime, e Sandrão, com sua força bruta e domínio do código carcerário. Para Suzane, a aliança com uma figura temida como Sandrão garantia proteção; para Sandrão, a associação com um nome famoso lhe conferia um tipo diferente de status. Este caso ilustra como as dinâmicas de poder e sobrevivência se reconfiguram dentro do sistema prisional, criando hierarquias e relações complexas.
Poliana (Luciana Olberg)

Inspirada na figura real de Luciana Olberg, conhecida por ter se envolvido romanticamente com Suzane von Richthofen dentro do presídio, a personagem Poliana é uma das mais complexas da série.
Ela surge inicialmente como uma figura discreta, vulnerável e emocionalmente dependente, mas seu papel cresce ao longo dos episódios, até se tornar peça-chave no jogo psicológico entre Suzane e Elize.
O crime pelo qual Luciana Olberg foi condenada a 29 anos de prisão ocorreu em 2013, na cidade de São Paulo. Aos 30 anos, ela vivia um arranjo familiar atípico, mantendo um relacionamento a três com seu marido, proprietário de uma academia de boxe, e um dos alunos dele. As vítimas, suas meias-irmãs gêmeas, foram sistematicamente abusadas dentro de um plano arquitetado por Luciana.
As crianças eram dopadas com tequila, administrada em suas chupetas, para que os dois homens cometessem os abusos sexuais. Luciana não apenas consentiu, mas participou ativamente, filmando os atos. O material produzido era então compartilhado em fóruns online dedicados à pedofilia. A revelação do caso se deu de uma forma tão inusitada quanto o próprio crime: um dos membros desses grupos, chocado com o nível de brutalidade exibido nos vídeos, decidiu denunciar o conteúdo às autoridades, levando à prisão dos três envolvidos [15][16]. Este detalhe é fundamental, pois indica que os atos de Olberg e seus cúmplices ultrapassaram um limiar de violência que chocou até mesmo indivíduos imersos em um universo de perversões.
Poliana representa o uso do afeto como arma de sobrevivência. Sua relação com Suzane é marcada por paixão, ciúme e submissão, e funciona como espelho do modo como Suzane manipula quem se aproxima dela.
A transformação de Poliana de amante ingênua a mulher ressentida é um dos pontos mais fortes da narrativa, revelando como o cárcere também é um espaço de dominação emocional e não apenas física.
O arco da personagem mostra como o amor, dentro do confinamento, pode se converter em estratégia — e, em última instância, em instrumento de destruição.
O comportamento de Olberg se alinha a certas tipologias de agressores sexuais, embora a literatura científica se concentre majoritariamente em agressores do sexo masculino. Estudos como o de Serafim et al. (2009) classificam os agressores sexuais de crianças em diversas categorias, que podem nos ajudar a contextualizar as ações de Luciana [13]. Uma distinção primária é feita entre o “abusador”, de ações mais sutis, e o “molestador”, de comportamento invasivo e que consuma o ato sexual. Claramente, o caso em questão se enquadra na segunda categoria.
Dentro dos molestadores, há a subdivisão entre “situacionais” (aqueles para quem a criança não é o foco principal da fantasia, mas uma vítima de oportunidade) e “preferenciais” (aqueles cuja gratificação sexual depende especificamente da criança). O planejamento meticuloso, a manipulação do ambiente, o uso de drogas para incapacitar as vítimas e a documentação dos atos sugerem uma organização e um interesse que vão além do mero oportunismo.
As ações de Luciana Olberg parecem se aproximar do perfil do “molestador situacional inescrupuloso”. Este tipo de agressor, segundo a literatura, “abusa de quem está disponível para satisfazer suas necessidades sexuais e o fato de atacar crianças faz parte desse contexto, não sendo a sua prioridade. Molestar uma criança é parte do padrão de abuso geral em sua vida, pois tem como hábito usar e abusar das pessoas” [13]. A dinâmica do relacionamento a três e a forma como as crianças foram instrumentalizadas para a satisfação do grupo podem ser vistas como uma manifestação extrema dessa falta de escrúpulos e da coisificação do outro.
Adicionalmente, a participação de uma mulher como agente principal e facilitadora em crimes de abuso sexual infantil, embora não seja inédita, é estatisticamente menos comum e, por isso, menos estudada. A literatura sobre agressoras sexuais femininas frequentemente aponta para um histórico de vitimização na própria vida da agressora [14]. Não há informações públicas detalhadas sobre o passado de Luciana Olberg que permitam confirmar ou descartar essa hipótese, mas é um fator que a psicologia forense considera relevante.
