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28 – Narcisista vs. Megalomaníaco

Narcisista vs. Megalomaníaco - Embora ambos evoquem imagens de uma autoimportância inflada, as suas raízes, manifestações e implicações para o indivíduo e a sociedade são profundamente diferentes. A distinção não é mero preciosismo acadêmico; ela é fundamental para a compreensão da psique humana e para o correto diagnóstico e tratamento de condições que podem causar sofrimento imenso.

Narcisista vs. Megalomaníaco – Na era da autoexposição digital e da construção meticulosa de personas online, os termos “narcisista” e “megalomaníaco” foram catapultados do jargão clínico para o vocabulário cotidiano. São usados com frequência para descrever desde celebridades e líderes políticos até colegas de trabalho e ex-parceiros. No entanto, essa popularização veio acompanhada de uma simplificação perigosa, que dilui e confunde dois construtos psicológicos distintos e complexos.

Embora ambos evoquem imagens de uma autoimportância inflada, as suas raízes, manifestações e implicações para o indivíduo e a sociedade são profundamente diferentes. A distinção não é mero preciosismo acadêmico; ela é fundamental para a compreensão da psique humana e para o correto diagnóstico e tratamento de condições que podem causar sofrimento imenso.

O narcisista, em sua essência clínica, busca incessantemente um espelho que reflita uma imagem grandiosa de si mesmo, uma imagem que ele desesperadamente precisa que os outros validem para sustentar uma autoestima internamente frágil. Ele precisa de uma audiência.

O megalomaníaco, por outro lado, vive imerso em uma realidade própria, na qual sua grandeza e poder são fatos incontestáveis, delírios que não requerem a aprovação de meros mortais. Ele é a própria audiência.

Ao entender o que acontece no cérebro de um narcisista e como os delírios de grandeza se formam, podemos traçar uma linha mais clara entre o narcisismo e a megalomania.


Narcisismo

O conceito de narcisismo está intrinsecamente ligado à mitologia grega, especificamente ao mito de Narciso, um jovem de beleza estonteante que, ao rejeitar o amor de todos, foi amaldiçoado a se apaixonar pela sua própria imagem refletida na água. Incapaz de consumar seu amor ou de desviar o olhar de si mesmo, ele definha e morre, deixando para trás uma flor que leva seu nome.

Essa lenda captura a essência do narcisismo: um amor por si mesmo que é, ao mesmo tempo, grandioso e trágico, isolador e autodestrutivo.

Definição Psicológica e Psiquiátrica

No campo da saúde mental, o narcisismo transcende a simples vaidade ou o egoísmo. Ele é formalizado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) como Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN).

O TPN é classificado como um transtorno de personalidade do Cluster B, um grupo que inclui também os transtornos de personalidade borderline, histriônico e antissocial, caracterizados por comportamentos dramáticos, excessivamente emotivos ou imprevisíveis.

De acordo com o DSM-5, o TPN é um “padrão difuso de grandiosidade (em fantasia ou comportamento), necessidade de admiração e falta de empatia que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos”. Para que o diagnóstico seja feito, o indivíduo deve exibir cinco ou mais dos seguintes critérios:

  • Senso grandioso da própria importância: Exagera conquistas e talentos, espera ser reconhecido como superior sem realizações proporcionais.
  • Preocupação com fantasias de sucesso ilimitado, poder, brilho, beleza ou amor ideal.
  • Crença de ser “especial” e único: Acredita que só pode ser compreendido por, ou associar-se a, outras pessoas (ou instituições) especiais ou de condição elevada.
  • Exigência de admiração excessiva.
  • Senso de “direito” (entitlement): Expectativas irracionais de tratamento especialmente favorável ou de compliance automático com suas expectativas.
  • Explorador em relacionamentos interpessoais: Tira vantagem de outros para atingir seus próprios fins.
  • Falta de empatia: Reluta em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e as necessidades dos outros.
  • Inveja dos outros ou crença de que os outros o invejam.
  • Comportamentos e atitudes arrogantes e insolentes.

É crucial entender que o narcisismo existe em um espectro. Traços narcisistas podem estar presentes em indivíduos saudáveis e funcionais. O transtorno de personalidade só é diagnosticado quando esses traços são inflexíveis, mal-adaptativos e persistentes, causando sofrimento subjetivo significativo ou prejuízo funcional na vida do indivíduo.

