Resenhas e Opinião

22- Número Desconhecido: Catfishing na Escola (NetFlix)

Número Desconhecido e Cyberbullying Familiar - O novo documentário da NetFlix mostra um caso real de cyberbullying e catfishing para revelar não apenas uma chocante traição familiar, mas também como mães narcisistas agem

Número Desconhecido e Cyberbullying Familiar – O catálogo da Netflix em 2025 trouxe à tona um documentário arrebatador dirigido por Skye Borgman, cineasta conhecida por mergulhar em histórias que exploram o lado mais sombrio das relações humanas.

Em Número Desconhecido: Catfishing na Escola, o espectador é conduzido por um enredo que, a princípio, parece uma narrativa típica de perseguição virtual, mas logo revela uma trama surpreendente, permeada de dor, choque e consequências devastadoras para todos os envolvidos.

A história real de Lauryn Licari, sua mãe Kendra Licari e o namorado da adolescente, Owen McKenny, revela como o cyberbullying, aliado às complexidades psicológicas e psiquiátricas, pode desestruturar vidas, provocar cicatrizes emocionais profundas e expor as vulnerabilidades da mente humana na era digital.


Número Desconhecido: O Caso Real que Chocou os Estados Unidos

Tudo começou em uma pequena comunidade escolar dos Estados Unidos, onde Lauryn, com apenas treze anos, começou a receber mensagens anônimas de um número desconhecido. A princípio, eram insultos e provocações que poderiam ser interpretadas como parte de um típico cenário de bullying juvenil. Porém, rapidamente a intensidade e a crueldade dessas mensagens escalaram para ameaças diretas e agressões verbais que buscavam minar sua autoestima, abalar sua percepção de realidade e induzi-la a sentimentos de desespero.

Owen, seu namorado, também passou a ser alvo, recebendo textos que instigavam insegurança, manipulação e uma tentativa clara de destruir a relação afetiva entre os dois. Por meses, o tormento continuou, sem que ninguém conseguisse identificar a origem das mensagens. A sensação de perseguição era tão opressora que os adolescentes começaram a desenvolver sintomas associados ao transtorno de estresse pós-traumático: hipervigilância, ansiedade exacerbada, dificuldade de concentração e crises de choro.

O caso só ganhou contornos mais graves quando a família procurou a polícia e, posteriormente, o FBI, que entrou na investigação após constatar que as mensagens tinham volume e sofisticação suficientes para configurar cyberstalking.

A investigação, liderada pelo xerife do condado de Isabella, Mike Main, inicialmente focou no círculo social dos adolescentes. Colegas de classe e amigos foram investigados, gerando um clima de desconfiança e paranoia na pequena comunidade de Beal City. Quando essa linha de investigação se esgotou, a polícia recorreu ao FBI para rastrear a origem das mensagens. A verdade, quando descoberta em dezembro de 2022, foi mais chocante do que qualquer um poderia ter imaginado. As mensagens vinham de Kendra Licari, a mãe de Lauryn.

O documentário de Borgman captura o momento da revelação, gravado pela câmera corporal do policial, quando Lauryn é informada de que sua própria mãe era a fonte de seu tormento. A motivação de Kendra, conforme explorado no filme, era complexa e perturbadora. O choque não residiu apenas no ato criminoso em si, mas na quebra de um dos vínculos mais sagrados na experiência humana – a relação entre mãe e filha.

Ela alegou que um trauma de seu próprio passado – um assalto que sofreu na idade de Lauryn – a deixou com um medo paralisante de ver sua filha crescer e se afastar. O cyberbullying, em sua mente distorcida, era uma tentativa de manter Lauryn “próxima”. Kendra se declarou culpada de duas acusações de perseguição de um menor e foi sentenciada a uma pena de 19 meses a 5 anos de prisão, sendo libertada em agosto de 2024.


Quando a Agressora é a Própria Mãe

O ato de Kendra Licari não foi apenas cyberbullying; foi também uma forma de catfishing, a criação de uma identidade falsa online para enganar alguém. Quando o catfishing ocorre dentro da família, as implicações psicológicas são ainda mais devastadoras. O agressor não é um estranho, mas a figura que deveria representar segurança e proteção incondicional.

Do ponto de vista psicológico, o caso abre uma janela perturbadora para refletir sobre a mente de um agressor que, paradoxalmente, deveria ocupar o papel de protetor. A figura materna, simbolicamente e biologicamente, representa a segurança primordial, a base de apego seguro que, segundo John Bowlby e Mary Ainsworth, é essencial para o desenvolvimento emocional saudável. Quando esse elo é rompido de forma violenta, como no caso de Lauryn, as consequências psíquicas se tornam ainda mais devastadoras.

A motivação de Kendra – o medo de perder a filha – aponta para uma ansiedade de separação patológica e uma necessidade de controle. Ao criar um “inimigo” externo, ela se posicionava como a protetora e confidente de Lauryn, fortalecendo a dependência da filha e mantendo-a “próxima”. Essa dinâmica é uma forma de abuso emocional insidioso, que alguns especialistas comparam a uma versão digital da Síndrome de Munchausen por procuração, onde um cuidador inventa ou induz doenças em alguém sob seus cuidados para ganhar atenção e simpatia. No caso de Kendra, ela criou um tormento digital para se tornar indispensável na vida da filha.

