30 – Método Rezetec
Método Rezetec - Trata-se de um procedimento dedutivo, que parte da cena, da sequência dos atos, do apoio teórico em ciências da conduta e da conduta observável para reconstruir, passo a passo, o que foi feito, em que ordem, com quais escolhas e sob quais condições

Método Rezetec – Entre as escolas metodológicas do perfilamento criminal, uma abordagem latino-americana vem ganhando espaço por sua disciplina técnica e foco absoluto naquilo que é comprovável em campo: o método Rezetec, concebido na Unidade de Análise da Conduta Criminosa no México e difundido pelo professor Alfredo Velasco.
Trata-se de um procedimento dedutivo, que parte da cena, da sequência dos atos, do apoio teórico em ciências da conduta e da conduta observável para reconstruir, passo a passo, o que foi feito, em que ordem, com quais escolhas e sob quais condições. O resultado é um perfil operacional que ajuda a polícia a decidir onde olhar primeiro, o que testar, como refutar hipóteses e como amarrar a teoria do caso às evidências.
Por Que o Rezetec Importa
O Brasil vive uma realidade investigativa rica em tecnologia — câmeras por toda parte, registros digitais, laudos rápidos —, mas ainda convive com cenas incompletas, informações contraditórias e pressões por resposta. Nessa encruzilhada, o Rezetec oferece base científica, linguagem de campo e um roteiro de execução que norteia decisões desde a primeira chegada ao local até a redação do perfil final.
No México, onde a metodologia foi amplamente praticada, o ganho relatado por analistas está em três frentes:
- Rastreabilidade: toda inferência remete a um vestígio específico ou a um comportamento identificável.
- Sequência lógica: o método encadeia antes, durante e depois, evitando “pulos” interpretativos.
- Integração criminalística: os princípios de campo são respeitados do início ao fim; não há atalhos psicológicos sem amparo material.
Para quem atua ou quer atuar com perfilamento criminal, o Rezetec soma mais que uma nova “linha”: ele organiza como pensar e como escrever de maneira que a equipe inteira consiga usar.
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O Que É O Método Rezetec
O Rezetec é definido como um método dedutivo contemporâneo de análise integral da cena do crime voltado a determinar as condutas manifestadas antes, durante e imediatamente após o fato. A ambição é estabelecer a verdade dos acontecimentos com base em evidências físicas e evidências de conduta, seguindo protocolos de atuação desde a chegada ao local até a elaboração do perfil.
A sigla Rezetec representa as bases de estudo que estruturam o processo:
- Re — Reconstrução: determinação das ações e eventos relacionados ao cometimento.
- Ze — Sequencial: estabelecimento de quando cada conduta ocorreu e em que ordem se manifestou.
- Te — Teórico: conhecimento das ciências comportamentais (definições, conceitos históricos e contemporâneos) que dão suporte à interpretação.
- C — Conduta: qualquer manifestação observável, mensurável e quantificável do organismo que, por meio de análise especializada, se apresente como evidência sobre como e quando uma ação ocorreu.
Em síntese, o Rezetec reconstrói, ordena, interpreta com apoio teórico e qualifica a conduta como prova comportamental.
Os Quatro Princípios do Rezetec
A metodologia se apoia em princípios extraídos das ciências da conduta e da criminalística aplicada:
1) Princípio da identidade dos casos
Evite generalidades. Cada investigação tem motivação própria, modo de operar próprio e produz evidências físicas e comportamentais singulares. Nada de “todo homicídio íntimo é assim”. O caso é este; a leitura nasce dele.
2) Princípio da dinâmica da conduta
Condutas mudam. São dinâmicas e mutáveis — variam com circunstâncias, resistências, testemunhas, falhas de equipamento, estado emocional. O contexto importa e deve ser analisado.
3) Princípio da sequência da conduta
Há ordem no local. O que se observa agora foi precedido por manifestações e será seguido por decisões pós-crime. Mapear ponto de contato, abordagem, método de ataque, controle, pós-evento é indispensável.
4) Princípio da reconstrução dos fatos
A criminalística de campo é coluna vertebral. Com base em vestígios, produz-se uma reconstrução que respalda a teoria do caso. Sem reconstrução técnica, o perfil vira opinião.
As 7 Fases do Rezetec
Fase 1 — Coleta de informações
Primeiro, qualidade de fonte. O método exige que a coleta seja objetiva, documentada e auditável. O valor do perfil estará diretamente ligado à confiabilidade das informações.
O que coletar:
- Cronologia (último contato com a vítima, horários de câmeras, ligações, transações).
- Imagens técnicas do local (com escala, ângulos, aproximações).
- Laudos preliminares (balística, traumatologia, toxicologia, informática).
- Informação vitimológica (identidade, rotina, vínculos, trajetos).
- Chamadas e relatos (sem indução, com registro ipsis litteris).
- Contexto (bairros, fluxo de pessoas, iluminação, barreiras físicas).
Boas práticas:
- Nominar arquivos com data, hora, origem.
- Separar dado bruto de interpretação.
