21- Mulheres Assassinas do Brasil
Mulheres Assassinas - Para entender as raízes biológicas da violência, é preciso compreender o funcionamento cerebral. A neurociência criminal tem avançado na identificação de padrões e disfunções que podem estar associados a comportamentos agressivos

Mulheres assassinas – A imagem da mulher como o “sexo frágil”, guardiã do lar e personificação do cuidado, está profundamente enraizada no imaginário social. É uma construção que, por séculos, definiu papéis e expectativas. Contudo, a história criminal do Brasil é marcada por narrativas que estilhaçam essa imagem angelical. São os casos de mulheres que, movidas por uma complexa teia de emoções, transtornos e circunstâncias, cruzaram a linha final da transgressão humana: o ato de tirar uma vida.
A questão fundamental e perturbadora é: o que leva uma mulher a matar? Seria uma falha na arquitetura do cérebro, um transtorno mental que sequestra a razão, um produto de um ambiente tóxico ou uma combinação intrincada de todos esses fatores?
O Cérebro Feminino e a Agressão
Para entender as raízes biológicas da violência, é preciso compreender o funcionamento cerebral. A neurociência criminal tem avançado na identificação de padrões e disfunções que podem estar associados a comportamentos agressivos.
Embora a pesquisa sobre o cérebro feminino criminoso seja menos extensa que a do masculino, os achados são reveladores e apontam para uma interação delicada entre estrutura, química e experiência de vida.
Amígdala, Córtex Pré-Frontal e o Controle dos Impulsos
Duas estruturas cerebrais estão no centro da agressividade: a amígdala e o córtex pré-frontal. A amígdala, um par de pequenas estruturas em formato de amêndoa localizadas no fundo do cérebro, funciona como nosso sistema de alarme. É o epicentro de emoções primárias como o medo e a raiva, processando ameaças e disparando respostas de luta ou fuga.
Em contrapartida, o córtex pré-frontal, a porção mais anterior do cérebro, atua como o nosso “CEO”. Ele é responsável pelo planejamento, pela tomada de decisões, pela ponderação das consequências e, fundamentalmente, pelo controle inibitório sobre os impulsos gerados pela amígdala. Uma analogia comum é pensar no córtex pré-frontal como o freio e na amígdala como o acelerador do nosso comportamento emocional.
Estudos com criminosos violentos (majoritariamente homens) consistentemente apontam para uma disfunção nessa dinâmica. Frequentemente, observa-se uma amígdala hiper-reativa, que dispara com facilidade, e um córtex pré-frontal hipoativo, ou seja, com menor capacidade de frear esses impulsos.
Essa combinação pode criar um cérebro predisposto à agressão impulsiva. Danos físicos ao lobo frontal, onde reside o córtex pré-frontal, são conhecidos por causar mudanças drásticas de personalidade, resultando em desinibição e comportamento socialmente inadequado.
No contexto das mulheres assassinas, a hipótese neurocientífica sugere que uma falha nesse circuito de controle pode ser um fator determinante, permitindo que emoções intensas de raiva, ciúme ou vingança se traduzam em atos de violência extrema, sem o filtro da razão e da ponderação.
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A Química da Violência:
Hormônios e Neurotransmissores
O comportamento do cérebro é modulado por uma complexa teia química de hormônios e neurotransmissores. Um dos atores principais nesse cenário é o cortisol, conhecido como o “hormônio do estresse”. Em situações de perigo, seus níveis aumentam para preparar o corpo para a ação.
Contudo, pesquisas têm revelado um padrão intrigante em alguns indivíduos violentos: níveis cronicamente baixos de cortisol. Um estudo específico sobre a neurobiologia de mulheres homicidas, conduzido por Kathleen Brewer-Smyth em 2021, encontrou que as homicídas apresentavam os níveis mais baixos de cortisol matinal e uma curva de cortisol diurna mais “achatada”. Uma baixa reatividade ao estresse, sinalizada pelo baixo cortisol, pode estar ligada a uma menor resposta ao medo de punições e a uma maior busca por sensações, características associadas ao comportamento antissocial.