Além disso, a literatura clínica contemporânea reconhece duas apresentações principais do narcisismo. O narcisista grandioso ou manifesto (overt) é o tipo mais classicamente associado ao TPN: extrovertido, arrogante, com um senso de direito explícito e uma busca incessante por atenção.

Por outro lado, o narcisista vulnerável ou encoberto (covert) apresenta uma fachada de modéstia, hipersensibilidade à crítica e ansiedade social, enquanto internamente nutre as mesmas fantasias de grandiosidade e senso de direito. Sua vulnerabilidade reside na discrepância dolorosa entre suas expectativas grandiosas e a realidade, levando a sentimentos de vergonha e humilhação.

O Narcisista E A Psicanálise

As teorias psicodinâmicas, que se originaram com Freud e foram desenvolvidas por teóricos como Otto Kernberg e Heinz Kohut, explicam a estrutura interna do indivíduo com TPN. Longe de ser um reflexo de um amor-próprio genuíno e robusto, a grandiosidade narcisista é vista como uma defesa compensatória contra uma autoestima extremamente frágil e sentimentos subjacentes de inferioridade, vazio e vergonha.

O “self” grandioso é uma construção precária, que precisa ser constantemente inflada pela admiração externa, como um balão com um furo. Para proteger essa frágil estrutura, o narcisista emprega uma série de mecanismos de defesa.

A idealização e desvalorização são centrais: pessoas e relacionamentos são inicialmente idealizados e colocados em um pedestal, vistos como perfeitos e como uma fonte de suprimento narcísico. No entanto, ao primeiro sinal de falha, imperfeição ou discordância, eles são rapidamente desvalorizados e descartados, pois não servem mais para espelhar a perfeição que o narcisista exige.

Outro mecanismo é a projeção, onde o narcisista atribui seus próprios sentimentos inaceitáveis de inadequação e raiva aos outros.

O impacto nos relacionamentos é devastador. A incapacidade de sentir empatia genuína transforma os outros em meros objetos, instrumentos para a regulação da autoestima. Os relacionamentos são superficiais e transacionais.

O narcisista pode ser charmoso e cativante no início, mas a sua falta de reciprocidade, seu senso de direito e sua tendência a explorar os outros inevitavelmente levam a conflitos, decepção e solidão. No trabalho, embora possam alcançar posições de poder devido à sua ambição e autoconfiança, sua dificuldade em colaborar, sua sensibilidade à crítica e sua tendência a culpar os outros por seus fracassos podem sabotar seu sucesso a longo prazo.


Megalomania – A Sede Pelo Poder

Se o narcisismo é um espelho, a megalomania é um trono. O termo, derivado do grego “megalo” (grande) e “mania” (obsessão), descreve uma condição mental caracterizada por uma crença delirante na própria grandeza, poder, onipotência ou importância.

Definição e Contexto Clínico

Ao contrário do Transtorno de Personalidade Narcisista, a megalomania não é um diagnóstico de transtorno de personalidade independente no DSM-5. Em vez disso, ela é considerada um tipo específico de delírio de grandeza, que é um sintoma de outros transtornos mentais graves.

Um delírio é definido como uma crença falsa e fixa, mantida com forte convicção apesar de evidências irrefutáveis em contrário, e que não é partilhada por outros membros da cultura ou subcultura do indivíduo.

Essa é a distinção psiquiátrica mais crucial entre a grandiosidade narcisista e a megalomania. A grandiosidade do narcisista, embora exagerada e distorcida, ainda mantém algum contato com a realidade.

Ele pode acreditar que é o melhor funcionário da empresa, mas não acredita que é o CEO se não o for. Ele pode se sentir superior, mas não acredita que pode voar. A sua grandiosidade é uma superestimação de capacidades reais ou potenciais.

O delírio megalomaníaco, por outro lado, representa uma ruptura com o teste de realidade. A crença não é apenas uma exageração, mas uma construção bizarra e idiossincrática.

A megalomania é mais comumente associada aos seguintes quadros clínicos:

  • Transtorno Bipolar Tipo I: Particularmente durante os episódios de mania, um indivíduo pode desenvolver delírios de grandeza. Ele pode acreditar que tem uma missão divina, que possui talentos extraordinários que nunca demonstrou, ou que tem uma relação especial com figuras famosas.