A agressora feminina pode atuar de diversas formas: como coautora ao lado de um parceiro masculino, como instigadora ou, em casos mais raros, como única perpetradora. No caso de Olberg, ela parece ter desempenhado um papel central de arquiteta e facilitadora, utilizando sua posição de confiança como irmã mais velha para garantir o acesso às vítimas e orquestrar os abusos, o que denota um grau extremo de manipulação e uma ausência total de empatia protetiva em relação às crianças.
No caso de Luciana Olberg, a frieza com que planejou e executou os abusos, a ausência aparente de remorso, a capacidade de manipulação (tanto das vítimas quanto de pessoas ao seu redor) e a instrumentalização de relações humanas sugerem traços que se alinham mais com o perfil psicopático do que com o Transtorno de Personalidade Antissocial puro. A psicopatia é frequentemente descrita como uma condição em que o indivíduo entende intelectualmente as regras sociais e morais, mas não as internaliza emocionalmente. Esse conhecimento sem sentimento permite que o psicopata navegue habilmente pelas normas sociais quando conveniente, mas as viole sem hesitação quando isso serve aos seus interesses.
A literatura científica sobre psicopatia em mulheres é menos extensa do que a sobre homens, em parte porque a prevalência é menor e em parte porque as manifestações podem ser diferentes. Enquanto homens psicopatas tendem a exibir mais violência física direta, mulheres com traços psicopáticos podem manifestar sua agressividade de formas mais relacionais e manipulativas, embora casos de violência extrema, como o de Olberg, certamente existam.
O comportamento de Luciana Olberg após a prisão também oferece material para análise. Sua proximidade com Suzane von Richthofen na penitenciária de Tremembé e o fato de ter incentivado o relacionamento entre seu irmão, Rogério Olberg, e Suzane, revelam uma contínua capacidade de manipulação e de estabelecer relações de conveniência. A motivação declarada para a aproximação, a “evangelização” de Suzane, soa como uma justificativa socialmente aceitável para uma dinâmica de poder e controle dentro do ambiente prisional [1].
O fim do noivado de seu irmão com Suzane, supostamente após a descoberta de uma quantia em dinheiro não declarada, e a persistência da família Olberg em manter contato, sugerem um padrão de comportamento onde os relacionamentos são vistos de forma instrumental. Essa visão utilitária das outras pessoas é um traço clássico de personalidades com características antissociais e narcisistas.
O caso de Luciana Olberg é um exemplo extremo da capacidade humana para a crueldade. A análise de seu perfil, à luz da psicologia forense e da neurociência, não busca justificar seus atos, mas sim oferecer um quadro de compreensão para comportamentos que, à primeira vista, parecem incompreensíveis. A convergência de possíveis traços de personalidade antissocial, uma provável ausência de processamento empático e uma capacidade notável de manipulação resultou em um crime de brutalidade singular.

Cássia (Regina Aparecida Costa)
O município de Monte Aprazível, no interior de São Paulo, foi palco de um crime que desafia os limites da compreensão humana. Regina Aparecida Costa, uma mãe que deveria ser a principal fonte de segurança para sua filha, tornou-se sua algoz. Ela foi condenada a 20 anos de prisão por um crime de extrema gravidade: a exploração sexual continuada de sua própria filha, que na época dos fatos contava com apenas 11 anos de idade. A investigação revelou que Regina não apenas se omitia diante dos abusos perpetrados por terceiros, como também participava ativamente da exploração, obrigando a criança a se submeter a situações degradantes em troca de vantagens financeiras.
A coragem da menina, que conseguiu escapar do ambiente de abuso e procurar ajuda, foi o ponto de partida para que a verdade viesse à tona. Sua denúncia ao Conselho Tutelar, um órgão essencial na rede de proteção à infância, desencadeou uma investigação que confirmou a extensão dos horrores vividos. Os depoimentos da vítima, corroborados por laudos periciais e pelo testemunho de vizinhos e assistentes sociais, formaram um conjunto probatório robusto que levou à condenação de Regina. O caso expôs uma falha crítica no tecido social, onde a violência pode se instalar no lugar mais sagrado, o lar, e ser perpetrada pela pessoa que deveria ser a guardiã da inocência infantil.
