23 – Marcos Pollon: Entre Decretos, Armas e Diagnósticos
Marcos Pollon – Em uma conversa de uma franqueza rara no cenário político brasileiro, o deputado federal Marcos Pollon (PL-MS) não apenas abre as portas de seu gabinete, mas também as de sua própria vida, para expor os bastidores de suas batalhas mais recentes e viscerais no Congresso Nacional. Longe dos discursos ensaiados e da polidez calculada que muitas vezes caracterizam a política de Brasília, Pollon aborda temas espinhosos com uma intensidade que reflete suas convicções mais profundas e, como ele mesmo revela, sua própria condição neurológica.
Da controversa oposição ao Decreto 12.686, que ele categoriza como um retrocesso fatal para a inclusão, à sua experiência com o diagnóstico tardio de autismo, a entrevista revela um parlamentar que utiliza sua própria história de dor e superação como combustível para uma atuação política intensa, especialmente na defesa dos direitos das pessoas com deficiência, uma causa que ele abraçou de forma inesperada, mas que hoje define grande parte de sua identidade pública.
O diálogo, conduzido de forma informal, permite ver além do político e enxergar o homem, o pai e o marido que lida diariamente com os desafios de uma condição que, por décadas, não teve nome. Pollon detalha, sem filtros, as surras que levou na infância por comportamentos que ninguém entendia, o preconceito que enfrentou e ainda enfrenta, e a luta constante para se adaptar a um mundo neurotípico. É a partir dessa perspectiva única que ele analisa o cenário político, critica adversários, questiona a imprensa e defende suas pautas com uma veemência que, para alguns, pode soar agressiva, mas que, para ele, é apenas a manifestação de uma vida inteira de batalhas.
O “Decreto da Morte”:
Uma Batalha Contra a Falsa Inclusão
Um dos pontos centrais da atuação recente de Marcos Pollon é sua firme e intransigente oposição ao Decreto 12.686, assinado pelo presidente Lula e batizado pelo governo de “Decreto da Inclusão”. Para o deputado, o nome é um eufemismo perigoso para uma medida que ele considera catastrófica. O decreto, em sua essência, determina o fechamento progressivo de escolas especializadas e APAEs (Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais), direcionando todos os alunos com deficiência, independentemente do grau de comprometimento, para a rede regular de ensino.
Pollon não economiza nas críticas: “Isso é absurdo, isso é uma carnificina. Crianças vão morrer com esse decreto, mães vão se matar com esse decreto, crianças vão se matar com esse decreto”, afirma com uma gravidade que antecipa a dimensão do problema. Ele argumenta que a medida, sob o pretexto de uma inclusão forçada e ideológica, desconsidera a realidade complexa de muitas crianças com deficiências severas, que necessitam de um ambiente estruturado e de um suporte pedagógico que as escolas regulares, em sua maioria, não estão preparadas para oferecer.
“Falam que é pra você simplesmente pegar todas as crianças com deficiência, não interessa qual, inclusive as que têm prejuízo intelectual, e despejar na escola regular, e que se dane”, desabafa, descrevendo o que considera um ato de crueldade com os mais vulneráveis.
A reação do deputado foi imediata. Assim que tomou conhecimento do texto, mobilizou sua assessoria para redigir um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) para sustar os efeitos da medida. Ele relata a frustração com a falta de apoio inicial de outros parlamentares, inclusive de seu próprio campo político. “Ninguém teve coragem de ir pra cima porque o nome é decreto da inclusão.
“No dia que eu vi aquele lixo, eu vi inclusão e eu escambalho. Isso aqui é um absurdo. Isso aqui é destruição das famílias que já estão desassistidas e muito passando fome, porque eles estão cancelando o BPC”, lamenta.
Segundo ele, o receio de ser mal interpretado pela opinião pública e de “perder seguidores” paralisou muitos de seus colegas. “A gente vai ter medo de se posicionar porque vão perder seguidores, vão dar dislike no meu vídeo? Ah, puta que pariu”, desabafa, sem esconder a irritação.
Pollon também aponta para o que considera um direcionamento suspeito dentro do próprio decreto, mencionando um artigo que, segundo ele, é um “recibo de que aquilo foi feito por lobista”. Ele alega que o texto “direciona pra uma entidade que faz lobby junto ao Ministério Público Federal”, além de não mencionar a comunidade surda e ser, em suas palavras, uma “catástrofe”.
