22- Savants Vs Aspergers – Saiba as Diferenças
Savants e indivíduos com Síndrome de Asperger compartilham traços de genialidade e foco extremo, mas suas origens neurológicas e expressões cognitivas diferem profundamente. Entenda as distinções entre esses dois perfis e como a neurociência explica suas habilidades extraordinárias
Savants Vs Aspergers – Duas dessas condições, a Síndrome de Savant e a Síndrome de Asperger, frequentemente capturam a imaginação do público e o interesse da comunidade científica. Ambas, inseridas no contexto mais amplo dos transtornos do neurodesenvolvimento, apresentam perfis únicos que, embora por vezes se sobreponham, são fundamentalmente distintos.
Compreender suas diferenças é um passo crucial para desmistificar estereótipos, promover a inclusão e oferecer o suporte adequado a esses indivíduos.
A Ilha de Genialidade:
A Síndrome de Savant
A Síndrome de Savant é uma condição rara e extraordinária na qual uma pessoa com significativas deficiências mentais ou de desenvolvimento demonstra habilidades prodigiosas em um campo específico. O termo “savant”, do francês “sábio”, descreve essa dualidade intrigante: uma mente que opera em extremos, combinando déficits notáveis com picos de genialidade.
Essas “ilhas de genialidade”, como são frequentemente chamadas, contrastam fortemente com o funcionamento cognitivo geral do indivíduo, que, na maioria dos casos, apresenta um Quociente de Inteligência (QI) abaixo da média, tipicamente entre 40 e 70.
É crucial entender que a síndrome de savant não é um diagnóstico independente, mas uma condição que coexiste com outros transtornos do neurodesenvolvimento, mais comumente o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Estima-se que cerca de 50% dos savants também estejam no espectro autista, e que até 37% das pessoas com TEA possam exibir alguma habilidade savant, ainda que não no nível prodigioso que define os casos mais conhecidos [1].
As habilidades savant são notáveis por sua natureza inata e, aparentemente, inexplicável. Elas não são fruto de um longo processo de estudo ou dedicação formal, mas emergem de forma espontânea. As áreas mais comuns onde esses talentos se manifestam incluem:
•Música: Proficiência excepcional em instrumentos musicais, muitas vezes com a capacidade de tocar peças complexas de ouvido após uma única audição.
•Arte: Habilidades de desenho e escultura com um nível de detalhe e realismo fotográfico, como a capacidade de desenhar paisagens urbanas inteiras de memória.
•Matemática: Realização de cálculos aritméticos complexos com velocidade e precisão espantosas.
•Cálculo de Calendário: A capacidade de determinar o dia da semana para qualquer data, passada ou futura, de forma instantânea.
•Memória: Memorização de vastas quantidades de informação, como livros inteiros, listas telefônicas ou estatísticas detalhadas.
O perfil psicológico do savant é tão distinto quanto suas habilidades. Um estudo publicado na revista Molecular Autism por Hughes e seus colaboradores (2018) revelou um perfil cognitivo e comportamental único que distingue os savants autistas de outros indivíduos autistas.
As características-chave incluem uma sensibilidade sensorial aguçada, que pode se manifestar como uma percepção extremamente detalhada de estímulos visuais ou auditivos, mas também como uma aversão a certas texturas ou sons. Somam-se a isso comportamentos obsessivos, que impulsionam a prática incessante da habilidade; notáveis habilidades técnico-espaciais; e uma forte inclinação para a sistematização – a necessidade de analisar ou construir sistemas seguindo regras lógicas [1].
Essa combinação de traços cria um terreno fértil para que uma habilidade específica seja cultivada a um nível de excelência quase sobre-humano.
Duas teorias principais tentam explicar a origem dessas habilidades. A primeira, proposta por Happé e Vital, é a da “cegueira mental”. Ela sugere que a dificuldade em compreender os estados mentais dos outros (uma característica central do autismo) liberaria recursos cognitivos, que seriam então realocados para o desenvolvimento de interesses restritos, permitindo a prática intensiva que leva ao desenvolvimento do talento [2].
A segunda teoria, de Simner e colegas, foca na obsessividade. Segundo essa visão, o impulso obsessivo, também ligado ao autismo, levaria o indivíduo a ensaiar e praticar sua habilidade a níveis prodigiosos, sendo a prática intensiva uma consequência da obsessão, e não da falta de interesse social [2]. Ambas as teorias apontam para uma arquitetura cognitiva que, por diferentes vias, canaliza uma quantidade imensa de energia mental para um domínio muito específico, resultando em uma performance excepcional.