  • Transtornos do Espectro da Esquizofrenia: A esquizofrenia, especialmente o subtipo paranoide, pode envolver delírios de grandeza complexos e sistematizados. O indivíduo pode acreditar que é uma figura histórica reencarnada, um profeta, ou que inventou uma tecnologia revolucionária que mudará o mundo.

  • Transtorno Delirante, Tipo Grandioso: Neste transtorno, o sintoma principal é a presença de um ou mais delírios por pelo menos um mês, sem que os outros critérios para esquizofrenia sejam atendidos. O delírio é tipicamente não-bizarro (ou seja, teoricamente possível, mas altamente improvável) e o funcionamento, fora do impacto do delírio, não é marcadamente prejudicado.
  • Transtorno de Personalidade Narcisista Grave: Em casos muito severos de TPN, especialmente sob estresse, a grandiosidade pode atingir proporções quase delirantes ou francamente delirantes, borrando a fronteira entre o transtorno de personalidade e a psicose.

O Delírio de Grandeza

Os delírios megalomaníacos podem assumir várias formas. Um paciente pode acreditar que é um bilionário, mesmo vivendo na pobreza. Outro pode acreditar que escreveu todas as sinfonias de Beethoven. Um terceiro pode acreditar que tem o poder de controlar o clima.

A característica unificadora é a convicção inabalável. Argumentar ou apresentar evidências em contrário é inútil e pode até mesmo levar o indivíduíduo a incorporar o interlocutor em seu sistema delirante (por exemplo, “Você está dizendo isso porque faz parte da conspiração para esconder meus poderes”).

O perigo da megalomania reside precisamente nessa desconexão com a realidade. Um narcisista pode tomar decisões de negócios arriscadas por excesso de confiança, mas um indivíduo com delírios megalomaníacos pode doar todas as suas economias porque acredita que receberá uma fortuna de uma fonte divina no dia seguinte.

A grandiosidade narcisista leva a comportamentos interpessoais problemáticos; a grandiosidade delirante pode levar a comportamentos que colocam em risco a própria vida, a segurança financeira e o bem-estar do indivíduo e de sua família.

O Cérebro Do Megalomaníaco

Por décadas, a compreensão de transtornos como o narcisismo e de sintomas como a megalomania esteve confinada aos domínios da psicologia e da psiquiatria descritiva. No entanto, com o avanço das tecnologias de neuroimagem, como a ressonância magnética funcional (fMRI) e estrutural (MRI), a neurociência começou a mostrar os correlatos neurais desses comportamentos complexos, oferecendo uma nova camada de análise.

Mapeando o Cérebro Narcisista

A pesquisa neurocientífica sobre o TPN ainda é um campo emergente, mas os achados iniciais são consistentes e apontam para alterações em redes cerebrais cruciais para a autoavaliação, a empatia e a regulação emocional.

Um estudo seminal publicado na revista Scientific Reports por Nenadić e colegas em 2021, por exemplo, encontrou correlações significativas entre traços narcisistas e o volume de substância cinzenta em várias áreas cerebrais. As principais estruturas implicadas são:

  • O Córtex Pré-frontal (CPF): Esta vasta região na frente do cérebro é o centro executivo, responsável pelo planejamento, tomada de decisões, personalidade e autoconsciência. No narcisismo, várias sub-regiões parecem estar alteradas.

    O córtex pré-frontal medial (CPFm), envolvido no pensamento autorreferencial (pensar sobre si mesmo), e o córtex orbitofrontal, crucial para a tomada de decisões baseada em recompensas e punições, mostram variações estruturais e funcionais. Essas alterações podem explicar a ruminação excessiva sobre si mesmo e a dificuldade em aprender com os erros sociais.

  • A Ínsula: O córtex insular, localizado profundamente no cérebro, é um centro vital para a interocepção (a percepção do estado interno do corpo) e para a experiência da empatia, especialmente a empatia afetiva (sentir o que o outro sente).

    Vários estudos encontraram uma redução no volume de substância cinzenta na ínsula anterior direita em indivíduos com TPN. Esta descoberta fornece um substrato neural convincente para a característica clínica mais marcante do narcisismo: a profunda e desconcertante falta de empatia.