Kendra Licari não apenas rompeu com seu papel de cuidadora, como utilizou seus conhecimentos sobre a filha para potencializar os danos. A manipulação partiu de quem conhecia os medos, as vulnerabilidades e as inseguranças da vítima, tornando o catfishing ainda mais cruel. A psicologia aponta que esse tipo de comportamento pode estar relacionado a transtornos de personalidade, como o transtorno de personalidade narcisista ou o borderline, em que sentimentos de posse, dificuldade em lidar com frustrações e distorções cognitivas podem levar a atos de agressão psicológica contra pessoas próximas.

Para Lauryn, a experiência representou não apenas a dor do bullying, mas também a dilaceração de sua identidade emocional. Ao descobrir que sua mãe era a autora, ela precisou lidar com a dissonância cognitiva entre o amor filial e o ódio pela violência sofrida. Esse choque pode desencadear sintomas depressivos graves, crises de ansiedade, desconfiança generalizada e até risco de ideação suicida, como o documentário mostra ao explorar os bastidores da investigação.

A traição parental é uma das experiências psicologicamente mais prejudiciais. Ela destrói a base da segurança e do apego, que é fundamental para o desenvolvimento saudável. A criança ou adolescente aprende que o mundo não é seguro e que mesmo as pessoas que mais deveriam amá-la são capazes de uma crueldade inimaginável. Isso pode levar a dificuldades profundas na formação de relacionamentos íntimos e de confiança na vida adulta.

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Padrões de Comportamento – Número Desconhecido

Na esfera psiquiátrica, o caso de Kendra Licari levanta questões sobre até que ponto suas ações podem ser explicadas por patologias mentais. Embora apenas uma avaliação clínica pudesse fornecer um diagnóstico formal, especialistas apontam para possíveis transtornos associados à necessidade de controle, ao ciúme projetado e à ausência de empatia.

O transtorno de personalidade narcisista, por exemplo, poderia justificar a busca incessante por controle e a manipulação emocional da filha, enquanto um transtorno obsessivo-compulsivo de personalidade poderia explicar o planejamento meticuloso das mensagens. Há ainda a hipótese de transtornos depressivos mascarados, em que a agressão se torna um mecanismo disfuncional de descarga emocional.

Por outro lado, a psiquiatria também analisa as vítimas. Lauryn, submetida a meses de assédio, correu risco de desenvolver transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), caracterizado por flashbacks, insônia, fobias sociais e dificuldade em estabelecer novos vínculos de confiança. Owen, por sua vez, experimentou sintomas de ansiedade generalizada e sentimentos de impotência frente à situação.

As consequências psiquiátricas do cyberbullying são graves e bem documentadas. Um estudo abrangente publicado no Canadian Journal of Psychiatry em 2017 revela que as vítimas de cyberbullying relatam níveis mais altos de depressão, ansiedade, sofrimento emocional, ideação suicida e problemas de abuso de substâncias. O estudo também destaca que, em comparação com o bullying tradicional, os efeitos negativos do cyberbullying parecem ser piores.

Uma meta-análise citada no mesmo artigo descobriu que o cyberbullying estava mais fortemente associado à ideação suicida do que o bullying tradicional. Outro estudo com mais de 20 mil estudantes americanos descobriu que as vítimas de cyberbullying tinham 3,44 vezes mais probabilidade de tentar o suicídio do que seus pares não intimidados. Isso pode ser atribuído a várias características únicas do abuso online: a potencial audiência massiva, a permanência do conteúdo prejudicial e a possibilidade de anonimato do agressor, que cria uma sensação avassaladora de impotência e desesperança.


Cyberbullying familiar E O Número Desconhecido

Um dos pontos mais relevantes do documentário, e que merece destaque à luz da neurociência, é a forma como o cérebro adolescente responde ao estresse prolongado do cyberbullying. Diferentemente de adultos, os cérebros de adolescentes ainda estão em processo de maturação, especialmente no que diz respeito ao córtex pré-frontal, região responsável pelo julgamento, autocontrole e tomada de decisões.

Quando submetidos a estresse contínuo, como mensagens de assédio diárias, o cérebro ativa de forma recorrente o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, liberando cortisol em excesso. Essa exposição prolongada prejudica o hipocampo, comprometendo a memória, e a amígdala, que passa a reagir de forma hiperativa, aumentando a sensação de medo e vigilância.

Um estudo de 2020 publicado na Frontiers in Psychology sobre cyberbullying e neurobiologia adolescente destaca que este período é marcado por mudanças dinâmicas na matéria cinzenta e branca. A formação de sinapses atinge seu pico por volta dos 12 anos, seguida por uma “poda” sináptica, onde conexões neurais menos usadas são eliminadas para aumentar a eficiência do cérebro.

Simultaneamente, o sistema socioemocional, localizado em áreas subcorticais como a amígdala (centro do medo e da emoção), torna-se hipersensível, enquanto o córtex pré-frontal, responsável pelo controle de impulsos, tomada de decisões e regulação emocional, ainda está amadurecendo. Esse descompasso neurobiológico torna os adolescentes particularmente suscetíveis ao estresse social e à rejeição por parte de seus pares.