Outro componente químico vital é a serotonina, um neurotransmissor que desempenha um papel crucial na regulação do humor, do sono e do controle dos impulsos. Níveis baixos de serotonina têm sido consistentemente ligados à depressão, à ansiedade e, notavelmente, à agressão impulsiva. Embora a relação não seja de causa e efeito direta, um sistema serotoninérgico deficiente pode dificultar a capacidade do córtex pré-frontal de acalmar uma amígdala hiperativa.
As diferenças hormonais entre os sexos também entram na equação. A testosterona, mais abundante nos homens, está ligada à dominância e à agressividade física. O estrogênio, predominante nas mulheres, parece ter um efeito modulador, por vezes protetor. No entanto, é um erro crasso cair no determinismo biológico. A agressão feminina, embora menos frequente, não é menos letal, e sua origem não pode ser simplificada apenas pela ausência de testosterona. A interação entre os hormônios sexuais, os hormônios do estresse e os neurotransmissores é extremamente complexa e varia de indivíduo para indivíduo.
O Impacto do Trauma no Cérebro
Estudos indicam que a maioria das mulheres violentas são profundamente traumatizadas. Experiências adversas na infância, como o abuso físico e, especialmente, o abuso sexual (conhecido na literatura científica como CSA – Childhood Sexual Abuse), deixam cicatrizes que não são apenas psicológicas, mas também neurológicas. O cérebro em desenvolvimento é extremamente plástico e vulnerável. O estresse tóxico crônico gerado pelo abuso pode alterar permanentemente a estrutura e o funcionamento cerebral.
O estudo de Brewer-Smyth (2021) mostra que as mulheres que cometeram homicídio foram as que mais sofreram abuso sexual na infância e as que tiveram o maior número de lesões cerebrais traumáticas (TBIs – Traumatic Brain Injuries), muitas vezes resultantes de violência doméstica.
O trauma pode levar a uma hipervigilância da amígdala, que passa a interpretar o mundo como um lugar perpetuamente ameaçador. Ao mesmo tempo, pode prejudicar o desenvolvimento do córtex pré-frontal e do hipocampo (área ligada à memória e ao aprendizado), comprometendo a capacidade de regulação emocional e a tomada de decisões.
Em essência, o trauma esculpe um cérebro que está constantemente em modo de sobrevivência, com uma maior propensão a respostas agressivas e desproporcionais a gatilhos no presente. Essa desregulação do sistema de estresse, combinada com possíveis lesões físicas no cérebro, cria uma base neurobiológica perigosamente fértil para a violência na vida adulta.
Perfis Psicológicos e Psiquiátricos
Se a neurociência nos mostra o “hardware” cerebral que pode estar por trás da violência, a psicologia e a psiquiatria nos oferecem o “software”: os padrões de pensamento, as desordens de personalidade e os transtornos mentais que podem conduzir ao ato homicida. A análise dos laudos periciais e do comportamento de mulheres assassinas revela a presença de condições psiquiátricas severas, que distorcem a percepção da realidade e inibem a capacidade de empatia e controle.
Psicopatia e Sociopatia no Universo Feminino
Quando se fala em assassinos frios e calculistas, a palavra “psicopata” surge imediatamente. Na terminologia psiquiátrica, o diagnóstico mais próximo é o de Transtorno da Personalidade Antissocial, popularmente dividido entre psicopatia e sociopatia.
Ambos se caracterizam por um desprezo profundo pelas normas sociais e pelos direitos alheios, mas a psicopatia é frequentemente associada a uma incapacidade inata de sentir empatia, mascarada por um charme superficial e uma grande capacidade de manipulação. O sociopata, por outro lado, pode ter sua condição mais moldada pelo ambiente, sendo mais impulsivo e menos cuidadoso em seus atos.
