9- Vitor Oliveira: A luta de um pai em busca de Justiça
Vitor Oliveira - Sabrina tinha apenas dois anos quando foi assassinada pelo padrasto

Vitor Oliveira – Em um relato contundente e emocionante, Vitor Oliveira, pai da pequena Sabrina, de apenas dois anos, assassinada brutalmente pelo padrasto, abre o coração e expõe as feridas de uma tragédia que mudou sua vida para sempre.
A entrevista, concedida à jornalista Camila Abdo, revela não apenas a dor da perda, mas também a negligência do sistema, a omissão de quem deveria proteger e a força de um pai que transformou o luto em uma incansável busca por justiça.
Vitor Oliveira e Sabrina – Amor Inabalável
Antes da tragédia que a vitimou, Sabrina era uma criança cheia de vida e alegria. O pai, Vitor, a descreve com um carinho que transborda em suas palavras, pintando o retrato de uma menina amável e muito ligada a ele.
“A Sabrina, aos dois anos de idade, era uma criança cheia de saúde, de vida, carinhosa demais, muito apegada a mim, normal de toda filha mulher com pai. Eu sempre fui um pai presente. Em momento algum eu estive distante. Morávamos também a um quarteirão de distância, mesmo depois do divórcio com a mãe dela. E a gente tinha um contato contínuo, semanal, diário, praticamente. Eu chegava do trabalho à noite e via ela”, conta Vitor.
Essa proximidade era a base da relação entre pai e filha. Os finais de semana eram quase sempre dedicados a ela, momentos que Vitor guarda com carinho e que, em retrospecto, ganharam um significado ainda mais profundo. “A Sabrina era meu suporte, era minha coluna”, define o pai, evidenciando a importância da pequena em sua vida.
A Tragédia Anunciada e a Inocência Roubada
O dia 5 de dezembro de 2013 começou como qualquer outro para Vitor Oliveira, que estava em seu trabalho na região do Sacomã, em São Paulo. A normalidade foi quebrada por um telefonema que daria início ao pior pesadelo de sua vida. Era sua ex-esposa, Diana, mãe de Sabrina.
“A mãe dela me ligou, pediu para falar com meu supervisor, que passou o telefone para mim e disse assim: a mãe da sua filha está no telefone. (…) Ela disse: ‘olha, vem para o Hospital Campo Limpo porque a Sabrina teve uma convulsão’. Foi só essas palavras. Eu falei: ‘como que a Sabrina teve uma convulsão? A Sabrina estava saudável’. ‘Não, ela teve uma convulsão. Depois do almoço, ela passou mal e teve uma convulsão'”, relembra Vitor.
O choque inicial e a preocupação deram lugar a uma corrida desesperada até o hospital. No meio do caminho, a angústia se transformou em desespero com uma nova ligação, desta vez de sua mãe, trazendo a notícia que nenhum pai jamais deveria receber: Sabrina estava morta. Mesmo com a notícia devastadora, a causa ainda era um mistério para Vitor. A ideia de um crime não passava por sua cabeça.
O destino final, no entanto, não foi o hospital, mas o 92º Distrito Policial. A mudança de rota, informada por sua mãe e por um pastor da igreja que frequentava, acendeu um alerta. Ao chegar na delegacia, o cenário de alvoroço, com equipes de reportagem e familiares, confirmou que algo muito grave havia acontecido.
“O investigador de polícia me chamou e veio falar diretamente. Ele falou assim: ‘Cara, você sabe o que aconteceu com a sua filha?’ E eu falei assim: ‘Não, vim aqui para ouvir, saber o que está acontecendo’. Ele falou assim: ‘Então, sua filha, ela foi morta’. Eu falei: ‘Como assim, minha filha foi morta?'”, conta Vitor. O impacto da notícia foi tão avassalador que ele perdeu os sentidos e precisou ser levado ao mesmo hospital para onde se dirigia inicialmente, mas desta vez, como paciente.