Para o parlamentar, a medida não apenas prejudica as famílias que dependem das instituições especializadas, mas também representa a destruição de um trabalho de décadas realizado por essas organizações, que se tornaram a única rede de apoio para milhares de pessoas.
Autismo: Um Testemunho Pessoal e Doloroso
A veemência com que Marcos Pollon defende a causa das pessoas com deficiência tem uma raiz profunda e pessoal: seu próprio diagnóstico de autismo, recebido já na vida adulta. Durante a entrevista, ele compartilha, com uma honestidade desconcertante, as dificuldades que enfrentou ao longo da vida por não entender sua própria condição, uma jornada marcada por incompreensão, dor e, finalmente, autoaceitação.
Os Anos do “Esquisito”
“Eu nunca fui autista, né? Eu era só o esquisito. Quando o autismo não tinha diagnóstico, era o cara esquisito, era o cara diferente, era o cara problemático”, conta. Pollon descreve um histórico de dificuldades de interação social, rigidez cognitiva e a busca incessante por se “autorregular”. Ele revela ter dupla excepcionalidade, uma condição que combina o autismo com altas habilidades (superdotação), o que lhe permitiu desenvolver um “masking” (mascaramento) muito eficaz, fingindo ser “normal” para se adaptar socialmente, um esforço exaustivo que cobrou seu preço ao longo dos anos.
As memórias da infância são marcadas pela dor da incompreensão. “Toda vez que eu falo disso, eu lembro em todas as surras que eu tomei, das crises que eu tinha quando era criança, do pau que eu levei por causa de rigidez alimentar, de seletividade alimentar. Da surra que eu tomei por causa da crise que eu tinha, porque na minha época não tinha autismo. Qualquer coisa que não fosse ser normal era frescura e você entrava no cacete. E, como eu era uma criança muito inteligente, eu era para a sociedade normal. Então, minha crise era birra e aí você tomava, você apanhava.”
Um episódio em particular ilustra essa realidade de forma contundente: “Uma das maiores surras que eu tomei foi porque eu estava com muita fome na casa da minha bisavó. Ela fez macarrão. Eu amo o macarrão que minha bisavó fazia… E aí a minha avó, para me servir, picou o meu macarrão. E aí eu surtei no meio da família inteira. Eu era uma criança de três, quatro anos. E tomei uma surra homérica, porque cortou o meu macarrão e aí não dá para comer mais.”
O Caminho para o Diagnóstico
A decisão de procurar ajuda profissional veio após um episódio de crise política em que, por uma questão de rigidez de pensamento ligada à sua palavra empenhada, ele se recusou a apoiar um acordo partidário. “Eu tenho algumas fórmulas na minha cabeça, então, se eu proferir a palavra, eu te dou a minha palavra, eu, literalmente, não é no sentido figurado, não, literalmente eu prefiro morrer do que romper com a palavra, porque eu acho que o mundo vai desabar”, explica, tentando traduzir a lógica interna de sua condição. Foi um neuropsiquiatra que, após longas conversas, levantou a hipótese: “Pollon, você é autista”.
O diagnóstico, confirmado após meses de testes, trouxe um misto de susto e alívio. “Naquela hora, Camila, eu fiquei muito emocionado… é uma sensação muito antagônica, que ao mesmo tempo que eu estou assustado com a situação, eu estou aliviado de saber por que eu era assim”, recorda. A descoberta deu nome a uma vida inteira de angústias: “Falei, cara, então eu não sou um filho da puta, eu não sou um cara babaca, eu tenho problemas. E isso foi um alívio muito grande”.
No entanto, a aceitação não foi imediata. Pollon viveu um período de luto e negação, chegando a tentar invalidar seu próprio laudo médico. “Eu neguei meu laudo por muito tempo, eu não aceitava, eu fiquei chateado, não foi legal, porque no meu setor tem muito preconceito em relação a isso. Eu mesmo não sabia que autismo existia, eu achava que você resolvia… Na minha cabeça funcionava assim: se você está fazendo isso, é porque você apanhou pouco.”