A Lógica de um Mundo Diferente:
a Síndrome de Asperger
Em contraste com a dualidade de déficits e picos de genialidade da Síndrome de Savant, a Síndrome de Asperger, hoje integrada ao Transtorno do Espectro Autista no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), apresenta um perfil distinto.
Caracteriza-se primariamente por dificuldades significativas na interação social e na comunicação não-verbal, acompanhadas por padrões de comportamento e interesses restritos e repetitivos. A diferença fundamental, e que historicamente justificou sua classificação separada, reside na ausência de um atraso clinicamente significativo no desenvolvimento da linguagem ou no desenvolvimento cognitivo geral. Indivíduos com Asperger tipicamente possuem uma inteligência na média ou acima da média [3].
Enquanto um savant pode ter uma habilidade extraordinária que se destaca em meio a um quadro de funcionamento geral limitado, uma pessoa com Asperger possui um intelecto preservado, mas enfrenta desafios em aplicá-lo de maneira fluida no complexo e muitas vezes ilógico mundo das interações sociais. Sua dificuldade não está na capacidade de processar informações, mas em decodificar os sinais sutis que governam as relações humanas – a linguagem corporal, o tom de voz, as metáforas e as intenções não declaradas. Essa dificuldade em entender e prever o comportamento dos outros é frequentemente ligada a um déficit na “Teoria da Mente”, a capacidade de atribuir estados mentais a si e aos outros [4].
No entanto, a visão de que pessoas com Asperger carecem de empatia é uma simplificação excessiva e imprecisa. Pesquisas mais recentes, como o estudo de Roza e colaboradores (2021) sobre empatia no TEA, fazem uma distinção crucial entre empatia cognitiva e empatia afetiva.
A empatia cognitiva, a capacidade de compreender a perspectiva de outra pessoa, é de fato frequentemente comprometida. Contudo, a empatia afetiva, a capacidade de sentir ou compartilhar o estado emocional de outra pessoa, pode estar intacta ou até mesmo ser mais intensa do que na população neurotípica.
Isso pode levar a uma experiência interna avassaladora, onde o indivíduo sente profundamente a dor alheia, mas não sabe como processar ou responder a essa emoção de uma forma socialmente convencional [4]. Esse conceito é por vezes referido como o problema da “dupla empatia”: a dificuldade de comunicação não reside apenas no indivíduo autista, mas na incompatibilidade de estilos de comunicação entre pessoas autistas e não autistas.
Os interesses intensos e focados são outra marca registrada do perfil Asperger. Esses interesses, muitas vezes em tópicos específicos e não convencionais (como horários de trens, mapas ou sistemas de classificação), podem levar ao acúmulo de uma quantidade enciclopédica de conhecimento. É nesse ponto que uma sobreposição com a Síndrome de Savant pode ocorrer.
Um indivíduo com Asperger, impulsionado por seu interesse focado e sua capacidade intelectual, pode desenvolver uma habilidade excepcional em sua área de interesse, tornando-se um especialista de alto nível. A diferença crucial é que essa habilidade é geralmente o resultado de um intelecto forte somado a um interesse intenso, e não uma “ilha de genialidade” que surge em contraste com um déficit cognitivo global, como no savantismo clássico.
Savants Vs Aspergers
| Característica | Síndrome de Savant (Clássica) | Síndrome de Asperger |
| Inteligência (QI) | Geralmente baixo (40-70) | Normal ou acima da média |
| Habilidades | Extraordinárias e inatas em domínios específicos | Podem desenvolver alta especialização em áreas de interesse |
| Funcionamento Geral | Apresenta déficits cognitivos significativos | Sem atraso cognitivo ou de linguagem significativo |
| Causa da Habilidade | Origem neurológica ainda debatida, parece inata | Intelecto forte combinado com interesse intenso e focado |
| Diagnóstico | Co-ocorre com autismo ou outra condição de desenvolvimento | Parte do Transtorno do Espectro Autista (TEA) |
Savant, Asperger e TEA
| Característica | Síndrome de Savant | Síndrome de Asperger (TEA Nível 1) | Transtorno do Espectro Autista (TEA) |
| Definição | Uma condição rara em que uma pessoa com deficiências mentais significativas demonstra habilidades extraordinárias em um campo específico, como música, arte ou matemática. | Um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na interação social e comunicação, com padrões de comportamento restritos e repetitivos. A inteligência e a linguagem são geralmente preservadas. | Um transtorno do neurodesenvolvimento que abrange uma ampla gama de sintomas e níveis de gravidade, afetando a comunicação, o comportamento e a interação social. Inclui o que antes era diagnosticado como Síndrome de Asperger. |
