Neurociência

O Papel dos genes MAOA e CDH13: violência e comportamento agressivo

Violência e comportamento agressivo: O Papel dos genes MAOA e CDH13

O Papel dos genes MAOA e CDH13: A violência é um fenômeno complexo que intriga pesquisadores em diversas áreas do conhecimento. Em 1996, a Assembleia Mundial da Saúde reconheceu a violência como um problema de saúde pública, definindo-a como “o uso intencional de força física, poder ou ameaça que pode resultar em ferimentos, morte, dano psicológico e prejuízo ao desenvolvimento”.

Entre os fatores que influenciam esse comportamento, os componentes sociais, econômicos e genéticos desempenham papéis cruciais. Dois genes, o MAOA e o CDH13, emergem como peças-chave nesse quebra-cabeça, segundo estudos recentes. Este artigo explora como esses genes influenciam o comportamento agressivo sob a ótica da neurociência, psicanálise, psicologia e psiquiatria.

Um estudo divulgado em 28 de outubro de 2014, pelo Instituto Karolinska de Estocolmo, em Copenhague, identificou os genes MAOA e CDH13 que podem ser vinculados ao “aumento da inclinação a cometer atos violentos de forma repetida”.

Os resultados foram obtidos após a análise genética de 895 pessoas condenadas por diferentes crimes na Finlândia.

A pesquisa descobriu uma relação entre a violência e um variante do gene MAOA, assinalado já em estudos anteriores, mas também com a variante do gene CDH13, vinculado anteriormente com alterações do comportamento e doenças psíquicas com deficiente controle dos impulsos.

“Nas pessoas condenadas por delitos que não incluíam violência não se podia ver a mesma presença de MAOA ou de CDH13, o que indica que estas variantes genéticas estão relacionadas com o comportamento violento”, assinalou em comunicado Jari Tiihonen, professor de neurociência no Karolinska e diretor do estudo.

O baixo metabolismo da dopamina, vinculado ao gene MAOA, também pode contribuir para uma maior agressividade combinado ao uso de drogas, constata a pesquisa dirigida pelo centro sueco. O estudo também teve a participação de instituições finlandesas, britânicas e americanas.

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A pesquisa, publicada na revista especializada “Molecular Psychiatry”, mostra que essas duas variantes de genes aparecem em entre 5% e 10% dos delitos violentos graves na Finlândia. A análise do instituto ressalta, no entanto, que mais genes devem estar envolvidos na explicação do comportamento violento e que os fatores ambientais desempenham também um papel grande para compreender esse fenômeno.

“É importante lembrar que nossos resultados não podem nem devem ser usados para avaliações individuais. Não se pode aplicar este tipo de análise genética com propósitos preventivos nem jurídicos”, advertiu Tiihonen.


Neurociência: O Cérebro da Agressividade

MAOA: A Enzima que Regula as Emoções

O gene MAOA codifica a enzima monoamina oxidase, localizada na membrana mitocondrial externa. Essa enzima é crucial para a degradação de neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina. Alterações no funcionamento do MAOA resultam em níveis elevados desses neurotransmissores, o que pode levar à disfunção no controle emocional.

Estudos de neuroimagem mostram que indivíduos com variantes de baixa atividade do gene MAOA possuem menor conectividade entre a amígdala – região responsável pelo processamento do medo e agressividade – e o córtex pré-frontal, que regula impulsos e comportamentos. Isso pode explicar por que essas pessoas apresentam maior dificuldade em controlar emoções intensas, contribuindo para comportamentos impulsivos e agressivos.

CDH13: O Regulado do Crescimento Neural

O gene CDH13, por sua vez, codifica uma proteína de adesão celular dependente de cálcio, essencial para a formação de conexões neurais. Mutações nesse gene estão associadas à interrupção do crescimento axonal, prejudicando a comunicação eficiente entre regiões cerebrais. Indivíduos com variantes disfuncionais do CDH13 tendem a apresentar irritabilidade, postura antissocial e, em casos extremos, comportamento violento.

Epigenética: Gene e Ambiente em Conexão

A epigenética demonstra que os genes MAOA e CDH13 não atuam isoladamente; sua expressão é modulada por fatores ambientais. Experiências de vida, como abuso infantil ou ambientes familiares disfuncionais, podem ativar ou silenciar genes associados ao comportamento agressivo. Assim, a interação gene-ambiente é crucial para entender como o comportamento violento se desenvolve.


Psicanálise: Traumas e Pulsões Agressivas

A psicanálise oferece uma perspectiva profunda sobre como a biologia se entrelaça com a psique. Segundo Sigmund Freud, a pulsão de morte (Thanatos) é uma força inconsciente que busca destruição e agressão, podendo ser direcionada para o outro em situações extremas.

O comportamento agressivo, sob a lente de Freud, também pode ser visto como uma resposta a traumas emocionais precoces. Quando combinados com predisposições genéticas, esses traumas moldam uma psique que busca alívio no ato destrutivo. A teoria de Jacques Lacan complementa essa visão, sugerindo que a violência pode ser uma forma de preencher um vazio existencial, resultante de uma desconexão entre o “eu” e o “outro”.


Psicologia e Psiquiatria: O Comportamento Antissocial

Transtorno de Personalidade Antissocial

O transtorno de personalidade antissocial (TPA) é frequentemente associado a comportamentos violentos. Indivíduos com TPA apresentam padrões de manipulação, impulsividade e desrespeito por normas sociais. Em muitos casos, esses traços coexistem com variantes dos genes MAOA e CDH13, amplificando a probabilidade de comportamentos extremos.

Estudo Finlândes: Uma Perspectiva Genética

Uma pesquisa conduzida pelo cientista Jari Tiihonen, publicada na Molecular Psychiatry, analisou quase 900 encarcerados na Finlândia. O estudo revelou que indivíduos condenados por crimes graves, como homicídios, eram significativamente mais propensos a apresentar variantes disfuncionais dos genes MAOA e CDH13, em comparação à população geral. No entanto, os pesquisadores enfatizam que esses genes não determinam comportamento criminoso por si só; fatores sociais e ambientais são igualmente críticos.

Impacto da Serotonina

A serotonina, regulada pelo MAOA, é fundamental para o controle de impulsos e agressividade. Deficiências nesse sistema podem levar a uma menor capacidade de inibir comportamentos violentos, especialmente em situações de estresse ou confronto.


O Papel do Ambiente: Nem Tudo Está nos Genes

Embora a genética desempenhe um papel importante, ela não opera isoladamente. A epigenética demonstra que ambientes hostis, como abuso infantil ou exposição à violência, podem amplificar predisposições genéticas. Por outro lado, ambientes positivos podem mitigar os riscos, mostrando que a interação gene-ambiente é essencial.


Por Fim:

Os genes MAOA e CDH13 oferecem pistas importantes sobre o comportamento agressivo, mas eles não são a resposta definitiva. A violência é o resultado de uma complexa interação entre fatores genéticos, neurobiológicos, ambientais e sociais. A compreensão desses mecanismos não apenas aprofunda nosso entendimento sobre a mente humana, mas também abre caminhos para intervenções preventivas e terapêuticas, ajudando a reduzir comportamentos violentos e suas consequências.

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