O Ponto de Virada: O Olhar de Esperança
A virada de chave ocorreu durante um encontro com uma mãe em uma cidade do interior. A mulher, chorando após o filho autista ter uma crise em um supermercado, viu em Pollon um símbolo de esperança ao saber de seu diagnóstico. “Ela parou de chorar, e o olhar dela, que estava quase que de desespero, mudou pra um olhar de esperança…
E ela começou a falar: ‘Nossa, você conseguiu!’ (…) Você é professor, você é palestrante, você é advogado, você é deputado federal, você casou, você tem filho, você conseguiu ter uma vida funcional. E o maior medo que uma mãe tem de uma criança autista é que ele não consiga. Então, só o fato de saber que você existe, para nós é um alívio absurdo”, relatou o deputado, visivelmente emocionado.
Esse episódio o fez entender a importância de seu testemunho. “Eu tenho obrigação de dar testemunho de que é possível, sim, superar a alteia. É possível conviver com isso”, decidiu. A publicização de seu diagnóstico, no entanto, veio acompanhada de uma onda de preconceito. Ele foi atacado nas redes sociais (“Agora, todo mundo é autista, virou veado!”) e até mesmo por colegas de parlamento.
O Confronto na Câmara e o Estigma do “Retardado”
O caso mais notório foi durante uma obstrução na Câmara dos Deputados, quando, em meio à confusão, ele se sentou na cadeira da mesa diretora e pediu ajuda ao colega Marcel Van Hatten para se orientar. “Num ambiente muvucado, nem a pessoa neurotípica tá entendendo o que tá acontecendo, só que eles fingem que entendem… Só que o autista ele fala que não tá entendendo. A diferença é essa”, explica. O ato foi mal interpretado e Pollon foi chamado de “retardado” por dois deputados de seu próprio partido. “Tem até videozinho deles me chamando de retardado. Eles são tão legais que publicaram nas redes”, ironiza.
A imprensa, segundo ele, distorceu os fatos, acusando-o de usar o autismo como desculpa. “A imprensa inteira botou que eu usava o autismo como desculpa pelo que eu fiz”, reclama. Ele se defende: “Eu não usei o autismo como, eu não falei que eu não sabia o que eu tava fazendo lá. Eu sabia o que eu tava fazendo, eu sabia por que que eu tava fazendo.
Agora que eu disse que aquilo tava uma bagunça e eu precisava de uma pessoa me dar suporte, isso é óbvio”. A repercussão negativa, no entanto, teve um efeito inesperado: “A comunidade autista começou a me reparar e viram que, primeiro, eu não fingi que eu era autista. Eu tinha um diagnóstico.”
O PDL sobre Aborto e a Guerra de Narrativas
Outro tema que gera intensos debates e no qual Pollon se posiciona de forma contundente é a questão do aborto em casos de estupro. Ele é um crítico feroz da narrativa, que atribui à esquerda e a influenciadoras feministas, de que os projetos de lei que visam restringir o aborto são “pró-pedofilia”.
Para o deputado, a lógica é inversa. “A melhor coisa para um abusador infantil é o aborto, porque [elimina] o objeto ali da prova do crime”, argumenta. Ele questiona a coerência de quem defende o aborto nesses casos, mas se opõe a medidas como a criação de um banco de dados de estupradores ou o aumento de pena para esses crimes.
“Quem afinal quer passar pano para estuprador? A direita que quer que faça um boletim de ocorrência e que se examine o que aconteceu, ou a esquerda que quer que aborte quietinho, ninguém fala nada?”, questiona.
Marcos Pollon desafia seus interlocutores com perguntas diretas: “Primeiro, o que que matar o bebê combate a pedofilia? Que a gente vai matar o bebê, não vai punir o cara? Segundo, qual a vantagem para a criança que foi abusada esconder a materialidade delitiva?”. Ele acusa a imprensa de criar uma narrativa falsa, fazendo parecer que a direita quer proibir todas as formas de aborto legal, quando, segundo ele, a questão central é a necessidade de investigação e punição do criminoso.
Ele critica o que chama de “epidemia de sabichões” nas redes sociais, pessoas que opinam sobre projetos de lei complexos baseando-se apenas em manchetes. “Parece que a internet criou um desejo, uma ânsia de opinar sobre tudo antes mesmo de verificar se é verdade. Viu? É assustador”, observa.