  • O Sistema de Recompensa: O cérebro narcisista parece ser hipersensível à recompensa social da admiração. Quando um narcisista recebe elogios ou atenção, seu sistema de recompensa, incluindo a área tegmental ventral (ATV) e o núcleo accumbens, é ativado de forma robusta, liberando o neurotransmissor dopamina.

    Isso cria uma sensação de prazer e euforia, reforçando o comportamento de busca por atenção. Esse mecanismo é semelhante ao que ocorre no vício em substâncias, sugerindo que o narcisista é, em um sentido neural, viciado em admiração.

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A Neurobiologia do Delírio Megalomaníaco

A neurociência da megalomania é, por natureza, a neurociência dos transtornos psicóticos nos quais ela aparece. A formação de delírios é um dos tópicos mais complexos e intensamente pesquisados em psiquiatria. Embora um modelo unificado ainda não exista, a teoria mais proeminente é a do processamento aberrante de saliência, impulsionada por uma desregulação do sistema dopaminérgico.

Neste modelo, a dopamina não apenas codifica a recompensa, mas também a “saliência” – o grau em que um estímulo se destaca de seu fundo e exige atenção. Em estados psicóticos, como a mania ou a esquizofrenia, acredita-se que haja uma liberação excessiva e caótica de dopamina no cérebro, especialmente em uma região chamada estriado.

Isso faz com que eventos e pensamentos aleatórios e irrelevantes sejam percebidos como extremamente salientes e significativos. O cérebro, em sua busca por dar sentido a essas experiências anômalas, constrói uma narrativa delirante para explicá-las.

Por exemplo, um indivíduo em um estado maníaco pode ver um anúncio de carro de luxo na TV (um evento neutro). Devido à saliência aberrante, seu cérebro interpreta isso como uma mensagem pessoal e profundamente significativa. Ele pode então começar a construir a crença de que é o herdeiro secreto de uma fortuna e que o anúncio foi um sinal.

Essa crença – o delírio megalomaníaco – serve como uma explicação para a experiência interna de significado avassalador. O delírio, uma vez formado, é mantido por vieses cognitivos, como o viés de confirmação (buscar apenas informações que confirmem a crença) e a incapacidade de atualizar crenças com base em novas evidências, um processo que envolve disfunções no córtex pré-frontal.


Narcisista vs. Megalomaníaco

As principais diferenças entre o Transtorno de Personalidade Narcisista e a Megalomania (como sintoma psicótico).

Característica Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN) Megalomania (Delírio de Grandeza)
Natureza Transtorno de personalidade; um padrão de comportamento pervasivo e inflexível. Sintoma de um transtorno psicótico (ex: Transtorno Bipolar, Esquizofrenia).
Relação com a Realidade A grandiosidade é uma distorção ou exagero da realidade; o teste de realidade está em grande parte intacto. A grandiosidade é delirante; representa uma ruptura com o teste de realidade.
Conteúdo da Grandiosidade Foco em ser superior, especial, único, merecedor de admiração (ex: “Sou o melhor advogado da cidade”). Crenças bizarras ou factualmente impossíveis sobre poder, identidade ou habilidades (ex: “Eu sou a reencarnação de Napoleão”).
Necessidade de Validação Dependência crucial da admiração e validação externa para sustentar a autoestima. A crença é autossuficiente e mantida com convicção interna, independentemente da opinião dos outros.
Empatia Gravemente prejudicada ou ausente. Pode ou não estar prejudicada, dependendo do transtorno subjacente, mas o foco está no delírio.
Base Neurobiológica Alterações estruturais e funcionais no córtex pré-frontal, ínsula e sistema de recompensa. Desregulação do sistema dopaminérgico, levando ao processamento aberrante de saliência.
Tratamento Primário Psicoterapia de longo prazo (ex: Terapia Focada na Transferência, Terapia do Esquema). Medicação antipsicótica para controlar os sintomas psicóticos, combinada com psicoterapia.
Consciência do Problema (Insight) Geralmente baixo; o indivíduo raramente percebe seu comportamento como problemático. Praticamente ausente em relação ao delírio; o indivíduo não reconhece sua crença como falsa.

Implicações, Tratamento e Prognóstico

A distinção entre narcisismo e megalomania não é apenas teórica; ela tem implicações profundas para a abordagem terapêutica e o prognóstico de cada condição.