O cyberbullying ataca diretamente esse sistema neurológico vulnerável. Pesquisas mais recentes, como um artigo de 2025 também na Frontiers in Psychology, sugerem que o cyberbullying pode levar a alterações significativas na atividade neural em regiões associadas à empatia, processamento de recompensa, regulação emocional e pensamento autorreferencial. Usando ressonância magnética funcional (fMRI), os cientistas observaram que a exclusão social online ativa as mesmas áreas do cérebro que a dor física, como o córtex cingulado anterior. Para Lauryn, cada mensagem de ódio era, neurologicamente, um golpe físico.

Pesquisas indicam que adolescentes expostos a cyberbullying apresentam maior risco de desenvolver alterações estruturais no cérebro, incluindo redução da substância cinzenta em áreas ligadas à regulação emocional. Isso explica por que as vítimas desenvolvem quadros de depressão, ansiedade e, em casos extremos, ideação suicida.

O estudo de 2020 aponta para o desenvolvimento do “cérebro social” (que inclui o córtex pré-frontal, a junção temporoparietal e o sulco temporal superior) como crucial para a compreensão social. O cyberbullying perturba o desenvolvimento saudável dessas áreas, comprometendo a capacidade do adolescente de formar relacionamentos seguros e de regular suas emoções.

As vítimas, como Lauryn, frequentemente exibem baixa clareza emocional e recorrem a estratégias de regulação mal-adaptativas, como ruminação (pensar obsessivamente no evento traumático), autoculpa e evitação social. Essas estratégias, por sua vez, reforçam os circuitos neurais da ansiedade e da depressão.

No caso de Lauryn, o bombardeio de mensagens da própria mãe intensificou a sensação de confusão, já que o agressor era também sua principal referência afetiva. Essa contradição gerou sobrecarga emocional e neurológica, capaz de comprometer sua saúde mental de forma duradoura.

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Transtorno de Estresse Pós-Traumático e Cyberbullying

Pesquisas recentes têm estabelecido uma conexão forte entre cyberbullying e sintomas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Um estudo de 2025 publicado na BMC Public Health identificou uma relação positiva significativa entre sintomas de TEPT e experiências de cyberbullying. Surpreendentemente, formas aparentemente “menores” de cyberbullying, como exclusão de grupos de chat ou rejeição social online, foram associadas a sintomas traumáticos significativos em jovens.

O TEPT relacionado ao cyberbullying manifesta-se através de sintomas clássicos como flashbacks das mensagens ofensivas, pesadelos recorrentes, evitação de tecnologia ou redes sociais, hipervigilância em relação a notificações de mensagens e reações de sobressalto exageradas. Para adolescentes como Lauryn, que passaram meses recebendo mensagens diárias de ódio, o cérebro desenvolve uma resposta de alerta constante, mantendo o sistema nervoso simpático em estado de ativação crônica.

Sintomas Psicossomáticos e Manifestações Físicas

O impacto do cyberbullying transcende o domínio psicológico, manifestando-se em sintomas físicos tangíveis. Vítimas frequentemente relatam dores de cabeça persistentes, distúrbios gastrointestinais, perda de apetite e distúrbios significativos do sono. Estes sintomas psicossomáticos refletem a ativação crônica do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), o sistema de resposta ao estresse do corpo.

Quando o sistema HPA é cronicamente ativado, como ocorre em situações de cyberbullying prolongado, há uma liberação excessiva de cortisol, o hormônio do estresse. Níveis elevados de cortisol por períodos prolongados podem suprimir o sistema imunológico, interferir na digestão, afetar o crescimento e desenvolvimento em adolescentes, e alterar os padrões de sono. Estudos longitudinais demonstram que adolescentes vítimas de cyberbullying apresentam níveis de cortisol significativamente elevados mesmo meses após o término do abuso.


O Fenômeno da Revitimização Digital – Número Desconhecido

Um aspecto particularmente insidioso do cyberbullying é sua capacidade de revitimização contínua. Diferentemente do bullying tradicional, que geralmente ocorre em locais e horários específicos, o cyberbullying pode seguir a vítima para casa, invadindo espaços que tradicionalmente eram considerados seguros. Para Lauryn Licari, cada notificação de mensagem representava uma potencial nova agressão, criando um estado de ansiedade antecipatória constante.

A natureza persistente e invasiva do cyberbullying cria o que os psicólogos chamam de “trauma cumulativo”. Cada mensagem ofensiva adiciona uma nova camada de dano psicológico, construindo sobre traumas anteriores e intensificando o impacto geral. Este efeito cumulativo explica por que as consequências do cyberbullying frequentemente excedem aquelas do bullying tradicional em termos de severidade e duração.

No caso de Lauryn Licari, o trauma é agravado pelo fato de o agressor ser sua mãe. Isso a coloca em risco de desenvolver Transtorno de Estresse Pós-Traumático Complexo (C-PTSD), uma condição que surge de traumas prolongados e repetidos, especialmente quando infligidos por um cuidador. Os sintomas do C-PTSD incluem dificuldades com a regulação emocional, distúrbios na auto-percepção (sentimentos de vergonha, culpa e inutilidade) e dificuldades graves nos relacionamentos.

A experiência de Lauryn também pode ser descrita como uma “lesão moral”, um conceito que descreve o dano psicológico que ocorre quando as crenças e valores fundamentais de uma pessoa sobre o que é certo e errado são violados. A descoberta de que sua mãe era a fonte de seu tormento não apenas a traumatizou, mas também quebrou sua compreensão fundamental do amor, da família e da segurança.