| Habilidades Cognitivas | Presença de “ilhas de genialidade” ou habilidades excepcionais em contraste com um funcionamento cognitivo geral baixo. A memória é frequentemente fenomenal. | Inteligência na média ou acima da média. Interesses intensos e focados em áreas específicas, mas não necessariamente no nível de um savant. | O funcionamento cognitivo pode variar de deficiência intelectual a inteligência acima da média. Pode ou não haver habilidades especiais. |
| Desenvolvimento da Linguagem | Não é um critério diagnóstico. A linguagem pode ser significativamente prejudicada, em linha com a deficiência de desenvolvimento subjacente. | Desenvolvimento da linguagem e vocabulário normais ou até precoces. A dificuldade reside no uso social da linguagem (pragmática). | Pode haver atrasos significativos no desenvolvimento da fala e da linguagem, ou a ausência total dela, especialmente nos níveis de suporte mais elevados (Níveis 2 e 3). |
| Interação Social | Geralmente, há um prejuízo social significativo, consistente com o transtorno do desenvolvimento subjacente (como o autismo). | Dificuldade em iniciar e manter interações sociais, compreender sinais sociais não verbais e demonstrar reciprocidade socioemocional. | Déficits persistentes na comunicação e interação social em múltiplos contextos, variando em gravidade de acordo com o nível de suporte. |
| Classificação (DSM-5) | Não é um diagnóstico psiquiátrico formal, mas sim um especificador ou uma condição associada a um transtorno do desenvolvimento, como o TEA. | Não é mais um diagnóstico separado. É classificado como Transtorno do Espectro Autista, Nível 1 de suporte, sem prejuízo intelectual ou de linguagem. | Classificado como um único transtorno com diferentes níveis de suporte (Nível 1, Nível 2 e Nível 3) com base na gravidade dos sintomas e na necessidade de apoio. |
A Arquitetura Cerebral
A neurociência tem oferecido percepções sobre as bases biológicas que sustentam as características observadas no autismo, incluindo as condições de Asperger e Savant. Longe de ser um problema puramente psicológico ou comportamental, o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, o que significa que suas origens estão na forma como o cérebro se desenvolve e se organiza.
Estudos de neuroimagem, como a ressonância magnética funcional (RMf) e a tomografia por emissão de pósitrons (PET), revelaram diferenças consistentes na estrutura e na função do cérebro de indivíduos no espectro.
Um artigo de revisão de Zilbovicius e colegas (2006), publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria, aponta para um conjunto de estruturas cerebrais que parecem estar implicadas no autismo. Entre elas estão o cerebelo, a amígdala, o hipocampo e o corpo caloso [6]. Uma das descobertas mais consistentes é a disfunção no lobo temporal, especificamente na região do sulco temporal superior (STS).
Esta área é de importância vital para a percepção de estímulos sociais, como o reconhecimento de faces, a interpretação da voz e a compreensão do movimento biológico. A hipoativação (atividade reduzida) dessa região em pessoas com autismo pode explicar diretamente muitas das dificuldades de interação social que elas enfrentam [6]. É como se o “cérebro social”, a rede neural que nos permite navegar no mundo das relações, operasse de maneira diferente.
No caso da Síndrome de Savant, a disfunção cerebral parece seguir um padrão de “compensação”. Acredita-se que danos ou disfunções no hemisfério esquerdo do cérebro, que está mais associado à linguagem e ao pensamento lógico e sequencial, possam levar a uma compensação pelo hemisfério direito, responsável por habilidades mais concretas, artísticas e não-simbólicas.
Essa teoria ajuda a explicar por que muitos savants têm habilidades extraordinárias em música e arte, mas dificuldades com a linguagem. O cérebro, em sua notável plasticidade, parece redirecionar seus recursos para as áreas que permanecem funcionais, amplificando-as a um nível excepcional.
Para a Síndrome de Asperger, as diferenças neurológicas são mais sutis. O volume cerebral total pode ser maior em crianças com autismo, e há alterações na forma como as diferentes áreas do cérebro se comunicam entre si. A conectividade cerebral em pessoas com Asperger parece ser caracterizada por uma superabundância de conexões locais, de curto alcance, e uma deficiência de conexões de longo alcance, que integram informações de diferentes partes do cérebro.
Isso poderia explicar o estilo cognitivo focado em detalhes e a dificuldade em ver o “quadro geral”, especialmente em contextos sociais complexos. A mente Asperger pode processar cada árvore da floresta com uma precisão incrível, mas ter dificuldade em perceber a floresta como um todo. Outro aspecto neurocientífico relevante é o processo de “poda sináptica” (synaptic pruning), um mecanismo natural pelo qual o cérebro elimina conexões neuronais redundantes durante o desenvolvimento para se tornar mais eficiente.