Perfil Psicológico e Criminal
A análise do comportamento de Regina Aparecida Costa, tanto antes quanto após sua prisão na Penitenciária de Tremembé, revela traços de personalidade que são frequentemente observados em ofensores com características psicopáticas.
Relatos a descrevem como uma mulher de comportamento pragmático e com notável capacidade de manipulação. Essa habilidade de influenciar e controlar pessoas ao seu redor parece ter sido uma ferramenta central em sua dinâmica criminal, permitindo-lhe não apenas coagir a própria filha, mas também manter uma fachada de normalidade perante a comunidade.
Dentro do sistema prisional, sua influência persistiu, onde teria estabelecido uma posição de poder, oferecendo “proteção” a outras detentas em troca de favores, replicando um padrão de controle e transação que marcou seu crime.
Do ponto de vista da psicologia criminal, o perfil de Regina se alinha a estudos sobre mulheres que cometem abuso sexual. Embora a maioria dos agressores sexuais seja do sexo masculino, as mulheres ofensoras, embora em menor número, apresentam perfis de grande complexidade. Frequentemente, seus atos não são motivados primariamente pelo desejo sexual, mas por uma teia de outras necessidades psicológicas, como a busca por poder, controle, afirmação pessoal ou ganho material. No caso de Regina, a exploração financeira da filha sugere uma grave distorção cognitiva, na qual a criança é objetificada e vista como um meio para atingir um fim.
A ausência de empatia maternal é uma característica central e perturbadora. A capacidade de dissociar o papel de mãe da figura de exploradora indica uma profunda fratura em sua estrutura psíquica. Essa dissociação permite que o agressor ignore o sofrimento da vítima, mesmo sendo seu próprio filho, tratando-a como um objeto desprovido de sentimentos e direitos.
Esse perfil sugere a presença de um transtorno de personalidade grave, possivelmente do espectro antissocial, caracterizado pelo desprezo pelas normas sociais e pelos direitos alheios, incapacidade de sentir remorso e uma tendência a racionalizar o próprio comportamento destrutivo.

Raíssa ( Vanessa dos Santos Martins)
Em 2007, a cidade de Penápolis, também no interior de São Paulo, foi o cenário de um ato de violência brutal que culminou na morte de uma criança. Vanessa dos Santos Martins foi condenada a uma pena de 28 anos e 8 meses de reclusão pelo homicídio de seu enteado, Alan David Andrade Garcia, de apenas cinco anos de idade. A crueldade do crime chocou o país: a criança foi espancada até a morte.
A investigação policial e os laudos periciais revelaram que Alan foi submetido a uma sessão de agressões extremas, incluindo socos, chutes e o ato de ter sua cabeça violentamente batida contra a parede. A causa da morte, conforme apontado pela autópsia, foi uma combinação de traumatismo craniano e uma hemorragia interna massiva, resultante do rompimento do baço.
O crime ocorreu na residência da família, um local que deveria ser de refúgio e segurança para o menino. A violência foi tão explícita e devastadora que deixou poucas dúvidas sobre a intenção de matar, caracterizando um homicídio qualificado por motivo fútil e com emprego de meio cruel, que impossibilitou a defesa da vítima.
Circunstâncias e Perfil Psicológico
As circunstâncias que antecederam o assassinato de Alan revelam uma dinâmica familiar complexa e um estopim aparentemente banal para uma explosão de violência desmedida. No dia do crime, o pai da criança, Vanderlei Garcia Alves, companheiro de Vanessa, havia se ausentado de casa. O choro do menino, que queria acompanhar o pai, teria sido o gatilho para a fúria de Vanessa.
Essa reação desproporcional a um comportamento infantil comum sugere uma baixíssima tolerância à frustração e um grave descontrole dos impulsos. Durante o processo judicial, a defesa de Vanessa alegou que ela estaria sofrendo de depressão pós-parto, condição que, embora possa levar a alterações de humor e comportamento, raramente se manifesta com um nível de violência tão extremo e direcionado a um enteado. A sequência dos fatos, que incluiu forçar a criança a tomar um banho frio após as agressões, aponta para uma crueldade que vai além de uma simples perda de controle momentânea, indicando um possível componente de sadismo ou uma tentativa desajeitada de ocultar os ferimentos.