Trauma Secundário e Testemunhas

Os colegas de classe de Lauryn, que foram inicialmente suspeitos na investigação, experimentaram o que os psicólogos chamam de “trauma secundário”. Eles foram submetidos a interrogatórios, tiveram suas reputações questionadas e vivenciaram a ansiedade de serem falsamente acusados. Este tipo de trauma secundário pode ter efeitos duradouros na saúde mental dos jovens, criando desconfiança em relação à autoridade e ansiedade social.

O namorado de Lauryn, Owen, também foi vítima direta das mensagens de cyberbullying, experimentando muitos dos mesmos sintomas traumáticos. Sua experiência destaca como o cyberbullying frequentemente tem múltiplas vítimas, criando círculos concêntricos de dano psicológico que se estendem além do alvo principal.


As Consequências Legais e Sociais

Kendra Licari foi presa em 2022, acusada de perseguição e uso criminoso de dispositivos eletrônicos. O caso, além de chamar atenção pela bizarrice da descoberta, também expôs falhas no monitoramento de casos de bullying em escolas e famílias. Como uma mãe conseguiu sustentar meses de assédio sem levantar suspeitas imediatas?

O processo judicial serviu como alerta para pais, educadores e autoridades. A necessidade de criar protocolos de prevenção ao cyberbullying tornou-se evidente, assim como a urgência em preparar escolas para lidar com sinais precoces de sofrimento mental entre adolescentes.


Kendra Licari e a paixão pelo namorado da filha

Um dos aspectos mais perturbadores da narrativa de Número Desconhecido: Catfishing na Escola é a revelação de que parte das mensagens anônimas enviadas por Kendra Licari envolviam conteúdos que indicavam ciúmes ou obsessão em relação ao relacionamento da filha com o namorado, Owen McKenny. Para além da violência psicológica, esse elemento sugere que havia uma projeção afetiva e talvez até erótica por parte da mãe sobre a vida íntima da filha.

Esse comportamento encontra eco em dinâmicas descritas na literatura psicanalítica, especialmente quando falamos de rivalidade edipiana mal resolvida. Em alguns casos, pais ou mães que não elaboraram adequadamente suas frustrações e desejos transferem para os filhos as suas carências emocionais. A figura de Owen, nesse sentido, pode ter sido interpretada inconscientemente por Kendra não apenas como “namorado da filha”, mas como um objeto de desejo que ativava suas próprias fantasias reprimidas.

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A lógica da mãe narcisista

O narcisismo materno, já descrito em estudos de Alice Miller e outros teóricos da psicologia do desenvolvimento, revela um padrão de mães que enxergam seus filhos não como indivíduos autônomos, mas como extensões de si mesmas. Essa relação é marcada por controle, invasão de privacidade e pela necessidade de manter poder emocional sobre os filhos.

No caso de Kendra, sua atitude com Lauryn mostra esse traço com clareza. Ao criar perfis falsos e inventar mensagens abusivas, ela não apenas machucava a filha, mas também reafirmava para si mesma uma posição de controle absoluto sobre a vida emocional da adolescente. É típico de mães narcisistas o ato de sabotar conquistas ou relacionamentos dos filhos, principalmente quando percebem que estão “perdendo espaço” como centro da atenção.

O relacionamento de Lauryn com Owen representava uma ameaça simbólica: a filha estava crescendo, estabelecendo vínculos externos e deixando de depender da mãe como figura central. Para uma personalidade narcisista, esse afastamento é intolerável. Ao atacar Owen e Lauryn, Kendra buscava inconscientemente destruir o vínculo que a deslocava para o segundo plano.


Psicologia e psiquiatria: ciúme, rivalidade e controle

A psiquiatria pode interpretar esse comportamento como resultado de um transtorno de personalidade, especialmente o transtorno de personalidade narcisista (TPN), caracterizado por:

  • necessidade de admiração;

  • dificuldade em reconhecer os sentimentos dos outros;

  • inveja ou ressentimento diante das conquistas alheias;

  • comportamentos manipuladores para garantir centralidade.

No caso de Kendra, a rivalidade com a própria filha é sintomática. A relação de ciúmes em torno de Owen pode não ser puramente romântica, mas simbólica: a mãe não aceitava perder sua posição de “figura indispensável” na vida da filha. A paixão ou obsessão pelo namorado pode ser entendida como extensão desse desejo de controle, um tipo de triangulação em que o filho ou filha se torna o adversário da mãe.


Neurociência da obsessão e da falta de empatia

Do ponto de vista neurocientífico, estudos sobre o narcisismo mostram que pessoas com traços narcisistas apresentam diferenças na atividade de regiões do cérebro associadas à empatia, como o córtex pré-frontal ventromedial e a junção temporoparietal. Essas áreas, que nos permitem nos colocar no lugar do outro, tendem a ser menos ativadas em personalidades narcisistas.

Isso ajuda a entender como uma mãe pode racionalizar o ato de torturar psicologicamente a própria filha sem sentir compaixão. Além disso, a obsessão em torno do namorado da filha pode estar ligada a hiperatividade do sistema dopaminérgico, responsável pela motivação e pelo circuito de recompensa. Em casos de fixação, o cérebro se prende a uma ideia ou pessoa, reforçando comportamentos repetitivos, mesmo que autodestrutivos.