Tratando o Narcisista

O tratamento do Transtorno de Personalidade Narcisista é notoriamente desafiador. Indivíduos com TPN raramente procuram terapia por conta própria, a menos que estejam enfrentando uma crise, como um divórcio, a perda de um emprego, ou o desenvolvimento de uma condição comórbida como depressão ou ansiedade.

Sua relutância em admitir vulnerabilidade, sua desconfiança dos outros e sua tendência a desvalorizar o terapeuta criam barreiras formidáveis para a aliança terapêutica.

Não existem medicamentos aprovados especificamente para o TPN. O tratamento de escolha é a psicoterapia de longo prazo. Várias modalidades mostraram-se promissoras:

  • Terapia Focada na Transferência (TFP): Desenvolvida por Otto Kernberg, a TFP foca na relação entre o paciente e o terapeuta (a transferência) para explorar e corrigir as distorções nos relacionamentos do paciente.
  • Terapia do Esquema: Criada por Jeffrey Young, esta abordagem ajuda os pacientes a identificar e modificar “esquemas” mal-adaptativos precoces – padrões de pensamento e sentimento profundamente enraizados que se desenvolveram na infância.
  • Terapia Baseada na Mentalização (MBT): Esta terapia ajuda os pacientes a desenvolver a capacidade de “mentalizar”, ou seja, de compreender o comportamento de si e dos outros em termos de estados mentais (pensamentos, sentimentos, desejos).

O prognóstico para o TPN é variável. A melhora é geralmente lenta e requer um compromisso significativo do paciente. A pesquisa sugere que, embora a remissão completa seja rara, a terapia pode levar a melhorias significativas no funcionamento interpessoal, na regulação emocional e na redução de comportamentos autodestrutivos.

O sucesso muitas vezes depende da motivação do paciente e da habilidade do terapeuta em manejar a complexa dinâmica transferencial.

Tratando a Megalomania

O tratamento da megalomania é o tratamento do transtorno psicótico subjacente. A primeira linha de tratamento é farmacológica. Medicamentos antipsicóticos (como risperidona, olanzapina ou aripiprazol) são usados para reduzir a atividade dopaminérgica e, assim, atenuar ou eliminar os delírios. Em casos de mania bipolar, estabilizadores de humor (como lítio ou valproato) são a base do tratamento.

Uma vez que os sintomas psicóticos agudos estão sob controle, a psicoterapia desempenha um papel crucial. A Terapia Cognitivo-Comportamental para Psicose (TCCp) pode ajudar o paciente a desenvolver estratégias para lidar com as crenças delirantes residuais e a reduzir a convicção e o sofrimento associados a elas. A psicoeducação familiar é fundamental para ajudar os entes queridos a entender a doença e a apoiar o paciente em seu tratamento.

O prognóstico da megalomania depende inteiramente do prognóstico do transtorno primário. Com a adesão ao tratamento medicamentoso, os delírios de grandeza podem ser bem controlados. No entanto, a natureza crônica de transtornos como a esquizofrenia e o transtorno bipolar significa que o manejo contínuo é quase sempre necessário para prevenir recaídas.


Narcisismo vs Megalomania no Cotidiano

A crescente prevalência dos termos “narcisista” e “megalomaníaco” no discurso popular não é um fenômeno isolado. Ela reflete mudanças culturais mais amplas que podem, por um lado, fomentar traços narcisistas e, por outro, fornecer um palco maior para a expressão da grandiosidade, seja ela patológica ou não.

A Cultura do Narcisismo

O historiador e crítico social Christopher Lasch, em seu livro seminal de 1979:  “A Cultura do Narcisismo”, argumentou que a sociedade ocidental moderna estava se tornando cada vez mais narcisista. Ele descreveu uma cultura que valoriza a fama, a juventude, a beleza e o sucesso superficial em detrimento de valores comunitários, da substância e da autenticidade. Quase meio século depois, com o advento da internet e das redes sociais, a tese de Lasch parece profética.

As plataformas de mídia social, como Instagram, TikTok e X (antigo Twitter), funcionam como ecossistemas perfeitamente projetados para o cultivo de traços narcisistas. Elas oferecem ferramentas para a curadoria meticulosa de uma persona idealizada, um fluxo constante de validação na forma de “curtidas” e “seguidores”, e um palco global para a autoexposição.