Alguns estudos sugerem que esse processo pode ser menos eficiente em indivíduos autistas, resultando em um cérebro com excesso de conexões, o que poderia contribuir para a hipersensibilidade sensorial e a sobrecarga de informações.
Essa distinção na conectividade também ilumina a diferença na empatia. A empatia afetiva, a resposta emocional visceral ao sofrimento de outro, pode depender de circuitos mais básicos e localizados, que podem estar hiperativos.
Em contrapartida, a empatia cognitiva, que requer a integração de informações de múltiplas áreas cerebrais para construir uma “teoria” da mente de outra pessoa, pode ser prejudicada pela falta de conectividade de longo alcance. O resultado é um perfil neurológico que não carece de sentimento, mas luta para contextualizá-lo e compreendê-lo socialmente.
Perfilamento Criminal
A associação entre transtornos mentais e comportamento criminoso é um tema complexo e frequentemente distorcido pela ficção e pela mídia. Quando se trata do espectro autista, e especificamente da Síndrome de Asperger, a cautela deve ser redobrada.
A imagem popular de um gênio socialmente desajeitado que se torna um criminoso calculista é um estereótipo perigoso e, em grande parte, infundado. A evidência científica, embora ainda em desenvolvimento, não suporta uma ligação causal direta entre a Síndrome de Asperger e uma propensão para o crime.
Um artigo de revisão de Dein e Woodbury-Smith (2010), publicado pela Cambridge University Press, examina essa questão em profundidade. Os autores observam que, embora a prevalência de indivíduos com Asperger em populações psiquiátricas forenses de alta segurança (1.5-2.3%) seja maior do que na população geral (0.36%), isso não se traduz em uma taxa de condenação mais elevada na comunidade. Um estudo dinamarquês, por exemplo, descobriu que a taxa de condenação de pessoas com Asperger era semelhante à da população geral [7].
A sobrerrepresentação em ambientes forenses seguros pode indicar mais sobre as falhas do sistema em lidar com esses indivíduos do que sobre uma inclinação inerente à criminalidade. Pessoas com Asperger, quando cometem infrações, podem ter maior dificuldade em navegar pelo sistema de justiça criminal, levando a desfechos mais severos.
No entanto, o perfil cognitivo e comportamental associado ao Asperger pode, em uma minoria de casos, mediar o envolvimento em atividades ilegais. Não é a condição em si que causa o crime, mas certas características podem criar vulnerabilidades. Os fatores que podem mediar o comportamento ofensivo incluem:
•Ingenuidade Social e Falta de Empatia Cognitiva: A dificuldade em compreender as perspectivas e intenções dos outros pode levar um indivíduo com Asperger a ser facilmente manipulado ou a não compreender a gravidade ou as consequências de seus atos. Eles podem violar leis ou normas sociais não por malícia, mas por uma falha em decifrar o contexto social.
•Interesses Obsessivos: Um interesse intenso e restrito, uma característica central do Asperger, pode, em alguns casos, focar em tópicos ilegais ou socialmente inadequados. Por exemplo, um fascínio por fogo pode levar a incêndios criminosos, que alguns estudos sugerem ser um tipo de ofensa ligeiramente mais comum nessa população [7].
•Reação à Exclusão Social e ao Bullying: A experiência crônica de rejeição social, bullying e isolamento pode levar a sentimentos de raiva, frustração e, em casos raros, a atos de retaliação. A violência, quando ocorre, é muitas vezes reativa e não predatória.
•Comorbidades Psiquiátricas: Indivíduos com Asperger têm um risco aumentado para outras condições psiquiátricas, como ansiedade, depressão e, por vezes, transtornos de conduta. São essas condições comórbidas, e não o Asperger em si, que podem estar mais diretamente ligadas ao comportamento antissocial.
É fundamental para o perfilamento criminal entender que os crimes cometidos por pessoas com Asperger raramente seguem a lógica de um criminoso típico. A motivação muitas vezes não é ganho material ou poder, mas pode estar ligada à busca de um interesse especial, a uma falha em compreender limites sociais ou a uma reação desajeitada a uma situação estressante.