- Abrir um log de decisões (por que ignoramos X, por que priorizamos Y).
Fase 2 — Análise da cena do crime
É o processo analítico que interpreta características específicas do crime e o que elas indicam sobre comportamentos e decisões do autor em relação à vítima.
Seções de análise:
- Localização: aberto/fechado, fácil/difícil acesso, público/privado, fluxo habitual.
- Qualidade descritiva: zona urbana/rural, via pública, propriedade com uso específico.
- Tipo de cena: primária (onde se consuma), secundária (onde se realiza pós-evento), intermediária (de passagem).
- Inspeção da vítima: identidade, posição do corpo, lesões, sinais de defesa, encobrimento ou exposição, interações pós-morte.
Objetivo: separar o que é resultado prático (ganho, fuga, ocultação) do que sugere necessidade psicológica (humilhação, ritual, expiação).
Fase 3 — Avaliação de evidências forenses relacionadas
O Rezetec integra evidência física, comportamental, testemunhal e documental. A pergunta é sempre: o que este elemento, somado aos demais, sustenta? E, de modo simétrico: o que derruba?
Checklist útil:
- Padrões de sangue (direção, velocidade, ausência/presença).
- Pontos de entrada/saída e violação de barreiras.
- Vestígios digitais (metadados, localização, acessos).
- Elementos deslocados (o que foi buscado? o que foi poupado?).
- Contramedidas (luvas, limpeza, remoção de DVR, apagamento de logs).
Fase 4 — Identificação do comportamento na cena do crime
Aqui a análise se torna milimétrica: presença ou ausência de comportamentos que podem se converter em evidência de conduta. O método orienta olhar, uma a uma, as seguintes seções:
- Escolha da vítima (alvo dirigido, oportunidade, representatividade).
- Ponto de contato (onde e como se iniciam as interações).
- Método de abordagem (agressivo, sutil, sedutor, falso pretexto).
- Método de ataque (arma, força, surpresa, ameaça escalonada).
- Uso de força (proporcional, excessiva, focada, difusa).
- Métodos de controle (verbais — “vou te matar”, “vou atrás da sua família” —, físicos, objetos, amarrações).
- Componentes verbais (palavras, xingamentos, apelidos, frases repetidas).
- Armas e feridas (compatibilidades, mudança de objeto, improviso).
- Comportamento da vítima (resistência, fuga, imobilização, submissão forçada).
- Linha do tempo (sequência minuto a minuto, quando possível).
- Número de agressores (sinais de terceiros, múltiplas tarefas simultâneas).
- Planejamento (itens trazidos, rotas, horários, estudo prévio).
- Medidas de precaução (luvas, máscara, capuz, desativação de sensores).
- Elementos de oportunidade (porta destrancada, evento ruidoso, blackout).
- Contramedidas e alteração de cena (encobrimento, reordenação, remoção de mídia).
Dica operacional: codifique em planilha (presente/ausente/indeterminado) com exemplo concreto de onde cada item aparece nos autos.
Fase 5 — Elaboração de hipóteses a partir das inferências
Com a conduta mapeada, vêm as hipóteses. Cada uma precisa de: base de evidência, alcance, condição de refutação. Conclusões vagas prejudicam a credibilidade do método; declarações verificáveis fortalecem.
Exemplos:
- Hipótese: o autor conhecia a rotina da vítima.
Base: acesso sem arrombamento pela porta de serviço, deslocamento fluido dentro da casa, busca seletiva.
Refutação: aparecimento de chave micha compatível, prints de anúncio que revelam planta da casa, vídeo mostrando entrada por arrombamento em ângulo não fotografado. - Hipótese: morte não planejada.
Base: foco inicial na subtração (gavetas do escritório reviradas), arma não disparada apesar de exibida, trauma contundente após luta.
Refutação: mensagens prévias de ameaça explícita com intenção de matar, compra recente de objeto letal específico para a vítima.
Fase 6 — Elaboração do perfil criminal
O perfil reúne o que a conduta permite dizer sobre habilidade criminosa, conhecimento da vítima, conhecimento da cena e conhecimento de métodos e materiais.
O método ressalta três características problemáticas pela complexidade de inclusão e verificação:
- Idade e sexo não devem ser afirmados sem evidências físicas conclusivas (ex.: DNA, imagens nítidas).
- Inteligência não é variável a ser incluída — o Rezetec recomenda deixar de fora rótulos de “QI” e afins.
O foco recai em atributos operacionais: capacidade de planejamento, tolerância ao risco, conforto territorial, familiaridade com a vítima, habilidade com ferramentas, padrão de contramedidas, adaptação a imprevistos.
Fase 7 — Contribuição da perspectiva da conduta e reconstrução final
Hora de amarrar: a reconstrução sequencial da conduta avalia todos os aspectos presentes ou ausentes e determina a análise prévia que sustenta as hipóteses no corpo da cena.
Ações recomendadas ao perfilador:
- Atenção às evidências e à conduta com a qual se relacionam.
- Valoração objetiva das condutas (o que explica, o que não explica).