Ao recobrar a consciência, seu único desejo era voltar à delegacia para entender o que havia acontecido com sua filha. Foi na sala do delegado que as peças do quebra-cabeça macabro começaram a se encaixar. O principal suspeito do assassinato era Jefferson de Oliveira, o padrasto da menina. O homem a quem Vitor, em um gesto de solidariedade cristã, havia ajudado em uma clínica de reabilitação, era agora o algoz de sua filha.
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A Sombra da Cumplicidade: A Frieza da Mãe
e a Omissão da Família
A dor da perda de Sabrina foi intensificada por uma suspeita que atormenta Vitor até hoje: a possível conivência da mãe da menina, Diana. O comportamento dela no dia da morte da filha é descrito por Vitor como assustadoramente frio e indiferente, um comportamento que não passou despercebido nem mesmo pela polícia.
“O delegado me falou que as perguntas que ele me fez no dia da morte da Sabrina é porque ele já tinha uma suspeita sobre a mãe, por conta do comportamento dela, da frieza, que parecia que qualquer pessoa morreu naquele dia, menos a filha dela. Isso lembra muito o caso do Henry Borel, né? Ele morre e a mãe vai fazer unha e cabelo. Ela estava tomando uma latinha de cerveja e fumando um cigarro, como se nada tivesse acontecido. Totalmente fria”, relata Vitor.
A desconfiança se transformou em uma dolorosa certeza para Vitor quando, apenas 21 dias após Jefferson ser solto da prisão temporária, Diana o acolheu em sua casa. Um ato que, para o pai de Sabrina, selou a cumplicidade da ex-esposa. “A mãe da Sabrina ainda recebe ele de volta”, diz Vitor, com a voz carregada de indignação.
Mas a teia de cumplicidade, segundo Vitor, não se restringia a Diana. Ele aponta o dedo para a família de Jefferson, que teria adulterado a cena do crime e se omitido em seus depoimentos, protegendo o assassino.
“Eu tenho a certeza e plena convicção [de que a família de Jefferson é conivente]. (…) Se todo mundo que eu acabei de citar tem alguma participação, seja com a cumplicidade ou com a omissão, sabe do que aconteceu e não testemunham sobre o que aconteceu envolvendo a morte de uma criança de dois anos e meio, para mim são tão monstros, tão culpados e tão miseráveis quanto ele”, desabafa.
A Falha do Sistema: A Justiça que Tarda e Falha
A jornada de Vitor Oliveira em busca de justiça por sua filha tem sido uma verdadeira via-crúcis, marcada por uma série de falhas e decepções com o sistema judiciário brasileiro. O primeiro grande golpe veio com a decisão de uma juíza de negar o pedido de prisão preventiva de Jefferson, feito pelo delegado do caso, que tinha convicção da autoria do crime.
“A juíza falou para o delegado que ele era réu primário porque, embora ele tivesse uma vida totalmente bagunçada, cometesse alguns crimes, furtos, tivesse problema com droga, ele não tinha nenhum registro de passagem em delegacia. (…) A juíza se apegou a isso, alegando que ele era réu primário, que ainda era suspeito, que o laudo necroscópico do Instituto Médico Legal da Sabrina ainda não tinha ficado pronto”, explica Vitor.
A decisão, baseada em tecnicalidades e na ausência de antecedentes criminais registrados, ignorou a gravidade do crime e as evidências já coletadas. O delegado, segundo Vitor, chegou a confrontar a juíza:
“‘Eu tenho certeza, doutora, eu estou trabalhando um inquérito com tudo que eu já tenho, eu estou apresentando para a senhora. Eu tenho certeza que esse homem matou essa criança, matou e violentou essa criança’. E a palavra da juíza para ele, segundo o delegado, foi assim: ‘o senhor quer me ensinar o meu trabalho?'”.