No universo feminino, a manifestação desses traços pode ser mais sutil e insidiosa. Enquanto o psicopata masculino pode recorrer mais à violência física e intimidação direta, a mulher psicopata frequentemente utiliza a manipulação relacional, a sedução, a mentira e a vitimização como suas principais armas. Ela é capaz de construir uma fachada de normalidade, enganando familiares, amigos e até mesmo terapeutas, enquanto persegue seus objetivos de forma implacável.
A ausência de remorso ou culpa permite que ela cometa atos terríveis sem o freio emocional que a maioria das pessoas possui. A análise de especialistas sobre o caso de Suzane von Richthofen frequentemente aponta para essa direção.
Descrita em laudos como egocêntrica, dissimulada e com uma frieza emocional notável, sua capacidade de planejar meticulosamente a morte dos próprios pais por motivação financeira e de manter uma aparência de normalidade durante e após o crime é um indicativo perturbador de traços psicopáticos.
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Transtorno de Personalidade Borderline
Outro diagnóstico frequente no histórico de mulheres que cometem crimes violentos é o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). Se a psicopatia é marcada pela frieza, o TPB é definido pelo caos emocional. Indivíduos com esse transtorno vivem em uma montanha-russa de emoções intensas e instáveis.
Eles experimentam um medo avassalador do abandono, real ou imaginário, que os leva a ter relacionamentos interpessoais extremamente conturbados, oscilando entre a idealização e a desvalorização do outro. A impulsividade é outra marca registrada, manifestando-se em gastos compulsivos, sexo de risco, abuso de substâncias ou compulsão alimentar.
A conexão com a violência está na desregulação emocional extrema e na raiva intensa e inadequada que são centrais no transtorno. Uma pessoa com TPB pode sentir-se rejeitada ou abandonada e reagir com uma fúria que é desproporcional à situação. Em um momento de crise, a capacidade de pensar racionalmente pode ser completamente sequestrada pela emoção, levando a atos impulsivos e destrutivos, incluindo a agressão física.
Em contextos passionais, onde o medo da perda do parceiro é o gatilho, a violência pode escalar rapidamente, culminando em uma tragédia. A análise de crimes cometidos em meio a discussões acaloradas e com um histórico de idas e vindas no relacionamento pode, por vezes, encontrar no Transtorno de Personalidade Borderline uma resposta.
Ciúme Patológico e Delírios
Em alguns casos, a violência não nasce da frieza ou do caos impulsivo, mas de uma distorção completa da realidade. O ciúme, uma emoção humana comum, pode se transformar em uma condição psiquiátrica grave, conhecida como ciúme patológico ou Síndrome de Otelo. Nessa condição, a pessoa desenvolve uma crença delirante e irremovível de que seu parceiro é infiel, mesmo sem qualquer evidência.
Essa crença não é abalada por provas ou argumentos lógicos. O indivíduo passa a viver em função de confirmar sua suspeita, buscando incessantemente por “provas”, interpretando eventos neutros como confirmações da traição e submetendo o parceiro a um controle e vigilância constantes.
Esse estado delirante pode ser um sintoma de transtornos psicóticos, como a esquizofrenia, ou de transtornos delirantes persistentes. A pessoa que sofre de ciúme patológico vive em um estado de angústia e tormento, e a violência pode surgir como uma tentativa desesperada de controlar o parceiro, forçar uma confissão ou, em seu ápice, eliminar o objeto de sua dor e a suposta fonte de sua humilhação.
Crimes passionais de extrema violência, que parecem ser irracionais, podem ter sua origem nesse tipo de delírio, onde a fronteira entre a realidade e a fantasia se fundem na mente da agressora.
As Mulheres que Chocaram o Brasil
A teoria científica deixa de ser apenas conceito quando ganha verdade nos casos que chocam o noticiário e marcam a memória criminal do país. Por trás de cada crime há um universo próprio — feito de dor, cálculo e transgressão — onde temos a frieza do planejamento e a complexidade da mente humana.