O perfil psicológico de Vanessa dos Santos Martins aponta para traços de instabilidade emocional e agressividade impulsiva. A incapacidade de regular as próprias emoções e a tendência a responder a estímulos negativos com violência física são características frequentemente associadas a transtornos de personalidade, em especial o Transtorno de Personalidade Borderline e o Transtorno de Personalidade Antissocial.
O desenvolvimento posterior do caso, no qual Vanessa se converteu à religião na prisão e, surpreendentemente, reatou o relacionamento com o pai da vítima – que a perdoou publicamente, atribuindo seus atos a uma “possessão demoníaca” –, adiciona uma camada de complexidade à sua análise. Essa capacidade de se readequar a um novo contexto e de restabelecer laços com a família da vítima pode ser interpretada de diversas formas: como um genuíno arrependimento e busca por redenção, ou como mais uma manifestação de sua capacidade de manipulação e de adaptação a um ambiente que lhe ofereça algum tipo de benefício ou estrutura, como o religioso.
A análise de seu comportamento sugere um padrão de funcionamento psíquico no qual a gestão da raiva e a empatia para com o outro são severamente comprometidas, levando a consequências trágicas e irreversíveis.
Análise Psicológica Comparativa: Duas Faces da Mesma Moeda
Ao justapor os casos de Regina Aparecida Costa e Vanessa dos Santos Martins, emergem perfis de agressão distintos em sua manifestação, mas que podem compartilhar raízes psicológicas comuns. A literatura sobre mulheres criminosas, especialmente aquelas que cometem crimes violentos contra crianças, frequentemente aponta para a presença de transtornos de personalidade graves.
O Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS) e o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) são dois dos diagnósticos mais prevalentes nesse contexto. O TPAS, muitas vezes associado à psicopatia, é caracterizado por um padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros, falta de remorso, engano e impulsividade. O perfil de Regina, com sua calculada exploração sexual da filha para ganho pessoal, sua capacidade de manipulação e a aparente ausência de culpa, se alinha fortemente a traços antissociais. Sua conduta sugere uma visão instrumentalizada das relações humanas, onde os outros existem para servir aos seus propósitos.
Por outro lado, o comportamento de Vanessa parece ressoar mais com as características do TPB, que envolve um padrão de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, na autoimagem e nos afetos, além de uma impulsividade acentuada. A explosão de fúria descontrolada em resposta a um gatilho relativamente menor (o choro da criança) é um exemplo clássico da desregulação emocional e da reatividade intensa que marcam o transtorno borderline. Indivíduos com TPB frequentemente experimentam sentimentos crônicos de vazio e medo do abandono, e podem ter dificuldades severas no controle da raiva. Embora a alegação de depressão pós-parto tenha sido usada em sua defesa, a violência extrema e direcionada pode ser mais bem compreendida no quadro de uma vulnerabilidade de personalidade preexistente, exacerbada por estressores contextuais.
Contudo, é crucial notar que ambos os transtornos podem apresentar sobreposição de sintomas, como a impulsividade. A principal diferença reside na motivação e na qualidade do afeto. Enquanto a agressividade no TPAS é frequentemente predatória e instrumental, no TPB ela tende a ser reativa e decorrente de uma dor emocional insuportável. Regina parece ter agido de forma fria e calculista, enquanto Vanessa agiu em um rompante de fúria. Apesar dessas diferenças, ambos os perfis compartilham uma falha fundamental na capacidade de empatia.
Seja pela incapacidade de reconhecer o outro como um sujeito de direitos (Regina) ou pela imersão em seu próprio sofrimento a ponto de anular a percepção do sofrimento alheio (Vanessa), o resultado foi a aniquilação da infância e da vida de suas vítimas. É comum que históricos de abuso e negligência na própria infância das agressoras sejam fatores de risco para o desenvolvimento desses transtornos, criando um ciclo trágico de violência que se perpetua através das gerações.
A Perspectiva da Neurociência
A neurociência oferece uma janela fascinante e ao mesmo tempo perturbadora para a compreensão das bases biológicas do comportamento violento. Embora não seja possível realizar um exame de neuroimagem em Regina ou Vanessa para confirmar hipóteses, a vasta literatura científica sobre os efeitos do estresse crônico e do trauma no desenvolvimento cerebral nos permite traçar inferências plausíveis.