Jefferson foi solto, e a liberdade do assassino confesso de sua filha foi um novo golpe para Vitor. A prisão só ocorreria novamente após a conclusão do laudo do IML, que não deixou dúvidas sobre a brutalidade do crime: Sabrina foi estuprada e morta por esganadura.
Outra instituição que falhou com Vitor e com a memória de Sabrina foi a dos Direitos Humanos. Ele relata que a organização, tão vocal na defesa de acusados, jamais o procurou para oferecer qualquer tipo de apoio. Pelo contrário, só apareceu para garantir a integridade do assassino.
“Atuação nenhuma. Eu vou falar para você: essa instituição de direitos humanos eu conheço ela somente pelo papel de ouvir me falar, porque direitos humanos nunca me procurou. (…) Pelo contrário, quando ele foi preso, direitos humanos bateu na porta da delegacia, porque o delegado falou que o advogado dele alegou que ele estava sendo torturado para confessar o crime. Então, aí os direitos humanos apareceram”, critica Vitor, que questiona: “Quem conhece os direitos humanos? É o assassino da minha filha”.
A Voz que Clama por Justiça
A tragédia pessoal de Vitor Oliveira o transformou em um soldado na linha de frente de uma guerra contra a violência infantil e a impunidade. Ele se tornou um ativista, unindo sua voz à de outros pais e mães que, como ele, tiveram suas vidas destroçadas pela perda de um filho. Nomes como Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, e Elaniel Borel, pai de Henry Borel, se tornaram seus companheiros de trincheira.
Vitor expões a omissão do Congresso Nacional e da legislação brasileira, que ele é ultrapassada e ineficaz na proteção de crianças e mulheres. Para ele, a responsabilidade pela morte de sua filha e de tantas outras vítimas não é apenas do agressor, mas também do Estado, que falha em criar leis mais severas e em garantir sua aplicação.
“Eu falaria [aos políticos] que o sangue de centenas de mulheres inocentes e centenas de crianças inocentes que já foram mortas por feminicídios ou mortas depois de sofrer uma violência sexual está sobre a mão deles. Que eles são tão culpados quanto aqueles que foram os algozes do crime, aqueles que cometeram o crime, mas aqueles que estão com a caneta na mão, que são responsáveis pelas leis que regem esse país, são os primeiros responsáveis”, afirma Vitor, com a autoridade de quem sentiu na pele as consequências da inércia legislativa.
Ele aponta que a pressão da mídia tem sido um fator crucial para evitar que muitos casos caiam no esquecimento e na impunidade. “Se nós não tivéssemos vocês, repórteres, a mídia em cima nesses casos, infelizmente, a gente ia ver aí 100% de impunidade nos crimes relacionados a crianças e mulheres no nosso país”, ressalta.
Igreja que Protege
Em meio à escuridão da dor, Vitor encontrou um facho de luz e um novo propósito ao abraçar o projeto “Igreja que Protege”, uma iniciativa criada por Raquel Vivas, do Rio de Janeiro. O projeto visa conscientizar e alertar pais, especialmente dentro do ambiente religioso, sobre os perigos da violência infantil e a importância de uma vigilância constante.
Vitor, que teve que enfrentar a tentativa de silenciamento por parte do pastor de sua antiga igreja, primo do assassino de sua filha, sabe bem como a fé pode ser manipulada para acobertar crimes. O projeto que ele agora defende prega uma postura de cautela e investigação.
“O projeto Igreja que Protege serve para alertar as pessoas justamente disso. Não é porque você está dentro da igreja que você vai confiar 100% a vida dos seus filhos ali na mão de pessoas, de homens e de mulheres que você sequer sabe de um histórico dessas pessoas lá atrás. (…) Uma das coisas que o projeto Igreja que Protege faz é fazer um levantamento da vida passada dessa pessoa. Porque dentro de religiões, hoje, 90% das pessoas ali dentro são ex-alguma coisa: ex-prostituta, ex-ladrão, ex-assaltante, ex-assassino, ex-alguma coisa”, explica Vitor.