- Explicações claras e eliminação de alternativas com lógica, pensamento crítico e, quando possível, experimentação (simulações compatíveis com a preservação da cadeia de custódia).
O objetivo principal se manifesta aqui: reconstrução sequencial + conduta = teoria do caso sustentada.
Rezetec e Outras Escolas
- Psicologia Investigativa: útil para padrões amplos e priorização. O Rezetec, ao aterrissar no vestígio, ajuda a confirmar ou negar as sugestões iniciais.
- Análise de Evidências Comportamentais (AEC): parentesco direto. Ambas focam vestígios e singularidade; o Rezetec adiciona um roteiro sequencial com ênfase prática de campo.
- CAP (Criminal Action Profiling): o Rezetec pode alimentar a codificação do CAP com variáveis comportamentais sólidas.
- Geoprofile: a sequência espacial extraída pelo Rezetec serve de insumo para modelos de probabilidade de base.
Não é disputa de “time”; é montagem de kit. O Rezetec coloca a ordem dos atos e a conduta observável no centro.
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Exemplos Práticos (Fictícios)
Exemplo 1 — Residência, subtração e morte por trauma
- Cena: casa sem arrombamento; DVR ausente; gavetas do escritório reviradas; vítima com trauma craniano; amarras no pulso; ausência de disparo.
- Sequência provável: aproximação por porta de serviço → controle verbal + amarração → busca seletiva → resistência da vítima → escalada de força → fuga com retirada de DVR.
- Perfil operacional: conhecimento prévio de rotina; experiência em subtração com controle não letal; morte como consequência; contramedidas moderadas (remoção de DVR, mas luvas possivelmente ausentes — digitais parciais no mobiliário).
- Diligências: mapear prestadores com acesso; cruzar celulares na zona; checar vendas recentes de DVR compatíveis; ouvir vizinhança sobre movimentação de utilitários.
Exemplo 2 — Agressão em via pública com encobrimento teatral
- Cena: ataque em beco; ofensa verbal dirigida à profissão da vítima; retirada de um objeto simbólico; corpo exposto com peças reposicionadas.
- Sequência provável: seleção de alvo representativo → abordagem agressiva → humilhação verbal → ataque focal → encenação pós-evento.
- Perfil operacional: hostilidade dirigida a um traço da vítima; risco assumido; elementos de exibição; pouca preocupação com contramedidas.
- Diligências: varrer câmeras perimetrais; rastrear conflitos públicos recentes da vítima; checar círculos de proximidade onde o traço é motivo de disputa.
Erros Comuns
- Confundir ausência de vestígio com intenção: muitas vezes é falha ou improviso, não “frieza calculada”.
- Forçar idade/sexo sem base material: o método desencoraja.
- Escrever para especialistas e não para a equipe: relatório precisa virar ação.
- Pular a sequência: interpretar pedaços sem encadear gera contradições.
- Ignorar contexto: o mesmo ato em locais distintos muda de sentido (ameaça em estádio lotado ≠ ameaça em estrada deserta).
Ética
- Nada de rótulos clínicos sem avaliação direta.
- Clareza sobre o que é fato e o que é inferência.
- Condições de refutação declaradas (o que mudaria a leitura).
- Proteção a vítimas: linguagem técnica, sem espetacularização.
- Respeito à cadeia de custódia: nenhuma recomendação que a viole.
Passo a Passo
- Defina com a equipe a pergunta operacional.
- Colete e organize (cronologia, imagens, laudos, relatos).
- Classifique a cena (localização, qualidade, tipo, vítima).
- Mapeie condutas (itens da Fase 4 em planilha).
- Elabore hipóteses com base/alcance/refutação.
- Escreva o perfil focado em habilidade, conhecimento e contramedidas.
- Reconstrua a sequência e indique diligências.
- Revise conforme novos dados chegarem.
Aprenda Mais
O Rezetec “descobre” a autoria?
Não. Ele orienta a investigação com condutas verificáveis e sequências claras.
Dá para aplicar sem fotos técnicas?
Dá, mas perde força. O método vive de documentação de qualidade.
Pode afirmar idade/sexo só pelo comportamento?
Pelo método, não. Apenas com evidência física conclusiva.
Serve para crimes sexuais, patrimoniais e homicídios?
Sim — desde que se adapte a variáveis específicas de cada tipo e se respeitem protocolos de vitimização.
Como integra com geoprofile?
A sequência espacial derivada das condutas alimenta modelos de probabilidade de base e rotas de fuga.
Disciplina, Sequência e Conduta
O método Rezetec oferece aquilo que muitas investigações precisam quando a pressão aperta: um caminho claro. Ele põe a cena para falar, organiza a ordem dos atos, ancora cada inferência em coisas que se apontam, e entrega um perfil utilizável, sem adivinhações.
Em um ecossistema brasileiro que mistura alta tecnologia e lacunas práticas, a importação dessa disciplina faz todo sentido. É método para quem trabalha em equipe, respeita a ciência de campo e entende que perfil bom é o que ajuda a decidir o próximo passo.
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