Impacto sobre a filha

Para Lauryn, conviver com uma mãe com traços narcisistas significa carregar marcas profundas. Filhas de mães narcisistas costumam relatar sentimentos de invisibilidade, culpa e medo constante de errar. O episódio do catfishing, nesse sentido, foi o ápice de uma dinâmica possivelmente já marcada por abusos psicológicos sutis ao longo da infância.

O relacionamento com Owen representava para Lauryn uma chance de construir sua identidade e experimentar a autonomia típica da adolescência. Ao ser sabotada pela própria mãe, sua confiança nos laços afetivos foi severamente abalada, aumentando o risco de desenvolver transtornos de ansiedade, depressão e até dificuldades em futuros relacionamentos amorosos.


Kendra Licari e o Arquétipo da Mãe Narcisista

O documentário Número Desconhecido: Catfishing na Escola não apenas narra um caso de cyberbullying sem precedentes, mas também levanta um debate inquietante sobre maternidade, desejo de controle e a sombra do narcisismo na vida familiar. O comportamento de Kendra Licari, ao perseguir sua própria filha por meio de mensagens anônimas, ganha contornos ainda mais perturbadores quando analisado à luz da psicologia e da psiquiatria: ela não se limitou a humilhar Lauryn, mas também interferiu no relacionamento da adolescente com Owen, deixando entrever um traço de ciúme e até de obsessão em torno do namorado da filha.

A presença desse elemento — o desejo de anular ou até se apropriar do lugar da filha — é um dos sinais clássicos associados ao narcisismo materno. Mães com traços narcisistas frequentemente veem os filhos não como indivíduos autônomos, mas como extensões de si mesmas, responsáveis por manter sua autoestima elevada e satisfazer suas demandas emocionais. Quando a filha começa a conquistar independência, seja por meio de amizades ou de um relacionamento amoroso, a mãe narcisista enxerga essa autonomia como uma ameaça.

No caso de Kendra, as mensagens direcionadas a Owen revelam mais do que hostilidade: demonstram um incômodo profundo em perder espaço para a figura do namorado. Esse incômodo pode ser interpretado de duas formas complementares. De um lado, existe o ciúme simbólico de quem se sente substituída no centro da vida afetiva da filha. De outro, há a possibilidade de uma projeção inconsciente de desejo ou de idealização em torno de Owen, que passa a ocupar o lugar de objeto de atenção da própria Kendra.

A psicanálise, especialmente a partir de Freud e dos desdobramentos de teóricos como Melanie Klein, descreve esse tipo de dinâmica como uma falha no processo de individuação. A mãe, incapaz de lidar com o crescimento da filha e com o afastamento natural da adolescência, reage sabotando e desestabilizando a relação dela com terceiros. No plano consciente, pode alegar preocupação ou justificativas racionais; no inconsciente, age movida por inveja, rivalidade e a necessidade de reafirmar seu poder.

A psiquiatria classifica esse padrão como compatível com o transtorno de personalidade narcisista (TPN). Entre seus critérios estão a falta de empatia, a necessidade constante de centralidade e o uso de manipulação para manter controle sobre os outros. A ação de Kendra preenche esses elementos: ela demonstrou ausência de empatia pela dor da filha, utilizou meios manipulativos (catfishing e mensagens abusivas) e buscou restabelecer sua posição central ao sabotar o relacionamento adolescente.

Do ponto de vista da neurociência, o comportamento de Kendra também pode ser analisado. Estudos mostram que cérebros de indivíduos com traços narcisistas apresentam baixa ativação em regiões ligadas à empatia, como o córtex pré-frontal ventromedial. Isso explicaria como ela conseguiu sustentar, por meses, uma campanha de assédio psicológico contra a própria filha sem manifestar arrependimento imediato. Além disso, o circuito de recompensa, mediado pela dopamina, pode ter reforçado a obsessão em manter esse controle: cada mensagem enviada e cada reação gerada em Lauryn funcionavam como pequenas descargas de satisfação para o cérebro de Kendra, criando um ciclo vicioso de poder e prazer pela manipulação.

Para Lauryn, viver essa experiência com uma mãe narcisista significou enfrentar um trauma em dupla dimensão. Primeiro, o trauma direto do cyberbullying, com seus efeitos devastadores de ansiedade, depressão e isolamento social. Segundo, o trauma da descoberta de que a autora das mensagens era sua própria mãe, a pessoa de quem esperava amor incondicional. Esse segundo nível de violência psíquica é ainda mais destrutivo, pois mina as bases de confiança e de apego seguro, que são fundamentais para a construção de uma identidade saudável.

Assim, o documentário não apenas retrata uma história chocante de catfishing, mas também lança luz sobre o fenômeno das mães narcisistas e os impactos devastadores que essas figuras podem ter na vida de seus filhos. Ao mesmo tempo em que expõe uma patologia individual, revela também uma questão social mais ampla: como famílias e instituições educacionais podem identificar sinais de narcisismo parental e intervir antes que as consequências se tornem irreversíveis.