Suzane von Richthofen: A Filha que Planejou a Morte dos Pais
O nome Suzane von Richthofen tornou-se, no Brasil, um sinônimo para a traição filial em sua forma mais extrema. Em 31 de outubro de 2002, a jovem loira de classe média alta, então com 18 anos, abriu as portas da mansão da família no Brooklin, em São Paulo, para que seu namorado, Daniel Cravinhos, e o irmão dele, Christian, entrassem e assassinassem seus pais, Manfred e Marísia von Richthofen, a golpes de barras de ferro enquanto dormiam.
O motivo, segundo a acusação, era torpe: a desaprovação dos pais ao namoro e o desejo de se apossar da herança avaliada em milhões. O que se seguiu foi uma tentativa canhestra de simular um latrocínio, que rapidamente ruiu sob o peso das contradições e da frieza demonstrada por Suzane durante o velório e a investigação.
A análise psicológica e psiquiátrica do caso é um dos pilares para a compreensão de um ato tão antinatural. Os laudos periciais realizados na época do julgamento pintaram o retrato de uma jovem com inteligência acima da média, mas com uma notável imaturidade emocional e, mais importante, com traços de personalidade narcisista e psicopática.
Especialistas que a avaliaram descreveram uma pessoa egocêntrica, dissimulada, com grande poder de manipulação e, crucialmente, com uma aparente incapacidade de sentir culpa ou remorso genuíno.
A forma como ela planejou o crime, sua participação ativa na elaboração do álibi e seu comportamento distante após as mortes são consistentes com um perfil psicopático, onde os outros são vistos como meros objetos ou obstáculos para a satisfação de seus próprios desejos.
Do ponto de vista da neurociência, embora não tenhamos um exame de imagem do cérebro de Suzane, podemos especular com base no conhecimento sobre a psicopatia. Um cérebro com tais características frequentemente exibe um córtex pré-frontal com funcionamento deficiente, o que compromete o julgamento moral e a capacidade de ponderar as consequências a longo prazo.
A decisão de matar os próprios pais por dinheiro, ignorando o laço afetivo fundamental, sugere uma falha grave nesse centro executivo. Adicionalmente, a ausência de uma resposta emocional compatível com a brutalidade do ato aponta para uma amígdala hiporreativa. Em um cérebro típico, a simples ideia de tal violência geraria uma intensa resposta de medo e angústia. Em uma mente com traços psicopáticos, essa resposta pode ser mínima ou inexistente, permitindo o planejamento e a execução de atos terríveis com uma calma perturbadora.
Elize Matsunaga: Da Traição ao Esquartejamento
O caso de Elize Matsunaga, ocorrido em maio de 2012, introduziu um nível de brutalidade que chocou até mesmo os mais acostumados com a crônica policial. Após uma discussão acalorada motivada pela descoberta de uma traição, Elize, então com 30 anos, atirou na cabeça de seu marido, o empresário Marcos Kitano Matsunaga, herdeiro do império alimentício Yoki.
O que se seguiu foi ainda mais macabro: nas horas seguintes, ela esquartejou o corpo do marido com uma faca, acondicionou as partes em malas e as espalhou por diferentes pontos da Grande São Paulo. Durante o julgamento, sua defesa argumentou que ela agiu sob violenta emoção, após anos de humilhações e abusos psicológicos por parte do marido.
O perfil psicológico de Elize contrasta com a frieza calculista de Suzane. Aqui, o debate se concentra na possibilidade de um crime passional, uma explosão de violência desencadeada por um gatilho emocional extremo. A defesa de Elize explorou a tese de que ela era uma vítima de um relacionamento abusivo, o que poderia ter gerado um quadro de estresse pós-traumático complexo (C-PTSD).
Diferente do estresse pós-traumático clássico, o C-PTSD resulta de uma exposição prolongada e repetida ao trauma, como em um relacionamento abusivo, e pode levar a dificuldades severas de regulação emocional. Nesse cenário, a confirmação da traição teria sido a gota d’água, o estímulo que fez transbordar um reservatório de raiva e humilhação acumulada.
Sob a ótica da neurociência, o ato de Elize pode ser interpretado como um exemplo clássico de “sequestro da amígdala”. Este termo descreve um fenômeno no qual, diante de uma ameaça percebida como existencial, a amígdala dispara uma resposta emocional tão intensa e rápida que efetivamente “desliga” o córtex pré-frontal.