A busca por engajamento pode levar a uma preocupação excessiva com a autoimagem, a uma comparação social constante e a uma necessidade de admiração que espelha as características centrais do TPN. Embora o uso de mídias sociais não cause TPN, ele pode exacerbar tendências narcisistas preexistentes e normalizar comportamentos que, em outros contextos, seriam vistos como excessivamente autocentrados.

Essa “cultura do selfie” cria um ambiente onde a linha entre a autopromoção saudável e a grandiosidade patológica se torna cada vez mais tênue. A pressão para se destacar em um mercado de trabalho competitivo e em um cenário social saturado pode incentivar a inflação de currículos, a construção de narrativas pessoais exageradas e a adoção de uma postura de autoconfiança que pode beirar a arrogância.

Nesse contexto, o narcisista grandioso pode ser confundido com um indivíduo ambicioso e bem-sucedido, enquanto o narcisista vulnerável pode se sentir ainda mais inadequado e ressentido diante da aparente perfeição dos outros.

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A Megalomania no Poder

Se o narcisismo encontra um terreno fértil na cultura das celebridades e das redes sociais, a megalomania encontra seu palco mais perigoso na arena do poder político e corporativo. A história está repleta de exemplos de líderes cujas ambições grandiosas e desconexão com a realidade levaram a consequências catastróficas.

Figuras como Nero, Calígula, ou líderes totalitários do século XX, exibiram comportamentos que, à luz da psiquiatria moderna, sugerem a presença de delírios megalomaníacos.

A busca pelo poder pode atrair indivíduos com traços narcisistas, que são atraídos pela promessa de admiração, status e controle. No entanto, o próprio exercício do poder pode ter um efeito corruptor sobre a psique.

O psicólogo Dacher Keltner, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, estudou o que ele chama de “paradoxo do poder”. Ele descobriu que as mesmas qualidades que ajudam as pessoas a alcançar o poder – como empatia, colaboração e generosidade – muitas vezes se erodem uma vez que o poder é obtido. O poder pode levar a um comportamento mais impulsivo, a uma menor percepção de risco e a uma diminuição da empatia pelos outros, criando um estado mental que se assemelha ao narcisismo adquirido.

Em casos extremos, quando um indivíduo com uma predisposição a transtornos psicóticos alcança uma posição de poder incontestável, o risco de a megalomania se manifestar plenamente é imenso. Cercado por bajuladores, isolado da crítica e com acesso a recursos quase ilimitados, suas crenças delirantes podem não encontrar resistência.

Ele pode começar a acreditar em sua própria infalibilidade, em sua missão histórica ou em seu direito de agir sem as restrições que se aplicam aos outros. As decisões tomadas a partir de uma base delirante – seja iniciar uma guerra, lançar projetos faraônicos ou perseguir inimigos imaginários – podem ter um impacto devastador em nações inteiras e no cenário mundial.


O Eu 

O narcisista constrói um eu grandioso, mas frágil, um castelo de cartas que depende do vento constante da admiração para não desmoronar. Sua tragédia é a busca incessante por um reflexo perfeito em um mundo imperfeito, uma busca que o deixa perpetuamente insatisfeito e sozinho.

A megalomania, por sua vez, representa a desintegração do eu, onde a fronteira entre a realidade e a fantasia se dissolve, e o indivíduo se torna o protagonista de um épico que só existe em sua mente. Sua tragédia é a perda de um mundo compartilhado.


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Referências
1.American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.).

2.Kacel, E. L., Ennis, N., & Pereira, D. B. (2017). Narcissistic Personality Disorder in Clinical Health Psychology Practice. Behavioral Medicine, 43(3), 156-164. https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC5819598/

3.Nenadić, I., Lorenz, C., & Gaser, C. (2021). Narcissistic personality traits and prefrontal brain structure. Scientific Reports, 11, 15707. https://www.nature.com/articles/s41598-021-94920-z

4.Stack Exchange. (2015). What is the difference between Megalomania and Narcissism?. Psychology & Neuroscience Stack Exchange. https://psychology.stackexchange.com/questions/8976/what-is-the-difference-between-megalomania-and-narcissism

5.ScienceDirect. (n.d.). Megalomania – an overview. ScienceDirect Topics.

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