Kendra Licari e os Ecos da Mãe Narcisista na História e na Psicologia

Kendra Licari apresenta o perfil clássico de uma mãe narcisista encoberta (covert narcissist mother), um subtipo particularmente insidioso de narcisismo parental. Diferentemente do narcisista grandioso e óbvio, o narcisista encoberto opera através de manipulação sutil, vitimização e controle emocional disfarçado de cuidado e proteção.

As características observadas em Kendra incluem:

  1. Inversão de Papéis Emocional Kendra posicionou-se como a verdadeira “vítima” da situação, mesmo sendo a perpetradora. Durante as entrevistas no documentário, ela consistentemente minimiza suas ações e externaliza a culpa, alegando que “alguém mais” havia iniciado o assédio e que ela estava apenas “protegendo” sua filha.
  1. Necessidade Patológica de Atenção Como observado por sua própria prima no documentário, Kendra “realmente ama atenção”. O cyberbullying de Lauryn pode ser visto como uma estratégia elaborada para se tornar o centro das atenções – primeiro como a “mãe protetora” consolando a filha, e posteriormente como a figura trágica que “cometeu um erro” por amor maternal.
  1. Competição com a Própria Filha Lauryn representava tudo que Kendra não era: jovem, atraente, popular, atlética e em um relacionamento feliz. Para uma mãe narcisista, o sucesso e a felicidade da filha não são motivos de orgulho, mas fontes de inveja profunda e ameaça ao seu senso de superioridade.

A Dinâmica da Inveja Maternal

A inveja maternal é um fenômeno psicológico bem documentado em casos de narcisismo parental. Mães narcisistas frequentemente veem suas filhas como extensões de si mesmas que devem permanecer sob seu controle, ou como rivais que ameaçam sua posição de destaque.

No caso de Kendra, vários fatores contribuíram para essa dinâmica tóxica:

  • Idade e Atratividade: Lauryn estava na flor da adolescência, período em que Kendra, aos 42 anos, pode ter sentido sua própria juventude e atratividade diminuindo
  • Sucesso Social: Lauryn era popular, atlética e socialmente bem-sucedida, contrastando com a vida aparentemente estagnada de Kendra
  • Relacionamento Romântico: O relacionamento de Lauryn com Owen representava uma intimidade e conexão que Kendra desejava para si

A Obsessão por Owen: Sinais de Comportamento Predatório

Comportamentos Documentados

As evidências coletadas por investigações jornalísticas revelam um padrão de comportamento obsessivo e inapropriado de Kendra em relação a Owen que vai muito além do que foi mostrado no documentário:

  1. Intrusão Constante nos Encontros Kendra sistematicamente se inseria nos encontros românticos de Lauryn e Owen, sempre pedindo para eles “abraçarem um ao outro para fotos”. Este comportamento sugere uma necessidade voyeurística de observar e controlar a intimidade do casal.
  1. Busca por Proximidade Física e Emocional
  • Tornou-se treinadora da equipe de atletismo de Owen no oitavo ano
  • Dirigiu três horas através de Michigan para assistir a um de seus jogos de campeonato
  • Referia-se a si mesma como a “segunda mãe” de Owen
  • Propôs transformar um torneio esportivo de Owen na Flórida em férias familiares conjuntas
  1. Comunicação Inapropriada Testemunhas relataram que Kendra foi vista mexendo no telefone de Lauryn, lendo e respondendo mensagens de Owen. Uma das respostas alegadamente dizia “Eu te amo” – uma violação profunda dos limites apropriados entre uma mãe e o namorado adolescente de sua filha.
  1. Vigilância Obsessiva da Vida Amorosa Mesmo após o término do relacionamento entre Lauryn e Owen, Kendra continuou obcecada com a vida amorosa dele, constantemente perguntando à mãe de Owen sobre seus novos relacionamentos.

Análise Psicológica da Obsessão

A obsessão de Kendra por Owen apresenta características que sugerem uma atração sexual e emocional inapropriada disfarçada de cuidado maternal. Este padrão é consistente com o que os psicólogos identificam como “emotional incest” ou incesto emocional – uma forma de abuso onde um pai usa a criança para satisfazer necessidades emocionais que deveriam ser atendidas por relacionamentos adultos apropriados.

Elementos da Obsessão:

  1. Fantasia de Relacionamento: Kendra falava sobre Lauryn e Owen como se fossem um casal destinado a ficar juntos para sempre, projetando suas próprias fantasias românticas na relação dos adolescentes
  2. Ciúme Sexual: As mensagens de cyberbullying frequentemente continham conteúdo sexual explícito direcionado tanto a Lauryn quanto a Owen, sugerindo preocupações obsessivas com a vida sexual dos adolescentes
  3. Comportamento Possessivo: A necessidade de controlar e monitorar todas as interações entre Lauryn e Owen indica um desejo de “possuir” o relacionamento
  4. Sabotagem Sistemática: O cyberbullying foi especificamente projetado para destruir o relacionamento entre Lauryn e Owen, eliminando a “ameaça” que Owen representava ao controle de Kendra sobre sua filha

A Estratégia de Triangulação

Kendra empregou uma tática psicológica conhecida como triangulação – criar conflito entre duas pessoas para manter controle sobre ambas. Ao se posicionar como a “protetora” de Lauryn contra um “agressor anônimo” (ela mesma), Kendra:

  1. Fortaleceu a dependência emocional de Lauryn em relação a ela
  2. Sabotou a confiança de Lauryn em Owen e outros relacionamentos
  3. Manteve-se no centro de toda a dinâmica emocional da família

O Padrão de Vitimização e Controle

O comportamento de Kendra segue um padrão clássico de abuso narcisista:

Fase 1 – Idealização: Inicialmente, Kendra “adorava” Owen, inserindo-se em todos os aspectos do relacionamento dele com Lauryn

Fase 2 – Desvalorização: Quando percebeu que não podia controlar completamente Owen ou que ele representava uma ameaça ao seu controle sobre Lauryn, iniciou a campanha de cyberbullying

Fase 3 – Descarte: O objetivo final era destruir o relacionamento e “descartar” Owen da vida de Lauryn


As Mensagens como Projeção Psicológica

Conteúdo Sexual e Agressivo

As mensagens enviadas por Kendra continham conteúdo sexual explícito e agressivo que revela aspectos perturbadores de sua psique:

  • Sexualização de menores: As mensagens frequentemente continham referências sexuais inapropriadas direcionadas a adolescentes de 13-14 anos
  • Projeção de fantasias: O conteúdo sugere que Kendra estava projetando suas próprias fantasias e obsessões sexuais nas mensagens
  • Sadismo psicológico: O prazer evidente que ela obtinha ao causar sofrimento emocional indica traços sádicos

A Mensagem “Owen colocou seu pênis em você”

Uma das mensagens mais perturbadoras que Kendra enviou para sua própria filha foi “Owen colocou seu pênis em você”. Esta mensagem revela:

  1. Obsessão sexual com a vida íntima dos adolescentes
  2. Tentativa de criar vergonha e trauma sexual em Lauryn
  3. Projeção de suas próprias fantasias sexuais envolvendo Owen

Medeia: o arquétipo mitológico

Na tragédia grega de Eurípedes, Medeia, tomada pela ira após ser traída por Jasão, mata os próprios filhos. A motivação é ambígua: vingança contra o marido, mas também a recusa em permitir que seus filhos se tornem extensão de um relacionamento que a diminuiu. Medeia simboliza a mãe que transforma o vínculo materno em palco de poder e vingança. O caso de Kendra ecoa esse mito: ao atacar a filha, ela também ataca indiretamente o namorado, numa dinâmica de rivalidade e possessividade. Não há acolhimento, mas sim destruição.


Alice Miller e o “drama da criança bem-dotada”

A psicoterapeuta Alice Miller, em sua obra O Drama da Criança Bem-dotada, descreve como filhos de mães narcisistas crescem sob uma pressão invisível: devem satisfazer as carências emocionais da mãe, enquanto suas próprias necessidades são constantemente anuladas. Essas mães exigem atenção, admiração e obediência absoluta. Se a criança ousa desenvolver autonomia — como no caso de Lauryn ao namorar Owen —, a mãe reage com hostilidade e sabotagem. O comportamento de Kendra pode ser visto sob essa lente: uma mãe que não suporta a independência da filha e, por isso, cria um mecanismo cruel para minar sua autoestima e sua vida afetiva.


Donald Winnicott e a ausência do “ambiente suficientemente bom”

O pediatra e psicanalista Donald Winnicott defendia que uma criança precisa de um “ambiente suficientemente bom” para se desenvolver emocionalmente. Esse ambiente é aquele em que a mãe ou cuidador reconhece as necessidades da criança e responde de forma empática e acolhedora. No caso de Kendra, temos exatamente o oposto: em vez de um espaço de segurança, Lauryn encontrou na própria mãe a fonte da violência e da instabilidade. Isso não só compromete o vínculo de apego, mas também cria um trauma que ressoa por toda a vida adulta.


O olhar da psiquiatria clínica

Estudos modernos sobre parentalidade narcisista apontam que mães com traços de transtorno de personalidade narcisista ou borderline frequentemente vivem relações competitivas com as filhas, especialmente quando estas entram na adolescência. Há relatos clínicos de mães que sabotam amizades, rivalizam em aparência física e até buscam competir por parceiros afetivos, numa distorção profunda do papel parental. O ciúme de Kendra em relação ao namorado da filha pode ser compreendido nesse contexto: mais do que um simples gesto de obsessão, trata-se de um padrão descrito e documentado na literatura psiquiátrica.


A atualização na era digital

O que diferencia Kendra de Medeia ou das mães descritas por Alice Miller é o cenário. Enquanto os arquétipos clássicos se manifestavam no ambiente doméstico ou comunitário, Kendra levou sua violência para o ambiente digital, usando o catfishing como ferramenta de poder. A tecnologia potencializou a sua capacidade de manipulação, permitindo-lhe agir sob anonimato, prolongar o sofrimento da filha e intensificar o controle. É a versão contemporânea da mãe narcisista: agora, ela não se limita ao espaço físico; utiliza a ubiquidade dos dispositivos móveis para estender sua influência e agressão a todos os momentos da vida da vítima.


As Consequências de Ser Filha de uma Mãe Narcisista

A história de Lauryn Licari não é apenas a de uma adolescente vítima de cyberbullying. É também o retrato de uma filha exposta a uma dinâmica relacional profundamente destrutiva: a convivência com uma mãe narcisista. Esse tipo de relação deixa marcas que se estendem para muito além da adolescência, afetando a forma como a vítima percebe a si mesma, como se relaciona com os outros e como constrói sua identidade ao longo da vida adulta.