Estudos como os de Martin Teicher e seus colaboradores têm demonstrado de forma consistente que maus-tratos na infância – incluindo abuso físico, emocional, sexual e negligência – alteram profundamente as trajetórias de desenvolvimento do cérebro. Essas alterações não são meramente abstratas; são mudanças físicas e funcionais em circuitos neurais críticos para a regulação emocional, o controle de impulsos e a empatia.
O córtex pré-frontal (CPF), a região do cérebro responsável pelas funções executivas como planejamento, tomada de decisão e modulação do comportamento social, é particularmente vulnerável ao estresse no início da vida. Um desenvolvimento atípico do CPF pode resultar em dificuldades para inibir impulsos agressivos e para avaliar as consequências de longo prazo de seus atos, um padrão visível na explosão de violência de Vanessa.
A amígdala, uma estrutura em forma de amêndoa no sistema límbico, atua como o centro de processamento do medo e da emoção. Em indivíduos com histórico de trauma, a amígdala pode se tornar hiper-reativa, fazendo com que a pessoa perceba ameaças onde não existem e responda com agressividade desproporcional. A fúria de Vanessa diante do choro de uma criança pode ser um exemplo trágico dessa hiper-reatividade.
No caso de Regina, cujo comportamento sugere traços de frieza e cálculo, a disfunção pode residir em outro circuito: o da empatia. A capacidade de se colocar no lugar do outro e sentir o que ele sente depende de uma rede complexa que inclui a ínsula e o córtex cingulado anterior. Traumas precoces podem prejudicar o desenvolvimento dessa rede, levando a um déficit de empatia que permite a instrumentalização e a crueldade para com os outros, inclusive os próprios filhos. Além disso, o sistema de recompensa do cérebro, centrado no estriado, também pode ser afetado.
A busca de Regina por ganhos materiais através da exploração da filha pode indicar um sistema de recompensa desregulado, que prioriza gratificações imediatas em detrimento de qualquer consideração moral ou afetiva. É fundamental entender que essas alterações cerebrais não são uma “desculpa” para o crime, mas sim parte de uma complexa cascata de eventos. Elas podem ser vistas como adaptações a um ambiente inicial adverso. Um cérebro que cresce sob ameaça constante se molda para a sobrevivência a qualquer custo, muitas vezes em detrimento das habilidades necessárias para uma convivência social saudável e empática.
Essa perspectiva neurobiológica reforça a ideia de que a prevenção da violência começa com a proteção do cérebro em desenvolvimento, garantindo que nenhuma criança tenha que crescer em um ambiente de medo e abuso.
A Perspectiva da Psiquiatria: Diagnósticos e Fatores de Risco
A psiquiatria forense busca compreender a interface entre os transtornos mentais e o comportamento criminoso, oferecendo um enquadramento diagnóstico que pode ajudar a elucidar, ainda que parcialmente, as motivações por trás de atos tão extremos. No contexto dos casos de Regina Costa e Vanessa Martins, a avaliação psiquiátrica se debruçaria sobre a possível existência de transtornos de personalidade, transtornos de humor e outras comorbidades que possam ter contribuído para a desregulação comportamental.
A psicopatia, embora não seja um diagnóstico formal no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), é um construto clínico e de pesquisa de grande relevância, frequentemente associado ao Transtorno de Personalidade Antissocial. A frieza emocional, a falta de empatia e o comportamento manipulador de Regina são altamente sugestivos de traços psicopáticos significativos.
Para Vanessa, além da hipótese do Transtorno de Personalidade Borderline, seria importante investigar a presença de um Transtorno Explosivo Intermitente, caracterizado por episódios recorrentes de agressividade impulsiva e desproporcional ao estímulo. A comorbidade com transtornos de humor, como o Transtorno Depressivo Maior (incluindo a depressão pós-parto mencionada pela defesa) ou o Transtorno Bipolar, também seria uma linha de investigação crucial, uma vez que estados de humor alterados podem diminuir o limiar para a violência. O abuso de substâncias (álcool e outras drogas) é outro fator de risco potentíssimo, pois atua como um desinibidor do comportamento e pode exacerbar tendências agressivas preexistentes.