O cérebro racional, responsável pelo controle e pela análise, é colocado em segundo plano, e o cérebro emocional e primitivo assume o comando total. A pessoa age em um estado de fúria ou pânico, sem capacidade de ponderar suas ações. O tiro, nesse contexto, seria o resultado dessa explosão. O esquartejamento posterior, no entanto, adiciona uma camada de complexidade, pois exige um certo nível de planejamento e frieza para ser executado, o que levou a promotoria a argumentar que o crime não foi puramente impulsivo.
A Fera da Penha: O Caso Neyde Lopes
Viajando de volta aos anos 60, encontramos um dos casos mais emblemáticos da crônica policial brasileira, que rendeu a sua protagonista o epíteto de “A Fera da Penha”. Neyde Maria Maia Lopes era amante de um comerciante e, ao perceber que ele não abandonaria sua família para ficar com ela, planejou uma vingança de crueldade ímpar.
Em junho de 1960, ela sequestrou a filha de seu amante, a pequena Tânia, de apenas quatro anos. Levou a criança para um local ermo, atirou nela e, em seguida, ateou fogo ao corpo. O crime, motivado puramente por um sentimento de rejeição e vingança, chocou a sociedade da época por sua frieza e pela escolha de uma vítima tão indefesa.
A análise psiquiátrica do caso de Neyde Lopes aponta para a manifestação extrema de um crime passional. O sentimento de abandono e a ferida narcísica causada pela rejeição do amante teriam gerado um ódio avassalador. Incapaz de direcionar essa raiva contra o próprio amante, ela a deslocou para o que ele tinha de mais precioso: sua filha.
Esse mecanismo psicológico de deslocamento é comum, mas raramente atinge um nível tão destrutivo. A criança tornou-se um símbolo da família que Neyde não poderia ter, e sua eliminação foi a forma patológica que ela encontrou para destruir a felicidade de seu algoz. Na época, a psicologia forense e a psiquiatria ainda eram incipientes no sistema de justiça brasileiro, e o caso foi tratado muito mais sob o prisma da monstruosidade moral do que da patologia mental.
Outras Faces da Violência: Deise dos Anjos e Lili Carabina
Dois casos mais recentes, embora distintos, ilustram a variedade de perfis da criminalidade feminina. O caso de Deise Moura dos Anjos, a “Envenenadora do Bolo”, ocorrido em 2024, resgata o método mais classicamente associado às mulheres assassinas. O uso de arsênico para envenenar familiares do marido é um ato que dispensa a força física e o confronto direto. Psicologicamente, o envenenamento é um crime que permite uma distância emocional e física da violência.
É um ato controlado, premeditado e que pode ser dissimulado, características que o tornam uma escolha para quem deseja matar sem se expor ao caos e à imprevisibilidade de um confronto físico. A motivação, neste caso, parece estar ligada a conflitos familiares, mas o método escolhido revela um perfil de agressão contida e planejada.
Em total contraste, temos a figura de Djanira Ramos Suzano, a lendária “Lili Carabina”. Atuando nas décadas de 70 e 80, Lili não foi uma assassina doméstica. Ela se tornou uma criminosa profissional, especializada em assaltos a bancos. Sua história no crime começou com uma vingança pela morte de um companheiro, mas rapidamente evoluiu para um estilo de vida. Usando perucas loiras e uma pistola 9mm, ela seduzia guardas enquanto seus comparsas agiam.
Lili Carabina quebrou o estereótipo da mulher que mata por amor ou desespero. Ela adotou a violência e a transgressão como ferramentas de trabalho, inserindo-se em um universo tipicamente masculino e se tornando um ícone da mulher que não apenas comete um crime, mas que vive do crime. Seu caso demonstra que os padrões de criminalidade feminina são diversos e que algumas mulheres podem, sim, adotar os mesmos papéis e motivações de seus correspondentes masculinos.