Ele enfatiza que, embora acredite na regeneração do ser humano, a proteção dos filhos deve vir em primeiro lugar.
“Eu não posso chegar simplesmente a entregar a vida do meu bem mais precioso, que é o meu filho, nas mãos de alguém que sequer eu sei do que é capaz de fazer”, adverte.
A Luta Eterna por Sabrina
Jefferson de Oliveira foi condenado a 33 anos de prisão pela morte de Sabrina. Uma vitória na esfera judicial, mas que está longe de representar um ponto final na dor de Vitor. Ele sabe que a luta contra a impunidade e pela memória de sua filha é uma batalha diária e que não terminará com o cumprimento da pena do assassino.
Vitor critica veementemente benefícios como a “saidinha” para autores de crimes hediondos.
“Na minha concepção, essa saidinha nem deveria existir. É o primeiro ponto. O segundo ponto é que, em crimes hediondos, que é o crime que o Jefferson cometeu, no caso do feminicídio, no caso da violência sexual, a morte de uma criança, essa pessoa não deveria nem ter direito a benefícios. Para mim, essa pessoa deveria cumprir de ponta a ponta”, defende.
A história de Sabrina é um doloroso espelho da realidade brasileira, um país que mata suas crianças e que falha em protegê-las. Mas é também uma história de amor incondicional, de resiliência e de uma força que nasce da dor mais profunda. A
luta de Vitor Oliveira é um tributo à memória de sua filha e um farol de esperança para um futuro onde a justiça prevaleça e nenhuma outra criança tenha sua vida e seus sonhos brutalmente interrompidos. A voz de Vitor ecoa como um grito por Sabrina e por todas as vítimas da barbárie, um grito que a sociedade não pode mais ignorar.
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O Perfil do Agressor: Um Lobo em Pele de Cordeiro
Jefferson de Oliveira, de 26 anos, motoboy, era um homem com um histórico de vida conturbado. Viciado em drogas, com passagens por furtos e pequenos crimes, ele representava exatamente o tipo de pessoa que deveria estar longe de uma criança indefesa. No entanto, para o sistema judicial, ele era apenas um “réu primário”, sem registros oficiais que pudessem alertar sobre sua periculosidade.
A relação entre Jefferson e Diana, mãe de Sabrina, foi meteórica e perigosa. Em menos de três meses, ele já estava =morando na casa dela, dividindo o mesmo teto que a pequena Sabrina.
“Eu acredito que foram, no máximo, três meses. Não foi mais do que isso. Não foi pouco tempo, pouquíssimo tempo, porque estávamos nós. Eu saí de quando, com dois meses, não em dois meses. Na mesma semana, ele já estava frequentando a casa dela e já estava dormindo lá”, relata Vitor.
Essa rapidez na introdução de um estranho no ambiente familiar é um alerta que Vitor faz questão de destacar.
“Para as mulheres, parem de enfiar homens para dentro de casa quando você tem filhos, porque a gente nunca sabe o que vai acontecer. Tem um relacionamento da porta para fora, porta para dentro. A sua casa é seu santuário. Não se enfia absolutamente ninguém para dentro de casa”, aconselha, com a autoridade de quem pagou o preço mais alto por essa negligência.
Sinais Ignorados: A Tragédia Poderia Ter Sido Evitada?
Em retrospecto, havia sinais de que algo estava errado com Sabrina. A avó paterna, com a sensibilidade aguçada de uma mulher mais experiente, foi a primeira a notar mudanças no comportamento da neta.
“Minha mãe, por ser mulher, por já ter uma experiência, passou por algumas coisas também na infância na adolescência dela. A mãe dela faleceu, ou seja, minha mãe já tem uma trajetória, então é mais fácil de perceber essas coisas”, explica Vitor.