A análise psiquiátrica não se limita a rotular, mas a entender a complexa interação de fatores de risco que culminam na violência. Históricos de vitimização na infância, isolamento social, falta de uma rede de apoio e transtornos mentais não tratados formam um terreno fértil para o desenvolvimento de comportamentos disfuncionais. A questão do tratamento e da reabilitação de mulheres com esses perfis no sistema prisional é um desafio imenso.
A terapia para transtornos de personalidade é um processo longo e complexo, que exige abordagens especializadas, como a Terapia Comportamental Dialética (DBT) para o TPB. Infelizmente, o sistema carcerário brasileiro raramente dispõe dos recursos e da estrutura necessários para oferecer um tratamento psiquiátrico e psicológico adequado, o que compromete as chances de uma eventual ressocialização e aumenta o risco de reincidência.
Tremembé Como Personagem
Mais do que um cenário, o presídio é tratado como uma entidade viva. A série transforma Tremembé em metáfora da sociedade brasileira — um microcosmo onde convivem classes, crimes e moralidades diferentes. Cada cela, cada corredor, cada visita expõe a desigualdade entre quem tem influência e quem é esquecido. A prisão reflete o país que julga, condena, perdoa e consome seus próprios criminosos como espetáculo.
A presença constante da mídia e de advogados, o contraste entre detentas de renome e presas comuns, e a atmosfera claustrofóbica reforçam a ideia de que, em Tremembé, a liberdade não acaba com os muros — ela continua sendo negociada emocionalmente, politicamente e simbolicamente.
Justiça, Perdão e Imagem Pública
Nos episódios finais, os personagens se cruzam em torno de um tema central: a disputa pela narrativa. Quem é vista como vítima? Quem consegue manipular o público, a imprensa e até as autoridades?
A série fecha reafirmando que, em Tremembé, a verdade é apenas mais uma moeda de troca. Nenhuma das personagens alcança redenção plena. Suzane termina como uma figura ambígua — ao mesmo tempo admirada e temida —, Elize busca paz interior sem sucesso, e Poliana simboliza o preço emocional de viver sob o domínio de outra.
O último episódio insinua que o cárcere não termina na saída temporária ou na liberdade condicional. O julgamento social continua, dentro e fora dos muros.
Minha Opinião

Duda e Cristian Cravinhos –
O casal-foco de Tremembé
A série Tremembé constroe uma crítica implícita à sociedade do espetáculo, à glamourização do crime e à incapacidade coletiva de lidar com o mal sem transformá-lo em entretenimento. A inclusão de Luciana Olberg (Poliana) amplia essa crítica, mostrando como mesmo os vínculos afetivos se tornam extensão do poder e da manipulação.
A série não oferece heróis, apenas versões distintas de pessoas perversas e quebradas — algumas por culpa, outras por amor, outras pela vaidade de ainda querer brilhar em meio à infâmia. Embora as atuações mereçam destaques e estética cinematográfica é excelente, Tremembé deixa a desejar.
Cenas de sexo apelativas, principalmente envolvendo o Cristian Cravinho e Duda – Eduardo – filho de um policial militar preso por roubo. Ulisses Campbell tinha toda a oportunidade para se aprofundar nas mazelas da prisão e mostrar para o público que, mesmo sendo uma prisão diferenciada, Tremembé é uma prisão como outra qualquer.
Houve uma romantização apelativa da rotina do carcere, onde os personagens interagiam, trabalhavam e até participavam de concursos e casamentos. Como um bando de adolescentes em colégios internos separados por sexo.
Perdeu-se a oportunidade de trazer uma reflexão profunda e promover o debate de penas mais duras para crimes hediondos e, ao mesmo tempo, conscientizar a população que o crime não compensa e que a prisão é uma amostra grátis do inferno.