Uma Visão Crítica da Esquerda e da Imprensa
Ao longo da entrevista, Marcos Pollon tece duras críticas à estrutura de comunicação da esquerda e ao papel da imprensa no debate político. Ele afirma que o discurso aparentemente contraditório da esquerda não é hipocrisia, mas método.
“A estrutura de comunicação deles, a nova língua que eles criaram, tem como estratégia esse paradoxo estabelecido todo o tempo”, analisa. O objetivo, segundo ele, é gerar confusão nos adversários e “adestrar a base”, acostumando-a a obedecer sem questionar, mesmo diante de posições antagônicas. “Se o cara mandar você, literalmente, comer esterco, a militância come, sem questionar”, exemplifica.
Ele cita o “PL da Adultização”, projeto que ganhou notoriedade com o influenciador Felca, como um exemplo de medida com nome atraente, mas com conteúdo perigoso. “É um monte de conceito aberto, não resolve absolutamente nada e cria uma máquina de censura que otorga ao governo federal a possibilidade de poder limitar completamente a internet sem qualquer restrição”, acusa. Pollon critica duramente os colegas de direita que, por medo de represálias nas redes sociais, não se posicionaram contra o projeto.
A imprensa é outro alvo constante de suas críticas. Pollon a descreve como “bandida e criminosa”, acusando-a de distorcer fatos, tirar declarações de contexto e trabalhar ativamente para manipular a opinião pública. O tratamento que recebeu após o episódio na Câmara é, para ele, um exemplo claro dessa prática.
“Tinham pessoas que são pós-PhD, pau, não sei o que da coisa toda do autismo me moendo no cacete com grupo de pesquisa e tudo. Falei, cara, mas essas pessoas entenderam. Pô, se essa senhorinha [a quem ele mostrou o vídeo] entendeu, essas pessoas entenderam”, argumenta, sugerindo má-fé na interpretação de suas palavras.
Um Político Forjado na Adversidade
A longa conversa com Marcos Pollon revela um personagem complexo, cujas arestas não foram aparadas pela vida pública. Sua trajetória é a de um homem que transformou suas maiores dificuldades em suas principais bandeiras. O diagnóstico de autismo, que poderia tê-lo fragilizado, tornou-se uma lente através da qual ele enxerga a política e a sociedade, dando-lhe uma perspectiva única sobre vulnerabilidade, preconceito e a necessidade de lutar por aqueles que não têm voz.
Sua atuação no Congresso, marcada por embates duros e uma recusa em se curvar ao politicamente correto, pode ser controversa, mas é inegavelmente autêntica. Pollon é a prova de que a política não é feita apenas de acordos e estratégias, mas também de paixão, dor e da coragem de expor as próprias feridas em praça pública.
Em um cenário político frequentemente criticado pela falta de representatividade e pela distância em relação ao cidadão comum, a história de Marcos Polon ressoa como um lembrete de que, por trás de cada mandato, pode haver uma história humana de superação e luta, muito mais complexa do que as manchetes são capazes de capturar.
Sua luta não é apenas por pautas ou votos, mas pela validação de sua própria existência e pela esperança de que outros, como ele, possam encontrar seu lugar no mundo. “Não é uma pauta política, porque ninguém conta pra mim como que é ruim ser autista. Eu sou isso todo dia”, conclui. E é essa verdade, vivida na pele, que ele leva para o centro do poder.
As Batalhas Legislativas
Além do Decreto 12.686, Pollon detalha sua oposição a outras iniciativas que considera prejudiciais. O chamado “PL da Adultização”, por exemplo, é descrito por ele como uma armadilha. “Sempre quando o nome é muito bonito, igual aconteceu com o decreto 12.668, ah, o decreto da inclusão é ferro, é ferro”, alerta. Ele conta que o texto do PL foi apresentado apenas cinco minutos antes da votação, uma prática que, segundo ele, inviabiliza qualquer análise séria.