Papel da Mídia
Nenhum crime ocorre em um vácuo. Os atos individuais, por mais pessoais que pareçam suas motivações, estão inseridos em um contexto social que os molda, os interpreta e, por vezes, os espetaculariza. A análise da criminalidade feminina no Brasil seria incompleta sem examinar o papel da sociedade e da mídia na construção e na percepção dessas figuras.
O Espetáculo do Crime
Os casos de mulheres assassinas, especialmente aqueles que envolvem classe social elevada, paixão e brutalidade, são um prato cheio para a mídia. A cobertura jornalística intensiva, os programas policiais, os canais de true crime e as séries documentais transformam criminosas em verdadeiras celebridades macabras.
Nomes como Suzane von Richthofen e Elize Matsunaga tornaram-se marcas conhecidas em todo o território nacional estimulando assim outras agirem da mesma forma, buscando o mesmo “reconhecimento”. Essa espetacularização do crime, no entanto, tem um efeito duplo. Por um lado, informa o público e gera debate sobre a segurança e a justiça. Por outro, frequentemente descamba para o sensacionalismo, focando nos detalhes mais chocantes e construindo narrativas simplificadas de “monstros” e “vítimas”.
Essa abordagem midiática tende a ignorar as complexidades psicológicas e os fatores sociais que contribuem para o crime, preferindo o drama e o choque que garantem a audiência. A consequência é a formação de uma opinião pública que julga e condena com base em recortes e estereótipos, muitas vezes antes mesmo do veredito judicial.
A pressão da mídia pode, inclusive, influenciar o próprio sistema de justiça, criando um ambiente onde a serenidade necessária para um julgamento justo é comprometida. A figura da mulher assassina é, assim, duplamente construída: pelo seu ato e pela narrativa que a mídia tece ao seu redor.
Violência contra a mulher e Criminalidade Feminina
É impossível discutir a violência perpetrada por mulheres sem olhar para a violência sofrida por elas. O Brasil é um dos países com os mais altos índices de violência contra a mulher no mundo. Dados alarmantes mostram que a violência contra a mulher é endêmica, com milhares de feminicídios registrados anualmente.
Além disso, o encarceramento feminino tem crescido exponencialmente, embora a maioria das mulheres presas esteja envolvida com crimes não-violentos, principalmente o tráfico de drogas, muitas vezes em posições subalternas e por influência de parceiros.
Este cenário de violência sistêmica cria uma relação complexa. É fundamental afirmar que ser vítima de violência não justifica, em hipótese alguma, a prática de um crime. Contudo, não falar sobre esse contexto é ignorar uma das causas.
Como aponta a neurociência, o trauma e o abuso crônico podem deixar marcas indeléveis no cérebro, predispondo a comportamentos violentos. O sistema de justiça, historicamente patriarcal, por muito tempo tratou a mulher apenas sob o prisma da domesticidade e da passividade. Quando uma mulher rompe esse papel e se torna a agressora, ela desafia as estruturas e é frequentemente julgada com um peso diferente, como uma aberração da natureza feminina.
A Mente Criminosa Feminina
A neurociência sugere que predisposições biológicas, como um desequilíbrio no circuito de controle emocional entre o córtex pré-frontal e a amígdala, ou uma química cerebral alterada pela genética ou pelo trauma, podem criar uma vulnerabilidade.
A psicologia e a psiquiatria nos mostram como essa vulnerabilidade pode causar transtornos de personalidade devastadores, como a frieza manipuladora da psicopatia ou o caos emocional do transtorno borderline, ou ainda em delírios que rompem o contato com a realidade.
A sociologia, por fim, prova que nenhum indivíduo é uma ilha, e que um contexto de violência de gênero, desigualdade social e a espetacularização pela mídia contribuem para o cenário onde essas tragédias se desenrolam.
A violência feminina, portanto, é o resultado da interação entre a biologia e a biografia, entre a mente e o meio. Estudar esses casos é importante para compreender os mecanismos da violência e identificar os sinais de risco. É um caminho para aprimorar as estratégias de prevenção, para oferecer intervenções mais eficazes a mulheres em situação de vulnerabilidade ou com transtornos mentais, e para construir uma sociedade que seja menos violenta para todos.