Referências
[1] G1 Vale do Paraíba e Região. “Teste para aval à soltura de Suzane Richthofen indica detenta ‘egocêntrica e narcisista'”. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/teste-para-aval-a-soltura-de-suzane-richthofen-indica-detenta-egocentrica-e-narcisista.ghtml [2] Metrópoles. “Suzane von Richthofen é psicopata? O laudo dos psicólogos de Tremembé”. Disponível em: https://www.metropoles.com/entretenimento/televisao/suzane-von-richthofen-e-psicopata-o-laudo-dos-psicologos-de-tremembe [3] UOL Notícias. “Não há indícios de que Cravinhos possa voltar a matar, indica laudo psicológico”. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/01/17/nao-ha-indicios-de-que-daniel-cravinhos-possa-voltar-a-matar-indica-laudo-psicologico.htm [4] G1 Vale do Paraíba e Região. “Cristian Cravinhos tem dificuldade em lidar com emoções, aponta exame para avaliação sobre pedido de liberdade”. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2025/01/29/teste-psicologico-para-aval-a-soltura-de-cristian-cravinhos-cita-dificuldades-do-detento-em-lidar-com-emocoes-e-em-relacoes-interpessoais.ghtml [5] G1 Vale do Paraíba e Região. “Psiquiatras forenses contestam parecer para semiaberto a madrasta de Isabela Nardoni”. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/psiquiatras-forenses-contestam-parecer-para-semiaberto-a-madrasta-de-isabela-nardoni.ghtml [6] Direito Penal Brasileiro. “Caso Jatobá: progressão de regime e Teste de Rorschach”. Disponível em: https://www.direitopenalbrasileiro.com.br/caso-anna-jatoba-progressao-de-regime-e-teste-de-rorschach/ [7] G1 Vale do Paraíba e Região. “Teste de Rorschach: Saiba como é o exame que o MP pediu que Nardoni faça antes de Justiça decidir sobre liberdade”. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2024/04/12/teste-de-rorschach-saiba-como-e-o-exame-que-o-mp-pediu-que-nardoni-faca-antes-de-justica-decidir-sobre-liberdade.ghtml [8] Terra. “Laudo diz que Alexandre Nardoni tem ‘ótimo comportamento’ e não há contraindicação psiquiátrica para cumprir pena em regime aberto”. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/brasil/policia/laudo-diz-que-alexandre-nardoni-tem-otimo-comportamento-e-nao-ha-contraindicacao-psiquiatrica-para-cumprir-pena-em-regime-aberto,a190dd8d8225c3929c91d5a3b645150cy3kwikm9.html [9] O Globo. “Caso Yoki: Biografia não autorizada revela traumas de infância de Elize Matsunaga”. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/caso-yoki-biografia-nao-autorizada-revela-traumas-de-infancia-de-elize-matsunaga-25160841 [10] Repositório Anima Educação. “Psicopatia e relações sociais: análise do documentário ‘Elize Matsunaga: era uma vez um crime'”. Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/items/6cfa74b5-4948-4e1c-8b4e-06a7f30cc7d3 [11] BBC Mundo. “Detienen en Paraguay a médico brasileño acusado de violar a 56 pacientes”. Disponível em: https://www.bbc.com/mundo/ultimas_noticias/2014/08/140819_ultnot_paraguay_medico_brasileno_acusado_jgc [12] Veja SP. “Quem é Sandra Regina Ruiz Gomes, a namorada de Suzane von Richthofen”. Disponível em: https://vejasp.abril.com.br/cidades/romance-suzane-richthofen-sandra-gomes-tremembe-presidio/ [13] Serafim, A. P., Saffi, F., Rigonatti, S. P., Casoy, I., & de Barros, D. M. (2009). “Perfil psicológico e comportamental de agressores sexuais de crianças”. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), 36(3), 97-103. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rpc/a/vHCDkd9cw7cKpnLRLDgfLXk/ [14] Tsopelas, C., & de Vogel, V. (2011). “Review on female sexual offenders: Findings about profile, assessment and treatment”. Aggression and Violent Behavior, 16(3), 249-259. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0160252711000197 [15] Correio Braziliense. “A história real de Poliana em Tremembé: o crime que chocou até pedófilos na internet”. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2025/11/7284581-a-historia-real-de-poliana-em-tremembe-o-crime-que-chocou-ate-pedofilos-na-internet.html [16] Terra. “HORRENDO! Poliana, da série ‘Tremembé’, cometeu crime bárbaro e imperdoável”. Disponível em: https://www.terra.com.br/diversao/gente/horrendo-poliana-da-serie-tremembe-cometeu-crime-barbaro-e-imperdoavel,695cf4f9a73ef19ef066ed96b64cb73886dgbnlz.htmlSérie Tremembé, Série Tremembé, Série Tremembé, Série Tremembé, Série Tremembé, Série Tremembé, Série Tremembé, Série Tremembé, Série Tremembé, Série Tremembé, Série Tremembé, Série Tremembé, Série Tremembé, Série Tremembé, Série Tremembé, Série Tremembé, Série Tremembé, Série Tremembé,
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