“Minha mãe falou que tinham as assaduras, que não era normal. A expressão foram assaduras, né? Nas partes íntimas, na região íntima dela, que não era normal. (…) Ela disse assim que percebiu que, quando ia trocar a fraldinha dela, porque ela tinha dois anos e meio, então, assim, ela ainda usava fralda. Ia trocar a fraldinha dela, ela fechava a perna”, conta Vitor.
Além das assaduras, havia mudanças comportamentais. “Ela estava mais caladinha, mais retraída. Ela era bem brincalhona”, lembra Vitor. A criança que antes era expansiva e alegre estava se tornando mais reservada e assustada.
O próprio Vitor, embora não tivesse percebido os sinais físicos, sentiu uma mudança emocional na filha durante o último final de semana que passaram juntos.
“Eu senti que ela estava mais carinhosa. Não sei se você já teve a oportunidade de passar um dia com uma pessoa que, daqui a pouco, ou no mesmo dia, ou dias depois, a gente recebe a notícia que aquela pessoa faleceu, né? Fica diferente. Ela estava diferente, estava com um comportamento mais carinhoso comigo”, relembra.
Esse final de semana, que agora ganha contornos proféticos, foi especial.
“Parece que ela estava vivendo mais aquele momento. Então, a gente passou um final de semana maravilhoso. A gente sempre tirou fotos, mas naquele final de semana eu acho que eu tenho um HD com uma pasta gigantesca de tantas fotos que a gente bateu naquele dia. Parecia uma despedida”, lamenta Vitor.
A Batalha nos Bastidores: A Pressão da Igreja e a Luta pela Verdade
Além da dor da perda e da luta por justiça no sistema legal, Vitor teve que enfrentar uma batalha inesperada dentro da própria igreja que frequentava. O pastor presidente da congregação, que era primo de Jefferson, tentou silenciá-lo, usando argumentos religiosos para desencorajá-lo de buscar justiça pelos meios legais.
“Na época, o pastor presidente (…) tentou argumentar, inclusive querendo usar a própria Bíblia, textos bíblicos desconexos, fora de contexto, para mim, para alegar que eu estava errado em dar entrevista, em procurar a justiça, que a justiça eu tinha que esperar da parte de Deus e que Deus ia fazer acontecer”, relata Vitor.
A pressão era intensa e vinha acompanhada de ameaças veladas.
“Eles quiseram alegar isso para mim, que eu estava errado e que eu não deveria fazer isso. Você deve esperar. Para de ficar dando entrevista, porque esse negócio de ficar dando entrevista aí não é coisa de Deus”, conta Vitor, que resistiu à manipulação.
A resistência de Vitor custou caro. Ele foi afastado de todas as suas funções na igreja, onde atuava como músico e evangelista.
“Levei adiante e fui praticamente excluído dessa igreja, do meio daquele convívio, daquelas pessoas, porque eu exercia funções. (…) Eles me afastaram de todas as funções, me tiraram, alegando que eu não tinha condições para exercer aquilo por conta de tudo que estava acontecendo”, relembra.
Vitor suspeita que a tentativa de silenciamento não era apenas uma questão de interpretação religiosa equivocada, mas que o pastor poderia saber de algo sobre o crime.
“Eu vejo como alguém que pode ser que deva alguma coisa, também saiba de algo que aconteceu, deva alguma coisa porque isso não é uma atitude normal. (…) Ele tem, eu tenho a certeza e a convicção que ele também sabe de alguma coisa”, afirma.
Essa suspeita se baseia em evidências concretas. O pastor aparece em imagens de câmeras de segurança dando carona a Jefferson e Sabrina no dia do crime.
“A imagem que eu falei para você, que a Sabrina parece viva antes de chegar na casa dele. Esse mesmo pastor aparece na imagem, o carro desse pastor (…) aparece o carro dele parando na esquina e descem o Jefferson e a Sabrina do carro dele e entram na rua do Jefferson, a rua onde a Sabrina foi morta”, revela Vitor.