Tabela Comparativa dos Casos Analisados
Nome | Ano | Vítima(s) | Método | Motivação Principal | Perfil Psicológico Sugerido |
---|---|---|---|---|---|
Neyde Lopes (Fera da Penha) | 1960 | Filha do amante (4 anos) | Tiro e incineração | Vingança por rejeição | Crime passional com deslocamento da raiva |
Suzane von Richthofen | 2002 | Pais | Pauladas (executado por terceiros) | Financeira/herança | Traços psicopáticos e narcisistas |
Anna Carolina Jatobá | 2008 | Enteada (5 anos) | Defenestração | Conflito familiar | Possível transtorno de personalidade |
Elize Matsunaga | 2012 | Marido | Tiro e esquartejamento | Traição/conflito conjugal | Possível C-PTSD com explosão violenta |
Graciele Ugulini | 2014 | Enteado (11 anos) | Superdosagem de sedativo | Conflito familiar | Análise psiquiátrica inconclusiva |
Alexandra Dougokenski | 2020 | Filho | Superdosagem de medicamento | Conflito familiar | Possível transtorno mental não especificado |
Deise dos Anjos | 2024 | Familiares do marido | Envenenamento por arsênio | Desconhecida/conflito familiar | Perfil clássico de envenenadora |
Lili Carabina | 1970-80 | Múltiplas (assaltos) | Arma de fogo | Profissional/financeira | Criminosa profissional atípica |
Referências
[1] Brewer-Smyth, K., & Burgess, A. W. (2021). Neurobiology of Female Homicide Perpetrators. Journal of Interpersonal Violence, 36(19-20), 8915-8938. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31328682/ [2] “Assassinas made in Brazil: relembre mulheres que ficaram famosas por matar”. DarkSide Blog, 2023. Disponível em: https://darkside.blog.br/assassinas-made-in-brazil-relembre-mulheres-que-ficaram-famosas-por-matar/ [3] “O que se sabe sobre a morte de Deise Moura dos Anjos, suspeita de envenenar familiares do marido, em penitenciária do RS”. BBC News Brasil, 2025. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cg45704enpqo [4] “Lili Carabina”. Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lili_Carabina [5] Araújo, E. S. (2018). “Um histórico sobre a criminalidade feminina revelada”. Jusbrasil. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/um-historico-sobre-a-criminalidade-feminina-revelada/589535438 [6] “A Neurociência nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher”. Ponto na Curva, 2024. Disponível em: https://www.pontonacurva.com.br/opiniao/a-neurociencia-nos-casos-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher/21981 [7] “Comportamento violento e gênero: existem diferenças neurobiológicas?”. Revista RDP, 2025. Disponível em: https://revistardp.org.br/revista/article/view/1463 [8] “Diferenças entre o cérebro feminino e masculino confirmadas pela ciência”. Blog Fernando Gomes, 2020. Disponível em: https://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/03/06/diferencas-entre-o-cerebro-feminino-e-masculino-confirmadas-pela-ciencia/ [9] “População feminina carcerária cresceu 567% em 14 anos; estudo mostra outros dados alarmantes”. Confederação Nacional de Municípios. Disponível em: https://cnm.org.br/comunicacao/noticias/populacao-feminina-carceraria-cresceu-567-em-14-anos-estudo-mostra-outros-dados-alarmantes [10] “Brasil tem dez mulheres assassinadas por dia, segundo Atlas da Violência”. CNN Brasil, 2025. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/brasil/brasil-tem-dez-mulheres-assassinadas-por-dia-segundo-atlas-da-violencia/o que leva uma mulher a matar, neurociência da violência feminina no Brasil, amígdala e córtex pré-frontal na agressão, baixos níveis de cortisol em homicidas mulheres, serotonina baixa e impulsividade agressiva, trauma na infância e violência na vida adulta, consequências neurológicas do abuso sexual infantil, lesão cerebral traumática e comportamento violento,
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