“Eu passei o olho ali, quatro, cinco artigos que eu vi. Eu falei, cara, isso aqui é um absurdo. Pra você ter uma ideia, ali normatizou aquela coisa que o Alexandre Moraes fez com o Twitter. Lembra ele exigindo que tivesse representando o Brasil? E a gente falava, não tem lei sobre isso? Pois é, agora tem.”
Sua postura lhe rendeu ataques da imprensa de seu estado, que o acusou de ser “contra o projeto que apoia crianças”. Sua resposta foi um desafio: “Me cita um artigo, um inciso, uma frase sequer desses 41 artigos, que eu sei que vocês não leram, que protege crianças. É um monte de conceito aberto, não resolve absolutamente nada e cria uma máquina de censura”. Essa disposição para o confronto direto, mesmo com o risco de impopularidade, é uma marca de sua atuação.
As Cicatrizes do Autismo
e a Força da Vulnerabilidade
Pollon não romantiza sua condição. Pelo contrário, ele expõe as cicatrizes com uma franqueza brutal. “Eu não gosto de ser autista, não gosto. Mas e aí, o que acontece?”, questiona. Ele relata episódios dolorosos, como a seletividade alimentar na infância que lhe rendeu surras, ou a estereotipia de arrancar a sola dos pés. “Eu arrancava a sola do pé inteira, tá? Por causa disso”, conta.
Ele descreve como, por anos, treinou a si mesmo para superar as dificuldades, como o medo de falar em público ou a dificuldade de olhar nos olhos das pessoas, desenvolvendo um complexo sistema de compensação. “Eu fui me autorregulando, eu fui me autotratando, eu fui inventando terapias de choque na minha vida o tempo todo. E foi assim que eu cheguei onde eu cheguei.”
Essa vulnerabilidade, no entanto, tornou-se uma fonte de força e conexão. Ele conta que, após a repercussão do episódio na Câmara, a comunidade autista começou a olhá-lo de outra forma. “A comunidade autista começou a me reparar e viram que, primeiro, eu não fingi que eu era autista. Eu tinha um diagnóstico”, afirma. Eles viram seu histórico de projetos, as emendas para as APAEs, as propostas de casas de suporte. A desconfiança inicial deu lugar ao reconhecimento.
A Luta de Marcos Pollon por Quem Cuida
Sua experiência pessoal também moldou sua percepção sobre o sofrimento das famílias, especialmente das mães de crianças com deficiência. O projeto “Cuidando de Quem Cuida” é um reflexo direto disso. “As pessoas, nossa, como você tem empatia, deputado, tá vendo o sofrimento dos outros? Não, eu lembro da minha mãe, porra. Eu lembro do que ela passou comigo”, desabafa. Para ele, não se trata de uma pauta política abstrata, mas de uma realidade vivida em casa, nas dificuldades de sua própria mãe para lidar com um filho “esquisito” em uma época em que não havia diagnóstico.
Essa conexão com a dor do outro o torna particularmente crítico a quem, segundo ele, explora politicamente o sofrimento alheio. “Eu vi que tem muita gente, eu não fazia ideia disso, que se alimenta desse sofrimento como pauta política, é nojento, é nojento. Finge que ajuda e vende depois, sabe? É foda”, critica.
A Complexidade da Inclusão
A entrevistadora, mãe de duas crianças no espectro autista, traz uma perspectiva pessoal para o debate sobre o Decreto 12.686, questionando a viabilidade da inclusão irrestrita. Ela relata sua própria experiência: “O meu filho do meio estuda num colégio particular. O mais novinho estuda na prefeitura… Os pais dos colegas do Renan pagam o mesmo que eu pago, a mesma mensalidade. Só que eles tiveram que abaixar a qualidade do ensino pra atender o Renan”.
Ela argumenta que a presença de uma criança com necessidades complexas em uma sala de aula regular, sem a estrutura adequada, pode prejudicar tanto o aluno com deficiência quanto os demais.
“Se os nossos filhos, os meus dois filhos, outras crianças estão em escola especial, eles não vão atrapalhar o filho de vocês. Em contrapartida, o filho de vocês não vai agredir os meus filhos, não vai perder a paciência, não vai fazer bullying e todo mundo vai viver feliz”, defende, apresentando uma visão pragmática que muitas vezes se perde no debate ideológico.