O Silêncio do Congresso Mata Nossos Filhos
A tragédia de Sabrina expôs de forma brutal a inadequação da legislação brasileira no que diz respeito à proteção da criança e do adolescente. Vitor se tornou um crítico ferrenho da omissão do Congresso Nacional e da falta de leis mais duras para crimes hediondos.
“O nosso país é um país que a gente observa assim em termos de tudo, mas vamos falar especificamente sobre as leis. A nossa Constituição, nosso Código, é totalmente ultrapassado. A gente observa que nesses últimos anos eles têm mexido em alguma coisa de lei, de código, mas leis que favorecem a eles, favorecem ao Judiciário, ao Supremo, ou seja, a quem está no topo da pirâmide”, critica Vitor.
Ele aponta que as mudanças legislativas beneficiam apenas aqueles que estão no poder, enquanto as vítimas continuam desprotegidas.
“São leis que favorecem a eles. Protegem as mulheres que são mortas por feminicídio, as crianças que são mortas todos os dias, as mulheres que são violentadas, que são torturadas. Não existem leis que protegem”, denuncia.
A impunidade, segundo Vitor, é a regra em casos de violência contra crianças e mulheres. Ele acredita que apenas a pressão da mídia impede que a situação seja ainda pior.
“Se nós não tivéssemos vocês, repórteres, a mídia em cima nesses casos, infelizmente, a gente ia ver aí 100% de impunidade nos crimes relacionados a crianças e mulheres no nosso país”, afirma.
Vitor se juntou a outros pais e mães que perderam seus filhos para a violência e que agora lutam por mudanças.
“A gente tem muitos pais e mães que já sofreram na pele a perda de filhos, que estão aí lutando hoje. Graças a Deus, a gente está vendo que, recentemente, a Ana Carolina, mãe da Isabela, conseguiu entrar na política lá no Rio de Janeiro. Temos o Elaniel Borel, que é um amigão. A gente esteve juntos diversas vezes, estamos na mesma causa. O Beto Vaz também, pai da Vitória”, enumera.
Esses pais e mães têm projetos de lei, têm propostas concretas para proteger as crianças, mas esbarram na inércia do Congresso.
“Todos eles têm projeto de lei, todos eles têm projeto de lei. Existem outros projetos de lei para garantir proteção verdadeira do adolescente, da criança, da mulher. Não é de hoje que está tramitando, sendo clamado para que isso seja ouvido e aprovado. Só que eles não querem pôr isso em vigor, não querem votar, não querem aceitar, não querem fazer que isso aconteça”, lamenta Vitor.
A Questão da Saídinha: Um Sistema que Protege o Agressor
Um dos pontos que mais revolta Vitor é a possibilidade de Jefferson, condenado a 33 anos de prisão, ter direito a benefícios como a “saidinha” por bom comportamento. Para ele, crimes hediondos como o que vitimou sua filha deveriam ser tratados de forma diferenciada.
“Na minha concepção, essa saídinha nem deveria existir. É o primeiro ponto. O segundo ponto é que, em crimes hediondos, que é o crime que o Jefferson cometeu, no caso do feminicídio, no caso da violência sexual, a morte de uma criança, essa pessoa não deveria nem ter direito a benefícios”, defende Vitor.
Ele questiona a lógica de um sistema que permite que assassinos de crianças tenham direito a progressão de regime e benefícios.
“Para mim, essa pessoa deveria cumprir de ponta a ponta. Se realmente nosso país fosse um país justo nas leis, volto a falar delas, realmente tivéssemos políticos interessados com o bem-estar na sociedade e com as pessoas que são vítimas da violência, criariam leis de verdade, colocariam em prática leis que colocariam essas pessoas para cumprir a pena de ponta a ponta”, argumenta.
A preocupação de Vitor não é apenas com Jefferson, mas com todos os criminosos que cometem crimes similares e que, em algum momento, voltarão às ruas.