O abuso de substâncias, um fator de risco comum para a criminalidade, é comparativamente raro na população com Asperger [5]. Da mesma forma, embora ofensas sexuais ocorram, as taxas parecem ser mais baixas do que em outras populações de infratores. O sistema de justiça criminal, portanto, precisa de formação e ferramentas para identificar e avaliar adequadamente esses indivíduos, evitando interpretações errôneas de seu comportamento (como considerar a falta de contato visual como um sinal de desonestidade) e aplicando medidas que sejam justas e eficazes, considerando seu perfil neurocognitivo.
Para a Síndrome de Savant, a ligação com o comportamento criminal é ainda mais tênue e praticamente inexistente na literatura científica. O perfil de um savant, com seus déficits cognitivos gerais e foco intenso em sua habilidade específica, torna o planejamento e a execução de atos criminosos complexos altamente improváveis. Sua vulnerabilidade reside mais em serem vítimas de abuso ou exploração do que em se tornarem perpetradores.
Para Além dos Rótulos, a Pessoa
A análise das diferenças entre a Síndrome de Savant e a Síndrome de Asperger nos leva a uma compreensão mais profunda da diversidade da experiência humana. De um lado, o savant, com sua mente que opera em picos e vales, demonstrando que a genialidade pode florescer nos lugares mais inesperados, desafiando nossas definições de capacidade.
Do outro, o indivíduo com Asperger, com sua lógica única e sua percepção detalhada do mundo, que luta para encontrar seu lugar em uma realidade social que muitas vezes parece arbitrária e confusa.
As distinções são claras: o QI, a natureza das habilidades, o perfil de funcionamento geral. O savantismo clássico é uma ilha de habilidade prodigiosa em um mar de desafios cognitivos. O Asperger é um modo de ser e pensar diferente, com um intelecto intacto, mas com um manual de instruções social distinto do da maioria.
A neurociência confirma que essas não são escolhas ou falhas de caráter, mas o resultado de uma arquitetura cerebral diferente, com seus próprios desafios e suas próprias forças.
A questão do perfilamento criminal serve como um lembrete crucial da responsabilidade que temos em não estigmatizar. A evidência mostra que ser Asperger não significa ser um criminoso em potencial. Pelo contrário, significa ser mais vulnerável a mal-entendidos, exclusão e às falhas de um sistema que não está preparado para lidar com a neurodiversidade.
Compreender essas condições é um imperativo ético. Significa olhar para além do rótulo diagnóstico e ver a pessoa, com suas lutas, seus talentos e seu direito a uma vida com dignidade e apoio. Significa construir uma sociedade que não apenas tolera, mas que valoriza a diversidade de mentes, reconhecendo que em suas formas únicas de ver o mundo reside um potencial que não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar.
A linguagem que usamos também é importante. A transição do termo “Síndrome de Asperger” para uma designação dentro do “Transtorno do Espectro Autista” reflete uma compreensão mais precisa de que essas condições existem em um continuum.
Referências
[1] Hughes, J. E. A., Ward, J., Gruffydd, E., Baron-Cohen, S., Smith, P., Allison, C., & Simner, J. (2018). Savant syndrome has a distinct psychological profile in autism. Molecular Autism, 9(1), 53. https://molecularautism.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13229-018-0237-1 [2] Klin, A. (2006). Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral. Revista Brasileira de Psiquiatria, 28(suppl 1), s3-s11. https://www.scielo.br/j/rbp/a/jMZNBhCsndB9Sf5ph5KBYGD [3] Roza, S. A., de Souza, D. H., & de Freitas, T. F. (2021). Empatia Afetiva e Cognitiva no Transtorno do Espectro Autista (TEA): uma Revisão Integrativa da Literatura. Revista Brasileira de Educação Especial, 27, e0028. https://www.scielo.br/j/rbee/a/dbpyTntTvDNSFmy7wybdxjg/ [4] Zilbovicius, M., Meresse, I., & Boddaert, N. (2006). Autismo: neuroimagem. Revista Brasileira de Psiquiatria, 28(suppl 1), s21-s28. https://www.scielo.br/j/rbp/a/btXjXS5ygkbyjQTRD8YdpLw/ [5] Dein, K., & Woodbury-Smith, M. (2010). Asperger syndrome and criminal behaviour. Advances in Psychiatric Treatment, 16(1), 37-43. https://www.cambridge.org/core/journals/advances-in-psychiatric-treatment/article/asperger-syndrome-and-criminalbehaviour/4795AB9D5C23969F865436D7704ACE17Savants Vs Aspergers, Savants Vs Aspergers, Savants Vs Aspergers, Savants Vs Aspergers, Savants Vs Aspergers, Savants Vs Aspergers, Savants Vs Aspergers, Savants Vs Aspergers, Savants Vs Aspergers, Savants Vs Aspergers, Savants Vs Aspergers
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