Pollon concorda e aprofunda a crítica ao modelo proposto pelo governo. Ele explica que a verdadeira inclusão não é simplesmente matricular uma criança em uma escola regular, mas garantir que ela tenha as condições necessárias para aprender e se desenvolver.
Isso inclui professores capacitados, mediadores, salas de recursos e um ambiente que respeite suas limitações e potencialize suas habilidades. O que o decreto faz, segundo ele, é o oposto: joga a responsabilidade para as escolas sem oferecer os recursos, criando um cenário de exclusão dentro da própria sala de aula.
O Legislador e Suas Ferramentas
Pollon faz questão de ressaltar que sua atuação não se limita aos discursos inflamados. Ele detalha um volume expressivo de trabalho legislativo focado na causa.
“Eu, só de requerimento e ofícios para as autoridades que cuidam do segmento, eu já mandei mais de 400 e poucos ao longo desses últimos anos. Projeto de lei foram mais de 60”, enumera. Ele menciona ter enviado emendas para 100% das APAEs de seu estado e ter projetos para a construção de casas de suporte para autistas em diversas cidades.
Essa produtividade, no entanto, nem sempre é reconhecida por seu eleitorado original, mais ligado a pautas como a da segurança pública. “O pessoal da minha pauta, você não tem uma ideia, uma sugestão, um material que leva a nada. É só xingar. A política não presta, a política não presta”, lamenta. Em contraste, ele elogia o engajamento da comunidade de pessoas com deficiência e suas famílias.
“O pessoal da comunidade PCD, cara, só de você ouvir, só de você parar o que você está fazendo, abrir o gabinete e olhar para essas pessoas e ouvir a demanda dessas pessoas, meu Deus do céu, eles te abraçam, eles falam: não, vem pra cá, nós vamos te ajudar”.
Essa diferença de recepção evidencia o complexo equilíbrio que Pollon precisa manter, navegando entre as expectativas de sua base eleitoral tradicional e o compromisso que assumiu com uma nova e engajada comunidade. Sua história mostra que a representatividade política pode surgir de formas inesperadas, transformando a experiência pessoal em ação legislativa e dando voz a grupos frequentemente marginalizados no debate público.
A trajetória de Marcos Pollon, com suas contradições, dores e conquistas, é um retrato fiel da complexidade da política e da condição humana, onde as maiores fraquezas podem, paradoxalmente, se tornar as maiores fontes de força.
O Futuro da Inclusão:
Entre a Utopia e a Realidade
Ao final da conversa, a discussão se volta para o futuro da inclusão no Brasil. Pollon se mostra cético em relação a soluções simplistas e defende uma abordagem mais pragmática e individualizada. Para ele, a inclusão não pode ser uma política de “tamanho único”, que ignora as necessidades específicas de cada indivíduo. “A gente tem que parar com essa mania de querer resolver o problema de todo mundo com uma canetada só”, afirma. Ele defende a manutenção e o fortalecimento das escolas especializadas, não como uma forma de segregação, mas como uma opção terapêutica e educacional para aqueles que não se beneficiam do modelo regular.
Ele também critica a falta de preparo do sistema de ensino para lidar com a diversidade de alunos. “A gente não tem professor, a gente não tem estrutura, a gente não tem dinheiro pra isso. E aí você vai jogar uma criança que precisa de um atendimento super especializado numa sala de aula com 40 alunos? Isso não é inclusão, isso é abandono”, argumenta. A solução, para ele, passa por um investimento maciço na formação de professores, na adaptação das escolas e na criação de uma rede de apoio que envolva profissionais de saúde, terapeutas e a família.
Pollon conclui com uma reflexão sobre o papel da sociedade na construção de um ambiente verdadeiramente inclusivo. “A inclusão não é só na escola, é na vida. É no supermercado, é no parquinho, é no trabalho. É a gente entender que as pessoas são diferentes e que tá tudo bem ser diferente”, diz. Sua luta, portanto, transcende o Congresso Nacional e se estende para a conscientização da sociedade. Ele sabe que a mudança de mentalidade é um processo lento e gradual, mas se mostra determinado a usar sua voz e sua história para acelerar essa transformação. “Eu não vou desistir. Eu não tenho o direito de desistir”, finaliza, deixando claro que sua batalha está apenas começando.
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