“É muito fácil ter um bom comportamento na cadeia, né? Como é que o senhor vê essa saídinha dos presos e em quanto tempo nós teremos que conviver com alguém tão abjeto”, questiona, expressando o medo de muitas famílias de vítimas.
A Esperança de um Futuro Melhor
Apesar de toda a dor e das dificuldades enfrentadas, Vitor Oliveira não desistiu. Ele transformou o luto em uma bandeira de luta, na esperança de que a história de sua filha não seja em vão. Sua participação em podcasts, entrevistas e eventos é uma forma de manter viva a memória de Sabrina e de alertar outras famílias sobre os perigos.
A luta de Vitor é um lembrete doloroso de que a violência contra crianças é uma realidade brutal no Brasil e que a sociedade não pode se calar diante de tanta barbárie. Cada entrevista que ele concede, cada depoimento que faz, é um tijolo na construção de um futuro onde crianças como Sabrina estejam protegidas.
O projeto “Igreja que Protege” é uma das formas que Vitor encontrou de canalizar sua dor em ação positiva. Ao alertar pais sobre os perigos que podem existir até mesmo em ambientes considerados seguros, como as igrejas, ele espera evitar que outras famílias passem pelo que ele passou.
“Às vezes, as pessoas falam: ‘É muita histeria isso, né? Não precisa ser assim’. Não, a gente tem que ter cautela, sim, porque a gente vê frequentemente, todos os dias, tem um caso semelhante ou não. São vários casos como esse acontecendo”, defende Vitor.
A Memória de Sabrina: Uma Luz na Escuridão
A história de Sabrina Oliveira é um retrato cruel da violência que assola o Brasil e da falência de um sistema que não consegue proteger suas crianças. Mas é também uma história de amor incondicional, de luta incansável e de uma força que nasce da dor mais profunda.
Vitor Oliveira se tornou a voz de sua filha, o guardião de sua memória e o porta-voz de sua justiça. Sua luta transcende a busca por punição para o assassino de Sabrina; ela se transformou em uma cruzada por um Brasil mais justo, onde as leis protejam efetivamente as crianças e onde a impunidade não seja mais a regra.
A pequena Sabrina, que tinha apenas dois anos quando sua vida foi brutalmente interrompida, continua viva na luta de seu pai. Cada palavra que Vitor pronuncia em sua defesa, cada lágrima que derrama por sua ausência, cada grito por justiça que ecoa em sua voz, é uma forma de manter acesa a chama da esperança de que um dia, nenhuma outra criança tenha que passar pelo que ela passou.
A história de Sabrina é um chamado à ação, um apelo por um país que proteja suas crianças e que faça justiça por aquelas que tiveram suas vidas roubadas pela violência. É um lembrete de que, por trás de cada estatística de violência infantil, há uma história como a de Sabrina, há um pai como Vitor, há uma dor que não pode ser ignorada.
A luta de Vitor Oliveira é um farol na escuridão, uma luz que guia outros pais e mães na mesma jornada dolorosa. Sua coragem em falar, em denunciar, em não se calar diante da injustiça, é um exemplo de como a dor pode ser transformada em força, como o luto pode se tornar luta, como a memória de uma criança pode se tornar a esperança de um futuro melhor para todas as crianças.
Sabrina Oliveira vive. Vive na memória de seu pai, vive na luta por justiça, vive na esperança de que sua história sirva de alerta e de inspiração para que outras crianças sejam protegidas. Sua vida, embora breve, deixou uma marca indelével no coração de quem a amou e na consciência de uma sociedade que não pode mais fechar os olhos para a violência contra suas crianças.
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Sobre o Autor: Este artigo foi produzido com base na entrevista concedida por Vitor Oliveira à Camila Abdo, transformando o relato em uma matéria jornalística onde busca honrar a memória de Sabrina e amplificar a voz de seu pai na luta por justiça e proteção infantil no Brasil.


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