Autoestima fragilizada e culpa internalizada

Filhas de mães narcisistas crescem sob uma constante invalidação emocional. Cada conquista é diminuída, cada tentativa de autonomia é sabotada, cada desejo é reinterpretado como ingratidão. Esse ambiente cria um padrão de culpa internalizada: a filha passa a acreditar que é responsável pela infelicidade da mãe e que deve constantemente provar seu valor. Na vida adulta, isso se traduz em baixa autoestima, dificuldade em reconhecer suas próprias conquistas e tendência a se sentir insuficiente, mesmo quando é objetivamente competente.

No caso de Lauryn, o impacto foi ainda mais devastador porque o ataque partiu de maneira explícita e cruel, através de mensagens anônimas que buscavam quebrar sua confiança. A traição materna, revelada de forma tão brutal, reforça o sentimento de que ela não merece ser amada ou protegida, instalando cicatrizes emocionais profundas.

  • Aparência física: Mensagens atacando sua aparência e peso
  • Relacionamentos: Sabotagem de sua relação com Owen e outros amigos
  • Autoestima sexual: Mensagens criando vergonha e trauma em relação à sexualidade
  • Senso de segurança: Transformação do lar em um ambiente de terror psicológico

Relações amorosas marcadas pela insegurança

Outro efeito comum é a dificuldade em estabelecer relacionamentos saudáveis. A filha de uma mãe narcisista pode crescer acreditando que amor e sofrimento estão inevitavelmente ligados, já que sua primeira experiência de vínculo foi permeada por manipulação e dor. Isso pode levá-la a buscar parceiros abusivos, repetindo o padrão de submissão e autoculpa, ou, no extremo oposto, evitar relacionamentos íntimos por medo de ser novamente traída e abandonada.

Para Lauryn, o namoro com Owen representava uma tentativa natural de desenvolver sua própria identidade afetiva. O fato de esse relacionamento ter sido alvo direto da sabotagem de Kendra tende a reforçar, em sua vida adulta, a associação entre amor e desconfiança. O risco é que ela passe a acreditar que toda relação afetiva será um terreno de traição ou manipulação.

  1. Destrói a confiança básica na figura que deveria representar proteção e amor incondicional
  2. Cria confusão sobre a realidade (gaslighting extremo)
  3. Gera sentimentos de culpa (“O que eu fiz para merecer isso?”)
  4. Compromete a capacidade futura de formar relacionamentos íntimos saudáveis

A sombra da codependência

Filhas de mães narcisistas frequentemente desenvolvem traços de codependência, ou seja, a tendência de viver em função das necessidades do outro, negligenciando as próprias. Esse padrão é um reflexo da infância, em que a filha aprendeu que sua sobrevivência emocional dependia de agradar a mãe, mesmo ao custo de silenciar seus desejos. Na vida adulta, isso pode levá-la a relações em que assume o papel de cuidadora excessiva, aceitando abusos e anulando-se em nome do vínculo.


Trauma prolongado

Do ponto de vista neurocientífico, crescer sob o impacto de uma mãe narcisista pode alterar de forma duradoura os circuitos cerebrais ligados ao estresse e ao apego. O excesso de cortisol durante a infância e a adolescência compromete a plasticidade do hipocampo, prejudicando a memória emocional, e hiperativa a amígdala, deixando a pessoa em estado constante de alerta. Isso se traduz em hipervigilância, dificuldade em relaxar e predisposição à ansiedade generalizada.

Além disso, a relação distorcida com a figura materna prejudica a formação de padrões de apego seguro, essenciais para relações estáveis na vida adulta. A filha tende a oscilar entre a busca desesperada por afeto e o medo intenso de ser abandonada, reproduzindo um ciclo de aproximação e afastamento que fragiliza vínculos afetivos.


Referências

  1. McLoughlin, L. T., Lagopoulos, J., & Hermens, D. F. (2020). Cyberbullying and Adolescent Neurobiology. Frontiers in Psychology, 11, 1511. https://www.frontiersin.org/journals/psychology/articles/10.3389/fpsyg.2020.01511/full
  2. Nesin, S. M., Sharma, K., Burghate, K. N., & Anthony, M. (2025). Neurobiology of emotional regulation in cyberbullying victims. Frontiers in Psychology, 16, 1473807. https://www.frontiersin.org/journals/psychology/articles/10.3389/fpsyg.2025.1473807/full
  3. Vaillancourt, T., Faris, R., & Mishna, F. (2017). Cyberbullying in Children and Youth: Implications for Health and Clinical Practice. The Canadian Journal of Psychiatry, 62(6), 368–373. https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC5455867/
  4. Netflix Tudum. (2025). Unknown Number: The High School Catfish New Cyberbullying Documentary Release Date, News. https://www.netflix.com/tudum/articles/unknown-number-documentary-release-date-news
  5. Netflix Tudum. (2025). What Happened to Lauryn and Kendra Licari? Unknown Number: The High School Catfish Netflix Documentary Update. https://www.netflix.com/tudum/articles/unknown-number-the-high-school-catfish-where-are-lauryn-kendra-licari-now
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